Arquivo do mês: fevereiro 2007

>SASSARICANDO

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No sábado passado, 24 de fevereiro, fomos, eu e a Sorriso Maracanã, assistir ao espetáculo “Sassaricando – e o Rio inventou a marchinha”, de Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral, pai, evidentemente. Ingressos esgotados, gente pelo ladrão, filas intermináveis na porta, mas eis que nosso filho mais novo, Tiago Prata – não somos nós quem dizemos isso, mas o próprio menino, leiam e ouçam aqui! – usou seu prestígio para comprar – eu disse comprar! – ingressos para nós. E lá fomos nós, eu e Dani, a mulher que me ensinou a sorrir – e que chorou de maneira olímpica junto comigo durante as duas horas de espetáculo – para o Teatro SESC Ginástico, reformado e belíssimo.

Acontece, meus poucos mas fiéis leitores, que eu só meto a mão na cumbuca quando sei mexer no que tem dentro, só dou pitaco sobre o que conheço, razão pela qual não vou me atrever a fazer crítica do espetáculo. Não nasci pra Heliodora.

Mas posso, sim, falar sobre o que fui eu durante os 120 minutos de espetáculo.

Antes de mais nada eu preciso lhes dizer: “Sassaricando” é um musical eminentemente carioca. Acho que senti troço semelhante quando li “Carnaval no fogo”, do Ruy Castro. Eu fui lendo, fui lendo, e pensava, enquanto me deliciava com as magnifícias histórias do livro, que dificilmente um não-carioca compreenderia na íntegra o que aquilo tudo significava e representava. Talvez o mesmo aconteça com “Sassaricando”.

É evidente que a música tem um alcance fabuloso, e é bem possível que um não-carioca, um gaúcho, por exemplo, tenha relinchos de alegria ao ouvir os primeiros versos de “Sassaricando”. Ou que um paulista, daqueles feitos de cimento armado e que odeiam o Carnaval, esboce um sorriso de canto de boca escutando “Aurora”.

Mas já na abertura do musical, quando Juliana Diniz abre um baú de memórias deixado por seu avô – não confundam com o Monarco, pô! – e lê, em off, uma carta deixada pelo velho endereçada a ela, fica claro: os cariocas, os cariocas de alma é que saberão o que vai ali e sentirão a mesma saudade, junto com a neta do avô folião que não existe mais.

Pausa para breve informação: eu e Dani éramos os mais novos da platéia. Guardem essa informação. À nossa frente – ficamos na última fila – um mar ártico, se me entendem. Ou cabelos brancos ou carecas reluzentes.

Durante a apresentação das 89 marchinhas que compõem o espetáculo, entremeadas por dois vídeos mortalmente emocionantes (“A Cidade” e “A marchinha e o carnaval”), o primeiro narrado pelo carioquíssimo Hugo Carvana e o segundo pelo não menos carioca Sérgio Cabral, pai, choramos inúmeras vezes.

Não chegamos, depois do espetáculo, a comentar sobre isso. É como se tivéssemos combinado de brincar separados com as emoções daquela tarde.

Eu quis dançar de mãos dadas com a Soraya Ravenle quando ela cantou, sozinha, “Bandeira Branca”, ou ainda quando me feriu a alma já combalida cantando “Paris”, quando eu, fungando, para completo assombro da velhota ao meu lado, cantei junto “mas eu gosto muito mais do Leme!”. Eu quis fazer pas-de-deux com a Sabrina Korgut quando ela invadiu o palco pra cantar “Lig, lig, lig, lé”. Eu quis entrar debaixo do mesmo guarda-chuva branco da Juliana Diniz quando ela pediu à Alá, sestrosa, água pra iaiá. Ali eu era o ioiô.

Eu senti uma puta felicidade por estar ali, vendo e ouvindo meus contemporâneos, Eduardo Dussek e os garotos, Alfredo Del-Penho e Pedro Paulo Malta, os dois bicudos que conseguiram a façanha de me fazer perder um CD arranhado de tanto que não me saía da vitrola, cantando cada vez melhor, sendo que esse último – confissão pública!!!!!, perdão Pedro Paulo! – eu vi bebê, em Caxambu, sul de Minas.

Eu senti um estranhíssimo orgulho de ver o Pratinha, moleque de 19 anos de idade, segurando as pontas dos músicos, com o bastão que lhe foi passado pelo craque Luís Filipe de Lima, que já é uma espécie de ISO 9000 em termos de musicais. O cara tá lá? Vai sem erro!

E – causa maior do meu quase passamento – o que foi pior.

A cada intervalo, a cada estouro das palmas, eu insistia em procurar, dentre aquelas cabecinhas brancas, a redezinha de pérolas em volta dos cabelos macios da minha bisavó.

Até.

PS: a temporada no “Teatro SESC Ginástico” termina no dia 18 de março. Tudo indica que a temporada vai prosseguir no “Teatro João Caetano”, na Praça Tiradentes. Se você é carioca, não perca. Szegeri, meu mano, venha! Pensei em você grande parte do espetáculo!

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CARNAVAL 2007

Eis que sobrevivi a mais um Carnaval.

Foi, confesso nessa manhã de segunda-feira, do alto dos meus 37 anos, um Carnaval inesquecível, e explico.

Foi inesquecível porque eu morri na sexta-feira à noite para renascer, apenas, no final da tarde de sábado, depois do magnânimo desfile do Cordão da Bola Preta, com mais de 300 mil pessoas.

Estava eu, entre amigos, na Folha Seca, quando de pé anunciei comovidíssimo:

– Morro agora, amigos meus, morro agora, amor da minha vida, para somente renascer amanhã à tarde, depois do desfile do Bola Preta, eis que cederei meu corpo, que não mais me pertencerá a partir da agora, para meu irmão Fernando José Szegeri, que desfilará, assim, pela décima nona vez, pelo portentoso Cordão!

E assim foi, como já lhes mostrei aqui e aqui.

Pausa explicativa: falarei hoje, e apenas hoje, para não matar vocês todos de enfado, sobre o Carnaval 2007.

Quando acabou o desfile do Bola Preta, o maior evento da cidade do Rio de Janeiro, Dani me acordou do transe. Fomos, então, com Fefê, para a casa dos mais-queridos Betinha e Flavinho, de carro, na caçamba do possante carro do Flavinho, vejam que belo momento!, e notem como eu atendo ao pedido da minha garota, que diz docemente:

– Canta, Pituco!

E nada me detém. Nem o Fefê quando diz, antes de explodir numa gargalhada:

– O Edu cantou poucas vezes isso…

Do doce lar do queridíssimo casal, partimos pra casa do Cassio Loredano e da , pra uma feijoada, que ninguém é de ferro.

Às sete da noite tomamos o rumo de casa, eu e Sorriso Maracanã, parando, é claro, que ninguém é de ferro, no Rio-Brasília pra uma longa saideira.

No domingo, às oito da manhã já estávamos, eu e minha menina, linda, mais linda a cada dia, no Cordão do Boitatá, na Praça XV. Um grande baile popular promoveu o Cordão do Boitatá, vejam aqui a praça tomada pelo povo! Dia de céu azul – durante todo o Carnaval, aliás! -, muita cerveja gelada, muitos amigos, e de lá partimos em direção ao aniversário do Mello Menezes, grande figura, comemorado com o já tradicionalíssimo churrasco, ao ar livre, atrás do Aeroporto Santos Dumont, com a vista da Baía de Guanabara, muita cerveja, muita música e muitos amigos, de novo, que ninguém é de ferro pra viver sem eles.

De lá partimos pra casa. Dani desfilaria, como de fato desfilou, pela G.R.E.S. Estácio de Sá. Deixei minha menina na concentração e fiquei, confesso, tristíssimo ao vê-la entrando naquele curral pelo qual só passam os integrantes das escolas de samba, eu sem ela, ela sem mim… Cena tristíssima… Encontrei, entretanto, Candida e Simas numa barraca onde derrubamos algumas garrafas de Brahma, geladíssimas.

Do Sambódromo partimos os três, a pé – eu disse a pé – em direção ao Capela, onde Dani nos encontraria depois do desfile. Lá bebemos enquanto esperávamos minha menina, que chegou lindíssima – notem o quanto ando apaixonado! – e propôs:

– Ah… Vamos comer galeto no Columbia?

Fomos. Fomos e fechamos a noite na gloriosa Tijuca.

A segunda-feira anunciou-se tranqüila. Afinal de contas havíamos marcado com papai e mamãe uma espécie de revival emotivo… Reproduzindo evento e cenário da minha infância, os dois abririam – como de fato abriram – os salões do apartamento no Alto da Boa Vista para um reduzido e seleto grupo de amigos para comer, beber, jogar conversa fora e assistir, na íntegra, o desfile das Escolas de Samba pela TV, incluindo G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, escola de mamãe e minha também! Pois lá ficamos eu e Dani, papai e mamãe, Rodrigo Folha Seca com Joana e Miguel Folha Seca, Fefê, Simas com Candida, Manguaça com Fernanda, Flavinho com Betinha. Foi uma puta noite, divertidíssima, duas garrafas de Red Label foram embora, dezenas de latas de Brahma, mamãe fez comida para 4.500 componentes de uma escola de samba, e de lá saímos já de manhã.

Saímos, mas não pra casa!

Fomos tomar banho de cachoeira pra recuperar as energias, que ninguém é de ferro, e à tardinha fomos homenagear Aldir Blanc, enredo do bloco Muvuca do São Carlos, no Estácio. Encontramos, de novo, uma pá de amigos, assistimos emocionados um Ceceu Rico, pai do Aldir, emocionadíssimo, acenando da janela de seu apartamento, na Maia Lacerda, e de lá fomos tomar um chope, que ninguém é de ferro, eu, Dani, Mari Blanc, Eloá e Zé Reinaldo. Estávamos ainda bebendo quando toca meu celular:

– O Rio-Brasília está fechado… Estou bebendo num buteco aqui perto… Vem pra cá…

Era um combalido Borgonovi. Tomamos o rumo da espelunca, eu, Dani e Mello Menezes, e arrastamos o malandro pra um uísque em nossa casa. Expulsei o Borgonovi, com a educação que só a Tijuca dá, pouco antes das duas da manhã.

Daí dirão vocês:

– Acabou?

E eu respondo daqui, altíssimo:

– Não!

Na Quarta-Feira de Cinzas a Sônia, minha mui amada Manguassônia, promoveu a cada vez mais produzida e caprichada Feijoada da Apuração! O apartamento estava decorado, havia Engov em quantidade industrial, dezenas de tira-gostos de comover, teve o auxílio luxuoso de uma torta de morango e uma mousse de chocolate preparadas pelas mãos da Joana, doceira de mão cheia, e uma quantidade de confete e serpentina capaz de fazer a mais competente faxineira pedir demissão no dia seguinte!

Eu, que não perco o espetáculo que é ver a Sônia cozinhando, cheguei lá um pouco antes das onze da manhã. E de novo reunidos estávamos todos, entre amigos, com muita bebida, com muita comida, com muita tensão no momento da apuração, e eu confesso que fiquei triste vendo o Simas chorar com o rebaixamento de seu querido G.R.E.S. Império Serrano.

Como triste fiquei, depois, vendo minha comadre, Mariana Blanc, também chorando, envolvida que estava, até a raiz dos cabelos, com o carnaval da G.R.E.S. Estácio de Sá, também rebaixada. Fomos até sua casa, na Muda, pra dar um beijo no Marquinho Presidente, que fazia aniversário. Mas lá ficamos pouco tempo! Afinal, o Flamengo faria sua segunda partida pela Libertadores!

E no Estephanio´s, mais festa.

O encontro com os amigos, a vitória do Flamengo, e a certeza, no fim da noite, de que o Carnaval foi inesquecível.

O Carnaval cumpriu, como se vê, sua função redentora.

Até.

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LAVA-PÉS

Fuçando alguns blogs agora pela manhã, tive a grata surpresa de ver um filminho que fiz, curto mas cheio de significado, 16 segundos apenas, indicado pelo Juarez Becoza, em seu blog:

“A cerimônia do lava-pés

Caro leitor:

Fuçando no You Tube (minha nova mania na internet), descobri este fiel de registro de uma das mais antigas tradições da boemia botequeira. O vídeo flagra o momento final, o pós-saideira, a hora em que os últimos e insistentes guerreiros do copo são literalmente “lavados” para fora do estabelecimento. Um documento fidedigno do verdadeiro espírito dos botecos, filmado pelo colega Eduardo Goldenberg, do blog Buteco do Edu”

Eis o filminho, aqui:

Até.

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>RECESSO DE CARNAVAL

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Hoje é sábado.

O Desfile das Campeãs acontece, neste instante, na Marquês de Sapucaí.

O corpo e a alma – esta refeita depois de assistir ao espetáculo SASSARICANDO, hoje à tarde, e sobre ele falarei no curso da semana que começa amanhã – descansam o necessário descanso.

E pra isso, meus poucos mas fiéis leitores, nada melhor do que a companhia da mulher que me ensinou a sorrir, boa bebida, boa comida, e o conforto do lar.

Até.

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SZEGERI E BETINHA, SUA MUSA

Isso foi em 2004…

E como amor pela musa é troço que não arrefece… Ei-los, de novo, em 2007. No Bola Preta.

Até.

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E QUEM DISSE QUE ELE NÃO VIRIA?

Eis a trinca de paulistas!

Fernando Borgonovi, Fernando Szegeri e Julio Vellozo, no Bola Preta!

Até.

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>BOLA PRETA, E LÁ VAMOS NÓS DE NOVO!!!!!

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Eu não tenho nenhuma dúvida – nenhuma! – de que o desfile do Cordão da Bola Preta é o maior evento da cidade do Rio de Janeiro. Do Brasil, eu diria. Não tem Natal, não tem reveillón, não tem evento, data, festa, capaz de tirar do Bola, que é como os íntimos o chamam, o título de maior evento da cidade. E estamos, eis a razão pela qual eu, excitadíssimo, escrevo neste momento, a poucas horas do início do furdunço.

Todos os anos é a mesma coisa, vocês podem conferir lendo isso aqui.

Mas esse ano não vai ser igual àquele que passou.

Hoje, às nove da manhã, será coroada Rainha do Bola Preta ninguém menos do que Adele Fátima.

Por todas as razões que vocês, meus poucos mas fiéis leitores, estão carecas de saber – quem não sabe saiba aqui! – tenho, neste instante, tenra idade, calças curtas, e é esse menino que vai, de mãos dadas com o Szegeri, à Cinelândia pra abrir o Carnaval.

Até.

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ELE CONHECE DEUS; PESSOALMENTE

Eis que ontem, depois que disponibilizei o video no qual o filho do Costinha, Alexandre, chora convulsivamente diante do ídolo, o Zico, deu-se a bulha, estabeleceu-se o rebuliço. Todos os meus mais chegados, todos, choraram junto com o menino. E as reações foram várias. Mas uma obsessão tornou-se coletiva: quem se lembrava da tal reportagem na televisão? E eis a resposta impressionante, em negrito, com a veemência szegeriana: ninguém.

Eu digo “ninguém” mas em nome da precisão que me acompanha preciso fazer a ressalva. O Fraga lembrou. Não apenas lembrou. Instado a responder à pergunta que correu a cidade, pigarreou, já que o Fraga pigarreia com uma constância impressionante. Mas o pigarro do Fraga não tem nada a ver com a necessidade de liberar-se do muco depositado na garganta. Não. O pigarro do Fraga é um pigarro vaidoso. Explico.

Alguém diz:

– Adoro o Chico Buarque!

E o Fraga, de primeira:

– Rã! Chiquinho? Meu irmão! Meu irmão! O Chico é meu irmão! Eu o apresentei à Marieta!

Ou ainda:

– Tenho saudades da Elizeth…

E o Fraga, alisando o cabelo:

– Lisa?! Rã! Uma mãe pra mim! Uma mãe.

Sempre essas bossas.

E ontem, disse o Fraga diante de uma Folha Seca úmida de curiosidade depois do “rã” gutural:

– Mas é claro que me lembro! Eu pedi ao Zico que recebesse o Costinha!

O Fraga é assim. O Fraga conhece os que ainda sequer nasceram! E com uma importantíssima ressalva. O Fraga não conhece, nem sequer reconhece, os anônimos. Você diz:

– Fraga, você conhece o Pedro da Silva?

– Quem? – ele responde dando de ombros.

Mas basta ouvir o sobrenome reluzente, o ocupante de um importante cargo, um famoso, uma famosa, e o Fraga torna-se um encolerizado do bem, desfilando seu corolário de pigarros:

– Meu irmão!

– Come aqui na minha mão! – diz estendendo a palma pra cima como se oferecesse alpiste à ave imaginária.

– Rã!

Até.

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FLAMENGO E EU, DE CALÇAS CURTAS

Ontem foi a estréia do Flamengo na Libertadores 2007, e graças a isso, e por isso, meu dia foi tenso, como tenso foi o dia de todos os rubro-negros sérios que conheço, e que não são poucos. Tensão que, diga-se em nome da precisão, mostrou-se justificável. O jogo de estréia foi a 4 mil metros de altitude, num estádio tão horroroso quanto o gramado, e ter arrancado um empate depois de estarmos perdendo de 2 a zero foi, sem dúvida, uma grande vitória. Aliás – e afinal – essa é a tradição da Libertadores, e um clube disposto a conquistar o título não pode valer-se de desculpas pequenas como essas para justificar seus fracassos. Começou bem, então, o Flamengo.Como começou bem, também, meu dia. Acordei com a saudade a meu lado, que a saudade insiste em me fazer permanente companhia sempre que minha garota viaja. E nada como ocupar o tempo para que seus efeitos colaterais sejam menos evidentes. O dia ontem foi, além de tenso, intenso. Inúmeros compromissos profissionais me mantiveram, o tempo todo, ocupadíssimo. Ocupadíssimo, porém – não é demais repetir – tenso.

A tensão e a intensidade dos compromissos foram, entretanto, quebradas ao longo do dia. Meu mano paulista, o Szegeri, por exemplo, depois de ter recebido um e-mail meu contendo um filminho do YouTube, que por sua vez me foi passado pelo Leo Boechat – já, já, falo do filminho! – bateu o telefone pra mim e ficou de papo comigo exatos 19 minutos e 51 segundos. De papo, não. Ficamos, os dois, chorando juntos, e não estou, meu pai – peço licença a vocês para dirigir-me, exclusivamente, a meu velho pai -, fazendo gênero. O Szegeri foi, no instante em que assistiu o filminho – já, já, falo dele! – um homem emocionado, um meninote de calças curtas de mãos dadas com o avô. Já volto ao assunto. Vamos ao final da tarde.

Chegou ontem ao Rio de Janeiro o Augusto (leiam sobre o Augusto aqui). E na véspera, ainda em São Paulo, onde vive, pediu-me o Augusto:

– Quero conhecer a Folha Seca!

Como eu já havia marcado com o Arthur às seis da tarde na livraria – que o genial Pratinha chama de escritório! – tudo se encaixou.

E vamos ao capítulo Folha Seca do dia.

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Cheguei e já dei de cara com um Rodrigo Folha Seca em estado de tensão semelhante ao meu. Feliz, entretanto, diante de um quadro (posto na parede ontem mesmo!) que lhe foi dado de presente por ocasião da festa de três anos da livraria contendo as figurinhas de treze craques do Flamengo. Notem que eu digo “figurinhas” e me refiro às figurinhas FUTEBOL CARDS, que vinham juntamente com o chiclete PING PONG, e só de estar escrevendo isso eu já tenho, nesse exato instante, 5 anos de idade. Acham que eu enlouqueci? Acha, meu pai – com a licença de todos, mais uma vez -, que estou fazendo gênero? Então dêem uma xeretada aqui! Pausa para pequena informação: estou chorando. E sigo.

Cheguei, dei de cara com um Rodrigo em estado de tensão e com um Augusto, carioca exilado em São Paulo e rubro-negro até a alma, extasiado diante das prateleiras da mais carioca das livrarias da cidade, o que significa dizer do Brasil e do mundo.

Além de extasiado diante das prateleiras, Augusto dizia-se incrédulo diante do que via. É bem verdade que o Augusto praticamente mora dentro da Mercearia São Pedro, na rua Rodésia, onde mora, um bar que é também uma livraria. Mas me pareceu, pela reação do Augusto, que uma livraria que é também um bar – o que nada tem a ver com as afrescalhadas livrarias da zona sul com seus cafés abjetos – que ele estava diante de uma novidade! E estava mesmo! Ficamos ali nas casco-escuro de Brahma (fornecidas pela Toca do Baiacu) e na punheta de bacalhau com pão francês fresco (fornecida pelo Casual, do Chefe Santos).

Até que chegou o Simas. E faço nova pausa. O Simas, até ontem chamado pelo Szegeri de Velho, ganhou novo apelido, ontem mesmo. E foi, de novo, o Szegeri quem o cunhou: Amarildo. Como o Simas é, de fato e de direito, um possesso, o apelido lhe caiu como luva. E notem que o Szegeri captou a possessão do Simas sem nem ao menos conhecê-lo pessoalmente!!!!!

E até que chegou o Arthur, o mais novo membro da confraria. Estava formado o time.

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Devo dizer, em nome da precisão e em nome da gratidão, que deve ser sempre manifesta, que marcamos o encontro, eu e o Arthur, porque ele tinha – disse-me na segunda-feira – um presente para me entregar. E de fato me entregou. Ocorre que o presente – aliás, um presentão! – eu já tinha… Craque que é, tinha nas mãos um exemplar belíssimo, 775 páginas, da “Coleção Revista da Música Popular”, que eu comprara justo na Folha Seca. Levemente decepcionado – o que é natural numa hora dessas – o Arthur, num gesto de mestre, cata outra obra-prima de uma das prateleiras, pede uma caneta e crava uma dedicatória que me comove, e notem que eu já vivia, desde o começo do dia, emoções fortes, o que me fez ter certeza de que a noite prometia!Ei-la, que eu adoro quebrar sigilos!

“Edu, o livro que eu ia te dar era outro; porém este, assim como aquele, diz respeito ao Rio Antigo, que me remete diretamente à rua do Ouvidor, local onde estreitamos nossa amizade, dentro da livraria onde adquiri este exemplar. Pronto: o círculo está fechado. Um grande abraço fraterno, Arthur.”

Trata-se de “Crônicas da província do Brasil”, de Manuel Bandeira, em edição belíssima da COSACNAIFY.

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Ali ficamos, bebendo, jogando conversa, num clima que só mesmo a cidade do Rio de Janeiro – na rua, no centro, na zona norte, nos subúrbios da cidade – propicia. Cidade que, diga-se, continua linda e em paz apesar do massacre a que vem sendo submetida pela imprensa sórdida e nojenta, que dá a esse menino que morreu recentemente, João, um tratamento jamais dado às vítimas anônimas de violências muito mais brutais do que a verificada no assalto que não deu certo. Uma única pergunta, a que faço: se são monstros os meninos que roubaram o carro da mulher que perdeu abruptamente o filho que por uma fatalidade ficou preso do lado de fora do carro pelo cinto de segurança e que recebeu em casa, poucos dias depois da tragédia, Fátima Bernardes e a equipe do Fantástico (câmeras, auxiliares de câmera, maquiadores etc etc etc), o que são os meninos de classe média que atearam fogo no índio pataxó, em Brasília, há não muitos anos? Pigarreio e sigo.

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Dentro da livraria, pendurado na parede, o manto sagrado dava ao ambiente um caráter litúrgico.E quem passa, meus poucos mais fiéis leitores, quem passa caminhando pela rua do Ouvidor, quem passa caminhando lentamente diante da porta da livraria?

Ele, Júnior. O lateral-esquerdo rubro-negro que, na década de 80 e no princípio da de 90 (já no meio-campo), brilhou ao lado dos craques que conquistaram, em 1981, a Libertadores, a mesma Libertadores que perseguiremos nesse 2007 com sanha de possesso.

Eu disse “possesso” e volto a lembrar do Simas, ou melhor, do Amarildo.

Vejam com seus próprios olhos. É ou não é um possesso?

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E eis que chego ao final do relato, não sem antes dizer que foi emocionante assistir a partida, no Estephanio´s, ao lado do Augusto, do Rodrigo, do Simas, do Fefê, do Prata, da Betinha (que mais cedo também chorara vendo o tal filminho a que me refiro a seguir), do Flavinho, do Marquinho, e eu mantenho minha previsão: 2007 será um ano rubro-negro!Vamos ao filminho.

(ô, texto longo!)

Trata-se de um filme bastante antigo. Nele, o comediante Costinha está com seu filho, de 10 anos de idade, na Gávea, para apresentar o menino a seu ídolo, o Zico, ídolo de inúmeras gerações, dentre as quais a minha.

O menino chora, copiosamente – como choramos todos ontem, eu, Betinha, Rodrigo Folha Seca, Szegeri, (e não estou fazendo gênero, meu pai…) – diante do Galinho de Quintino. Chora e não crê na visão do ídolo à sua frente.

E por que – meu velho pai perguntará – choramos todos?

Posso falar por mim, mas tenho a clara certeza de que falo por todos.

Choro porque em 2007 os meninos não têm um único jogador brasileiro, jogando no Brasil, capaz de despertar tamanha paixão. Choro porque em 2007 o dinheiro fala mais alto que tudo, e os meninos não querem mais o futebol de bola-de-meia, a bolinha de gude, o Sítio do Pica-Pau Amarelo, mas o tênis mais caro, o jogo eletrônico mais moderno e votar no BigBrotherBrasil. Choro porque eu sou arremessado ao passado, abruptamente, e soluço de mãos dadas com o Alexandre, e minhas mãos tremem junto com as mãos dele, e eu enxugo minhas lágrimas com os dois braços, junto com ele.

Eu preciso parar de escrever. Choro nesse exato instante, como diz meu mano Szegeri, de maneira imunda.

Ah, sim.E como não quase-morrer de emoção lembrando dos versos do Moraes Moreira?

“E agora como é que eu fico
nas tardes de domingo sem Zico no Maracanã?
Agora como é que eu me vingo de toda derrota da vida
se a cada gol do Flamengo eu me sentia um vencedor?
Como é que ficamos os meninos, essa nova geração?
Arquibaldo, geraldinos,
como é que fica o povão?
Será que tem outro em Quintino?
Será que tem outro menino?
Vai renascer a paixão ou não?”

Até.

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MULHERES E SUAS OBSESSÕES

Eu e Simas passamos, há uns dias, pela mesmíssima experiência, levados, cada um, respectiva e obviamente, pelas mãos de nossas garotas, Dani Sorriso Maracanã e Candida. Deu-se assim a descoberta da coincidência: bateu-me o telefone o Simas, e aflitíssimo – notei pela respiração curta e ofegante.

– Onde você está?

– No shopping.

– Meu Deus!

– E você?

– No shopping.

– Meu Deus! Fazendo o quê?

– Comprando um colchão com a Candida. E você?

– Comprando um colchão. Sem a Dani mas a mando dela. Meu Deus…

– Daqui a uma hora no Rio-Brasília, Edu, por favor.

– Ok!

E nos encontramos, de fato, no Rio-Brasília.

Eu, quando cheguei, já encontrei o simpático casal à mesa. Candida, candidamente sorvia Coca-Cola de canudinho, e o Velho Simas, vermelhíssimo, no maracujá. Ergueu-se o Simas, quando me viu, e deu-me um abraço que só os irmãos dão, cochichando-me ao pé do ouvido:

– Uma fortuna! Uma fortuna!

– Nem me diga! Nem me diga, Simão!

Sentei-me, pedi um maracujá pra mim, e puxei da carteira, revoltado, um panfleto.

panfleto publicitário
– Simas, veja se isso é possível! A Dani enlouqueceu, camarada! Com o dinheiro desse colchão eu passaria o carnaval à base de uísque, pagando tudo pros amigos, gastando, gastando, e ainda me sobraria para uma viagem ao nordeste, eu e ela, pra descansar dos quatro dias de folia!

O Simas bateu os olhos no panfleto e parecia aterrado com o que lia.

– Desde 1898?

– Pra você ver…

– Cinco zonas de suporte especializadas que proporcionam uma melhor adaptação anatômica?

– Pra tu ter noção da coisa… Se eu me mexer à noite, malandro, e meu cotovelo, por exemplo, entrar na zona da coxa da minha garota, fudeu, eu acordo praticamente aleijado…

– Parecido com o meu! Também tem tecnologia HardFoam?!?!?!?!

– Mas é claro! Dani fazia questão disso!

– Candida também, caralho… – e Candinha continua chupando o canudinho prestando tremenda atenção ao nosso desabafo.

– Edu! E há zonas de suporte especializadas estrategicamente localizadas e fileiras de molas mais firmes que dão o suporte anatômico correto às zonas críticas do corpo?

– Há. Claro que há. O que eu não sei, sinceramente, é quais são as zonas críticas do meu corpo – eu disse alisando a barriga proeminente.

– Nem eu – devolveu o Simas coçando, acintosamente, o saco…

– Luiz Antonio! – ralhou Candida.

Ele fez que não ouviu.

– Simão… E por falar em molas…

– Dani também fez questão de molas ensacadas?

– Evidentemente! A recomendação foi expressa! Não importa a marca! Não importa a cor! Não importa nada! Nada! Tem que ter molas ensacadas!

Eis aí, meus poucos mas fiéis leitores, o instante em que interrompo a verídica narrativa para uma breve digressão, que fiz, de pé, e com veemência, para um Rio-Brasília atento.

Falo tendo a Dani como parâmetro, mas sei que o troço vale para qualquer mulher.

Dani viveu décadas dormindo feliz. Dormiu em colchões de mola, em colchões de espuma, em esteiras quando necessário, em sofás quando não tinha jeito, em colchonetes ordinários quando era essa a única opção. Nunca, jamais, em tempo algum reclamou da noite reparadora. Nunca. Mas bastou ver – e aonde eu não sei! – uma propaganda – e eu sempre digo que a propaganda e o marketing são a raiz da infelicidade humana – de colchões com molas ensacadas que tornou-se, o tal produto, sua obsessão olímpica.

Eu, inclusive, se solteiro fosse – fica minha dica – sairia no Bola Preta fantasiado de mola ensacada, uma fantasia simples, bastaria um lençol em volta do corpo, dizendo no ouvido das moças “oi, sou uma mola ensacada, vem dormir comigo que você jamais vai se arrepender” e outras merdas do mesmo gênero. Eu comeria, tenho uma inabalável certeza quanto a isso, várias foliãs, várias, mesmo sendo esse feio que eu sou.

Daí as mulheres, facilmente levadas no bico – que expressão velha! que expressão caquética! -, passam a PRECISAR de um colchão de molas ensacadas para serem mulheres felizes. O marido não mais importa. O namorado é um ninguém. Tudo passa a girar em volta desse mito que é o colchão de molas ensacadas. Choram, fazem beicinho, passam a rolar na cama à noite como nunca dantes atribuindo a insônia à ausência de molas ensacadas, um inferno.

Mas eis que então, colchão escolhido, Dani mandou-me à loja. Lá fui eu, triste, mas fui, que um pedido da minha menina eu não nego.

Entro no loja e vem a vendedora, que não sabe que estou ali com ordens a cumprir. Por coincidência, me aponta o colchão escolhido pela Dani, o que, aliás, torna ainda mais evidente o quanto é agressiva a publicidade da coisa. Estende-me o folheto.

Eu faço:

– Oh!

E ela sorri aquele sorriso peguei-mais-um-otário.

– Gostou, senhor?

– Hum. Mais ou menos.

Ela se decepciona e quase me agride:

– Como?! São fabricados desde 1898!

– Foda-se, minha senhora. Há muita merda fabricada desde muito antes disso…

Ela, com metas a cumprir, finge que não ouve a agressão.

– Mas, senhor… Mas ele é feito de molas ensacadas, e a ação independente das molas asseguram que os movimentos de sua companheira não lhe incomodem durante seu decanso…

– Minha senhora, mas à noite eu quero é rosetar! Se ela dança, eu danço!

Ela vai enrubescendo de ódio mas mantém a fleuma:

– As bordas do colchão são super firmes para sentar…

– Eu sento em poltrona, porra!

Rola uma lágrima dos olhos da vendedora, que range os dentes, num acesso de bruxismo à plena luz do dia.

Até que eu morro de pena e dou o golpe final. Como um possesso, viro o panfleto e aponto.

panfleto publicitário
Finjo estar emocionado. Forjo o choro. E pergunto, já fungando, assoando o nariz, lencinho tirado do bolso na mão.

– O que houve, senhor?

– Como é seu nome?

– Cilene, senhor… O que aconteceu? Fui ríspida com o senhor?

– Não, em absoluto… Se a senhora tivesse me dito antes, dona Cilene…

– Dito o quê?

– Se eu soubesse, dona Cilene, que o doutor Vincent Lucido dorme em um colchão King Koil porque seu desenho anatômico se adapta corretamente ao seu corpo e proporciona o suporte que ele necessita e o conforto que ele quer… – assôo o nariz com força, fazendo um barulho asqueroso – E que é esse o colchão que ele recomenda a todos os seus pacientes…

– O senhor conhece o doutor… ? … como é mesmo o nome dele…?

Eu faço que sim com a cabeça e nos encaminhamos para a formalização da compra.

Contei essa história pro Simas que, diante de uma incrédula Candida – “Vocês, homens, não nos entendem nunca…” – rolava de rir nas calçadas da rua Almirante Gavião.

Até.

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