Arquivo do mês: abril 2006

>CARTA ABERTA AO POVO CARIOCA

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Saiu hoje, no Estado de São Paulo, no caderno Aliás, uma carta aberta ao povo carioca, de minha autoria, sobre a lei recentemente aprovada pelos de(puta)dos estaduais do Rio de Janeiro. A escrevi atendendo chamado da jornalista Monica Manir, que já me chamara, em 30 de outubro de 2005, para escrever – leia aqui – sobre a lei que passou a proibir cartões postais exibindo as mulheres cariocas, as mais bonitas do mundo, em trajes de banho.

Opa! A Monica convocou-me em 30 de outubro. Agora em 30 de abril. Será que posso me considerar integrado aos quadros do Estadão, trabalhando apenas de seis em seis meses?

Negóssiguinte… Clique aqui, desça a página até o final, e à esquerda você poderá ler a carta.

Aliás… deu-me uma vontade olímpica de saber o que pensa o Toledão sobre essa lei…

Até.

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>QUE ASSIM SEJA

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Acaba de ser divulgado: Anthony Garotinho, ex-(des)governador do Estado do Rio de Janeiro, marido da atual (des)governadora Rosinha Garotinho (pelo nome tirem a qualificação da pífia figura), iniciou hoje uma greve de fome.

Anthony Garotinho

O motivo não interessa.

O que interessa é que temos uma oportunidade concreta para que esse sujeito suma de vez.

Vamos torcer, cariocas, vamos torcer, brasileiros que pouco sabem a respeito desse mentiroso, desse sórdido, desse ladravaz imundo que nos envergonha, vamos torcer para que a greve não tenha fim e para que esse gordo safado morra de fome.

E ao contrário do que esse mentiroso, sórdido e ladravaz imundo prega aos incautos valendo-se de rádios ligadas à bancada evangélica, se morrer é o inferno seu destino.

Agora, cá pra nós… A esposa (pausa para vomitar) do sujeito bem que podia ser solidária, hein? E começar greve de fome juntinho com ele, assim, ó, bem romântico…

Até.

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NO TRAPICHE GAMBOA

Ontem fui tornar pública a chegada dos meus 37 anos no Trapiche Gamboa, de longe um dos mais agradáveis bares da noite carioca, comandado pela Claudinha que nos recebeu, a mim e à Dani, por volta das oito da noite, e vejam o tamanho do Maracanã estampado na carinha feliz da Dani, a mulher que me ensinou a sorrir (e eu não aprendi direito, notem que com meu sorriso o meu rosto, em todas as fotografias, assemelha-se a uma cabeça mal cortada de isopor com um risinho tosco).

Dani no Trapiche Gamboa, 27/04/06

Às oito e meia teria início o show da Fabiana Cozza, a quem incensei pesadamente diante de meus amigos, sempre incrédulos graças ao que eles chamam “exagero do Edu”. Mas quebraram a carinha. Assisti, feliz por ter sido o amálgama do encontro, o queixo caído do Toledo (na foto, abaixo, com o Janot), a baba escorrida do Janot, as declarações apaixonadas do Lula, o embevecimento do Vidal, a cara assombrada da Lelê Peitos, e as lágrimas abundantes que escorriam dos olhos do Dalton, meu irmão e cada vez mais meu irmão, que só conseguia apontar e perguntar pra mim “o que é isso?”, assim, alucinado.

Janot, eu e Toledo, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Falei no Dalton e preciso dizer que até que ontem eu estava bem, bebericando minha Original devagarinho, intercalando com garrafas de água mineral, comportadíssimo, e inclusive sem o celular para evitar aqueles telefonemas clássicos da madrugada, geralmente pro Szegeri. Mas o Dalton, tal qual um Zé Pelintra, ficava de assédio etílico pra cima de mim. Daí bebi tequila, cachaça, outras doses que não reconheci, e pronto. Fiquei virado, pedi o celular da Maria Paula emprestado e danei de ligar pro Szegeri (não sei quantas vezes). Ah, o Dalton. É o que mamãe chamava, quando eu era pequeno (quanto tempo faz…), de má companhia.

O Szegeri, inclusive, é tão mito, mas tão mito, como sempre digo (leiam aqui), que parecia ser o aniversariante. As pessoas vinham chegando e antes mesmo de um “parabéns, Edu!”, “feliz aniversário!”, essas frases de praxe, perguntavam ansiosas cravando-me as unhas no braço como gaviões:

– Cadê o Szegeri?

– O Szegeri já chegou?

– A que horas chega o Pompa?

E isso ia me deprimindo de forma olímpica. Eu ali, ansiando por manifestações de afeto, sendo atropelado violentamente pela ausência do meu irmão paulista.

Mas falei nas ausências, e quero dizer que a Fumaça bateu o telefone de Maputo pra me dar beijo ontem. Sempre carinhosa, esteve mais-que-presente no Trapiche. Fiquei bem feliz de ver, por lá, a Incêndio e o Bombeiro, na foto abaixo.

Oswaldo (Bombeiro), eu e Terezinha (Incêndio), no Trapiche Gamboa, 27/04/06

E vejam como é o mundo, que dizem ser do tamanho de um ovo. Eu acho cada vez mais que o mundo é do tamanho da gema de um ovo de codorna. Apresentei papai e mamãe ao Bombeiro e a Incêndio. E pronto. O Bombeiro foi calouro do papai na Escola Nacional de Química, e ficaram ali, os dois, lembrando daquele tempo.

Estava também a Lelê Peitos, e que foi originalíssima. Não chegou de mão abanando, expressão grosseira que neguinho usa pra dizer “chegou sem presente”. Chegou com meu livro nas mãos, orgulhosíssima (Lelê é uma das personagens dele), e cravei a dedicatória declarando, explicitamente, o que sempre digo: é, ela, uma das minhas preferidas. A Sorriso Via-Láctea, como bem a definiu o Szegeri (sempre ele, vejam que não consigo largá-lo).

Lelê Peitos e eu, Trapiche Gamboa, 27/04/06

eu e Duda, Trapiche Gamboa, 27/04/06

eu e Vinagre, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Dani e eu, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Alex e Dani, Trapiche Gamboa, 27/04/06

mamãe, eu e papai, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Papai, aliás, protagonizou hilário momento ontem à noite, que gerou uma frase espetacular do Fefê:

– Edu, eu tenho certeza de que nós vamos, cada vez mais, quanto mais o tempo passar, rir muito com tudo o que o papai faz…

A Fabi (eu, o íntimo) a certa altura tomou-se de encanto e danou de cantar os afro-sambas do Vinicius e do Baden, pontos lindíssimos, o atabaque comendo o couro, as palmas marcando o ritmo, e papai me cutuca apontando pro próprio braço arrepiadíssimo, os olhos vidrados, vermelhos, e diz baixinho:

– Acho melhor eu ir embora!

E foi.

Quem também apareceu, sumido há anos graças aos desencontros que a vida promove, foi o Lula. Quando fui apresentá-lo à Dani, ele disse:

– Eu, o Vidal e o Edu estudamos juntos há… – pigarreando.

Eu disse:

– Uns dez anos!

O Lula relinchou de rir e me consertou:

– Dez? Há dez eu já tinha saído da faculdade! – e riu mais – Uns vinte, no mínimo. Não, não! Vinte e cinco!

Acho que foi nesse instante que os trinta e sete anos desabaram na minha cabeça. Doeu pacas.

Vidal, eu e Lula, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Dalton e eu, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Fefê, eu e Brinco, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Dani, Moniquinha e Banana, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Aliás o Fefê também quase me mata. Vou quebrar o sigilo da dedicatória que fez no livro que me deu, “Um homem chamado Maria”, perfil de Antônio Maria, um de meus mais queridos personagens:

“Meu irmão, eis o perfil do homem que tratou de desenvolver habilidosa malícia com as palavras e que vivia em constante estado de poesia. Que coincidência!! Parabéns, te amo, Fê”

Outra espetacular presença foi a do Mauro, mais um dos irmãos que a vida me deu. O Mauro chegou com duas mulheres. E em menos de uma hora todas, rigorosamente todas as mulheres que estavam no Trapiche, toda a assistência, as garçonetes, as cozinheiras e até mesmo as desencarnadas que freqüentam a Gamboa, babavam por ele. Não é à toa que o Szegeri (ele, de novo) diz sempre:

– Beleza acachapante não é a do Branco. É a do Mauro!

eu, Mauro e Fefê, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Itamar, eu e Ruivinha, Trapiche Gamboa, 27/04/06

eu e Guerreira, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Marquinho, eu e Mariana Blanc, 27/04/06

Ah, sim! E os presentes? Espetaculares, espetaculares! A Banana, por exemplo, deu-me um Sundown, fator 15, da Johnson&Johnson. E dirão vocês, “mas um Sundown?”, assim, achando o troço ridículo.

É que há algumas semanas encontramo-nos na praia, eu e a Banana. Fui passar o protetor solar a certa altura. Tirei da bolsa meu Sundown 15, 150ml.

E a Banana imita o gesto. E da bolsa tira seu Sundown 15 também. Só que 200ml.

Pausa para um cochicho no ouvido do Szegeri:

– Querido, note como seu irmão está cada vez pior…

Daquele momento em diante, na praia ensolarada e de céu azul, nublei-me por dentro. Senti-me humilhadíssimo, tal como deve se sentir o menino de pau pequeno diante do amigo bem dotado no chuveiro do vestiário. Fiquei, ali, tristíssimo (pedi emprestado seu Sundown), perguntando onde eu poderia encontrar um daqueles, o preço, essas coisas.

E deu-me, a Banana, um 200ml lacradinho ontem. Fiquei tããããão feliz… Nova pausa, novo cochicho:

– Szegeri, a tendência é piorar?

Lula, Maria Paula, Vidal e Gláucia, Trapiche Gamboa, 27/04/06

eu e Rodrigo, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Fabiana e eu, Trapiche Gamboa, 27/04/06

Ganhei também o DVD duplo do filme “Vinicius”, e acho que verei um pedacinho todos os dias. Livros. Bebidas. CD´s. Mas nada que se compare ao carinho, ao amor, aos amigos que são a fonte permanente geradora de cada vez mais carinho e cada vez mais amor tornando a vida um troço cada vez mais bonito.

Foi comovente receber o telefonema da Fumaça, de Maputo, da Inês, de Boston, do Cris, de Clermont-Ferrànd, de tantos queridos amigos longe do Rio mas sempre perto de mim.

Vocês leram o mais recente comentário da Juliana Amaral, a doce Ju, no Buteco? Disse ela a certa altura:

“Querido meu, hoje acordei de manhã cedo pensando nas palavras que colecionaria pro seu primeiro presente. Aliás, coisa linda que é a palavra, o presente. E daí lembrei desse aqui, quase tolo (como têm de ser os presentes), tão infantil (como é a delícia de ganhar o presente) e tão infinito (como quer ser o afeto que se dá de presente). Então lá vai. Abra o laço de fita vermelho, desembrulhe o papel de seda azul, e leia devagar, pra aproveitar cada pedacinho. Junto dele, meu carinho. E à noite o samba será pra você, seu outro presente.”

Bom. Cheguei em casa ontem e fui ouvir os recados deixados no celular.

E ouvi, olhos cheios d´água, o meu “outro presente” da Ju, cantando justo o que havia me chegado por escrito, no cartão do Fê (ele, o Szegeri, mais uma vez) e da Stê:

“Tudo em volta é só beleza
Céu de abril e a mata em flor
Mas assum preto, cego dos óio,
não vendo a luz, ai, canta de dor…”

PQP, queridos. Isso é a tal beleza que dói e que vinicianamente percebo me pesando nos ombros.

Daí tinha também outro recado da Inês, da Luana, dona dos olhos verdes que vivem deitados no meu coração, de uma porção de gente que faz toda a diferença.

Bom, depois de um bom tempo escrevendo curtinho, e como diria o meu mano Szegeri (ele!, ele!, ele!), eis a saga de ontem.

Até.

PS: eu já estava tão fora de órbita a certa altura, que não lembrei de fotografar outro pomposo ser humano, o Lara, que chegou com aquele sorrisão clássico e uma garrafa de licor de marula que vou detonar em casa, com ele e com o Dalton, acabei de decidir.

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PRENDAS – PARTE IV

É muito, mas muito, mas infinitamente muito bom ser padrinho de afilhada desse jeito! Some-se ao recado mais-que-fofo da Iara, sereia das minhas águas, o bilhetinho que me foi entregue, ontem à noite, no Trapiche, pela minha comadre Mariana Blanc, escrito pela Milena, minha Mimi, dona dos mais lindos e apaixonantes cílios do planeta. Se eu já estava assim pra lá de Marrakesh, fui à lua e voltei três vezes de orgulho e paixão.

bilhete pra mim, da Milena, 27/04/06

“Dindinho querido, eu te amo demais! Estou com tantas saudades que axo que vou explodir! Você podia almoçar comigo, com a mamãe e com o Marquinho esse fim de semana. Você e a dinda. Feliz aniversário e que todos os seus desejos se realizem! Milhões de beijos, Mimi”

Resultado prático: sístoles e diástoles rigorosamente fora de qualquer compasso lógico, planos para o fim de semana rigorosamente desfeitos pra poder encaixar o almoço com a minha borboletinha e a certeza de que meus desejos se realizarão.

Ô, sorte!

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>PRENDAS – PARTE III

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Bom. Essa foi de matar.
Iara, minha afilhada e de Dani, fotografia de 2005

http://www.castpost.com/Lib/playm1.php?filename=recado_iara_27042006.mp3&url=http://edugoldenberg.castpost.com/
ouça aqui o recado da Iara

“Oi, tio Edu. Eu queria muito falar com você, mas já que você saiu, eu penso em ligar depois ou você me liga, se eu estiver na escola. Tchau. É a Iara…”

Iara, a minha sereia, filhota dos queridos Szegeri e Railídia.

PS: quando ela fala o “s” da “escola” eu tenho arrancos de quase-morrer.

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>PRENDAS – PARTE II

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E agora ela, a mulher que me ensinou a sorrir, minha Sorriso Maracanã, Tomtom (pros íntimos), que acabou de sair pro trabalho, acaba de chegar linda e cheirosa, como sempre.

o cartão e a orquídea

a orquídea e seus botões

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>PRENDAS – PARTE I

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Meu irmão Szegeri e minha querida e doce Stê acabaram de chegar, lindos, lindos, lindos, em forma de orquídea!

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A ESPIRAL – PARTE III, FINAL

Dez minutos para as quatro horas dessa madrugada de 27 de abril, e se ainda hoje, a poucas horas de completar 37 anos, ainda resta “essa faculdade incoercível de sonhar e de transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é, e essa visão ampla dos acontecimentos, e essa impressionante e desnecessária presciência, e essa memória anterior de mundos inexistentes, e esse heroísmo estático, e essa pequenina luz indecifrável a que às vezes os poetas dão o nome de esperança”, devo isso a essa mulher que me tem no colo, minha mãe, formosa, e para quem canto pra dentro, agora mesmo, “formosa, não faz assim…”.

E não faz assim, formosa, porque eu não tenho mais o coração novo e à prova de emoções fortes que eu tinha nesse longínquo 69, nem tampouco essa capacidade de sorrir puro desse jeito. Vai que eu nem chego aos 37. Eu, hein! Toc-toc-toc, que viver é bom. Aliás, formosa, eu continuo cantando e, puta merda, eu precisava levar tão a sério essa história de que “ninguém tem nada de bom sem sofrer”?

minha mãe e eu, 1969, na Quinta da Boa Vista, RJ

Formosa, estava lembrando agorinha mesmo daquela manhã de domingo.

E vejam vocês, com quem divido esse arremesso ao passado dentro dessa espiral que me tira pela terceira noite seguida o sono e conseqüentemente os sonhos, se isso é possível e se teria sido possível eu ser 100% normal.

Sexta-feira, 25 de abril de 1969, vai mamãe ao médico. Exames, exames, exames, e diz o doutor:

– Muito bem, minha filha! Tudo em ordem! O bebê chega na segunda quinzena de maio!

Êta ferro a festa que foi.

Papai trabalhava, nessa época, na REDUC, refinaria da Petrobras, em Duque de Caxias, em regime de plantão. Pegava no batente às nove horas da manhã, na Brigada de Incêndio da empresa.

Já é madrugada de domingo e o velho Isaac acorda sobressaltado.

E lá, não um corpo estendido no chão, mas um índio, parrudíssimo, de pé ao lado da cama onde dormiam. Estranhamente, sente-se calmíssimo diante da visão, que é novidade até então. Papai – é ele quem conta – vê luzes impressionantes, coloridas, riscando o quarto do bebê que chegará na segunda quinzena de maio. Ouve uns sons, não os identifica, também vindos do quarto ao lado. E o caboclo dá o aviso. O curumim nasce hoje, domingo, dá um sorriso firme, faz que sim com a cabeça diante do susto do pai de primeira viagem e como surgiu, some. E somem as luzes, volta a fazer silêncio, e cadê que o velho Isaac voltou a dormir? Tinha de tomar o ônibus às seis da manhã. Levanta-se. Banho. E vai a formosa à cozinha preparar seu café, sua marmita, e vem o velho já pronto.

Faz um carinho na barriga da formosa:

– Não vou trabalhar… Nasce hoje, o bebê.

Aliás, ô tempo que permitia a ansiedade… menino ou menina?

– Mas o que é isso? – diz a formosa – Você não ouviu, Isaac? É para o meio de maio…

E faz um cafuné na cabeça de meu pai, que por sua vez conta pra formosa sobre a visita do caboclo, as luzes e os sons vindos do quarto, e mamãe diz apenas:

– Você está impressionado…

E meu pai não sossega enquanto não convoca a sogra para passar o domingo com a filha, não desencana enquanto não telefona para o médico que confirma o prognóstico. E segue o rumo do trabalho.

Chega à Duque de Caxias.

E dá de cara com seu chefe, aflitíssimo:

– Isaac! Volta pra casa, rapaz! Teu filho nascendo!

Antes das nove da manhã, ó, pow! Estoura a bolsa da formosa.

Façam uma idéia da viagem de volta de meu pobre pai, que encontra um bilhete em casa, Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, evidentemente, dando conta de que a formosa e a mãe estão na Ordem Terceira da Penitência, na Tijuca, obviamente.

E façam uma idéia do encontro dos olhos dos dois. Papai com aquele olhar “não-te-disse” e mamãe com um espantadíssimo olhar de volta no melhor estilo “que-índio-é-esse”.

Que índio é esse?

Sem mais detalhes.

Mas são hilariantes as histórias do curumim, ainda começando a falar, dizendo aos pais:

Vô pro quarto brincar de flecha com meus amiguinhos.

Ou diante do marzão, na Praia do Pepino:

no mar conversar um bocadinho e já volto.

E contam, a formosa e meu pai, que saltavam as veias do pescoço do garoto que gesticulava desesperado em direção ao horizonte, pra depois voltar pra areia calmo e com cara de satisfeito, aquele olhar “tudo-resolvido”.

É isso.

Às 15h32min eu cheguei.

Quando eu for embora – toc-toc-toc, que quero seguir vivendo tendo tudo de bom mesmo que pra isso eu tenha de sofrer ainda mais, formosa… – tem gente já instruída pra abrir o gurufim com essa canção que, sabe-se lá por quê, me faz parecer o chafariz da Praça Xavier de Brito nos seus melhores dias, na Tijuca, é evidente.

“De que calada maneira
você chega assim sorrindo.
Como se fosse a primavera…
Eu morrendo…
E de que modo sutil
me derramou na camisa
todas as flores de abril.

Quem lhe disse que eu era
riso sempre e nunca pranto.
Como se fosse a primavera…
Não sou tanto…
No entanto, que espiritual
você me dar uma rosa
de seu rosal principal

De que calada maneira
você chega assim sorrindo.
Como se fosse a primavera…
Eu morrendo…
Eu morrendo!”

Até.

PS: duas coisas já me derrubaram antes mesmo do sol aparecer. O primeiro telefonema, da mais-que-doce Robertinha Valente, de SP, longe infelizmente, e o primeiro email, empolgadíssimo, do Cristiano, da França, ainda mais longe. E, putz!, eu consigo ficar ainda mais bobo e ainda mais emotivo nesse dia.

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A ESPIRAL – PARTE II

São três e vinte da manhã, madrugada de 26 de abril, véspera do dia em que nasci, e tal qual nas madrugadas da minha cada vez mais distante adolescência, quando de dentro do quarto do apartamento da Professor Gabizo vazava luz pela fresta da porta em direção ao corredor, eu, o menino debruçado sobre a poesia de Vinicius preocupando papai e mamãe com uma insônia que parecia-me, à época, fruto das angústias dos vestibulares iminentes, fruto das angústias e das dores de amores que tinham fatalidades capazes de induzir à morte, e cá estou, de novo acordado, sem qualquer espectro de vestibular à vista mas ainda com dores de amores capazes de induzir à morte, novamente sem sono e insone, minha insônia é perene, e novamente debruçado sobre a poesia que me redime desde que me entendo tal como sou.

Vinicius de Moraes, Poesia Completa e Prosa, Volume Único, Editora Nova Aguilar, 1998, capa

E eu fico, tal como ficava, com as mãos trêmulas folheando as 1.571 páginas impressas em papel-bíblia, o que dá conotações ainda mais espetaculares à minha saga poética em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Rio, e por dentro rio espetacularmente quando lembro de quantas mulheres impressionei, e quantas conquistei, recitando Vinicius de Moraes, e rio ainda mais intensamente quando lembro do critério criado por aquele adolescente sempre muito feio e por isso mesmo sempre muito tenaz quando o assunto era a sedução, sempre ligada à poesia, que me fazia ser o autor daqueles versos que faziam os olhos da namorada darem voltas impressionantes a ponto de deixá-las tontas a ponto de, pronto!, caírem todas no meu colo e nos meus braços fraquíssimos mas dotados de uma paixão lancinante, como devem ser as paixões que valem a pena. “O Poetinha há de me perdoar”, eu dizia enquanto cantava empunhando o violão “se você quer ser minha namorada, ah, que linda namorada você poderia ser, se quiser ser somente minha…”, e eu tinha ímpetos de declará-lo santo eis que várias foram mesmo minhas namoradas, todas lindíssimas e todas somente minhas, coisinha que ninguém mais pôde ser.

Vinicius de Moraes, Poesia Completa e Prosa, Volume Único, Editora Nova Aguilar, 1998

E daí as mãos trêmulas têm de dar lugar a uma mão firme. Quero fazer fotografias. Preciso ilustrar o texto. Preciso caprichar. Tenho gostado tanto do Buteco. Bebi ontem à noite com meus companheiros da confraria e hesito diante da garrafa de Red Label que faz psiu do bar em minha direção. Ou é o Vinicius que me chama? Imagina se o Véio Vina perderia um só segundo de uma noite dessas comigo! Se bem que um golinho acalmaria o tremor das minhas mãos. Tenho o corpo suado. Não bebo. Mas faço as fotografias. Vinicius morreu há 26 anos. Faço 37 amanhã. Lembro-me, nitidamente, do dia de sua morte. Tinha eu só 11 anos de idade naquele julho longínquo. Ele já era um santo quando vivo. Orixá poderoso. Saravá, Vinicius.

Busco, diante da noite, alta madrugada, a tal intimidade perfeita com o silêncio enquanto peço perdão por tudo, enquanto exerço a auto-piedade, eu não tenho culpa de ter nascido.

Tenho, ainda hoje, como tinha, já naquele quarto de minha adolescência encoberto pela fumaça de maços de Carlton que fumava desbragadamente, um respeito tremendo pela noite, que é por isso mesmo antigo, e vaza uma lágrima sobre a página 526 da edição da Nova Aguilar de 1998 e tenho novamente arrancos de rir quando lembro de quantas edições já tive e de quantas edições já dei de presente para mulheres que juraram, um dia, seguir comigo em meu caminho mesmo diante do meu anúncio de que talvez o meu caminho fosse triste para todas elas.

Voltam a mim, novamente como sempre, esses sentimentos de infância subitamente desentranhados de pequenos absurdos e essa capacidade de rir à toa – como rio, hoje… – e esse ridículo desejo de ser útil e essa coragem para comprometer-se sem necessidade e que tem me custado caríssimo, mas um preço que eu pago e que pagarei ainda que me neguem o troco.

Vinicius de Moraes, Poesia Completa e Prosa, Volume Único, Editora Nova Aguilar, 1998

“O Haver”. 15 de abril de 1962. Não havia Edu ainda. E o bruxo de cabelos esvoaçantes brancos, mago do malte e dono da voz que me embalou os sonhos de ser como ele – ah, essa faculdade incoercível de sonhar e de transfigurar a realidade – já havia escrito a oração que mais rezei, que ainda rezo, que agora rezo, que rezarei enquanto me for possível. “O Haver”.

Até.

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>25 DE ABRIL

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E há 32 anos, a Revolução dos Cravos, em Portugal. E lembrando da data, lanço uma curiosidade que não sei se é do conhecimento de todos. Trasnscrevo, primeiro, a letra original de Chico Buarque, para a canção “Tanto Mar”, alusiva à data, vetada pela bruta e burra censura brasileira.

Nem sequer posso desconfiar a razão do veto.

Importa é que a segunda versão, gravada no Brasil, é muito mais significativa. E os imbecis a liberaram. Vá entender.

Em 25 de abril de 1974, há 32 anos, acontecia, em Portugal, a Revolução dos Cravos
Tanto Mar
(Chico Buarque)

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

* Letra original,vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975.

E eis a segunda versão, de 1978.

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

Até.

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