Arquivo do mês: janeiro 2007

BALCÃO DE NEGÓCIOS, BALCÃO DE EMPREGO

Francamente, como diria meu eterno e saudoso Governador Leonel de Moura Brizola… Os trinta e três atentados cometidos pelo jota, apontados na coluna à direita, no menu do blog, não deixam dúvida: trata-se do maior vendilhão do jornal O GLOBO, que tem diversos vendilhões entre seus empregados, nenhum tão eficiente quanto o homúnculo.

Mas o homúnculo é o homúnculo. E ele se supera dia após dia. Vejam isso.

É ou não é um nojo?

Valendo-se de um espaço como o que tem à disposição no Segundo Caderno d´O GLOBO, o jota oferece emprego ao medíocre garçom do Bracarense.

Antes, breve pausa. Vocês sabem que eu sou preciso do início ao fim. Por isso pedi a um amigo meu, cuja identidade omitirei, que procurasse saber a verdadeira história por trás da demissão do Chico. Sim, demissão. Conhecendo o jota como eu conheço, mentiroso como ele só, eu sabia que o Chico não havia pedindo as contas porra nenhuma. E eis, meus poucos mas fiéis leitores, o email que recebi desse amigo a que me referi:

“Tarde de sábado, 23 de dezembro, Bracarense lotado de ninguém (ou seja, “aqueles” mineiros, paulistas e que tais, que ficam fotografando o bar), como de hábito ultimamente.

Um garçom da melhor categoria, Tadeu, monta uma mesa de pé, na beira da calçada, para uns 10 malandros daqueles – leia-se, chance ímpar de ele colaborar com o caixinha coletivo da rapaziada, uma vez que o Chico, sozinho, levava um caixinha particular dele, sempre turbinada pelos já citados ninguéns.

Tratando os indivíduos com insuspeitíssima delicadeza, e já de posse de uma bandeja recheada de tulipas e caldeiretas, nosso bom Tadeu é abordado, em pleno balcão, pelo Chico, que lhe cobra satisfação e distância dos clientes de sua “carteira própria”.

Como esperado, todos – eu disse todos – os garçons e atendentes voltam-se contra o Chico, que, pelas costas, dá um tapona na orelha do bom Tadeu; resultado: tomou porrada até dizer chega, e ambos foram para o chuveiro, de imediato, suspensos por vinte dias.

Consultado por interessados, afirmei que a não demissão tornaria praxe esse tipo de episódio, em especial em tempos de vacas magras, quando é mais interessante ficar em casa sem trabalhar.

Resultado: RUA para ambos, e torço para que o bom Tadeu consiga breve recolocação; ele é dos nossos.”

Como o jota não tem sequer cacoete de jornalista, evidentemente que não procurou saber da verdade. E se procurou – do que duvido – a omitiu, como sempre. Repetindo: Chico foi demitido. Sumariamente demitido. Ponto pro Bracarense, que se livra, assim, de um medíocre elevado à categoria de celebridade graças a elementos como Manoel Carlos e o jota, que sempre que pode dá um jeito de falar no cara, como aqui e aqui, pra só citar dois exemplos.

Quero encerrar por hoje com uma, digamos, previsão quase-óbvia.

Em questão de dias o homúnculo anunciará, com destaque, a contratação do medíocre garçom sumariamente demitido do Bracarense por um desses bares-de-merda volta e meia exaltados por sua coluneta, tão medíocre quanto.

Até.

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>A MÃO ESQUERDA

>


Eu não sei exatamente como começar. Mas vou tentar. Não sem antes dizer que hoje pela manhã, antes de sair de casa, pedi desculpas à Dani por meu destempero e ela me disse, conclusiva, mas com aquele sorriso que quase me mata:

– Você é dodói demais…

É que ontem à noite, assim, como quem não quer nada, ela me perguntou:

– Você viu “A Mão Esquerda”, do Fausto?

Eu nem a olhei. Respondi de costas mesmo, blasè:

– Não. Por que?

– Sumiu.

Deu-se o caos.

Eu já suava em bicas (estávamos no ar-condicionado). Fui à estante, como um louco. Ela interrompeu minha busca:

– Já procuramos em tudo…

– Procuramos quem?

– Eu e a Leinha…

– E?

– Sumiu.

Agora serei direto em meu patético apelo.

Eu não empresto livros em nenhuma hipótese, e empresto ao “nenhuma” a ênfase szegeriana. Não é que eu desconfie do caráter do sujeito a quem emprestaria o livro, em absoluto. Mas é regra pétrea esse troço de emprestar o livro e o livro nunca (szegerianamente de novo) voltar. Simples. O sujeito lê, guarda na intenção de um-dia-eu-devolvo e fica por isso mesmo. Tenho eu a impressão, levíssima e quase que inocente, de que foi isso o que aconteceu com meu exemplar de “A Mão Esquerda”. Dani, minha Sorriso Maracanã, um ser humano infinitas vezes melhor que eu, mais generosa, mais tudo o que há de bom, uma pessoa com extremíssima dificuldade de dizer não, emprestou o livro. E seguiu-se a pétrea regra. Ela emprestou. Leram o livro. E ele está em algum lugar, em alguma estante, lido por mim cinco ou seis vezes, com a dedicatória que o Fausto me fez e eu estou aqui, tristíssimo, amputado, procurando por ele nos mais improváveis lugares (perguntei ao motorista do ônibus que me trouxe ao trabalho se ele estava com meu livro, já catei em todo o escritório, em todas as gavetas… e nada).

Eis a razão pela qual tento, espero que não em vão, localizá-lo por aqui.

Se está com você, pelo amor de todos os deuses, escreva-me. Não medirei esforços para buscá-lo hoje mesmo.

Até.

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INCOMPETÊNCIA É ISSO AÍ!!!!!

Eis que pouco depois de tecer rasgadíssimos elogios à transparência do sorriso da minha garota e à capacidade de ver a grandeza do mesmo demonstrada pela deputada Manuela Dávila sou obrigado a voltar aqui, ao balcão do Buteco para, uma vez mais, gritar:

– Como são burros! Como são incompetentes! Como são azêmolas, em sua grande maioria, os empregados do jornal O GLOBO que se dizem, coitados, jornalistas!!!!!

E isso por que?

Um empregado do jornal, coleguinha de redação do Joaquim Ferreira dos Santos, da Ana Cristina Reis e de outros mais constantemente denunciados por mim, preguiçoso que só ele, incapaz de um único telefonema para averiguar o assunto sobre o qual ficou incumbido de tratar, incapaz de levantar o rabo da cadeira diante do computador (esses incompetentes têm o Google como única fonte…) e correr atrás da verdade, chamado Luiz Ernesto Magalhães (não o conheço), assinou nota intitulada “Próximo fim de semana já terá grandes blocos”.

E o que diz a nota mal escrita?

Que o bloco Segura pra não cair, do qual fui um dos fundadores, desfilará no próximo domingo.

O bloco Segura pra não cair não desfila desde 2005. Em 2006 já não desfilou. E não desfilará em 2007.

Mas pra esses caras, que não sabem PORRA NENHUMA (aos gritos, como deve ser), que deveriam ter vergonha de se dizerem jornalistas, o bloco está, ó, prontinho pra desfilar. Não tenho a menor dúvida de que foi o Google que contou pra ele.

Ou – bem possível – o preguiçoso empregado d´O Globo fiou-se na informação do guia de blocos da cidade editado pelo vereador Eliomar Coelho. Sua assessoria, tão preguiçosa quanto os yuppies do jornaleco, desde o ano retrasado recebe e-mails meus dando conta da extinção do bloco.

E não é com eles. O bloco foi anunciado no guia do ano passado. E no desse ano também. Tsc.

Tá feia a coisa, como diz o Simão.

Muito feia.

Até.

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TRANSPARÊNCIA É ISSO AÍ!!!!!

Vou ser brevíssimo, que o dia hoje está daquele jeito!

Ontem à noite estive com a Dani na Lapa. Sendo mais preciso, chegamos à tarde, depois de uma belíssima manhã de domingo na praia, para almoçarmos no Cosmopolita. A nos acompanhar, o legendário Borgonovi – no curso da semana conto histórias do malandro – e Pedro Altman, ambos egressos de São Paulo.

O objetivo era assistirmos aos shows de Martinho da Vila e Beth Carvalho, no encerramento de mais um dia de atividades da Quinta Bienal da UNE. Fomos convocados – conto esse detalhe em nome da precisão – pelo Julio Vellozo, também de São Paulo, que tem, isso foi facilmente percebido, mais poderes entre a estudantada brasileira do que pastores-níquel entre fiéis dizimistas. Um troço de louco. Não havia um estudante, uma estudante, ninguém, capaz de dar um passo sem antes perguntar a ele, Julio Vellozo, que caminho tomar. Dito isso, em frente.

A certa altura o Julio faz um sinal em nossa direção, deixando evidente que quer nos apresentar uma pessoa. Chegamos pra perto.

Nesse exato instante eu já a havia reconhecido.

E disse o Julio:

– Manuela, esse é o Edu… E essa é a Dani, Manuela, mulher dele…

Pequena pausa. Nesses tempos em que achincalhar político é o troço mais fácil e corriqueiro do mundo, neguinho tem dificuldade de perceber o trigo no meio do joio.

E a Manuela Dávila, única deputada federal do PCdoB, do Rio Grande do Sul – ave, Leonel! – não é trigo apenas por ser linda, com uma cara franca, um jeito aguerrido que acabou por levá-la à Brasília. Não. Tem olhos de ver. Vejam se não.

Feita a apresentação, Manuela cochicha algo ao pé do ouvido do portentoso Julio. Julio, por sua vez, sorri. E diz em nossa direção…

– Manuela… Essa é a Dani Sorriso Maracanã… – e riu, antes de prosseguir… – Edu, Dani… ela acabou de me dizer aqui… ´que sorriso o dela!, que sorriso!´.

Minha garota é demais.

Nem a belezura dos Arcos da Lapa, aquela tremenda lua por cima, foi capaz de ofuscar seu brilho. E a moça dos pampas, ó, sacou tudo.

Até.

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>MAIS UM PRESENTE IRRETRIBUÍVEL

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Eu já perdi a conta de quantas vezes disse, aqui mesmo, no balcão do Buteco, que uma das maiores lições que recebi – e aprendi, e apreendi – de meus pais foi a que me ensinou a cultivar o sentimento da gratidão. Essa, e não outra, a razão que me fez escrever, em setembro do ano passado, um texto chamado “Os Presentes Irretribuíveis”, que pode ser lido aqui.

Pois ontem, 25 de janeiro de 2007, recebi mais uma irretribuível prenda.

Pausa: escrevo “prenda” e me bate uma aguda saudade dos queridíssimos Inês, Crespita, Eurico, Próspero e Cidália. A eles, meu carinho transatlântico. Dito isso, em frente.

Rodrigo Folha Seca, um dos sujeitos mais carinhosos de que se tem notícia – o homem é tátil como eu – bateu-me o telefone ontem:

– Edu! Deixaram um presente pra você aqui na Folha Seca… Vem buscar!

Eu, curiosíssimo, fui. Aliás, ninguém mais curioso que eu. Ninguém. Estivesse eu em São Paulo, em Manaus, em Porto Alegre, e eu seria um homem em estado de nervos à espera da passagem aérea que me traria para o Rio de Janeiro, mais precisamente para a Rua do Ouvidor. Eu posso, inclusive, do alto da minha experiência no assunto dizer em altíssimo som: curiosidade não mata. Ou eu já seria um fóssil.

Eis que chego à livraria Folha Seca esbaforido e já entro atropelando clientes:

– Cadê? Cadê? Cadê?

Esqueço-me – confesso – de cumprimentar o Bruno, a Dani, o próprio Rodrigo.

E ele, Rodrigo, ciente de que nada me desviaria do foco, estende em minha direção um embrulho, lindíssimo, que eu destruo com a fúria de uma criança de cinco anos de idade ansiosa pelo presente de Papai Noel.

Antes, porém – fingindo fleuma, confesso – abro o cartão pregado no embrulho. Leio. E quase-morro. Ei-lo:

cartão

No verso, minha caricatura, obra do Bruno, braços direito e esquerdo da Dani e do Digão, discípulo confesso do mestre Loredano. Ei-la:

caricatura de Eduardo Goldenberg, por Bruno Cesar

E só então, já explodindo de felicidade, deparo-me com a garrafa de White Horse, devidamente aberta naquele mesmo instante, celebrando o comovente brinde naquele meio de tarde.

Disse-me o Rodrigo, o Carinhoso, fazendo festinha na minha mão, valendo-se de um de seus bordões:

– Gostou, velhinho?

Eu disse:

– Muito mais do cartão… muito mais do cartão…

A eles três, daqui, diante do balcão imaginário, ergo o copo com espessa espuma, jurando eterna gratidão por mais uma indizível página da minha já não tão curta vida.

Até.

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>MAIS MERDA NA KOMBI DO JOTA

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Faz anos hoje meu (mais) velho pai, Isaac Goldenberg. É a ele que rendo as homenagens hoje, de pé no balcão imaginário do Buteco, o que não me impedirá, evidentemente, de logo mais à noite, render-lhe as homenagens pessoalmente, que ele sempre as merece.

Dito isso, em frente.

Quero que vocês acompanhem comigo, detalhadamente, o trigésimo terceiro atentado cometido pelo homúnculo. Dirão vocês – e isso só me ocorreu agora!:

– Mas por que a palavra atentado?

Explico.

Porque o jota atenta contra a inteligência do leitor. Porque o jota atenta contra o bom jornalismo. Porque o jota atenta contra a ética. Porque o jota atenta contra a cidade do Rio de Janeiro. Porque o jota é um terrorista em potencial. Com a arma que tem nas mãos – uma coluna diária no lixo que é O GLOBO – violenta, dia após dia, as mais caras tradições do carioca, e fatura horrores com esse terror. Vejamos se estou errado.

publicado no Segundo Caderno de O GLOBO de 25 de janeiro de 2007

No dia 09 de janeiro, portanto há apenas 16 dias, o empregado d´O GLOBO publicou uma nota, como mostrei aqui, anunciando a inauguração de um restaurante japonês, o Nakombi, do qual Roberto Talma – segundo a mesma nota – é um dos sócios.

E o que escreve hoje, o homúnculo?

Merda, pra variar. Mas sejamos mais precisos…

Faz ostensiva e vergonhosa publicidade nas barbas dos editores do jornal, que não têm – isso é impressionante! – coragem de impedir prática tão nojenta.

Leiam vocês mesmos.

Até de uma marca de chinelos o empregado d´O GLOBO leva algum. Não é possível que não.

Até.

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>CURTINHA É SÓ A NOTA

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Curtinha é só a nota, pois a nota que gera nota após nota de curta não deve ter nada. Pra bom entendedor meia palavra basta. E vamos a mais um atentado cometido pelo inigualável jota, em sua coluna de ontem, 22 de janeiro de 2007, dia em que o mesmo retornou de férias.

Tudo bem que Antônio Pedro Figueira de Mello tenha sido nomeado diretor de operações da TurisRio. Não se discute, aqui, se tal nomeação merecia ou não menção na imprensa. Sejamos complacentes (e sendo complacente estou sendo o anti-Edu, mas sejamos…).

Mas vamos ao aposto explicativo que o jota usou:

nota publicada no Segundo Caderno de O GLOBO de 22 de janeiro de 2007

Quer dizer… o homúnculo conseguiu, na referida nota (imunda, como de costume), fazer propaganda de três estabelecimentos comerciais que atentam contra a carioquice.

É, sejamos precisos, o trigésimo segundo atentado cometido pelo empregado de O GLOBO.

E se você acha que eu exagero, se você acha que eu marco em cima demais, se você acha que o jota não é tendencioso e que tudo não passa de uma simples coincidência… Dê uma olhada nisso aqui, de julho de 2006. Trata-se de mais uma imunda nota (como sempre) do empregado d´O GLOBO, exaltando a mais fresca loja de cachorro-quente da cidade, justamente do cidadão recentemente empossado diretor da TurisRio.

Até.

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>LIVRARIA FOLHA SECA – 3 ANOS

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E eis que no sábado, 20 de janeiro de 2007, dia de São Sebastião do Rio de Janeiro, a Rua do Ouvidor, aquele canto mágico da cidade, foi testemunha uma vez mais – e eu junto, graças a todos os deuses – de um momento que nos dá, aos cariocas de boa cepa, a certeza de que vivemos na Cidade Maravilhosa, maiúscula.

Os igualmente maiúsculos cariocas Rodrigo Ferrari e Daniela Duarte receberam pouco mais de 300 pessoas para comemorar, aproveitando o ensejo da festa do padroeiro, o terceiro aniversário da mais carioca das livrarias da cidade, a livraria do meu coração, a Livraria Folha Seca.

Não vou, aqui, dizer quem estava, quem não estava, para não cometer injustiças que seguramente viriam a reboque da falta de memória.

E vou repetir, aqui, o que eu disse a muito gente durante a festa: não havia um mísero jornalista cobrindo aquela celebração, prova impressionante da força do povo carioca que resiste às carradas de pessimismo que nos impingem os jornais, as revistas, a imprensa em geral. Foram horas de festa. Muita bebida. Um feijão servido a centenas de pessoas – pequena pausa para dizer que o feijão foi feito com tempero e carinho na medida certa pela Joana. E nenhuma briga. Nenhum tumulto. Nada além de uma tremenda manifestação coletiva de orgulho.

E aquele ambiente de alegria só terminou quando raiou o dia.

Exatamente como cantou outra carioca máxima, Beth Carvalho, como vocês poderão ver no video abaixo.

Mas antes de encerrar, quero lhes contar um troço bonito que me dá a certeza de que aquela livraria é mais, é muito mais que um livraria, um simples ponto comercial. É o bunker da paixão do carioca por sua cidade, assentamento sobre o qual a força que mantém viva essa paixão desmedida se consagra. A Beth escreveu belíssima declaração – de amor – no livro de presenças da festa. Lembro-me, apenas, da primeira frase, que diz tudo:

“Nunca é tarde para se conhecer o paraíso.”.

Até.

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SIMAS, PRECISO DO INÍCIO AO FIM

Quero confessar, de público, que poucas vezes li relato tão preciso quanto esse, que transcrevo, na íntegra, imediatamente abaixo. Escrito pela caneta danada do mano Simas, do imprescindível blog Histórias do Brasil, o texto é expressão fiel da verdade. E uma espécie de declaração de princípios meus, escrita – eis o mais bonito – não por mim, mas por alguém que me conhece como poucos. Eis uma das razões pelas quais eu anseio, como criança, pelo dia em que estaremos, eu, Simas, Rodrigo Folha Seca e Szegeri, juntos, numa mesma mesa.

“´SAUDADES DO CAVALCANTE´

A senha para o início da operação João Bosco tinha sido dada pelo telefonema do Digão:

– Rio-Brasília chamando. Rio-Brasília chamando. Câmbio…

– Tô descendo. Chego em cinco minutos.

E lá fui eu me encontrar com a quadrilha, ou melhor, com a equipe escalada para a entrevista com o capeta de Ponte Nova, parceiro do Aldir e pai do Chico. A primeira impressão foi um horror. Digão e Edu Goldenberg, em decisão ditada, certamente, por algum encosto que zanzava sem rumo desde que fora vítima de uma sessão de descarrego na Igreja Universal da Avenida Suburbana, apareceram vestidos da mesma maneira, com camisas do Flamengo da época do Rondinelli. Um horror.

E lá fomos nós, de carona no Brizolamóvel do Edu, deixando a boa e velha Tijuca rumo ao desconhecido, um bar qualquer da zona sul perto da casa do João. Edu, em estado de desvario, gritava para o Leo Boechat:

– Não entro no Belmonte! Não entro no Belmonte! Vamos achar um pé-sujo nessa merda de zona sul.

O Digão, animador, respondia:

– Tá foda, Edu, tá foda.

Eu, por minha vez, batia numa única tecla:

– Vocês estão de sacanagem com essas camisas. Vai dar azar, essa porra.

E rumamos, após longa peregrinação, ao bar e botequim Rainha do Mar, na Marquês de São Vicente, não sem antes o Edu ter sugerido fazer a entrevista no bar da clínica São Vicente, onde o Vinícius enchia a cara quando era internado. Digão argumentou com lógica cristalina, afastando a idéia do Eduardo:

– Edu, o risco é internarem a gente. Vão internar a gente.

O João Bosco, comunicado do local da entrevista, gostou e avisou que chegaria em breve.

Queridos, não mencionarei rigorosamente nada sobre a entrevista. Aguardem o Buteco do Edu. Foi surpreendente e, sobretudo, emocionante. Eu quero é relatar fatos posteriores.

O Digão, prudente, foi direto pra casa da Joana, pertinho do botequim. Eu e Leo Boechat entramos no jurássico Brizolamóvel, guiado por um Goldenberg em estado, digamos, alterado, e partimos para o aconchego sacrossanto do lar.

Eis que, num certo momento, alguém sugeriu (e creio ter sido a voz do encosto) uma saideira. Como estávamos na porta do Mistura Fina, foi ali mesmo que o barco bêbado atracou. Fomos ao balcão e, enquanto generosas doses de Red desciam, o Edu iniciou um discurso contundente:

– Que saudades do Cavalcante!! O Cavalcante era o maior. Me tratava como um rei. Quem conheceu o Cavalcante? Em que ano morreu o Cavalcante?

Impressionadíssimo, achei que o Edu estava falando sobre um personagem de um filme do Zé do Caixão que é ressuscitado ao som do bordão:

– Erga-te, Cavalcante!!

Mas não…o Cavalcante, no caso, fora maitre do Mistura Fina no início dos anos noventa, quando o Doutor Goldenberg andava, serelepe e fazendo merdas, por aquelas bandas esquisitas da Lagoa.

O Leo Boechat, imediatamente, concordou com o Edu:

– O Cavalca era o maior. Saudade dele. Um brinde ao Cavalcante!

Eu, me sentindo o mais ignorante dos boêmios, perguntei ao camarada Boechat:

– Porra, Leo, você também conheceu o Cavalcante?

– Não. Nunca vi nem ouvi falar. Mas era o maior. Era o maior.

Nessa lenga-lenga, chegou a hora de caminhar. Caríssimos, imaginem a cena. Em um Mistura Fina repleto de gente engravatada, emperequetada pra cacete, três sujeitos de bermudas e chinelos, barrigas proeminentes, um deles com uma camisa do Flamengo, daquelas que o Zózimo da Engraçadinha usava em Vaz Lobo, se retiram assaltando, sim, esse é o termo, o bar. Aliás, três sujeitos porra nenhuma. Eduardo Goldenberg fez isso. Explico, explico…

Edu colocou, inicialmente, dois quilos de amendoim nos bolsos da bermuda. Isso feito de forma descarada, infame, na frente de cento e cinquenta atônitos frequentadores. Ainda falou para o garçom mais próximo:

– Vou levar uma amendoinzinho para o Peperonni, meu vira-latas. Ele gosta, é um tremendo cachaceiro.

Eu, não sei por que cargas d´água, piorei a situação ao dizer:

– Belos copos de uísque. Belos copos.

– Quer um? – Me falou, com intenções diabólicas, o Edu.

Antes de ouvir minha resposta, o meu possuído irmão começou o discurso grandiloqüente:

– O Cavalcante não morreu. Ele ainda paira sobre a nau Mistura Fina. Sempre me tratou como um rei (o Leo, aos prantos, concordava: – Que saudades do Cavalcante… Um brinde ao Cavalcante!).

Para meu estupor, e estou sendo sincero, o bar inteiro brindou. Alguns garçons, amigos do falecido, começavam a chorar. E o Edu, emocionadíssimo, continuava:

– Cavalcante foi, para mim, o maior. O Pelé dos maitres. É em nome dele, que eu sei que concordaria com isso, que saírei levando o copo. Adeus.

E, impávido colosso, o bravo Edu retirou-se, erguendo o copo de uísque como troféu. Ninguém ousou pedir o copo de volta – seria, certamente, tremenda desfeita ao falecido Cavalcante, o maior.

Ao chegar à porta de casa, na velha Tijuca, o Edu entregou-me o copo, comovidíssimo:

– É pra você, Simão. Faço isso em nome do Cavalcante. Leva.

E o copo está aqui. Ontem mesmo o inaugurei, tomando uma dose. A Candida, ressabiada, ainda perguntou:

– Quem te deu esse copo?

– Um amigo.

– O Edu?

– Não. Você não conhece, meu amor.

– Como se chama?

– Cavalcante. O maior, o maior…”

Até.

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SÓ FICO À VONTADE NA MINHA CIDADE

Dia desses eu fui jantar na casa da minha amada Sônia, mãe dos queridos André e Marcela, e lá encontrei-me com o Rodrigo, primo desses dois, sobrinho daquel´outra. Disse-me o Rodrigo, comentando sobre o episódio envolvendo a garotada do jongo da Serrinha, que relatei aqui, que tudo na minha vida era encantado demais, bonito demais, quase que duvidando das belezuras que conto aqui no Buteco do Edu. Não duvidava de mim, exatamente, mas queixava-se, numa pilhéria, do marasmo de sua vida em contraste com as surpresas da minha.

Não estava – confesso de pé no balcão imaginário – exagerando, o Rodrigo. Posso queixar-me de tudo: da carestia, do pouco dinheiro, do time do Flamengo, do janeiro estranhíssimo desse 2007, da distância de amigos queridos que insistem em não viver no Rio, menos das surpresas que a vida me apronta. Só que ontem, quinta-feira, 18 de janeiro de 2007, as coisas tomaram proporções bíblicas, vou explicar.

Às oito da manhã eu chego na Assembléia Legislativa, no Centro do Rio, para encontrar a  Beth Carvalho. Eis aí o primeiro milagre. A Beth não levanta, nunca, antes das duas da tarde. Mas lá estava ela, de pé, como eu, às oito, para a cerimônia da entrega da medalha Tiradentes ao presidente venezuelano, Hugo Chavez.

O que aconteceu? A cerimônia foi transferida para hoje – sexta-feira – e vimo-nos, os dois, juntamente com dois grandes praças – Beto Almeida e Mário Augusto – sem saber o que fazer.

Só que o Rio, meus poucos mas fiéis leitores, é uma cidade mágica e muito mais bonita do que a cidade mostrada nos jornais. Eu disse à Beth:

– Vamos à Folha Seca? Quero que você conheça a livraria do meu coração, a mais carioca de todas, quero que você conheça o Rodrigo, a Dani, o chef Santos… Vamos?

Nem titubeio houve. Fomos.

Preciso dizer, em nome da precisão que me caracteriza, que eu estava a caráter: terno, gravata, pasta, muito a fazer e muitos compromissos.

Mas a minha cidade, onde fico à vontade como em nenhum outro lugar, é capaz de nos encorajar para o ócio, para o prazer puro e simples, para esse fundamental gesto de jogar pra escanteio, sem culpa, o terno, a gravata, a pasta, o muito a fazer e os compromissos.

Chegamos à livraria, caminhando, às dez em ponto, justamente no horário em que a Folha Seca abre. E eis aí outra característica nossa, carioca, outra marca que nos identifica. Foi a Beth entrar na livraria, passar os olhos pelas prateleiras, sentar à mesa e dizer:

– Que livraria!!!!!

Ali, naquele exato instante, eu tive uma certeza inabalável: eu não trabalharia.

Diante dessa certeza não me restou outra alternativa: afrouxei o nó da gravata e mandei vir a primeira garrafa casco escuro.

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Éramos, àquela altura, pouco antes das onze da manhã, cinco seres humanos felizes dentro da livraria… Eu, Beth Carvalho, Beto Almeida, Rodrigo Ferrari e o Bruno.

Até que o Rodrigo mandou a nota:

– Vamos ao Casual antes que lote!

Saímos da loja e a Beth, picada pela carioquice febril que tem na Folha Seca o habitat ideal para agudíssima proliferação, disse:

– Quero jogar no bicho!

Eu emendei:

– Joga no 37, número da Folha Seca, rua do Ouvidor 37!

O apontador:

– Escolhe uma milhar, madrinha!

A Beth é, como se sabe, madrinha de todos nós.

E ela, de voleio:

– 5137!

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Fez o jogo. Cercou pelos 12, inverteu milhar e centena, cravou no coelho, mandou um duque de dezena, pagou os trinta reais e partimos pro Casual, do chef Santos.

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E quem chegou?

Quem chegou?

Ele, o portento, o talento, o genial, Tiago Prata! Beth fez festa, Rodrigo fez festa, eu fiz festa, e já sentados à mesa do Casual fomos de chope, alheiras, bolinhos de bacalhau, costelinhas assadas, batatas ao murro, cantamos sambas de enredo, choramos – sim, meu pai, choramos todos diante da beleza – e depois de pagarmos a conta decidimos, para o bem de todos e felicidade geral da nação, voltar para a livraria.

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Voltamos, disfarçamos todos tomando um café expresso e o Digão cochichava ao meu ouvido:

– Que noite ontem, que dia hoje!

Pausa esclarecedora: na véspera, quarta-feira, entrevistamos o João Bosco. Eu, ele, Simas e Leo Boechat. Em breve, brevíssimo, publicarei aqui a entrevista na íntegra, como sempre. Foi, devo confessar desde já, emocionante. Encontramos o João numa tarde/noite inspirada, num buteco pé-sujo na Marquês de São Vicente, na Gávea, derrubamos uma garrafa de Red Label, bebemos quase um engradado de cerveja, e o resultado – vocês verão! – foi surpreendente!

São quase três da tarde e o apontador de bicho invade a livraria:

– Dona Beth! Dona Beth! A senhora ganhou 300 reais! Por um número… Se desse 5137 ao invés de 6137 a senhora levaria mais de dois mil!

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Vão tomando nota dos fatos da tarde. Tudo soa à mentira. Tudo tem cores de lenda. Tudo parece inventado. Mas não, meus poucos mas fiéis leitores, não. Definitivamente, não. O Rio de Janeiro tem essa capacidade. O Rio de Janeiro tem essa impressionante capacidade de surpreender a gente, e aquela esquina, aquele trecho do velho centro do Rio – leiam isso aqui – tem essa mania apaixonante de produzir mágica atrás de mágica.

A Beth foi, na hora, receber seu prêmio.

E a rua do Ouvidor foi um só alarido! Ela pousou para um sem fim de fotografias, deu incontáveis autógrafos, e eu mesmo respondi à hilária pergunta de um passante:

– Perdão. Essa aí é a Beth Carvalho de verdade?

Quando já dávamos o dia/tarde por encerrado quem chega?

Quem? Moacyr Luz e Dorina.

Há mais festa no interior da livraria.

Môa toca e canta. Beth canta e chora. Eu choro. Dorina canta. E o Rodrigo prossegue, guinchando baixinho:

– Que noite ontem! Que dia hoje!

Szegeri, meu mano Szegeri, o paulista mais carioca da paróquia, possivelmente sentindo apertar o peito diante de tamanha boniteza, bate o telefone pra mim. E eu choro – de novo, meu pai… eu chorei de novo… – contando sobre tudo.

Moacyr, Dorina e Beth batem em retirada por volta das sete e meia da noite. Vão em direção à Gamboa. Eu recuso o convite e fico. Eu fico porque minha menina, a Sorriso Maracanã, está chegando de Curitiba. Eu fico e fecho a loja com o Digão às oito, depois de dez horas seguidas de batente.

E vamos a pé até a Praça Tiradentes, onde ele fica e de onde eu tomo um táxi para casa.

Vim mudo, sem falar palavra.

Só fui abrir a boca – e o coração, e a alma – quando a casa encheu-se de luz com a chegada da moça com um sorriso do tamanho da cidade que eu amo e onde fico à vontade.

Com a licença do Aldir e do Moacyr… Deus desenhou meu coração de um jeito igualzinho ao velho Centro do Rio.

E fiquei no colo da mulher amada contando sobre o dia. Contando sobre o dia mágico que vivi. Ela sorriu diversas vezes, como quem sorri pra uma criança diante do encantamento novidadeiro de uma descoberta. Fez festinha nos meus cabelos, enxugou minhas lágrimas com as mãos em cujas linhas tropecei faz tempo. Disse-me, com a doçura que só têm os cúmplices:

– Não fosse você me contando, meu amor, e eu diria… mentira!

Tal e qual me disse o Rodrigo, sobrinho da Sônia.

Vai ver que foi tudo mentira mesmo.

Mais uma peça pregada pela cidade-mulher, da qual sou, como diria Paulo da Portela, grande admirador.

Eu pensei – juro! – à certa altura, que eu estava de fato delirando… que eu abrira um livro qualquer, numa qualquer prateleira daquela portentosa livraria, e entrara, literalmente, dentro de um enredo encantado, para viver, de verdade, uma das mais bonitas histórias já escritas.

Até.

P.S.: depois não digam que eu não avisei. No sábado, amanhã, a partir das 13h, acontece a festa de 3 anos de vida da livraria Folha Seca que embarca nas comemorações do dia do padroeiro, São Sebastião do Rio de Janeiro, como já anunciei aqui. Não me venham dizer, na semana que vem, quando eu contar sobre a festa – que se anuncia antológica – que é tudo exagero meu, mentira minha, delírio.

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