Fefê e Zé Colméia, dois dos piores anfitriões de que se tem notícia, mas dulcíssimos no trato pessoal, abriram ontem os portais da StefHouse para um churrasco. Presentes eu, Dani, Silvia, Betinha, Flavinho, Dalton, Camafeu, Vidal, Gláucia, Fumaça, Duda, Fefê, Brinco, Shasha, Zé Colméia, Vinagre, Marquinho e Manguaça. Vejam bem que a Duda estava presente, mas foi, a Duda, convidada de última hora.
Chegou à janela de sua nova casa (mudou-se para um prédio colado, parede com parede, com a StefHouse) e gritou “oi”. E recebeu de volta 34 braços e 34 mãos fazendo gestos sob gritos de “vem, vem, vem!”. E ela foi.
Mas chegou com o pai e a mãe, Rogério e Regina, que estavam fazendo pequenos reparos e algumas instalações no apartamento da filhota.
O Rogério, seu pai, é renomado sommelier, autor de vários livros sobre o assunto, organizador de cursos nos quais ministra aulas sobre a matéria e, diz a lenda, não bebe cerveja.
Quando adentrou o recinto, Rogério foi saudado com um respeitoso “oh” coletivo. E percebi, nos olhos do Fefê, o pânico instalado.
– Zé! O cara não bebe cerveja…
O Zé, fino como de costume (tenham em mente que o Zé é altíssimo e calça 50, o que dá a ele a aparência de um rude mastodonte) respondeu de voleio:
– Foda-se!
Fefê valeu-se de fundamentados argumentos para convencer o Zé de que seria de bom tom retribuir a gentileza, lembrando ao Zé a noite em que, depois de uma festa em sua casa na serra, o Rogério abriu caixas e mais caixas de raríssimo vinho do porto para eles. E os dois desceram, e eu fui atrás.
Foram à adega que mantêm em casa. O Zé mostrando uma garrafa pro Fefê disse:
– Esse aqui, Fê. Acho que ele vai gostar.
– Zé! Almadén não rola! O cara é super rigoroso!
– Foda-se, Fernando! Custou 3 reais essa garrafa, pô! Tu quer esbanjar, cara?
– Não é isso, Zé. Ele é sommelier!
– E daí, cara? Eu sou Botafogo, tu é Vasco e qual o problema?
– Vamos levar essa, então, que pelo menos tem nome estrangeiro!
– Essa foi 6 reais. Tem certeza?
– Tenho.
E subiram. Eu atrás de novo.
O Zé pro Rogério, desligando o som e pedindo silêncio:
– Rogério, é uma puta honra receber você aqui em casa. Como a gente sabe que tu não bebe cerveja queremos te oferecer esse tesouro que guardamos na nossa adega há mais ou menos uns 10 anos… – e estendeu a garrafa verde do vinho branco CountryWine em direção ao Rogério.
E parecia que o Zé estava pondo nas mãos do Rogério um vírus visível e mortal. O Rogério deu um salto pra trás. E o Zé, piscando o olho pro Fefê:
– Quê isso, Rogério!? Cerimônia não! Faço questão!
Tomou do abridor de garrafas numa das mãos – não há abridor de vinhos na casa – e empurrou a rolha pra dentro do vinho, que esfarelou-se em mil grãos.
Deu um vigoroso gole no gargalo.
– Rogério, toma aí! Dei esse primeiro gole e bebi a rolha esfarelada mesmo pra não te servir esse líquido precioso maculado por cortiça!
Estendeu ao Rogério a garrafa (o rótulo completamente desfeito pela ação do tempo) e um copo de geléia de mocotó Imbasa:
– Sirva-se! E perdoe pela taça, mas é o que temos de mais apropriado pra ocasião!
O Rogério, gentil e educado, polido e amedrontado, serviu-se e deu um golinho.
– E aí? E aí? – disse o Zé varando um tapão no ombro direito do Rogério.
O Rogério, fazendo uma careta terrível, disse:
– Legal. – estendendo o copo em seguida em direção à Regina.
– Sentiu aromas herbáceos? – perguntou o Fefê.
– Arrã. – disse um lacônico Rogério já se despedindo de todos.
– Pô… mó grosso o cara, aê… – disse o Zé entornando pelo gargalo o resto do vinho.
Do alto do terraço eu vi quando o Rogério, coitado, vomitou do outro lado da rua. E já longe do Zé, não temendo mais as possíveis retaliações, gritou:
– Zé! Se você temperar carne assada com essa bosta a carne estraga!
Até.