Não é demais repetir (se eu não puxar a brasa para meus textos, quem o fará?!). A série A TIJUCA EM ESTADO BRUTO nasceu e ganhou corpo por acaso. E se você, leitor, está lendo o BUTECO pela primeira vez justo hoje, ou se caiu de paraquedas aqui, neste texto, eu recomendo uma passada de olhos nos dezesseis textos da série que o antecedem. Leiam aqui o primeiro da série, texto no qual conto o que vi e vivi numa pizzaria tijucana, O FORNO RIO, numa noite de domingo (domingo é o dia mais tijucano da semana!); aqui o segundo, que traz o relato de um jantar no melhor restaurante de comida italiana do país, tijucano, é claro, o FIORINO; aqui o terceiro, pequena descrição do encontro de minha mãe com uma amiga de há séculos de vovó; aqui o quarto, narrativa saudosa fruto de um encontro meu com meu concunhado, no SALETE, na Tijuca, evidentemente; aqui o quinto, no qual faço uma comparação entre a mãe judia e a mãe tijucana; aqui o sexto, sobre o simpaticíssimo assalto que sofreu vovó, há uns meses; aqui o sétimo, sobre os vícios de minha avó; aqui o oitavo, sobre o jantar que ofereci à Lina, minha querida cunhada, no já citado melhor restaurante italiano do Brasil; aqui o nono, dando início aos relatos envolvendo o médico homeopata de minha família; aqui o décimo, sobre o mesmo tema; aqui o décimo primeiro sobre a primeira consulta de meu pai; aqui o décimo segundo sobre vovó, minha bisavó e sua irmã num imbroglio envolvendo o espiritismo em nossa família; aqui o décimo terceiro sobre meus avós paternos; o décimo quarto aqui, sobre manias de meu pai; aqui o décimo quinto sobre o mesmo tema; e aqui o décimo sexto sobre o otimismo de mamãe.
E vejam se o que vou lhes contar não é Tijuca em estado bruto!
São 18h de ontem, terça-feira. Estrila meu celular. Na tela, pisca a imagem do pequeno grande homem, Felipinho Cereal.
Ele me convoca para um papo, rápido, na QUITANDA ABRONHENSE. Fui franco. O fogão me esperava para preparar o jantar, era preciso que fosse, mesmo, coisa rápida. Topei. E em menos de dez minutos estávamos, os dois, sentados à mesa beliscando um amendoim e brindando com uma geladíssima Brahma, como é praxe naquele paraíso encravado na rua do Matoso.
De repente, o Cereal engasga.
– Tudo bem, mano?
Ele ri, e aponta pro fundo da quitanda.
Uma cesta de Natal, enorme, enfeitadíssima, envolta num plástico e com um laço maior que ele, Felipinho, está exposta sobre uma mesa como a nossa com um cartaz: “CORRE DIA 29-11-08 PELA LOTERIA FEDERAL GRUPO 10,00”.
Nem titubeamos.
– Vamos?
Ele só ergueu o polegar.

Fomos ao balcão.
Compramos três rifas.
Às 18h de sábado, dedos cruzados!
Se ganharmos a cesta, é festa na certa!
E tomem nota do que vou lhes dizer…
Esqueçam as cestas de Natal do LIDADOR. A SUPER CESTA DE NATAL LIDADOR, com 107 itens, a R$ 13.520,00 (treze mil quinhentos e vinte reais) não faz nem cócegas no porte elegante da cesta da QUITANDA ABRONHENSE – vejam aqui – (eu sei que serei tachado, injustamente e mais uma vez, de exagerado, mas estou sendo, apenas, preciso do início ao fim).
A cesta tem vinho tinto, vinho branco, aspargos, palmito, goiabada, caixa de bombom… vou até parar pra não humilhar a loja da rua da Assembléia…
Se você quiser, ainda restavam, depois de nossas escolhas, uns cinco grupos (é evidente que o resultado da rifa dá-se conforme o grupo do jogo do bicho) esperando compradores.
Boa sorte.
Essa é nossa, Cereal!
E para fechar, por hoje, outra história, realíssima, de ontem também.
Depois da rápida cerveja na quitanda, Felipinho disse, nós dois já no caminho de casa:
– Vamos beber um caldo de cana no chinês de esquina?
Fomos.
Pedimos dois salgados e dois caldos.
Diante do caixa, pus a mão sobre a vitrine. Tomei um dos maiores choques elétricos da minha vida. Disse à mulher do caixa, uma chinesa olímpica:
– Pô! Tá dando choque esse balcão!
Ela riu, fechando de vez os olhos:
– Tá queblado! – e riu mais.
Um chinês a seu lado, gargalhando, emendou:
– Faz bem plo colação!
Tijuca-ca-ca-ca!
Até.