Quero sair na frente, numa espécie de exercício rigorosamente ditado pela vaidade e pela imodéstia. Explico. Muito em breve – vocês verão – as colunas dos jornais exaltarão o lançamento daquilo que o meu irmão Szegeri chama, com muita propriedade, de vade-mecum de otário: o “Guia Rio Botequim”, edição 2006, que sairá, ainda em novembro, com o subtítulo “os melhores petiscos e comidas de bar”. Juro, de pé junto e de dedos cruzados diante dos lábios, que ainda não tive acesso ao lixo. Sobre ele sei, apenas, que foi escrito (ou planejado, ou organizado, ou sei lá o quê) por Guilherme Studart, homem exaltado por Joaquim Ferreira dos Santos, o Jota, em 29 de agosto de 2006, aqui, como o “mais rigoroso pesquisador do assunto na cidade”. Feito o breve intróito, vamos às minhas considerações ainda no escuro (eis aí, no eventual acerto dessas considerações, o êxito do exercício a que me proponho).
Preciso ser preciso, razão pela qual transcrevo a resenha do tal livro:
“Este livro é um guia da boemia carioca que apresenta as delícias da culinária popular. Além de apresentar vinte pratos e petiscos provados e comentados em edição totalmente ilustrada, mostra como degustar e onde encontrar o melhor da comida de botequim – petiscos e tira-gostos, caldos e sopas, sanduíches e pratos principais.”
Vejam se meu irmão paulista não está coberto de razão quando se refere ao troço como um livro para otários. Quem – me digam quem! – é que entende e que gosta do riscado e está a fim de aprender “como degustar” comida de buteco? Mais, mais: quem é que vai a buteco degustar alguma coisa? Quem? O que será – chega a dar agonia prever o que vem por aí – que “o mais rigoroso pesquisador do assunto na cidade” tem a ensinar ao cidadão que quer, pura e simplesmente, sentar-se à mesa de um buteco vagabundo, beber, comer e jogar conversa fora?
A carne assada com coradas do Rio-Brasília, buteco comandado com maestria pelo Joaquim e pela Teresinha, estará no tal guia? Evidentemente que não.
A dobradinha do Quitutes da Vovó, espelunca amável na Rua do Matoso estará? Também não.
O glorioso Bar do Chico, na Tijuca, estará lá? Não.
Algum petisco precioso preparado pelo Celsão, na Adega Tudo do Mar, em Marechal Hermes, vai estar? Não.
Então, meus poucos mas fiéis leitores, eu vos digo:
01) que bom que não estejam no livro os verdadeiros butecos, eis que assim ficam livres da horda de otários que sai atrás das dicas ainda mais otárias, poluindo os autênticos ambientes;
02) que bom que eu posso verificar, mais uma vez, que é um acerto cada porrada que eu dou nesses bares-mentira que, seguramente, estarão entre os escolhidos pelo “mais rigoroso pesquisador do assunto na cidade”.
E pra terminar: quem gosta de buteco – eu gosto, o Simas gosta, o Szegeri gosta, o Bruno Ribeiro gosta, o Borgonovi gosta, o Pratinha gosta, o Rodrigo Folha Seca gosta, só pra citar uns poucos – entra num buteco, bate o pé, reclama, pede uma Brahma, pede uma comida, bebe, come e conversa até esquecer da hora. Não fica de bloquinho na mão pesquisando porra nenhuma, que isso é coisa de otário. O que dá, convenhamos, cores de coerência a tudo isso.
Até.