Arquivo do mês: dezembro 2015

ILHA DO MEL, A PAISAGEM IMPROVÁVEL

Eu já dediquei um texto só pra ela em 28 de novembro de 2011, Desassossego, que pode ser lido aqui.

Esse, o último de 2015, vai de novo pra ela, minha Morena.

Confesso, publicamente, antes de prosseguir, minha ignorância geográfica, minha falta de noção e de percepção, e explico: conheci o Paraná, mais precisamente Curitiba, quando lá estive, pela primeira vez, logo depois do Carnaval de 2012. Fui justamente ao encontro da minha Morena, a quem conhecera em setembro de 2011. O Paraná era, no meu imaginário, a terra mais fria do Brasil. A terra dos pinheiros, da Pedreira Paulo Leminski, da Ópera de Arame, do Relógio das Flores, da Rua VX, da Boca Maldita, do Largo da Ordem, dos descampados e de um pôr-do-sol estonteante num horizonte sem mar. A terra de um sem fim de cervejarias, de imigrantes poloneses, alemães, e fui, durante todo o ano de 2012, costurando meus retalhos e vendo se formar a colcha de afetos que ela, minha Morena, desenhou em mim.

Antes do Carnaval de 2012 – eu ainda não havia estado no Paraná – veio seu aniversário. Liguei pra ela e ouvi sua voz. Ela estava, disse-me, na Ilha do Mel, paradisíaca, ela emendou. Deu-se a confusão: ilha? A confusão, repito, foi fruto da minha ignorância geográfica e da sensação que o nome Paraná me trazia: frio. Pinheiros. Descampados. O chimarrão, que eu já a havia visto mateando com uma cuia entre as mãos que ansiava minhas.

Eu vivia um tempo de desassossego. Correu o ano de 2012, em 2013 ela se chegou pra mais perto, e de lá pra cá fomos algumas muitas vezes ao Paraná, sempre com a idéia, nunca concretizada, de um passeio a Ilha do Mel. Fomos a Curitiba, Ponta Grossa, Morretes, Antonina, e tudo o que eu via era o que minha memória afetiva construiu ao longo dos anos: frio. Descampados. Chimarrão. Banho de rio. Comida alemã, polaca, e frio, cachecol, casaco, chuva e tempo cinza.

Até que agora, em 2015, o Paraná ganhou novas cores como novas cores ganhou a minha vida quando ela surgiu, trazida pelo Minuano. Fomos à Ilha do Mel.

Confesso, meus poucos mas fiéis leitores, meu susto, meu arrebatamento, meu deslumbre e meus olhos de não-crer: atravessar a baía num saveiro inimaginável, desembarcar num trapiche e pisar na areia ouvindo o estalar das ondas, aquele mar de floresta, aquelas picadas abertas numa espécie de Paquetá (não há veículos motorizadas na paradisíaca Ilha do Mel), lembrou-me o mesmo arrebatamento (melhorado, por conta de sua presença) que senti quando pisei pela primeira vez no Pouso da Cajaíba. Só que eu estava, eis a razão da melhor das surpresas, no Paraná.

A Ilha do Mel foi, pra mim, como a chegada dela em minha vida: inesperada, surpreendente, causadora de emoções antes inimagináveis e absolutamente improvável, como a vida permanentemente é. A aproveita aquele que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir. Os mesmos que me permitiram ver aquele mar surpreendente e ouvir o ronco e o estouro das ondas no costão do Farol da Ilha.

Até.

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