Arquivo do mês: agosto 2005

>CHICO EM PARATY

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Eu não sei se alguns de vocês já tiveram a capacidade de amar a alguém sem ao menos conhecê-lo. Vou explicar melhor, até mesmo porque eu acho que sim, acho que isso é razoavelmente comum. Você ouve uma história. Se apaixona pelo personagem central. E não sabe ao menos a cor da pele, dos cabelos, não sabe nada sobre ele a não ser o enredo. E conta a tal história aos outros, e conta, e conta mais, e sua admiração vai crescendo, sabem do que estou falando, né? Pois bem. Vou ser mais claro. Antes, quero dizer que na foto está o Chico. Chico Maracanã. Vamos em frente.

Já contei essa história – a história a que me referi – em Volta Redonda. Em São Paulo. Em Natal. Em Cajaíba. Em Amsterdam. Em Roma. Em Ibitipoca. E vou contar aqui, agora. Mas notem bem que contei muito a história. Muito.

O Estephanio´s promoveu, determinada época, um concurso de litragem. Controlávamos o que cada cliente bebia, atribuíamos pontos ao chope, à capirinha, à cachaça, ao uísque, e no final do mês o campeão ganhava o prêmio: bebia no dia cinco do mês seguinte por conta da casa. Eis que o Chico, o da foto, no último dia do mês, passa pelo Estephanio´s e descobre que está a poucos pontos do primeiro colocado. Entra. Senta. E bebe 32 chopes. Vou escrever por extenso. Trinta e dois chopes. Alcança a liderança e se sagra o campeão do mês. Mal consegue falar pra pedir a conta. Erasmo tenta demovê-lo da idéia de ir pra casa de carro. De certa forma o Erasmo tem êxito, já que o Chico não foi pra casa. Chico está com o diabo no corpo e sai. E cai no Rio Maracanã (vejam que obedeceu ao Erasmo). O carro, capotado, com as rodinhas pra cima. E o Chico abre a janela, vê o carro se transformar num aquário – tem o cuidado de desligar o rádio “pra não dar curto” – e fica de pé à espera de socorro. E chegam os Bombeiros. “Tudo bem, amigo?”.

“Tudo ótimo, vermelhão! Me traz um chope, por favor! Sou o campeão do mês, porra!”.

E foi resgatado, o Chico, levado ao Estephanio´s de volta, bebeu mais uns por conta da casa, pegou uma camisa emprestada com o Erasmo e voltou a pé pra casa.

Vejam bem. Contei muito essa história. Confirmem, Szegeri, Betinha, Zé Sérgio, Guerreira. Jamais disse o nome do santo pois não me lembrava nunca. E agora dá-me um orgulho absurdo e tijucano de poder dizer “eu conheço o malandro!”. Vejam. Eu nunca lhe disse o nome porque sou preciso do início ao fim, e não mentiria num detalhe tão pequeno.

E no ônibus, a caminho de Paraty, chega o Branco com o Chico ao lado e me apresenta o cara. Caí em prantos (já estava na décima nona latinha, é verdade). Pedi autógrafo, pedi pra tirar foto, um vexame. Mas eu estava diante do mito.

E o sujeito é, é mesmo, uma piada bípede. Praia no sábado. Marquinhos tira a camisa e fica ali, com aquele shortão gigantesco, aquela pela alva que jamais viu sol. E grita o Chico: “Puta merda, Marquinhos… lindo esse teu bronzeado-palmito!”. Até a dona da barraca de cerveja guinchou do balcão. Noutro lance de gênio – vou omitir seu nome – uma menina se queixa, na praia, de que seus pés são feios. Chico vem de quatro, engatinhando, do outro lado da mesa com guardanapos na mão. Estaca diante da moça e passa a limpar seus pés, cheios de areia, com os guardanapos diante dos olhares incrédulos. Limpos, os pés, Chico os enterrou na boca, até quase a altura do tornozelo e depois disse: “Lindos. Seus pés são lindos. E deliciosos.”. E foi ao mar, de quatro, pra de lá gritar: “Foi mal aí… precisei entrar na água fria pra não ficar com vergonha diante de vocês…”, e disse isso coçando, acintosamente, o saco.

Um gênio da raça.

Até.

PS: quero erguer, do Buteco, o copo imaginário, pra agradecer à assistência, que fez com que estejamos, já, com mais de 15.000 visitas, como muito bem lembrado pelo Zé Sérgio, um louco, seguramente, uma espécie de, vamos dizer assim por enquanto, corretor de imóveis.

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>FUMAÇA EM PARATY

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Acho que lhes contei, quando dos relatos sobre a viagem à Europa, que a Fumaça, dono desse sorriso que é permanente – poucas vezes estive diante de alguém que sorri como quem respira – diante do Coliseu, em Roma, chorou de fome.

Vejam bem. Eu, que sou preciso do início ao fim, não estou exagerando. A Fumaça, advogada, bem sucedida, bem alimentada, comportou-se diante do Coliseu como um cristão prestes a ser entregue aos leões. Ajoelhou-se diante da imponente construção, pôs as mãos nas orelhas, o queijo no meio das coxas e guinchou de fazer parar a assistência dos turistas que, imediatamente, desviaram as objetivas que buscavam os melhores ângulos da obra de Vespasiano e Tito em direção à Fumaça, que gritava, em português, em italiano e em inglês, “Gente, desculpa, mas eu estou com fome”. Estou contando isso porque fato similar ocorreu em Paraty.

Estávamos eu, Dani, Guerreira, Marcy e Fumaça passeando pelo centro histórico em busca de um bom restaurante. E a busca começou justamente quando a Fumaça, sem chorar, é verdade, disse, “Gente, estou com fome”. Como eu, Dani e Guerreira estávamos em Roma naquela oportunidade, temendo o pior em Paraty, iniciamos a procura de um restaurante. E estacamos diante do Bartholomeu. E entramos.

É preciso dizer que no instante em que pisamos no restaurante o sorriso da Fumaça quase rasgou seus lábios, tamanha sua satisfação. E fomos ao cardápio.

Eu de tapa de cuadril, que o restaurante era de argentinos. Dani, Guerreira e Marcy optaram por dividir uma moqueca. E a Fumaça foi de ravioli.

Pequena pausa. A Fumaça é uma farofeira na melhor acepção da palavra. Não estou a falar dos hábitos tijucanos, que os tijucanos são farofeiros olímpicos no que a palavra tem de pejorativo. A Fumaça, não. A Fumaça adora mesmo é uma farofa, e uma farofa crocante, como pontua sempre.

E eis que os pratos vieram à mesa. E a Fumaça, tadinha, repetindo o gesto de Roma, cai no chão do restaurante, fica de joelhos, tapa os ouvidos com as mãos em concha, leva o queixo às coxas e urra de dor. “O que foi agora, Fumaça?”, disse a Guerreira gargalhando. E a frase lapidar dita entre soluços: “Se eu soubesse que na moqueca vinha farofa não teria pedido esse ravioli”. E houve mais, houve mais! As meninas, com peninha da Fumacinha, lhe passaram a cumbuquinha de farofa. E eis a cena antológica que transformou seu pranto em sorriso: a Fumaça, rasgando as regras de etiqueta e as normas básicas da boa gastronomia, salpicou a farofa sobre o ravioli como se fosse queijo ralado e quando o garçom, percebendo sua eufórica performance, perguntou “Está bom o ravioli, senhora?”, a Fumaça de voleio mandou “Não sei. A farofa está ótima”.

Houve mais, houve ainda mais. Vejam isso. A Fumaça, na volta ao Rio, veio com uma garrafa de “Lua Cheia” entre as mãos. Exatamente como um bebê com sua mamadeira. Era alguém pedir um golinho e ela muxoxando… “Devolve, por favor… tô com sede…”, e de fato bebeu, a Fumaça, quase que a garrafa inteira.

Notem que a Fumaça exerce suas necessidades – fome e sede – com uma fúria da Etiópia. O que, somado ao permanente sorriso, faz dela uma companhia indizível.

Até.

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GUERREIRA EM PARATY

Na foto, a elegância suprema da Guerreira, de quem papai é fã número um. “Uma elegante, eu gosto da Guerreira”, repete papai sem cansar. E de fato é, a Guerreira, uma européia, uma elegante, e falando sobre Paraty durante toda essa semana que começa hoje, quero tentar, ainda que minimamente, derrubar esse mito que transforma a Guerreira numa incapaz de qualquer gesto, digamos, mais baixo. Vamos aos fatos.

Partiu o ônibus do Rio na sexta-feira às oito da noite. Eu, Dani, Fefê, Brinco, Dedeco, a namorada (cujo nome jamais vou dizer), Branco, João, Chico Maracanã, Aranha, Manguaça, Fernanda, Fumaça, Guerreira, Marquinho, Cicinho, e éramos quase quarenta seres humanos com sede de cana, que o festival é de pinga e é por ela que fomos todos. O ônibus, politicamente incorreto, era um fog de fumaça de cigarro e tinha, num par de poltronas, um isopor cheio de cerveja e gelo. Bebemos olimpicamente no trajeto a Paraty.

E lá chegando, tomamos cada um o rumo de seu quarto.

Nesse instante é preciso dizer que a Guerreira já chegou a um passo de galopar. “Estou bebinha”, é o que repetia a Guerreira, e notem que nessa frase reside um pouco de sua elegância. E fomos à cidade.

E sentamos num buteco e prosseguimos os trabalhos. Coisa de duas da manhã, decidimos, eu, Dani, Guerreira e Fumaça, voltar à pousada.

E a Guerreira disse: “Gente, vamos ficar bebendo aqui fora… quero esperar a Marcy…”.

A Marcy, amiga de SP, partira em direção a Paraty, onde chegaria às três da manhã.

E chega a Marcy. E a Guerreira, trôpega, mas cavalgando com aqueles pernões longos, pendura-se na Marcy e grita “Ôba, que bom que você chegou…”, mas esse “ôba, que bom que você chegou” foi dito de forma ininteligível, lentamente, ela babando no ombro da Marcy, que, assustada, disse… “Nossa, Lu… você está bem bêbada, heim…”.

E a Guerreira – notem a frase!, notem a frase!: “Pô… intimidade é uma merda… a gente não consegue esconder o porre de uma amiga íntima…”.

E teve mais: voltando ontem, o ônibus, em côro, começou, inexplicavelmente, a cantar os hinos brasileiros. O Nacional, o da Bandeira, o da Indendência. E eis que ecoou no coletivo: “Salve lindo pendão da esperança / Salve símbolo augusto da paz…”.

E a Guerreira, na poltrona de número 1, guinchava, chorava, gritava uns “ai, ai, ai”, e eu fui a ela.

“Ai, Edu… vocês falaram no Augusto… me deu uma saudade dele…”, e seguiu chorando, alagando o ônibus, até o desembarque.

Até.

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>SZEGERI E SEU PÉRIPLO

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Como já lhes contei, o Szegeri, meu irmão paulista, meu Otto na íntegra, esteve no Rio na segunda-feira passada para participar de mais um Encontro Ordinário da Sociedade Edificante Multicultural dos Prazeres e Rituais Etílicos, a S.E.M.P.R.E., a fim de homenagear nosso irmão em comum que partiu mais cedo, o Toledão. E a vinda e a volta do Szegeri foram uma delícia só, vejam vocês.

Antes uma observação. O Szegeri tomou o avião na segunda, em SP, às oito da noite. E embarcou de volta às cinco e meia da manhã. Congonhas-Galeão-Congonhas. Fui buscá-lo no aeroporto. Ver o Szegeri desembarcar já é um espetáculo, e explico. Desembarcam homens e mulheres com bolsas a tiracolo, mochilas, pastas, malas, pochetes. E o Szegeri sem rigorosamente nada. Só a carteira no bolso traseiro da calça jeans que não vestia há mais de quinze anos, que o Szegeri perdeu quinze quilos.

Daí deixamos o carro em casa e partimos de táxi pra CADEG. Onde o Szegeri – também lhes contei – bebeu por ele e pelo Toledo. Durante o encontro, me fez confissões lindíssimas, que torno públicas, e ele há de me perdoar.

Uma: “Não consigo passar mais uma noite longe da Stê”. Disse isso, chorou, e bateu o telefone pra Stê. Enquanto soluçava ao telefone dizendo coisas como “fala que também não consegue mais dormir sem seu ursão” eu guinchava diante dele e fazia sinais com a mão pedindo o telefone, que me foi passado. A Stê, vejam bem, àquela altura, duas da manhã, também com saudades colossais do meu irmão, respondeu-me que bebia em São Paulo na companhia do Daniel (vim a saber, depois, que é seu sócio no meu bar preferido de Sampa, o Ó do Borogodó). Mantendo minhas tradições de defender meus amigos de forma intensa, disparei um corolário de palavrões de fazer tremer a CADEG. E o meu irmão, à frente, chorando e fazendo que não com o dedo indicador.

Outra: “Depois que emagreci, meu cocô não afunda mais, mas bóia”. Disse isso, chorou de novo e bateu o telefone pra doce Stê. E disse: “Amor, fala pro Edu que o cocôzinho do seu ursão agora bóia”, e passou-me o fone. A Stê, tadinha, apenas ria e dizia, “É verdade, Edu, mas cuida aí do Fernando, ele não me parece bem…”.

E não estava bem, o meu irmão. Aproximando-se a hora de sua partida rumo ao Galeão, abriu o chafariz lacrimal e chorou de empoçar a mesa. E estava, digamos, sem condições sequer de se levantar. O Dalton, um de nossos Confrades, um homem que – é ele quem diz – deixa o Nei Lopes no chinelo quando o assunto é “africanismo”, levou-o até um táxi. E voltou o Dalton, solene e preocupado como o Palocci na recente entrevista coletiva: “Gente, vamos ficar ligando pro Szegeri, ele está péssimo”. E instalou-se o desespero na mesa. O celular do Szegeri urrava, urrava, urrava e nada dele atender. Restou-nos a espera.

E somente na terça-feira, às seis da tarde, ligou-me o Szgeri.

Contou-me que fora acordado, dentro da aeronave, por uma aeromoça: “Senhor… o senhor já perdeu o microônibus que levou os passageiros da pista até a área do desembarque… agora o senhor terá de deixar o avião… o senhor se importa de acompanhar a tripulação?”. E disse ele: “Não. Mas antes me traga uma cerveja, por favor.”. A moça, com pena daquele trapo, serviu-lhe uma latinha de Brahma e foi com ele, de mãos dadas, até o saguão do desembarque.

Szegeri havia deixado seu carro no estacionamento.

Sabendo-se sem condições de dirigir, ainda, sentou-se numa das cadeiras de Congonhas e dormiu por três horas seguidas. Não foi trabalhar. E dormiu, em casa, como que hibernando.

Ainda me fez três perguntas:

“Como eu fui da CADEG pro Galeão?”

“De táxi.”

“Meu Deus… não lembro…. Mas… eu paguei algum vexame durante o Encontro?”

“Nem vexame e nem a conta…”

“Meu Deus… não lembro disso também…”

“Aliás, nem vexame, nem a conta e nem a corrida de táxi, Szegeri. O motorista voltou à CADEG e nos cobrou a corrida…”

“Meu Deus… não lembro…”

Vejam se não é, o Szegeri, como o Vidal, uma lenda.

Bem mais feio, é verdade, mas uma lenda.

Até.

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ESTEPHANIO´S EM PARATY

Depois de ter deixado de lado, ontem, o humor, pra dizer umas verdades que tornaram-se inapeláveis depois do que foi atestado pelo Jota nos comentários – obrigado, amigo! – deixo o humor de lado, outra vez, dessa vez pra fazer propaganda, sem precisar recorrer aos serviços do Marcos Valério, o papa do negócio no Brasil.

E propaganda que eu faço, eu que sou preciso do início ao fim, é garantida. Vamos a ela.

Na sexta-feira, amanhã, dia 26 de agosto, parte do Estephanio´s, mais um ônibus em direção a Paraty, onde acontece, de sexta a domingo, o XXIII Festival da Pinga. Vejam vocês se não é uma pechinca de fazer até a Duda, uma pão-dura olímpica, urrar de felicidade. Pagando apenas R$300,00 você vai do Rio a Paraty, e volta (se conseguir, é óbvio), hospeda-se numa suntuosa pousada e ainda faz um passeio de saveiro pelas águas verdes de lá. Mas vejam bem, há mais, há mais, e quando eu terminar de dizer o que de mais há (que construção rica…), verei o Zé Sérgio dando guinchos em casa gritando “eu vou, eu vou, eu vou”.

O Dedeco vai.

Isso mereceu um parágrafo pois é um acontecimento. Não é sempre que o embusteiro dá-se assim, tão fácil. E há mais, ainda há mais.

Vai com a namorada.

Vejam bem. O Dedeco, nas excursões dos anos anteriores, voltava estragado, e não era de bebida. Era pelo rodízio que havia em seu quarto, já que valia-se, o mentiroso, dos mais baixos expedientes pra levar as moças pra um delivery em seu apartamento. Com a namorada, a presença do Dedeco é mais-que-um-destaque.

O Marquinho vai. E as chances de vocês verem o Marquinho agindo, vale o ingresso. Beberá como o cossaco que é, levando meia hora pra beber uma latinha, já que bebe e cospe dentro do copo, bebe e cospe dentro do copo, e o troço leva uma eternidade, num espetáculo de asco e pilhéria.

O Branco vai. Imaginem, moças, desfrutar da beleza acachapante na ida e na volta. Aos espadas, vale dizer que o Branco é companhia das melhores, o que faz dos R$300,00 esmola de dar na rua. E há mais, há mais!

Fefê estará lá. Com Brinco. Eu. Com Dani, Sorriso Maracanã.

Restam apenas 10 lugares.

Eu garanto a vocês que o Buteco estará inteiro lá. Indo e vindo. Com todos os relatos devidamente feitos na segunda-feira.

Até.

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>AGENDA DO SAMBA & CHORO

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Deixo de lado o humor, apenas por hoje, diante de um troço que, como se diz, está atravessado na garganta. Como sou um obsessivo olímpico, como sou um ardoroso defensor da verdade, como sou um brigador em defesa dos amigos, peço licença a vocês que vêm sempre ao Buteco em busca do riso, pra lhes contar um episódio que, repetindo, ainda está atravessado na garganta, mas que vai, aos poucos, enquanto escrevo, descendo aos trancos e barrancos. E está descendo mesmo, e posso garantir, já neste ponto, que quando eu escrever “até”, no final, como faço sempre, nada mais me importará.

Há um site que se chama Agenda do Samba & Choro. E quero dizer que foi – ainda é, mas bem menos, e por razões que não interessam por ora – um dos maiores responsáveis, ou o maior responsável, pela verdadeira explosão de casas de samba e choro Brasil afora. Quando foi criado, Paulo Neves, seu idealizador, corria algumas casas aqui no Rio de Janeiro com uma filipeta amarela contendo o endereço do site, buscando sua divulgação. E a coisa foi dando certo, e os leitores passaram das dezenas, chegaram a centenas e hoje são milhares os que buscam ali as informações sobre tudo o que acontece no país, em todas as cidades, envolvendo, como diz o nome, o samba e o choro.

Há, no site, uma seção chamada Tribuna Livre. Eu escrevo “livre” e morro de rir. Vou explicar. A Tribuna Livre nada mais é do que uma lista de discussão onde as pessoas trocam informações sobre o assunto. Eu fiz parte da tal lista, e dela fui expulso. Três vezes. Por mau comportamento. E com razão, quero dizer. O Paulo Neves até que suportou demais meu humor ferino. Mas houve outro expulso. O Fernando Toledo. Gênio da raça, o “Girassol” destilava conhecimento e genialidade por ali, e por não suportar o nível rasteiro de algumas discussões, vez por outra descia o pau quando escrevia. Mas sem minhas maldades, preciso confessar de novo. E o que fez o Paulo Neves? Destruindo o adjetivo “livre” da Tribuna, expulsou de lá o bom Toledão. Estou escrevendo isso e sem querer me lembrei do Paulo Francis e da Petrobras.

O Toledão ficou, a princípio, sentido e magoado. Depois, como lhe era peculiar, deixou de dar importância ao fato, embora, vez por outra, Szegeri é testemunha, assacasse o verbo contra o episódio.

Daí veio a morte do Toledão.

E o que houve na Agenda?

Uma homenagem ao Toledo. Com direito a fotografia do Toledo na capa do site. E um texto pondo o Toledão nas alturas. O que fiz eu, brigão por excelência como bem atestou o próprio Fernando no Conexão Irajá? Escrevi uma mensagem lá, assim: “Pena que o Toledo não pode prosseguir com seu humor por aqui, de onde foi covarde e sumariamente expulso”. E o que houve então? Pisando no adjetivo “livre” da Tribuna, já destruído, Paulo Neves varreu de lá meu comentário. E veio o João, assinante também da tal lista, e escreveu um pequeno texto intitulado “Homenagem tardia”. E o que houve então? Pondo fogo no adjetivo “livre” da Tribuna, o Paulo Neves também varreu de lá a coisa.

Eis que foi à Agenda o meu irmão Szegeri, meu Otto full time, e cravou um protesto pela sumária retirada dos textos que atestavam a hipocrisia da homenagem. Como o Szgeri impõe respeito, a coisa está lá até o momento. Reside, ali, então, o meu protesto.

Vejam como eu me conheço. Estou acabando de escrever e já sinto deglutida minha revolta.

Até.

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>S.E.M.P.R.E. NA CADEG

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Reuniu-se ontem, com pompa, a Sociedade Edificante Multicultural dos Prazeres e Rituais Etílicos, a S.E.M.P.R.E., no buteco Poleiro do Galeto, na CADEG, em Encontro organizado pelo Flavinho, o Xerife, em homenagem ao grande ser humano que foi – e é, eis que ainda em mim – Fernando Toledo, o “Girassol”, como o chamou o também grande, lato sensu, Fausto Wolff, em artigo comovente no JB por ocasião de sua morte. E eu digo “com pompa” de boca cheia, eis que estava em peso a Confraria: eu, Fefê, Dalton, Vidal, Zé Colméia, Flavinho e Szegeri, na companhia dos convidados Branco e Lara. Vejam que na foto, onde se vê o Branco e o Szegeri, meu Otto full time, o dono de beleza acachapante faz careta na tentativa, vã, de ficar feio.

O Encontrou durou das 21h até 5h30min, quando ainda ficaram por lá Dalton, Flavinho e Branco, que o Branco bebe como um cossaco, e o que é pior, sem dormir dias seguidos. Brindamos à memória do Toledão, que foi saudado quando cantamos “Saindo à Francesa”, “Valsa do Maracanã”, “Três por Acaso”, quando erguemos o copo, dezenas de vezes, ao humor, à graça do convívio e à imortalidade de sua alma que, como eu já disse, permanece dentro daqueles que o amaram em vida.

O Szegeri, vejam vocês, veio de São Paulo exclusivamente para o Encontro. Desembarcou no Galeão às 21h e partiu, de volta, às 5h30min, debaixo de um chôro convulsivo que desabou minutos antes dele se despedir.

E arquitetamos, ali, o Encontro do mês de outubro, que será organizado pelo meu irmão Szegeri, em São Paulo, e quero desde já lhes dizer que a paulicéia há de tremer diante de nossa performance olímpica à mesa.

E pra fechar, percebam como estou cansado e ainda derrubado depois de três dias seguidos de trabalhos etílicos, vejam o que o Branco fez na tentativa, compreensível, de sensibilizar os Confrades, visando sua inscrição no rol da Confraria. Levou uma mala – isso mesmo, uma mala! – de onde saíram garrafas de Quilmes Imperial, uma de Limoncello, latinhas de Stella Artois e uma garrafa de vinho tinto.

O Toledão seguramente ficou orgulhoso. A S.E.M.P.R.E. fez ontem, e graças à escolha do Flavinho, e graças à presença maciça do quadro de Confrades, o melhor e maior Encontro de sua história, já não tão curta.

Até.

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>FUMAÇA, BICAMPEÃ

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Eu lhes contei, na sexta-feira passada, que a Fumaça faria, no domingo, ontem, uma festa em Pendotiba para comemorar seu aniversário. E lhes contei mais: que no ano passado a Fumaça conquistou o título de melhor festa de 2004 e tentaria, em 2005, o bicampeonato. E, de fato, o título é dela e quando eu digo “é dela” quero dizer “é dela, da Incêndio (sua mãe) e do Osvaldo (o figuraça do namorado da Incêndio, a quem eu chamei, por dentro, de Bombeiro, pra que tudo fizesse sentido nesse leque de apelidos)”.

E por que ilustro o dia de hoje com essa foto, minha e do Branco? Apenas para que faça sentido, para quem não o conhece, o aposto que vem sempre a reboque quando lanço aqui o nome dele. Assim: Branco, esse sim de uma beleza acachapante. Vejam se não estou com a cara nítida de um humilhado conformado. Vamos em frente. Não sem antes dizer que ninguém é perfeito. Quando o Branco tirou o tênis, ontem, a festa foi uma vaia coletiva diante da feiúra, também acachapante, de seus pés e de suas unhas, que não vêem uma tesoura, um alicate, há décadas.

É preciso que eu seja detalhista para que se compreenda o que foi a festa.

Saímos de van, da Tijuca, eu, Dani, Betinha, Flavinho, Jeremy, Armando, Manguaça, Fernanda, Branco e Maria Paula. Quando eu digo que saímos da Tijuca é preciso que fique claro que levamos, conosco, a Tijuca para a festa. Quando chegamos em Pendotiba, no condomínio onde a festa se realizaria, a primeira tijucanice clássica. Não havia uma alma no ambiente. Nem a Fumaça. Nem a Incêndio. Nem o Osvaldo. Nem os garçons, o que denunciou, de forma evidente, que a Tijuca tem sempre fome e sede de festa. Mesmo quando a festa é longe, o que torna tudo ainda mais tijucano. A van, o farnel comprado na padaria, uma excitação que foi capaz de irritar o motorista. Mas vamos prosseguir.

Vamos, agora, às presenças. Não me tenham como um chato detalhista, mas é importante colocar os personagens à vista de todos. Evidentemente, Fumaça, Paulo, Incêndio, Osvaldo, Fefê, Brinco, Shayane, Zé Colméia, Vinagre, Augusto (ele mesmo, o pulha paulista), Duda, Ângela, Cacau (cheirosíssima, como sempre, aquele odor de Listerine, aquela alvura de sabão em pó), Hilton e Hilda, do Candongueiro, Wanderley Monteiro e Iracema, vozes gloriosas que deram mais alma à festança, Ruivinha, Guerreira, Zé Sérgio (ele mesmo, que ontem fumava desbragadamente), Dôra, e a família, óbvio.

Quando eu digo “a família” volta, a mim, o sentimento profundo de piedade que me assaltou ontem. Vou explicar.

Diante da horda bárbara da Tijuca, diante da escumalha que dava cores suburbanas ao ambiente chique naquele condomínio de luxo, a família (avós, tios, tias, primos e primas da Fumaça) parecia refém do medo, do choque, da vergonha. Entendam uma coisa. Havia uma grande área coberta, onde aconteceu a roda de samba. E havia um jardim imenso do lado de fora. Pois a Tijuca ocupou todas as mesas da área interna e a família – essa foi a visão que me deu vontade de chorar de pena – ficou, o tempo todo, do lado de fora com aqueles olhares de vergonha e medo, como que dizendo em côro, “tadinha da Débora, como pode ela se misturar com essa gentalha?”.

Disse gentalha e vou contar alguns rápidos episódios.

Vejam o Zé Colméia. O Zé tem quase 2 metros de altura, calça 50, e estava lá, sem camisa, descalço, e num determinado momento disse à Betinha com a boca suja de feijão: “Pô… esse caldinho me deu o maior bode… tô com sono…”, e ela retrucando, “Pôxa, Zé… eu também comi e estou ótima…”, e o Zé, de voleio, “É, mas eu já comi 12”.

Outra do Zé. Veio à mesa um panelão com carne assada e molho, que uma senhora, pacientemente, fatiava montando sanduíches no pão francês. Pois o Zé tomou-lhe o garfo trinchante das mãos e espetou de uma só vez o bloco inteiro do lagarto redondo. E saiu atropelando os convidados mordendo, como um bárbaro, a carne assada reclamando que estava muito seca. Fino, o Zé, como se vê.

Falei do caldinho de feijão e da carne assada. Vejam vocês o esmero da Fumaça e da Incêndio. Eu trouxe, como souvenir, a lista que estava afixada nos azulejos diante da pia da cozinha. Vamos a ela: (01) queijo minas com orégano e azeite, (02) bolinho de bacalhau, (03) sanduíche de carne assada, (04) caldinho de feijoada, (05) trilha com cebola, tomate, azeitona e batata corada, (06) pastel de presunto e queijo, (07) carne com cebola e farofa, (08) coxinha de galinha, (09) sardinha com ovo de codorna e pão, (10) pastel de carne, (11) aipim frito, (12) lingüiça com farofa, (13) pastel de banana, (14) bolinho de aipim com carne seca e (15) queijo coalho. Vejam vocês a fartura, e os tonéis de Brahma, estupidamente gelada, eram 5.

Chegamos lá às 13h e partimos às 21h. Para casa? Não.

Paramos diante de um buteco sujíssimo na Tijuca, esquina da Rua Caruso com Hadock Lobo, e bebemos mais, os 10 passageiros da van. O Jeremy, americano que graças à falta de habilidade, compreensível da Maria Paula, que é uma elegante, chorava dentro do buteco vociferando contra o Leblon, o Jobi, o Bracarense, urrando num português quase-perfeito, “isso sim é um buteco, isso sim é o Rio de Janeiro…” e ficou tascando beijos em mim como se fosse, eu, o responsável por aquilo tudo (era eu mesmo, mas sou um modesto).

Erguemos, todos, o copo à saúde da Fumaça, craque na arte de receber.

Até.

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>19 DE AGOSTO É DIA DE LELÊ

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Na foto, de autoria do Cachorro, da esquerda pra direita, Lelê, eu, Dani Sorriso Maracanã (vejam se não foi feliz o meu irmão Szegeri ao carimbar-lhe o apelido!), Maria Paula lá atrás e Guerreira. Aliás, a foto é um atestado da feiúra olímpica do meu sorriso, se é que eu posso chamar de sorriso esse troço que tenho na cara. Vejam a luminosidade do sorriso das moças (embora a luz da Dani seja de cegar) e vejam se eu não destôo na fotografia.

E hoje, 19 de agosto, faz anos a Lelê. Vou lhes contar um pouco sobre a Lelê, a quem eu chamo de “uma das minhas favoritas”, e vou explicar. Antes, quero dizer que o Szegeri, meu Otto full time, ao dar de cara com a Lelê pela primeira vez disse: “Sorriso Via-Láctea”, e cravou-se ali o apelido.

A Lelê é companhia capaz de garantir a festa. E vou exagerar um pouco, o que não é do meu feitio, para que vocês sejam capazes de dimensionar o que é a Lelê. A Lelê tem a capacidade de fazer um velório ter a aparência de uma festa. Um “oi” vindo da Lelê, um “oba, como vai?” já faz com que você guinche de tanto rir, e isso é rigorosamente inexplicável. Sempre com um cigarrinho na mão, sempre com um copo de cerveja na outra, com aquele andar cambaleante que lhe é característico, a Lelê chega no ambiente e a assistência gargalha em uníssono e ninguém sabe dizer o por quê. Carisma, dirão uns. Presença de espírito, dirão outros. Mas ninguém sabe ao certo a razão verdadeira.

Rubro-negra de carteirinha, fanática de chorar pelo Flamengo, a Lelê, fiel às suas paixões, comemora a data hoje no Estephanio´s e amanhã com um churrasco em seu portentoso terraço no Grajaú, onde abala a vizinhança pacata e conservadora com seus hábitos, como o de receber no Carnaval, como fez esse ano, meia dúzia de uruguaios amigos seus, o que gerou protestos no condomínio, na rua, no bairro inteiro.

Ergo daqui, do Buteco, e ergue também a Dani, ao meu lado, o copo imaginário, ao humor e à saúde dessa grande figura que nos concede a graça do convívio.

E já que falei em festa, domingo a Fumaça comemora o seu aniversário em Niterói, que já foi devidamente comemorado no Bar Getúlio, na terça-feira, com uma roda de samba – saquem o timaço – formada por João de Aquino, Wilson das Neves, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Zé Luiz do Império e Wanderley Monteiro.

A festa da Fumaça, ano passado, foi eleita pela assistência do Estephanio´s a melhor de 2004. Tentará o bicampeonato a doce Fumaça. Na segunda-feira, lhes conto.

Até.

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ZÉ SÉRGIO GOLFANDO EM NITERÓI

Tive o prazer, ontem, de almoçar na companhia da Guerreira e do Zé Sérgio, em Niterói. O prazer adveio, muito mais, da companhia da Guerreira do que da companhia do Zé Sérgio que, já lhes contei isso, não vale rigorosamente nada. Parou de fumar, o Zé, vocês hão de se lembrar. Pois durante o almoço ele fumou, disse eu a certa altura, uns 15 cigarros, ao que ele me interrompeu, “não estou fumando, Edu, agora eu sopro cigarros”, e nessa frase reside a distorção que cada fala sua esconde. E a companhia da Guerreira serviu, como se não bastasse o prazer puro que me proporcionou sua presença, para que ela pudesse testemunhar a veracidade do que vou lhes contar agora. Será ela, a Guerreira, tenho certeza, uma vez inquirida pelos curiosos a respeito da verdade do que vou dizer, a primeira a subir no banquinho imaginário e gritar, “O Edu foi preciso do início ao fim”. Vamos em frente.

Estávamos já de pé, depois de termos comido uma generosa porção de carne assada com batatas coradas acompanhada de algumas tulipas de chope – horroroso, por sinal – diante do balcão, pagando a conta, quando entra no buteco um personagem recorrente nesses ambientes: uma louca. Sozinha. Uma mulher, talvez com uns 50 anos, muitíssimo mal vestida, nitidamente uma solitária, e ela bate no balcão e diz, “Gente, gente!, liguem a TV… Brasília está sendo invadida… acabei de falar com minha filha pelo celular e ela me disse que a coisa tá pegando fogo no Planalto…”. O dono do bar, prontamente, tomou o controle remoto nas mãos e sintonizou na GloboNews. E passava uma matéria sobre a Faixa de Gaza. A mulher, dando um chilique, continuou, “Mas não é possível que esteja havendo censura! Minha filha me disse que a passeata está varrendo a Asa Norte, a Asa Sul, tudo pacífico, mas uma multidão barulhenta que vou te contar…”.

Com o troco que recebemos, pedimos mais dois chopes e eu disse pro Zé, “Porra, que saco… Que mulher chata…”, e tive uma idéia. Uma idéia, aliás, da qual me valho com freqüência, qualquer dia desses lhes conto mais episódios similares.

A tal senhora, como uma galinha com fome, andava em círculos diante de nós, querendo puxar conversa e recebendo desprezo à dorê em retribuição.

Peguei o celular no bolso. E forjei a ligação, falando aos berros:

“Alô? (…) E aí, como é que tá? (…) – fazendo cara de intensa preocupação – O quê? Você tá em Brasília? (…) Tiroteio? (…)”.

Interrompo rapidamente o relato de minhas falas pra dizer que nesse momento a Guerreira estava andando de gatinha pelo bar, tentando esconder o riso que lhe escapava fácil, e o Zé, copinho de chope na mão, lançando um jato contínuo da bebida sobre uma das mesas, gargalhando e fingindo ouvir uma piada contada pela Guerreira, pra não estragar meu número, dizendo apenas, “Muito boa essa, Guerreira…”.

Pelo espelho diante de mim, eu podia ver a mulher com os olhos esbugalhadíssimos, quase que pra fora do globo, com o celular na mão.

E eu continuei: “Rapaz… faz isso não… Tente se proteger dentro de algum edifício… Sei lá… (…) O quê? Quantos feridos? (…) Subindo a rampa do Palácio?”.

E a louca falava ao telefone.

Dirigiu-se ao dono do bar: “Acabei de falar com a minha filha… Tem tiro porra nenhuma…”. Deu um socão no balcão e saiu.

Missão cumprida, pedimos mais chope e o dono, gratíssimo, nem cobrou essa rodada.

Até.

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