>

Eu lhes contei, na sexta-feira passada, que a Fumaça faria, no domingo, ontem, uma festa em Pendotiba para comemorar seu aniversário. E lhes contei mais: que no ano passado a Fumaça conquistou o título de melhor festa de 2004 e tentaria, em 2005, o bicampeonato. E, de fato, o título é dela e quando eu digo “é dela” quero dizer “é dela, da Incêndio (sua mãe) e do Osvaldo (o figuraça do namorado da Incêndio, a quem eu chamei, por dentro, de Bombeiro, pra que tudo fizesse sentido nesse leque de apelidos)”.
E por que ilustro o dia de hoje com essa foto, minha e do Branco? Apenas para que faça sentido, para quem não o conhece, o aposto que vem sempre a reboque quando lanço aqui o nome dele. Assim: Branco, esse sim de uma beleza acachapante. Vejam se não estou com a cara nítida de um humilhado conformado. Vamos em frente. Não sem antes dizer que ninguém é perfeito. Quando o Branco tirou o tênis, ontem, a festa foi uma vaia coletiva diante da feiúra, também acachapante, de seus pés e de suas unhas, que não vêem uma tesoura, um alicate, há décadas.
É preciso que eu seja detalhista para que se compreenda o que foi a festa.
Saímos de van, da Tijuca, eu, Dani, Betinha, Flavinho, Jeremy, Armando, Manguaça, Fernanda, Branco e Maria Paula. Quando eu digo que saímos da Tijuca é preciso que fique claro que levamos, conosco, a Tijuca para a festa. Quando chegamos em Pendotiba, no condomínio onde a festa se realizaria, a primeira tijucanice clássica. Não havia uma alma no ambiente. Nem a Fumaça. Nem a Incêndio. Nem o Osvaldo. Nem os garçons, o que denunciou, de forma evidente, que a Tijuca tem sempre fome e sede de festa. Mesmo quando a festa é longe, o que torna tudo ainda mais tijucano. A van, o farnel comprado na padaria, uma excitação que foi capaz de irritar o motorista. Mas vamos prosseguir.
Vamos, agora, às presenças. Não me tenham como um chato detalhista, mas é importante colocar os personagens à vista de todos. Evidentemente, Fumaça, Paulo, Incêndio, Osvaldo, Fefê, Brinco, Shayane, Zé Colméia, Vinagre, Augusto (ele mesmo, o pulha paulista), Duda, Ângela, Cacau (cheirosíssima, como sempre, aquele odor de Listerine, aquela alvura de sabão em pó), Hilton e Hilda, do Candongueiro, Wanderley Monteiro e Iracema, vozes gloriosas que deram mais alma à festança, Ruivinha, Guerreira, Zé Sérgio (ele mesmo, que ontem fumava desbragadamente), Dôra, e a família, óbvio.
Quando eu digo “a família” volta, a mim, o sentimento profundo de piedade que me assaltou ontem. Vou explicar.
Diante da horda bárbara da Tijuca, diante da escumalha que dava cores suburbanas ao ambiente chique naquele condomínio de luxo, a família (avós, tios, tias, primos e primas da Fumaça) parecia refém do medo, do choque, da vergonha. Entendam uma coisa. Havia uma grande área coberta, onde aconteceu a roda de samba. E havia um jardim imenso do lado de fora. Pois a Tijuca ocupou todas as mesas da área interna e a família – essa foi a visão que me deu vontade de chorar de pena – ficou, o tempo todo, do lado de fora com aqueles olhares de vergonha e medo, como que dizendo em côro, “tadinha da Débora, como pode ela se misturar com essa gentalha?”.
Disse gentalha e vou contar alguns rápidos episódios.
Vejam o Zé Colméia. O Zé tem quase 2 metros de altura, calça 50, e estava lá, sem camisa, descalço, e num determinado momento disse à Betinha com a boca suja de feijão: “Pô… esse caldinho me deu o maior bode… tô com sono…”, e ela retrucando, “Pôxa, Zé… eu também comi e estou ótima…”, e o Zé, de voleio, “É, mas eu já comi 12”.
Outra do Zé. Veio à mesa um panelão com carne assada e molho, que uma senhora, pacientemente, fatiava montando sanduíches no pão francês. Pois o Zé tomou-lhe o garfo trinchante das mãos e espetou de uma só vez o bloco inteiro do lagarto redondo. E saiu atropelando os convidados mordendo, como um bárbaro, a carne assada reclamando que estava muito seca. Fino, o Zé, como se vê.
Falei do caldinho de feijão e da carne assada. Vejam vocês o esmero da Fumaça e da Incêndio. Eu trouxe, como souvenir, a lista que estava afixada nos azulejos diante da pia da cozinha. Vamos a ela: (01) queijo minas com orégano e azeite, (02) bolinho de bacalhau, (03) sanduíche de carne assada, (04) caldinho de feijoada, (05) trilha com cebola, tomate, azeitona e batata corada, (06) pastel de presunto e queijo, (07) carne com cebola e farofa, (08) coxinha de galinha, (09) sardinha com ovo de codorna e pão, (10) pastel de carne, (11) aipim frito, (12) lingüiça com farofa, (13) pastel de banana, (14) bolinho de aipim com carne seca e (15) queijo coalho. Vejam vocês a fartura, e os tonéis de Brahma, estupidamente gelada, eram 5.
Chegamos lá às 13h e partimos às 21h. Para casa? Não.
Paramos diante de um buteco sujíssimo na Tijuca, esquina da Rua Caruso com Hadock Lobo, e bebemos mais, os 10 passageiros da van. O Jeremy, americano que graças à falta de habilidade, compreensível da Maria Paula, que é uma elegante, chorava dentro do buteco vociferando contra o Leblon, o Jobi, o Bracarense, urrando num português quase-perfeito, “isso sim é um buteco, isso sim é o Rio de Janeiro…” e ficou tascando beijos em mim como se fosse, eu, o responsável por aquilo tudo (era eu mesmo, mas sou um modesto).
Erguemos, todos, o copo à saúde da Fumaça, craque na arte de receber.
Até.
Posted by Picasa