“O relato que vocês lerão abaixo é estarrecedor. Acaba de ser enviado aos principais colunistas cariocas, porque o fato aconteceu no Rio de Janeiro. Revela, com sua crua simplicidade, a situação de abandono de uma das cidades mais fascinantes do mundo e demonstra, na prática, o que significa viver numa metrópole dominada pela contravenção, pelo crime e anestesiada pela impunidade.
A autora do texto não será identificada por razões óbvias, mas não se trata de uma anônima. Eu a conheço há bastante tempo e posso atestar sua seriedade e confiabilidade.
E trago pra cá porque essa torpe realidade tem relação direta conosco: a Grande Rio é a escola de samba que terá Florianópolis como enredo no carnaval de 2011 (veja aqui, aqui ou aqui). A figura escrota que aparece abaixo fazendo e acontecendo numa pizzaria famosa do Leblon, é o “presidente” com quem, provavelmente, autoridades municipais e estaduais florianopolitanas e catarinenses negociaram ou negociarão as verbinhas públicas (disfarçadas de renúncia fiscal), que financiarão o “privilégio” de ser enredo e também ajudarão esse indivíduo a continuar com suas orgias em público.
Olha só que coisa nojenta:
“Sou jornalista. Na última semana estive no Rio de Janeiro, que está nos holofotes do noticiário, novamente, desde o ataque dos bandidos ao Intercontinental. Fui ao Congresso da ANJ e acabei ficando mais uns dias a passeio.
Admiro e curto o Rio, pelas belezas naturais, pelo povo simpático, pela cultura, pelo clima descontraído. Nunca fui assaltada, nunca tinha assistido nenhuma cena que pudesse ofuscar meu carinho e admiração pela cidade. Na madrugada de domingo para segunda-feira (dia 23/08), porém, presenciei uma cena asquerosa na famosa Pizzaria Guanabara – da Ataulfo de Paiva, no Leblon. Cena que talvez explique muito sobre os episódios de violência que a cidade protagoniza de tempos em tempos e sobre os quais todos adoram comentar.
Petiscava com amigos no tradicional ponto de encontro da Zona Sul, quando chegou ao local o contraventor Jayder Soares, presidente de honra da Escola de Samba Grande Rio. Como não acompanho o mundo dessas estranhas celebridades, só percebi que se tratava de alguém “importante” pela movimentação. Acompanhado de uma série de seguranças, que cercaram o restaurante do lado de fora, Jayder, ladeado por quatro travestis, ocupou uma mesa interna dos fundos do restaurante. Havia um amigo carioca em nossa mesa, e ele logo explicou que Jayder era uma pessoa “poderosa”.
Nós, sentados do lado de fora, próximos às janelas laterais com vista para a mesa de Jayder, ouvimos as gargalhadas animadas do grupo. Nada demais para mais um fim de noite carioca…
Cerca de meia hora depois, contudo, a cena tornou-se impressionante. Jayder, repentinamente, se levantou da mesa, e em pé, de frente para a mesa que ocupava, abaixou as calças. Ele vestia jeans e uma camisa Polo, lilás, de grife -, dessas da moda entre os que querem ostentar posses, da “Tommy Hilfiger”.
Calmamente, desafivelou o cinto de couro, abaixou a cueca e chamou um dos travestis. Custei a acreditar no que se anunciava acontecer. O travesti se inclinou e passou a fazer sexo oral no carnavalesco, contraventor, presidente de honra da Grande Rio. Vários clientes perceberam a cena. Constrangidos, chamamos um garçom e o questionamos. Sem graça, ele disse que nada podia fazer porque o gerente não queria se “indispor” com Jayder.
Jayder, o poderoso, seguiu com a farra. Chamou outro travesti do grupo e, de calças arriadas, continuou recebendo sexo oral.
Pedi a conta, enojada, mas o grupo do bicheiro foi mais rápido. Jayder já parecia satisfeito. Pagou e saiu escoltado por seguranças e pelo grupo de travestis. Ria muito. Embarcou num carro e desapareceu.
Me senti ultrajada pela cena. Resolvi passar isso aos colegas da imprensa. Pensei em ir até uma delegacia de polícia, mas depois me dei conta da inutilidade e do ridículo que isso representaria.
Apesar de chocante, o episódio também é esclarecedor. Não conhecia Jayder e sua peripécias, mas através de uma pesquisa simples pela internet, descobri que ele é um homem rico e bem relacionado. Artistas, empresários e até o ex- Ministro da Cultura, Gilberto Gil, freqüentam suas festas. Ele é o “dono da Grande Rio,” paparicado por atores globais. Alguns desses mesmos atores que, curiosamente, deram declarações de protesto sobre o episódio do Intercontinental. Querem segurança! Querem uma cidade livre de violência! Querem morar em São Conrado em paz!
Falar é fácil. Na prática complica. A maioria adora freqüentar a Sapucaí, as festas financiadas pelo dinheiro sujo do jogo do bicho; festas dos homens que, sabidamente, mantém ligações com o crime organizado. Muitos dos que discursam por uma cidade sem violência, também gostam de fazer um uso “social” da maconha e cocaína, financiando assim o tráfico de drogas e tudo o que ele representa.
Um contraventor, por sua condição de fora da lei, deveria ter medo das sanções previstas num Estado Democrático de Direito para quem transgride às normas. Teoricamente, deveria viver à margem, discretamente, se esquivando da polícia e tentando escapar da mira da Justiça. Mas, ao contrário de temer represálias, Jayder faz questão de afrontar…
E o contraventor não estava num baile de carnaval ou num baile funk, desses sobre os quais a gente ouve falar barbaridades através dos jornais. Jayder estava dentro da pizzaria mais tradicional do Rio de Janeiro, localizada num dos bairros mais valorizados e charmosos da cidade.
Isso é muito simbólico. Isso sugere porque os traficantes também estão deixando de barbarizar somente na favela para atormentar e apavorar o pessoal do asfalto.
Triste para uma cidade que se prepara para abrigar dois entre os maiores eventos esportivos do mundo. Cidade onde a maior parte das pessoas trabalha, paga impostos, mas que pode ser afrontada, a qualquer momento, por um fora da lei, só porque ele é muito poderoso e rico…
O governador Sérgio Cabral mora ali na vizinhança. Deve freqüentar a pizzaria, assim também como dezenas de empresários e artistas, muitos deles que adoram se deixar fotografar ao lado do contraventor, como vi através da internet. Depois, não adianta reclamar da violência…
A violência começa quando as pessoas perdem as noções básicas de civilidade e de respeito ao próximo.
Jayder, ao baixar as calças no meio do restaurante e receber sexo oral de um travesti, não queria apenas satisfazer a sua tara. Afinal, ele poderia fazer a orgia num motel ou no conforto da sua casa. O que Jayder queria mesmo era público para sua escrotice, talvez para reafirmar seu poderio e sua fama de bad boy.
Cena podre, que vou lamentar ter assistido a vida inteira.
Acorda, cidade maravilhosa! Ainda dá tempo.”
“NÃO FOI NADA DISSO!”
O site do jornal Extra publicou, hoje à tarde, uma nota em que o personagem afirma que não estava com travestis. Transcrevo:
“Presidente da Grande Rio nega ter feito sexo oral com travestis
Jayder Soares, presidente de honra da Grande Rio, negou a acusação de uma frequentadora da Pizzaria Guanabara, de que teria recebido sexo oral de travestis no meio do restaurante. A polêmica está sendo divulgada em uma carta na Internet. “Isso é calúnia. Não houve nada, gosto é de mulher. Se eu tiver que fazer sexo será na minha casa, moro perto e sozinho. Acho ridícula essa acusação. Eu não tenho nada contra travestis, preconceito nenhum. Trabalho com eles no Carnaval. É esse povo que me ajuda a fazer a escola”. Jayder afirma que estava acompanhado do cabeleireiro Flávio Priscott, da modelo Joana Machado, ex-namorada de Adriano Imperador, uma amiga chamada Valéria e um amigo gay de Joana na Pizzaria Guanabara, domingo, após um jantar no Sushi Leblon.
Flávio diz que está arrasado: “Eu acho um absurdo. As pessoas que disseram que eram travestis são, na verdade, eu, Flavio Priscott, a Joana, que seria o travesti louro, e a Valéria. Ela tem cara de cavalo, parece homem, mas é mulher e uma querida. Isso não aconteceu. Jantamos no Sushi Leblon, onde estavam Beth Lago, Miguel Falabella, a Joana nos pegou e fomos para a Pizzaria. Foi um jantar normal. Fiquei arrasado, Jayder é como um pai para mim. Quando tinha 17 anos, frequentava Caxias porque lá tinha um bloco, que virou a Grande Rio”. “
“ELE JAMAIS SE PORTARIA DESSA FORMA”
A colunista de O Globo, Cora Rónai, tinha publicado no seu blog a carta. No meio da tarde retirou-a, substituindo por este texto:
“Fica suspensa, por enquanto, a publicação deste post.
Acontece que me ligou minha amiga Liege Monteiro, amiga também do Jayder Soares, garantindo que nada do que a nossa colega catarinense testemunhou teria acontecido conforme relatado.
Jayder de fato foi à Pizzaria Guanabara, de fato levou os seguranças que sempre o acompanham, mas por aí teriam ficado as semelhanças entre os relatos, já que no elenco de personagens à sua mesa sequer havia travestis e — sustenta a Liege, que o conhece bem e que até está redigindo uma nota aqui para o blog, pondo os pingos nos ii — Jayder jamais se portaria daquela forma.
Devo confessar a vocês que prefiro esta versão; acho que a cidade já está avacalhada demais para suportar (mais!) cenas tão lamentáveis. Gostaria, sinceramente, de acreditar num possível mal-entendido.
Enfim: enquanto a confusão não se esclarece, o blog baixa o fogo dessa panela.”
Bom, enquanto isso fica a palavra da espectadora perplexa e amedrontada (em quem confio), contra o esforço de relações públicas que já começa a surtir seus efeitos. Na sequência certamente será acionado o departamento jurídico. Na próxima ocasião, não deixem de registrar a cena com a câmera do celular. Porque, se ninguém fez isso nesse “incidente”, é possível que, em se tratando de pessoa tão rica, bem relacionada e poderosa, a edulcorada versão oficial acabe prevalecendo. Ou vocês acham que alguém terá coragem de ir à barra dos tribunais testemunhar contra um festejado presidente de escola de samba carioca?
ATUALIZAÇÃO DA QUINTA À TARDE
E a Cora acabou retirando, agora à tarde, até mesmo o texto explicativo e os comentários dos leitores sobre o assunto. Decerto recebeu mais alguma informação da turma do outro lado e resolveu cair fora totalmente. Por aqui, continuamos botando fé na nossa pobre amiga, que viu o que não devia e ainda vai acabar sendo chamada de mentirosa pelos amigos do amigo.”
O mais engraçado – e que o relato de Cesar Valente não revela – é que quando replicou a denúncia da jornalista que assistiu à cena, a Corinha – como a chamam os que a paparicam por aí – (que deveria corar de vergonha) fechou assim seu texto:
“A pessoa que escreve pede para não ser identificada, considerando que não deve ser à toa o medo que o poderoso Jayder desperta.”
É, né, Cora Rónai?
Querem ver que troço mais engraçado?
Na foto abaixo, a amiga de Cora Rónai – a que “pediu” para que a colunista d´O GLOBO retirar o relato-denúncia -, Liége Monteiro, em uma das festas de aniversário de Jayder Soares.
E querem morrer de rir, pra finalizar, e pra dar cores de coerência a tudo o que eu digo? Abaixo – vamos lá, uma prova da efetiva amizade entre Cora Rónai e a freqüentadora há anos do camarote de Jayder Soares – Corinha ao lado de Gloria Perez no restaurante de Roberta Sudbrack.
Até.