Arquivo do mês: junho 2009

É A LAMA, É A LAMA, É A LAMA

Ontem fui ao centro da cidade render-me à necessidade tecnológica, da qual fujo agudamente, e fui, como de hábito, tomar meu café coado no pano no Café Gaúcho (não suporto o café expresso, que passou a requintes que fazem uma xícara custar o preço de uma dose de uísque). De posse de um pendrive (reneguei, o quanto pude, o dito cujo), atravessei a Rio Branco e tomei a direção da esquina da São José com a Rodrigo Silva. Dei de cara com um protesto contra o golpe que não é exatamente golpe em Honduras (não tenho paciência pra discutir o troço aqui). Recomeço a frase: dei de cara com duas placas onde se lia “ZELAYA JÁ” e “FORA MICHELETTI”. Mentira, mentira. Eram três placas. Na terceira lia-se “O PSOL APÓIA O CAMARADA JOSÉ MANUEL”. Três pessoas, uma delas gritando palavras de ordem num megafone amarelo e vermelho, seguravam as três placas (um cidadão de bermuda bege, camisa branca e colete – membros do PSOL fazem do colete um uniforme – segurava o megafone com a mão direita e com a esquerda sacudia a cartolina pregada num cabo de vassoura com a impactante frase oferecendo solidariedade ao presidente deposto). Um quarto membro do partido distribuía panfletos convocando o povo para o debate político que às sextas-feiras o PSOL promove no Buraco do Lume para, no máximo, seis gatos pingados.

Depois de atravessar o Buraco do Lume fui ao balcão.

E encontrei o Percival.

Não o via há – o quê?! – dez, doze anos.

– Perci! – fui efusivo.

– Como vai essa força? – ele respondeu com a frase-feita.

Fiz a ele, em menos de dez minutos, um breve relato desses dez, doze anos e ele cravou-me com uma pergunta:

– Você faz análise?

Mexendo o café por puro esporte (bebo café puro), fiz que não com a cabeça. Veio a sentença:

– Por isso.

Fiz cara de que não entendi.

– Por isso andas bebendo com essa regularidade doentia, por isso voltaste a fumar, por isso essa barriga de chico-bóia, por isso esses cabelos brancos.

Para provocá-lo, sem dar-lhe uma resposta, pedi ao Bira:

– Um chope na pressão!

E ele, com carinha de nojo:

– Sai dessa lama!

Estendeu-me um cartão:

– Liga pro doutor. Te fará um bem tremendo.

– Você enlouqueceu, Percival?! Não nos vemos há dez, doze anos, e você vem com esse papo?! Ô, troço chato!

Ele ajeitou os óculos e disse:

– Quem mais precisa do tratamento é quem mais o rejeita…

Bebi o chope. Pedi outro. E ele:

– Sai dessa lama, Eduardo… Sai dessa lama!

Aproxima-se do balcão o pobre-diabo que distribuía os panfletos do PSOL. Estende um para o amigo a quem, àquela altura, eu lamentava ter encontrado. O Percival recebe o folhetim, lê o texto, dobra a coisa e guarda no bolso. Estende, em seguida, um para mim. Eu faço outro sinal pro Bira e digo:

– Não, obrigado.

O pobre-diabo continua distribuindo os santinhos entre a assistência que está no bar. O Percival:

– Não por que?!

Não respondo.

– Teu caso é urgente. Sai dessa lama! Sai dessa lama!

Despediu-se de mim, tirou o casaco (foi quando eu vi em sua lapela o botton do PSOL) e saiu em direção à rua da Assembléia fazendo que não com a cabeça.

E eu ali, indo para o quarto chope, enterrado na lama imaginária que o amigo de outrora enxergou.

Até.

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CENAS TIJUCANAS

Reuniu-se ontem, desde o começo da manhã, uma turma que vou lhes contar. Feita a feira, fomos ao Bar do Chico, eu e Luiz Antonio Simas. Aos poucos a mesa foi crescendo, e vieram Felipe Quintas (El Pipo) – ansiosíssimo com a disputa pelo terceiro lugar na Copa das Confederações entre Espanha, seu país do coração, e África do Sul, do nosso bravo Joel Santana), e meu cunhado, Marcelo, que veio de Guarulhos pra conhecer a esquina, e Carlos Andreazza (egresso do jogo que sagrou o Flamengo bicampeão brasileiro de basquete), e José Sergio Rocha, e nosso xerife, o Flavinho com sua Betinha, e mais e mais e mais e mais (ando discretíssimo, não há razão para lhes contar tudo).

O que quero lhe contar é que assistíamos ao Brasil e Estados Unidos pela final da Copa das Confederações na menor TV da cidade (peço o testemunho dos presentes). Na contramão da moda que pede televisões de LCD gigantescas (as mais humildes biroscas têm dessas televisões), o Bar do Chico mantém pendurada no teto uma 14 polegadas com bombril na antena (o bombril foi trocado ontem, segundos antes do jogo, pelo próprio Chico).

O jogo foi aquela chatice, viramos o primeiro tempo perdendo de dois a zero mas a camisa canarinho (menosprezada por grande parte do time no final da partida que preferiu exibir ao mundo seu amor, sua devoção e sua fé em Jesus, deixando pra lá o orgulho de vestir a mais respeitada camisa do mundo) falou mais alto e vencemos por três a dois.

Pausa: independentemente das regras da FIFA, fosse eu dirigente da CBF e os jogadores seriam proibidos de exibir qualquer mensagem antes, durante e depois das partidas. Vivemos num país laico e essas demonstrações de cunho religioso (para não ter de me estender mais) são lamentáveis. Cada um que cuide de sua fé dentro de casa. Voltando.

O que queria lhes contar é apenas o seguinte: no instante em que o Brasil marca o terceiro gol, na cabeçada do Lúcio, vira-se um biriteiro que assistia ao jogo de pé, no balcão, e grita de braços abertos como um Cristo Redentor se dirigindo à Estátua da Liberdade (para delírio da assistência):

– The house is down!

Até.

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ATORES E ATRIZES DE TEATRO

Eu não sei se vocês têm essa sensação de vez em quando, se passam pela mesmíssima experiência pela qual passei sexta-feira pela manhã (repeti a palavra “pela” de propósito), por isso quero dividir esse troço com vocês, meus poucos mas fiéis leitores. Li, pouco antes da hora do almoço, o texto BODAS DE PRATA, escrito por meu queridíssimo Luiz Antonio Simas, em seu HISTÓRIAS DO BRASIL (o melhor blog do Brasil na opinião de Carlos Andreazza, com o que concordo). Leiam aqui, leiam!, por favor.

Quando bati os olhos no título, disse de mim para mim:

– Vai falar do Tiago Prata.

Entretanto há uma aridez absoluta do violonista no curso do texto (que eu gostaria de ter escrito, eis o que eu queria desde o início lhes dizer). Mas se lá não está o menino Prata (não mais tão menino, diga-se), está enterrada uma verdade acachapante que foi, justamente, o que mais me doeu não ter exposto antes do bardo da Lúcio de Mendonça: atores e atrizes são atores e atrizes vinte e quatro horas por dia. Explico.

Fingem, fingem, fingem.

Fazem tipo, todo o tempo, e tem um ar blasè que eu vou lhes contar, é espeto (estou relendo, pela – o quê? – décima, vigésima vez, toda a obra rodrigueana).

Há, no prédio em que moro, um ator.

Faça o tempo que for, chova, faça sol, uma canícula africana, e lá está o ator de cachecol.

Refiro-me, por óbvio, ao ator-jovem (é o único ponto do qual discordo de Luiz Antonio Simas, acho que a velha-guarda, na qual há também exceções, tem grandes artistas, grandes artistas!).

O ator-jovem diz, como quem respira, que “faz teatro”. Ainda que não tenha, nunca, posto os pés num palco, ele diz que “faz teatro”. Está sempre “estudando um texto”, “envolvido num projeto” (que nunca se concretiza), quase sempre “fumando maconha para transcender”, “fazendo Tablado”, visitando exposições e achando o máximo instalações que não fazem o menor sentido (dia desses falo sobre as tais “instalações”), “participando de performances”, freqüentando Santa Teresa (que ele chama, como de se esperar, de Santa), dizendo que é PSOL e fã da Heloísa Helena.

Pausa rápida (ou pano rápido, para que fique mais adequado ao tema de hoje): li, dia desses, nos jornais, que a ex-senadora Heloísa Helena referiu-se a uma colega vereadora (HH é, hoje, vereadora) como “porca trapaceira”. Façam-me o favor. O homem que ocupa cargo público tem de ter, no mínimo, postura. Tem de cumprir alguma liturgia. E a brava ex-senadora, repreendida sabe-se lá por quem, saiu-se com essa:

– A vereadora Tereza Nelma colocou no bolso R$ 162 mil. Vereador pode roubar cofres públicos e não pode ser chamada de porca?

Não, não pode. Resultado: a vereadora Tereza Nelma ingressou com um processo por quebra de decoro parlamentar – no que fez muitíssimo bem.

A histérica ex-senadora vem perdendo a linha não é de hoje. E provando, cada vez mais, que não tem NENHUMA (com a ênfase szegeriana) condição de ocupar os cargos que almeja. Dito isso, em frente. Voltando.

Não, não vou voltar.

Não tenho, eis a triste verdade, mais nada para lhes contar hoje. Quer dizer, tenho. Mas o farei em outro texto.

Até.

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O ALUNO DA PUC

Encontrei-me, ontem à tarde, de passagem pelo Buraco do Lume, com o aluno da PUC, aquele de quem lhes contei aqui. Não fui eu que o vi, mas ele a mim. Com os dois braços fremindo no ar como um náufrago em meio ao mar bravio, lembrando um daqueles bonecos infláveis de posto de gasolina, o pontifício gritava meu nome como um apaixonado. Meu nome gritado pelo estudante misturava-se ao côro de duas vozes que, em ritmo de marcha militar, pedia “socialismo e liberdade!, socialismo e liberdade!, socialismo e liberdade!”. Era um pré-comício do PSOL, que acontece de segunda a quinta-feira anunciando o sempre apoteótico comício (não é comício, acompanhem meu relato) de sexta-feira e que reúne, num dia de mobilização aguda, cinco, seis pessoas (nunca vi mais de três). Pedi ao pontifício que aguardasse e fixei olhos e ouvidos no homem que, megafone amarelo e vermelho em punho, anunciava a mudança de nome da praça, de Melvin Jones para Mário Lago (“um projeto do PSOL!”, bradava furiosamente a besta de bermudas) e convocava o povo imaginário à sua volta para o debate político do dia seguinte. Pausa: tremenda baboseira mudar o nome da praça. Aquilo ali é e sempre será o Buraco do Lume, mas o PSOL, vocês sabem, tem projetos incríveis para a cidade. O PSOL, vocês sabem, também inova permanentemente. E o PSOL não promove comícios, mas debates políticos. Fui até o homem do megafone. Quando seus olhos cruzaram com os meus, ele largou o instrumento e abriu um sorriso santo (tive certeza, naquele momento, que eu era o primeiro homem a lhe dirigir a atenção). Diante de mim, disse:

– Pois não, companheiro! – e bateu uma continência inapropriada.

– O debate de amanhã é sobre o quê, hein?

Ele colou um adesivo com um solzinho no meu peito, acintosamente. Arranquei o troço e ele se ofendeu:

– O que é que é isso, companheiro? Nosso debate político de amanhã será sobre a elitização e a concentração da cultura na cidade. Os membros do nosso quadro farão uma expo…

Deixei o homem com boné de crochê falando sozinho e fui ao aluno da PUC.

– Como vai? – disse eu, polidamente.

– Ótimo! Estou me preparando para o show da Banga! – e esfregou as mãos como se tivesse uma lâmpada do gênio entre elas.

– Banga?

– Bangalafumenga. Farão show no sábado na festa junina da PUC.

– Sei.

– E mais o DJ Sadam! DJ Sadam, Edu!

– Arrã.

Constrangido com minha anti-empolgação, mudou o rumo da prosa:

– Já te falei sobre minha paixão pelo samba e pela Lapa de outrora?

– Não.

– Eu idealizo uma Lapa, sabe, aquela da década de 50, 60!

– Sei.

Como eu era cada vez mais um desinteressado, ele virou o timão mais uma vez:

– E naquele dia, quando falei do jazz… Poxa… Não quis menosprezar o samba, sabe?

– Sei, sei, sei sim.

– É que o samba pra mim é um espaço democrático, um lugar de todos. Aquele momento em que a cadência das batidas e dos acordes superam os sentidos racionais e fazem com que nos deixemos levar…

– Hum… deixar levar. Sei.

Inventei uma consulta ao dentista e me despedi apressado.

Até.

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A FÚRIA ESPANHOLA

Estive ontem em São Paulo, 24 de junho de 2009, e mais uma vez em um 24 de junho, dia que é, para mim, mais solene que feriado nacional. Faz anos o homem da barba amazônica, quando seus amigos (que são muitos, sou apenas um deles, e seguramente o mais maltratado com requintes que só ele, sábio que é, conhece e domina) se reúnem para celebrar a data (eu diria que o dia de anos de Fernando José Szegeri é mais festejado que o Dia de São João no nordeste do Brasil). Mas não é ele o protagonista de hoje. É, de novo, esse boêmio, esse nostálgico, esse tijucano fundamental que atende pelo nome de Felipe Quintans, mais conhecido como Felipinho Cereal, que teve, no domingo passado, uma crise possessa e européia (relembrem aqui).

Estávamos almoçando no GALINHADA DO BAHIA, fabuloso restaurante ao qual, é preciso fazer justiça, o camarada Julio Vellozo há muito queria me apresentar. Pois estávamos lá, na rua Azurita, no Canindé, eu e (em ordem alfabética para não ferir suscetibilidades) Arthur Tirone (o Favela), Bruno Ribeiro, Fernando Szegeri, José Szegeri, Julio Vellozo e Marcelo Vidal (a Lenda). Comíamos o que vinha à mesa com fartura como homens de bem celebrando a vida e a arte do encontro quando um garçom da casa ligou a TV. E a TV transmitia, naquele momento, o jogo pela Copa das Confederações entre Espanha e Estados Unidos.

Àquela altura a seleção espanhola perdia por dois a zero (e de fato foi o placar final).

Conversávamos – sobre o quê, mesmo?, lembrei! – sobre a viagem do mano Bruno Ribeiro à Finlândia (o bardo de Campinas compareceu levando nos bolsos carpaccio de carne de rena e garrafinhas de Underberg). Mas foi ligar a TV para o Szegeri explodir à mesa:

– Edu! Ia esquecendo de te perguntar! Foi verdade aquele ataque do Felipinho, domingo passado, no Bar do Chico?! Ele disse MESMO – e valeu-se de sua ênfase – que torcerá pela Espanha contra o Brasil?!

Não respondi.

Como Favela e Vidal estavam à mesa comigo no domingo, cutuquei-os com os olhos:

– Cem por cento verdade! – disse um.

– Rigorosamente verdade! – completou o outro.

Eu pus exclamações na fala de ambos, mas o tom foi lúgubre.

Houve um alarido à mesa.

Incredulidade misturada com revolta, descrença com promessas de vingança, todo esse coquetel de sentimentos que o futebol desperta.

Vejam vocês que o pequeno grande homem anda, de fato, estranhíssimo.

Eu deveria ter percebido que havia algo de errado com o Felipinho antes mesmo do transe ibérico do domingo passado.

Dias antes bebíamos, os dois, uma cerveja de final de dia na QUITANDA ABRONHENSE. A TV noticiava a propagação dos casos de gripe suína no Brasil. De repente percebi que o cara transia, tremia, gemia de pé no balcão. Sapateava, de leve, como Carmen Amaya.

Pus a mão em seu braço:

– Tudo bem, cara?

E ele, com os olhos encharcados d´água, tocando castanholas imaginárias:

– Tenho saudade da gripe espanhola, Edu! Gripe suína é degradante! España! España!

E saiu rodopiando, toureando um miúra também imaginário pelo salão da quitanda. Depois de girar como uma piorra por uns cinco minutos, despediu-se da porta:

– Adios!

Até.

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POSES, POSES, POSES

Andei recentemente – vocês que me acompanham sabem – falando sobre essa intrincada relação entre os homens e mulheres doentes da alma com seus bacanas (psicanalistas, precipuamente). Hoje mesmo, mais cedo, vim para o trabalho de ônibus, como de costume, e enquanto os pneus do coletivo deslizavam pela rua Alice meus pensamentos patinavam sobre as máscaras e poses dos envolvidos nas tais relações, os analisados e seus analistas, os bacanas. São um festival de poses. O olhar de um analisado é uma bomba atômica onde não há urânio, mas piedade. Ele olha, da cabeça do próximo à sola do sapato alheio, com um olhar pleno de piedade e superioridade. São meneios permanentes de cabeça que denotam pena, e os médicos da alma não ficam atrás. Fazem do silêncio seu cartão de visitas e moldam, dia após dia, suas máscaras de gesso das quais emerge uma superioridade ariana. Tudo pose.

Um sujeito sentado no banco da frente do ônibus ouvia, enquanto eu divagava, seu radinho de pilha (sim, era um radinho de pilha mesmo, não um desses aparelhos modernos). E ele ouvia Beth Carvalho batucando, não na caixinha de fósforos cada vez mais improvável, mas na pastinha de cartolina que carregava no colo. É incrível, mas não consigo ter certeza nem a fórceps de qual o samba que o sujeito ouvia, mas o samba era um sucesso retumbante da grande sambista (a maior, a maior, a maior). Disse a besta sentada ao meu lado, puxando papo:

– Crente que é sambista.

Eu, que não perco as chances de melhor conhecer o homem, nada disse, mas disse com os olhos um “hein?” que excitou meu interlocutor (uma besta, repito).

– Ouvindo esse samba aí, pô, tremendo sucesso, tremendo hit-parade, e se achando…

Eu nada disse e ele explodiu:

– Samba é raiz! Samba é Picolino! Picolino!

E ficou ali, repetindo o nome do velho portelense que já vaga pela pátria espiritual, como se isso desse a ele, a besta, o título de doutor.

O ônibus seguia o trajeto e já estávamos em Laranjeiras.

A besta desceu na altura da São Salvador e lançou, antes de tomar a rua, um olhar de nojo em direção ao feliz passageiro que ouvia, no instante em que estamos, um samba do Agepê.

Saltei no Largo do Machado junto com o rapaz do radinho e dei de cara com um mini-comício do PSOL bem diante da estação de metrô. O homem que empunhava o megafone falava para – o quê?! – uma pessoa estacada diante dele. E essa pessoa aplaudia freneticamente as botinadas verbais do socialista, quando me dei conta de que a máscara da besta do ônibus é freqüente nas rodas de samba que se espalham por aí, em todos os terreiros, os pequenos e os grandes. E explico.

Como se adquiridas na Casa Turuna, essas máscaras são idênticas na forma: tem expressão de nojo, superioridade, e estão espalhadas pelas rodas de samba como nos consultórios dos bacanas ou nas mesas dos bares onde se sentam, com ares parisienses, os analisados e analisadas. Estou, sei que estou, dando voltas e voltas. Mas quero lhes dizer é justo isso…

Como é que você reconhece uma besta numa roda de samba? Como é que você sabe que ali, empunhando um cavaquinho, segurando um repique, batucando um tamborim, está uma besta? É fácil.

A roda de samba é, por excelência, congregação. É a missa campal do povo brasileiro, apud Aldir Blanc. O samba cantado por todos é, não há dúvida, o ápice, o axé, a força, o peso e a beleza da roda, do encontro, da reunião.

A besta o rejeita (o samba cantado por todos, que fique claro).

A besta quer começar o samba e ver que a seu redor há um silêncio absoluto, como o de uma missa à moda antiga. Ninguém sabe aquele samba. Ninguém conhece. Ninguém jamais ouviu falar (ou cantar). E daí ele levanta, no intervalo, com ar blasè, e sai sapateando distribuindo “não conhecia?”, “nunca ouviu?”, achando-se o maior, o superior, o supremo sábio.

É o anti-sambista. O anti-povo. E se arvoram, essas bestas, como procuradores não-nomeados de Candeia, Picolino, Colombo etc etc etc

Volto ao tema.

Até.

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A INGRATIDÃO AMERICANA

Você vai começar a ler o que ora escrevo e, tenho certeza, o presidente Obama, a crise econômica, as relações dos EUA com o mundo virão à sua mente. Mas não é disso, absolutamente, que quero hoje lhes falar. É sobre a ingratidão americana, e me refiro, aqui, ao América Football Clube, o clube alvi-rubro da Tijuca, o clube pelo qual torce meu queridíssimo Felipe Quintans, mais conhecido na Tijuca e redondezas como Felipinho Cereal, o “pequeno grande homem” no entender do homem da barba amazônica.

Vejam bem o que escreveu o Felipinho Cereal em seu BOEMIA E NOSTALGIA (o Felipinho é, de fato, boêmio e nostálgico do alto da cabeça à sola dos pés, o que dá pouco mais de metro e meio):

“Acabou a promoção safada do Diário Lance. Junta-se 25 selos e paga-se R$39,90 por uma camisa de alguma destas equipes cariocas: Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Caso queira, por mais R$29,90 leva-se a do América, numa promoção que os pequeninos e infelizes jornalistas chamaram de “Minha Segunda Paixão”. O que eu estou vendo de gente com a camisa do América nas ruas não está no gibi, o problema é que são torcedores de outros times. Uma lástima, um vergonha, humilhação, coisa que o América não merece e nem precisa. Torcedor bom é torcedor de uma equipe só. Não veste, jamais, o manto adversário. E o Diário Lance apenas me deu a certeza de que o velho Jornal dos Sports é infinitamente melhor.”

Preocupou-me o estado do meu amigo quando li isso, em 09 de junho próximo passado (aqui).

Notem as botinadas impressas no texto: a excepcional promoção do jornal é “safada”; os jornalistas que bolaram a promoção com a camisa do América são “pequeninos e infelizes”; a simpatia dos torcedores cariocas pelo América é uma “lástima, uma vergonha, humilhação, coisa que o América não merece e nem precisa.”. Ou seja, o bardo da Barão de Sertório pisoteia, sem dó nem piedade, na simpatia e no bem-querer do torcedor do clube adversário, maldiz a simpática promoção do LANCE!, distribui bofetadas no rosto dos jornalistas bem intencionados e ainda elogia o outrora glorioso Jornal dos Sports, que nem mesmo o espírito de Mário Filho lê mais.

Vejam, meus poucos mas fiéis leitores, que justifica-se minha preocupação com o estado d´alma de meu irmãozinho americano. Mas o pior deu-se ontem, e eu fiquei, sinceramente, pensando se o caso é ou não é de psicanálise.

Antes, porém, fixem na mente, como um neon imaginário, a frase de sua autoria: TORCEDOR BOM É TORCEDOR DE UMA EQUIPE SÓ.

Digressiono…

É uma grande frase, impactante. Sartre a assinaria (eu só escrevi Sartre porque li seu nome, hoje, numa confissão de Nelson Rodrigues). Torcer pelo Flamengo, por exemplo, no meu caso, não me impede de vestir, vez por outra, como quem veste uma camisa qualquer, a camisa do Anhanguera (usei-a ontem homenageando o Favela, que esteve aqui), a camisa do América (acho bonitinha), a camisa do Volta Redonda (tenho aguda simpatia pela cidade). Isso não me faz torcedor de outro time, certo?

Certo, sei que é certo.

Mas o que disse ontem, à mesa, cercado por mais de dez amigos (não vou nominá-los), o nosso Felipinho Cereal? Pior: o que fez nosso protagonista de hoje?

Papo vai, papo vem, cerveja vai, carne de sol vem (estávamos no BAR DO CHICO, como em todos os domingos), aproximava-se a hora do jogo Brasil e Itália pela Copa das Confederações. A conversa girava em torno da Copa do Mundo do ano que vem. E ele, o pequeno grande homem, abriu a mochila.

Abriu a mochila e de lá sacou um par de castanholas.

Ficou de pé.

Deu de sapatear a calçada da esquina tocando, com fúria espanhola, as ditas castanholas.

Segundos depois, puxou a toalha de uma mesa vazia e passou a tourear um touro imaginário (ele mesmo gritava “olé!” como um possesso).

Eram mais de vinte olhos esbugalhados diante daquela possessão européia.

Até que sentou-se, suadíssimo, enrolado na toalha e pousando as castanholas sobre a mesa.

Disse, transido:

– Soy contra!

Ninguém entendeu nada.

Luiz Antonio Simas, que entende das coisas do além, disse calmíssimo:

– Contra o quê?

Ele, de olhos fechados, mãos cerradas, socou a mesa plástica fazendo quicar copos, pratos e talheres:

– O Brasil! O Brasil!

Silêncio absoluto.

Pus a mão em sua testa (ele tinha febre) e disse:

– Contra o Brasil?

E ele, com os olhos brancos:

– Se o Brasil enfrentar a Espanha na Copa do Mundo, serei Espanha! Torcerei pela Espanha! Espanha! Espanha! España! España!

Saiu, como uma múmia de vodu, e tomou a direção de casa.

Ainda bati o telefone pra ele.

– No quiero hablar, Eduardo! Adios! Adios!

Eis, meus caros, o que eu queria – assustadíssimo e preocupado – lhes contar.

Até.

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SAMBA E DIREITO

Encontrei-me com um colega dia desses, no centro da cidade, quando atravessava a Rio Branco em direção ao Tribunal de Justiça. No meio do caminho, não uma pedra, como diria Drummond, mas um comício do PSOL, o que significa dizer que três ou quatro aplaudiam freneticamente um histérico que berrava atrocidades através de um megafone pintado de vermelho e amarelo (havia um solzinho sorridente na corneta) num ritual que se repete a cada sexta-feira. Encontrei-me com ele, fomos efusivos no cumprimento e ele me pareceu eufórico como um pai recente:

– Edu! Edu! Finalmente encontrei a sala que eu queria! – e apontou, como um pirata avistando a ilha, para o edifício portentoso cravado na Rodrigo Silva rasgando o céu do Rio.

Dei-lhe os tapinhas protocolares no ombro e perguntei, tijucaníssimo:

– Vai ter coquetel de inauguração? – e fiz o abjeto gesto com a mão direita na altura do peito, a palma virada pra cima e os quatro dedos, tirante o polegar, empurrando a comida imaginária pra dentro da boca.

– Claro, claro! – e apresentou-me ao rapaz que o acompanhava.

Disse-me ele:

– Edu, esse aqui é um futuro colega nosso!

E deu nome ao boi, desinfluente para o que vou lhes contar.

– Futuro colega?! – perguntei ao rapaz estendendo-lhe a mão.

– Arrã. – respondeu-me formalmente abrindo um sorriso de isopor, ensaiado.

– Forma-se quando?

– Na PUC.

– Sei, mas quando?

– Quando? Depende, né? Mas na PUC, na PUC! – esfregava as mãos deslumbradíssimo.

A obsessão pontifícia do aluno-católico jorrava de seus olhos brilhantes de orgulho por trás das lentes dos óculos.

Meu amigo, tornando ao assunto da conquista imobiliária:

– Vou fazer uma roda de samba para inaugurar o escritório, sabe?!

Pôs a mão direita no canto esquerdo da boca com as unhas voltadas pro próprio rosto e disse forjando segredo:

– Sabe aquela minha cliente? Aquela, aquela… – e riu.

Contagiado pelo português castiço do estudante da PUC, pisquei e disse:

– Arrã!

– Então. Já a chamei, ela topou. Voz, um violão de sete cordas, um cavaco, uma percussão, acho que vai ficar bacana, você não acha?! No máximo 40 pessoas… o escritório não é tão grande…

Antes que eu respondesse concordando com a brilhante idéia, o aluno da PUC começou:

– Samba? – franziu a testa.

Nossos quatro olhos cravaram a fronte do universitário. Ele pôs a mão esquerda no queixo, ajeitou os óculos com a destra e disse:

– Não pega bem.

Continuamos mudos à espera do raciocínio do pontifício:

– Um escritório de advocacia pede o jazz! – fechou os olhos e tocou um sax imaginário.

Não agüentei:

– Jazz?! E por que não o samba?

– Ora, ora… – ele ainda tinha os olhos fechados – O jazz é mágico, é chique, é elegante, é sóbrio… Eu até gosto de um sambinha, sabe? Mas na Lapa, pô, na Lapa! Ou em Santa!

Despedi-me do amigo e do pontifício antes que eu começasse a ser desagradável.

Mas vejam bem vocês.

Há momentos em que eu digo, de mim para mim:

– Eduardo, largue esses conceitos, deixe de lado essas idéias pré-concebidas!

A vida real, pra fora da porta de casa, não deixa.

Até.

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UM BEBÊ FUMANDO

Estava eu, dia desses, caminhando pelo centro da cidade, quando decidi parar para um café no Café Gaúcho, na esquina da Rodrigo Silva com a São José. Comprei a ficha a R$ 1,00 (o café ali é de verdade e o preço é honesto, não é café expresso a preço de chope), encostei-me no balcão, pedi meu cafezinho puro, sem açúcar, sem adoçante, acendi um cigarro e dei de olhar a paisagem. Estava acontecendo, no meio da praça, um comício do PSOL, o que significa dizer que três ou quatro pessoas cercavam o sujeito que discursava distribuindo botinadas em todas as direções e dizendo as coisas mais sem sentido que jamais ouvi (mentira, eu já havia ouvido coisa pior na semana anterior em discurso do mesmo PSOL). Diante de uma banca de jornal, uma pequena multidão se acotovelava para ler as manchetes dos jornais do dia. Na igreja da Rodrigo Silva, velhinhas encenavam um entra-e-sai comovente. Estava terminando meu café quando fui abordado por um sujeito que estendeu-me um panfleto:

– Você já conhece nosso candidato? – perguntou-me o cidadão vestindo calça jeans rasgada, uma camisa de juta com botões que me lembraram os Flinstones de onde pendia um bottom escrito “I LOVE SANTA”, uma sandália de couro com sola de pneu e cabelos que fediam à distância e de onde saltavam lêndeas e piolhos socialistas.

– Não. – eu disse, e mantive o olhar no horizonte.

– Ele está convocando a população antenada a participar da Marcha Gay em São Paulo, cara…

– Cara? – e mantive o olhar no horizonte.

– Você não quer nem ficar com o panfleto dele?

– Não. – e mantive o olhar no horizonte.

Quando o piolhento afastou-se ouvi um burburinho na praça. Agradeci o café e tomei a direção da turba.

No banco da praça, um casal e um bebê no colo do pai, a mãe chorando muito e segurando uma máquina fotográfica antiga (acho que era uma Olympus Pen).

Populares cercavam a família e passei a prestar atenção ao discurso que uma histérica fazia, de dedo em riste:

– Chamem a polícia! Chamem o Conselho Tutelar! O Juiz de Menores! Isso é um absurdo, um verdadeiro absurdo! Essa criança crescerá traumatizada se continuar a ser incitada ao vício e ao mundanismo!

Cutuquei um senhor dentro de um bem-cortado:

– O que houve, heim?!

– Não sei, jovem, acabei de chegar.

O “jovem” me soou como deboche do cabeça-branca.

Atravessei a multidão, pus a mão no ombro da mãe e perguntei:

– O que houve? Vocês estão precisando de alguma coisa?

Soluçando, a jovem mãe disse ao marido:

– Conta pro moço, bem, conta…

O pai:

– Pedi a ela que tirasse uma foto minha com o menino, e de brincadeira pus um cigarro aceso entre os dedos dele, sabe? Queria repetir uma foto que meu pai fez comigo quando eu tinha dois anos, a idade dele… Ele fez anos ontem…

A histérica continuava (reparei que ela também usava um bottom do PSOL):

– Absurdo! Onde é que já se viu isso!? Uma criança fumando!

O pai ameaçou partir pra cima da loura. Pus as mãos em seus ombros e disse:

– Deixa quieta. É desequilibrada.

Ela seguia:

– Eu sou psicóloga, gente! Eu sei o que eu tô falando! – e deu de distribuir seu cartão.

Olhei pro pai, olhei pra mãe, e disse:

– Vamos, vamos tomar um café ali na esquina…

Em coisa de – o quê?! – cinco minutos a pequena multidão se dispersava, fui abrindo caminho para passar com a pequena família, até que a socialista dirigiu-se a mim:

– Você aí! Quem é? Quem é você?

Eu estaquei diante da patética figura e disse:

– Eu sou normal, minha senhora. A senhora é psicóloga! Psicóloga! Saia! Saia! Saia da frente!

Fui aplaudido. Caminhei com os três até o balcão do café e a histérica foi lá juntar-se a seus companheiros de partido em estado de absoluto choque com minha reação diante da abordagem pífia na frente de todos. É bem verdade que uma ou outra besta ainda ficou muxoxando indignação na praça como se tivessem algo a ver com a vida da criança, com a vida de seus pais, com a condução que estes dão ou darão à educação do pirralho que nada entendia, por óbvio.

E lembrei-me de um episódio recente.

Estava eu na casa de uma tia vendo, na parede do corredor, as fotos de seus filhos, todos bebês, em preto-e-branco, as famosíssimas fotos das sete carinhas, uma novidade popularíssima nas décadas de 40 e 50. Dei de cara com a foto do Beto com – o quê?! – dois, três anos no máximo. Numa das sete fotos, o malandro (hoje com mais de 40 anos) segurando um senhor cigarro aceso.

Beto jamais (com a ênfase szegeriana) fumou. Jamais experimentou o gosto de um cigarro, quer seja de maconha quer seja do convencional. Hoje sua pobre mãe seria presa, agredida, processada por conta do inocente gesto que sempre soou como inocente piada, e no entanto os pulmões do Beto não têm sequer resquício de alcatrão ou nicotina.

E tive eu que ouvir a bacana sapateando com seu salto alto bradando as regras estúpidas que tentava impôr aos passantes e àquela família normal diante de mim.

Com vocês, Nelson Rodrigues:

“Meninos de sete anos, meninas de cinco, vêem novelas. Portanto, era uma medida típica de salvação nacional e humana varrer essa miserável subliteratura. Um espírito crassa e estreitamente positivo poderia perguntar: “E os menores abandonados? E os garotinhos que bebem a água das sarjetas, e os que apodrecem de abandono?”. Esses não precisam de nós. (…) Na rua, fica tudo como está. Mas nos lares a criança está protegida, dos pais, das mães, das avós, das tias, das cunhadas e primas. (…) Já houve a morte da novela. Veremos, em seguida, outras mortes: da pobre música popular, do futebol, da piada, do sorriso.”

Isso, meus caros, foi escrito em 1969.

E muito por conta de posturas recorrentes como a da bacana socialista do Buraco do Lume, a profecia rodrigueana faz-se dura verdade a cada dia que passa.

Até.

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BAR DO PAULÃO

Quando eu terminei de escrever a dedicatória no livro que dei ao caboclo – “Pro Paulão, dono do melhor buteco do mundo, com um abraço do tamanho da minha saudade” – foi que eu me toquei: eu estava, depois de mais de dez anos, sentado de novo no buteco que é, de fato, na minha humílima opinião, o melhor buteco do mundo (eu dizia isso ao Paulão desde 1992, quando ele inaugurou o portentoso estabelecimento, do qual fui (sou, por óbvio, e é ele mesmo que diz) um dos primeiros clientes).

O Bar do Paulão fica em Caxambu, sul de Minas Gerais, cidade na qual nunca mais pisei por razões que, franca e sinceramente, não vêm ao caso. Fui passar o final de semana prolongado em São Lourenço, a 20km de lá, a fim de estar com parentes da mulher que me ensinou a sorrir. Arrumando as malas, na sexta-feira pela manhã, falei pro meu vira-lata:

– Vou levar dois livros meus, um pro Venceslau e outro pro Paulão. Quem sabe consigo encontrá-los?

Na manhã de sábado bati o fio pro Venceslau, o sujeito que me ensinou a dirigir, e que fez tremenda festa quando me ouviu:

– Quero encontrá-lo, Venceslau. O Bar do Paulão ainda está lá?

– Ô… – disse ele, mineiramente.

Marcamos às cinco da tarde na porta.

Ansioso, cheguei às quatro e meia.

Bar fechado.

Bati a campainha (o Paulão mora no bar; o lar dele é, de fato, o botequim).

Paulão veio à porta e eu nem lhes conto!

– Ô, Dudu! – olhos marejados, ele enorme, aqueles braços imensos e um abraço acumulado há mais de década.

– Fechado, Paulão?!

– Abro às seis e meia… Abria! Abria! Vou abrir agora!

Papo vai, papo vem, ele abriu o bar, deparei-me com o mesmíssimo cenário de antes, centenas de garrafas de cachaça nas prateleiras nas paredes (algumas com mais de 100 anos), o mesmo rádio valvulado no balcão, a mesma geladeira que não mais existe, a flâmula do Cruzeiro, a Brahma estupidamente gelada, a costelinha de porco preparada pelas mãos sagradas da dona Fátima, e o Venceslau chegou, pintou na área de surpresa o Sérgio, apontador de bicho que fez meus jogos durante muitos anos, e o velho deu de chorar de saudade matada naquela ladeira, perguntaram pelo meu pai, liguei pro celular do meu velho, que falou com todos, depois me foram servidas doses e mais doses de cachaça, provei (de novo) das batidas de maracujá com tangerina preparadas pelas mágicas mãos do Paulão, comi croquetes de carne, bolinhos de aipim, fiquei ali – o quê?! – coisa de duas horas e voltei pra São Lourenço (e domingo pro Rio) com essa certeza amalgamada dentro do coração: o Bar do Paulão é mesmo o melhor buteco do mundo.

Fica na rua João Pinheiro, em Caxambu, no alto da ladeira, no número 567, e você pode falar com o cracaço no (35) 3341-1763, ele que abre o bar de quinta a sábado (e feriados!), a partir das 18h30min.

Do alto de meus 40 anos deixo aqui minha agudíssima recomendação: vale a visita, e vale muito.

Vivi ali, naqueles 120 minutos, emoções que só mesmo o buteco proporciona na vida da gente.

Até.

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