Sempre que vou falar dele, nele, sobre ele – e eu o faço com religiosa assiduidade – costumo dizer: se você não leu nada sobre meu pai, ainda, comece lendo Papai também é fóbico, que pode ser lido aqui. E você terá uma noção básica sobre quem é e como se comporta o velho Isaac.
No momento em que escrevo, 42 pessoas já curtiram (odeio o verbo mas vá lá) o que publiquei hoje cedo no Facebook: uma foto que foi enviada também hoje cedo por meu pai, na qual o próprio aparece abraçado à mamãe “em plena Fontana di Trevi”, o print da foto e do e-mail não me deixa mentir.
Vamos ao que quero lhes contar (preciso lhes dizer, antes, que esse mesmo e-mail foi encaminhado a meus dois irmãos, à Morena, à minha cunhada e – pasmem! – à minha mãe, que está na Europa com ele).
Estão, os dois, há mais ou menos duas semanas na Europa. E meu pai – eis o que quero lhes contar – é outro homem há mais de dois meses (por conta da proximidade da viagem, então). O tijucanismo, um modus operandi, um padrão de comportamento que iguala os moradores de minha aldeia, manifesta-se nas mínimas coisas e meu pai, nascido no Rio Comprido, criado na Tijuca e morador há quase 70 anos desse tesouro cravado na zona norte da cidade, é tijucano do alto da carapinha à sola dos sapatos de camurça que manda fazer no Moreira, na travessa do Ouvidor.
Exemplos?
Um mês antes da data marcada para o embarque mamãe pensou em um jantar para reunir os filhos, troço de rotina, mania de mãe. Meu pai saltou da poltrona e disse:
– Não, Pixuxa, melhor não.
Mamãe, surpresa:
– Por que?!
– Já estamos em compasso de viagem! Compasso de viagem!
Eis que chegou o dia do embarque, vôo marcado para às 18h. Às 11h30min da manhã ligo para o Alto da Boa Vista. Chama e ninguém atende. Ligo, então, pro celular do meu velho:
– Alô?
– Oi, pai… – senti o drama, ali. E perguntei para me certificar:
– Onde vocês estão?
– No táxi, chegando no aeroporto.
Isso. Papai chegou ao aeroporto com seis horas de antecedência, seguramente para evitar qualquer contratempo.
Desde então (papai adquiriu recentemente um celular moderníssimo, com acesso à internet) os e-mails não param. E todos, quase todos – eis aí um indício do tijucanismo! – com a palavra pleno ou plena na legenda. Exatamente como contei no Facebook:
“Divido com vocês essa sensacional prova do tijucanismo agudo que, claro, acomete meu pai e explica muito o tijucanismo que me caracteriza. Papai e mamãe estão há quase 2 semanas na Europa e essa deve ser a 237ª foto que papai manda de seu celular novo (um “samsung mobile”, como se vê). Em 233 papai usou a palavra “plena” na legenda: “em plena Paris”, “em plena Torre Eiffel”, “em plena Milão”, “em plena fila do check-in”, “em pleno avião”, “em plena Toscana”, e por aí vai. Como papai é metódico (o homem do ~vai virar sopa~), egresso do Rio Comprido e vive há quase 70 anos na Tijuca, isso é plenamente (!!!!!) justificável. Como é justificável eu estar expondo essa foto às 06h dessa 5ª feira em plena sala de casa, em plena Tijuca, às vésperas de mais um aniversário de minha plena mãe…”
Era o que eu queria lhes contar – mas voltarei ao tema, com certeza.
Até.