Arquivo do mês: julho 2008

>AUGUSTO EM PEQUIM

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Eu tenho um tremendo orgulho de meus amigos. Dia desses recebi uma notícia que repasso, agora, pra vocês, cheio de justificado (a repetição é proposital) orgulho.

Vejam o que aprontou, dessa vez, o Augusto, já tantas vezes citado aqui no BUTECO, e que esteve em meu buteco de verdade pela primeira vez em 26 de maio de 2005 (vejam aqui).

No dia 05 de agosto, terça-feira da próxima semana, o Augusto (na verdade, José Augusto Nogueira Diniz) embarca em direção à Pequim para fazer a cobertura do portal TERRA durante os Jogos Olímpicos através de um blog, escrito, a quatro mãos, diretamente de lá, é evidente.

Duas das mãos são do Augusto. As outras duas são do outro premiado no concurso promovido pelo TERRA, vejam aqui.

O Augusto, jornalista talentosíssimo, foi escolhido graças a uma emocionante reportagem que fez sobre o futebol no Acre, depois de rodar quase mil quilômetros por aquelas bandas. Vejam, aqui, a reportagem que eu acho que irá emocionar, especialmente, a três outros amigos, Arthur Favela, Bruno Ribeiro e Luiz Antonio Simas, amantes de um futebol mais amador.

O blog entrará no ar no dia em que o Augusto chegar a Pequim e estará na seção OLIMPÍADAS do portal TERRA, aqui!

Daqui, do balcão imaginário do BUTECO, ergo meu copo de chope com quatro dedos de espessa espuma, e proponho um brinde ao êxito da viagem.

Parabéns para o malandro, o terror da Rodésia, em São Paulo!

Até.

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FLAMENGO X PALMEIRAS

Flamengo e Palmeiras irão se enfrentar hoje à noite, às 21h30min, no Parque Antarctica, em SP, pelo Campeonato Brasileiro. E quando eu escrevo a palavra “Palmeiras”, ou quando eu ouço falar em “Palmeiras”, ou mesmo quando leio, em qualquer jornal ou em qualquer revista, “Palmeiras”, me vem à mente a imagem, nítida, íntegra, barbada e roliça de Fernando José Szegeri. E foi ele, justo ele, quem me bateu o telefone ontem à noite. Eu, depois de ouvir o tilintar do aparelho e de ver sua fotografia piscando no ecrã, atendi efusivo:

– Boa noite, Fernando José Szegeri!

E seguiu-se um ameno diálogo, por uns bons 10 minutos, do qual extraí uma única mensagem: Fernando José Szegeri estará, hoje à noite, no estádio.

Foi o que o homem da barba amazônica garantiu. E garantiu mais! Garantiu mais! Disse que aparecerá na televisão de qualquer maneira!!!!! Perguntou-me, à certa altura:

– Vai passar na Globo?

– Vai.

– Você vai ver?

– Vou.

Eu estava sendo monossilábico para evitar que meu irmão paulista gastasse demais com a ligação.

– Pois não deveria…

– Não?

– Não.

– Por que?

– O Flamengo vai levar uma surra inesquecível! – e deu de relinchar de rir, o bom Szegeri.

– Veremos…

– Mas assista, assista, sim! Vou aparecer de qualquer maneira na TV!

– Vai?

– Arrã. Tenho um plano infalível.

– Qual?

– Surprise! – disse, o comunista, gastando seu inglês.

Eis então, meus poucos mas fiéis leitores, mais uma atração do jogo de hoje à noite. Como se não me bastasse ter de acompanhar a partida esperando um gol do ataque estéril do Flamengo depois da venda do artilheiro Marcinho (nem mencionarei a venda de Souza, de quem nunca gostei), como se não bastasse a esperança de alcançar, novamente, a liderança do campeonato, como se não bastasse a rivalidade sempre tensa entre esses dois grandes times brasileiros, ainda tem mais essa: ficar brincando de ONDE ESTÁ SZEGERI? durante a transmissão.

Até.

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>TRÊS DICAS

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Eu, que ando sem tempo para me dedicar a esse exercício sublime de pôr os cotovelos no balcão pra jogar conversa fora com a assistência, quero, hoje, indicar três textos de três amigos que mantêm, como eu, blogs que são verdadeiros mananciais. E vamos em ordem alfabética para não ferir suscetibilidades.

Bruno Ribeiro divide com seus leitores – para sorte de todos nós, o texto é belíssimo – o momento que vive no texto chamado PLENITUDE:

“Colho agora os frutos da falta de ambição e do amor desinteressado que plantei há dez anos: a vida retribuiu a confiança que nela depositei e me deu, na maturidade, a chance de levar a vida como sempre quis.”

Leia na íntegra aqui.

Felipinho Cereal divide com seus leitores – para sorte de todos nós, a dica e as imagens são de ponta! – mais uma de suas descobertas:

“BOM AMIGO é o nome do simpático boteco do seu Celso, na esquina das ruas do Resende com Gomes Freire, no bairro da Lapa. Passei parte desta noite de segunda-feira por lá, e percebi que este nome realmente lhe cai bem.”

Leia na íntegra aqui.

Fernando José Szegeri divide com seus leitores – o texto é lindíssimo, e eu, por exemplo, vi-me em cada parágrafo – o resultado de suas reflexões sobre a boemia e a vida boêmia:

“O tempo do boêmio é (ou era) a noite, porque a noite é suave e fresca, adequada a certos temas delicados da vida, e suas sombras sabem temperar as cores às vezes fortes demais do mundo. Mas quando os que se arvoram em donos de todas as coisas chegaram com seus faróis, motores e buzinas, falando alto e alegrando-se em excesso, o boêmio resignadamente passou a fazer do dia um palco para a sua lida e, concomitantemente, um tempo suportável de se viver.”

Leia na íntegra aqui.

Três grandes momentos, frutos de grandes momentos de grandes brasileiros, amigos meus, com a graça de Deus.

Até.

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>ESSA MULHER

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Essa mulher, a quem hoje me refiro sem lhes dizer o nome, fez anos esta semana – esta semana que hoje se encerra. Essa mulher, a quem conheço há – quanto tempo, meu Deus? – pouquíssimo tempo, fez anos esta semana e fui, no dia de seu aniversário, um homem grato as 24 horas do dia. Escrevi a ela, logo cedo, assim que acordei, um email para que ela soubesse – e eu nem sei se ela soube, nem sei se ela o leu – que lembrei-me dela no instante em que abri os olhos. Os mesmos olhos que atestam a felicidade e a serenidade que hoje moram dentro dos olhos dele. Quem o conhece como eu o conheço sabe que aqueles olhos jamais foram morada de tanta segurança, de tanta mansidão para com tudo e de tanta paz. No meio da tarde, sem que tenha deixado de nela pensar um só segundo, bati-lhe o telefone e tive a oportunidade de lhe dizer, de viva-voz, sobre minha gratidão, sobre minha alegria inexplicável (por que fico tão feliz no dia dos anos dos que amo?) e sobre tudo o que lhe desejara desde o abrir dos olhos. Os mesmos olhos que mais tarde viram minha menina, depois de desligar o telefone, me dizer de olhos marejados:

– Ela me emociona, sabe?

Eu sabia, é claro.

Sabia e sabia pois ela também me emociona – e eu creio que pelas mesmas razões.

Pela solidão que ela tem permanentemente estampada nos olhos que mal-disfarçam as dores que ela carrega. Pelo sorriso mais triste que jamais vi, incapaz de esconder a beleza que a tristeza tem. Pela capacidade – parece-me inesgotável – de abraçar a quem ela quer bem, com a intenção de dizer o que ela própria – sabe-se lá o por quê – não consegue. E pela melancolia intrínseca que a permanente ironia, que mora em suas frases e em seus gestos, não é capaz de dissolver.

Mas principalmente – eis o mistério e a beleza que nos une – por tudo o que ela me trouxe. Representado por essa pequenina luz indecifrável a que às vezes os poetas chamam de esperança, como diria, dentre eles, os poetas, o maior de todos.

Até.

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A IDADE DE FERNANDO JOSÉ SZEGERI

Recebi, ontem à noitinha, de uma leitora que me pediu para não ser identificada (no que será atendida), um email através do qual ela me pergunta, pareceu-me que sofregamente, qual a idade de Fernando José Szegeri (eu quase que escrevi Fernando Szegeri, apenas, e eu sei que eu tomaria um pito tremendo, eu sei que ele ralharia comigo em razão da falta de seu nome na íntegra, do qual ele muito se orgulha). Preferi respondê-la publicamente. E notem bem uma coisa (e note bem uma coisa, você, leitora curiosa): em março de 2006, quando escrevi o texto A XÊNIA E O SZEGERI (leiam aqui), revelei:

“Vejam bem uma coisa. Para mim, que o conheço já há uns 10 anos, o Szegeri nasceu da forma como é hoje.

Barbado. Peludo. Gordo. Já funcionário público e já sonhando com a aposentadoria. O Szegeri, para mim, foi contemporâneo do Borba Gato, o bandeirante paulista. Foi, conta a lenda (que repete-se até hoje), o que mais chorou quando enterrou o amigo, a quem chamava de Borbinha, em 1718. Em 9 de janeiro de 1822, foi Fernando José Szegeri quem deu uma força a D. Pedro I para que ele se mantivesse no Brasil contrariando as ordens das Cortes Portuguesas.”

Vamos em frente.

Fernando José Szegeri não tem idade, como a saudade (essa foi sofrível, mas tenho o péssimo hábito, já tantas vezes revelado, de não corrigir o que escrevo). Fernando José Szegeri é um homem que, por exemplo, indagado sobre sua data de nascimento (pergunta normal e comuníssima), ri e apenas ri. Quando muito, diz cofiando a barba amazônica:

– Se eu contar você não acredita.

A barba amazônica, por exemplo, e a carapinha que cobre sua cabeça e emoldura as duas menores orelhas de que se tem notícia, são negras como as asas da graúna. Há quem jure que Fernando José Szegeri pinta a barba e pinta o cabelo. Eu, que o conheço há coisa de 12, 13 anos, sempre o vi com aquela moldura retinta – e não há um fio branco que seja dando pinta por ali. Indagado sobre isso, se pinta a barba, se pinta os cabelos, e indagado sobre o segredo que mantém a nível zero a presença de cabelos brancos, ele ri e apenas ri. Quando muito, diz alisando o lóbulo da orelha direita com o dedo mindinho da mão esquerda:

– Se eu contar você não acredita.

E vive, o meu irmão paulista, cercado por essa onda de mistério. Às vezes, e eu penso que para disfarçar, solta frases que soam falsas – como essa que cravou, certa vez, num de seus textos publicados em seu blog:

“Mas hoje, imobilizado no trânsito, sapatos encharcados, deu uma tremenda vontade de ouvir a voz da Xênia embaixo de um túnel de almofadas e esperar minha mãe trazer uma bandeja bem cheirosa com misto quente e nescau batido no leite.”

Trata-se de uma redonda mentira.

Fernando José Szegeri – e não me convencem as juras de Cecília e José, que não têm NENHUMA foto do filho quando bebê – quando veio ao mundo, quando apareceu no Brasil, quando surgiu em São Paulo, já era comunista, já era funcionário público, já sonhava com a aposentadoria, camisolões e pantufas, já tinha a barba que ainda hoje ostenta, já cantava, já bebia, já sabia de cor e salteado toda a obra de Marx.

Essa a razão – ou uma delas – pela qual não posso, nem querendo, responder à pergunta de minha curiosa leitora.

Até.

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>A PAIXÃO ESPRAIADA

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Fernando José Szegeri, já lhes contei quando escrevi o texto O SZEGERI E O TARCÍSIO MEIRA, em 22 de setembro de 2006 (que pode ser lido aqui), é um macaco de auditório do ator global, o marido de Glória Menezes, o pai do Tarcisinho, nosso eterno D. Pedro I. Vez por outra, e quase sempre intramuros, o homem da barba amazônica faz questão de declinar sua admiração, sua fascinação, sua fixação, e eu sou capaz de dizer sua obsessão pelo Tarcísio Meira. Ocorre que, dia desses, o troço ganhou proporções extramunicipais, já que Fernando José Szegeri foi obrigado a fazer suas declarações fora de seu território, e vocês vão entender o por quê.

Numa dessas sextas-feiras, pouco depois do horário do expediente, Fenando Szegeri e Arthur Tirone, o queridíssimo Favela, tomaram um ônibus em direção à Campinas com o exclusivo e justificado objetivo de encontrarem o Bruno Ribeiro para, digamos, uma conversinha à mesa de um bar.

Sentaram-se, os três, no PÁTRIA FUTEBOL CLUBE (você pode conhecê-lo aqui), um bar que parece não existir (é esse o depoimento que tenho de quem o conhece).

Beberam – e de tudo eu soube graças a um inacreditável email que recebi de um leitor do BUTECO que, por coincidência, bebia no mesmíssimo bar e que reconheceu o homem da barba amazônica – bastante. O assunto (meu informante prestava uma atenção militaresca à conversa dos três) era futebol. O buteco estava cheio de gente, de muito cabeça-branca, de bêbados honorários, e uma solitária TV, ao fundo, transmitia a novela da oito, A FAVORITA. Foi quando deu-se o seguinte…

Um freqüentador assíduo da espelunca, o Maurílio (gordo, careca, de bigode, enorme, parrudo, desses de meter medo), grita em voz altíssima erguendo o copo de cerveja:

– Eis o homem mais lindo do mundo! Não houve e nem haverá, nunca, um homem mais bonito do que Tarcisão…

E eis o que se sucede.

Fernando José Szegeri (quem conhece o homem da barba amazônica poderá VER a cena), de olhos embotados, ergue-se com os dois braços para o alto, comemorando um gol imaginário, vira-se para o Maurílio (jamais o vira, é preciso que se diga) e diz, aos berros:

– Eu também acho! Sempre achei! Ninguém, ninguém, vivo ou morto, é mais bonito do que ele! O Tarcísio é lindo! É lindo!

E deu de chorar, o Szegeri, abraçado ao Maurílio, que também ficou visivelmente emocionado. Disse, o gordo:

– Chora não, barba! Eu te entendo! Eu te entendo, barba!

Fernando, cujas lágrimas esguichavam sobre a camisa do Maurílio, deu seu depoimento:

– Meu irmão gêmeo! Encontrei o meu irmão gêmeo!

E o buteco, provando com isso ser um bar seriíssimo, passou a discutir, à larga, se o Tarcísio Meira merecia realmente ser considerado o homem mais bonito do Brasil (do mundo, como propôs o Szegeri).

A coisa tomou proporções inacreditáveis. Improvisaram uma urna com uma caixa de papelão de palitos GINA, distribuiram cédulas em guardanapos daqueles de não secar nada, e deu-se a votação, secreta.

Tarcísio Meira ganhou com ampla vantagem. Houve apenas dois votos dissidentes: John Herbert e Cláudio Marzo.

Hilário, também, foi o desdobramento. Contados os votos, um qualquer gritou do balcão:

– Mas ele era mais bonito quando moço ou agora, grisalho como ele está?

Deu-se a balbúrida, interrompida pelo Szegeri, de pé numa das cadeiras do bar, à moda do seu Osório:

– Ele é atemporal, pô! O Tarcísio Meira é o homem mais bonito do mundo desde a fecundação! Bebê, criança, adolescente, adulto, mais velho, hoje, sempre, sempre! Salve o Tarcísio!

E foi assim.

Até.

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>TIJUCA, O BAIRRO

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Escrevi, recentemente, cinco roteiros de passeios pela Tijuca (aqui o primeiro, aqui o segundo, aqui o terceiro, aqui o quarto e aqui o quinto). Eu, quanto mais os leio (tenho essa mania isuportável de reler o que escrevo com freqüência, principalmente quando alguém me rasga um elogio por conta de um texto específico, o que ocorreu hoje!), mais gosto da idéia de passear a pé pelas ruas arborizadas da Tijuca, bairro onde eu nasci e fui criado. E dentre as coisas que me embriagam nesses passeios, nesse bairro que tanto amo, estão as lojas de rua, o comércio e suas peculiaridades.

Sexta-feira passada, por exemplo, mal intencionado, convoquei meu sogro, o glorioso Comandante, para uma ida, a pé, no final da tarde, até a Praça Afonso Pena. Saímos de casa, os dois, e imediatamente tropeçamos no RIO-BRASÍLIA, uma espécie de gelo-baiano instalado sempre e permanentemente no meu caminho: eu saio de casa e tropeço nele… no que tropeço, me encosto no balcão… no que encosto no balcão, peço a primeira!

E ficamos apenas na primeira.

Então, tomem nota (isso não será exatamente um roteiro proposto, mas o histórico de nossos passos naquele final de tarde): saímos da Haddock Lobo, atravessamos a monumental rua Domício da Gama e suas casas de fazer cair o queixo, e entramos à direita na Almirante Gavião, parando no número 11, loja G, onde bebemos uma Brahma estupidamente gelada. Seguimos pela Almirante Gavião, rua que também abriga casas espetaculares, e demos na Doutor Satamini. Atravessamos a Satamini e subimos, a pé, a Marechal Marques Porto, agradabilíssima rua tijucana que vai desembocar na Martins Pena e depois na Campos Sales. Era nosso destino: fui cortar o cabelo no SALÃO AMÉRICA, com o seu Ernesto. O Comandante, que não é bobo, disse:

– Estou te esperando aqui do lado bebendo uma cerveja! Onde tem a mais gelada, hein?! – dirigiu-se ao seu Ernesto.

– O salão é cercado pelos sete lados! – e riu.

Eu indiquei o APERTADINHO, ao lado direito de quem sai do salão. Seu Ernesto mandou ver com a máquina, aparou a costeleta, tratou da nuca, talco, escova, paguei aqueles dez reais que você paga pro manobrista em salão grã-fino na zona sul e fui ao encontro do meu sogro. Chegando lá, um susto. Havia, dentro do bar, que é minúsculo, duas máquinas desses jogos de azar que estão proibidas em todo o Rio de Janeiro (no Brasil, eu acho…) e que quase nenhum bar mais ostenta, ao menos pela área a que me refiro. Disse ao Comandante:

– Me empresta cinco reais.

Ele estendeu-me a nota e gritou ao me ver meter a cédula na máquina:

– Pra isso?!

Em menos de dez minutos pedi ao dono do buteco que me pagasse R$ 55,00 que eu havia acabado de ganhar! O Comandante:

– Mas que sorte, meu Deus do céu! Vai ter que pagar a conta!

Paguei.

Atravessamos a rua, entramos no supermercado depois de atravessar a pracinha, fui mostrando a ele os lugares que conheço há quase quarenta anos, compramos frios e tomamos o rumo de volta pra casa, atravessando a Campos Sales, subindo a Doutor Satamini, entrando novamente pela Almirante Gavião, bebendo mais uma no buteco do Joaquim, e eu embriagado de meu bairro, esse bairro que tanto amo, que faz parte de mim e que eu exploro com a avidez de conhecê-lo, como ele a mim.

Até.

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>DO DOSADOR

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* ninguém me contou, eu mesmo vi com esses meus olhos e também ouvi com meus ouvidos. Chegam ao RIO-BRASÍLIA três pessoas que procuram pelo dono, o Joaquim. Explicam, rapidamente, que estão fazendo umas fotografias para uma exposição sobre bares e botequins, pedem permissão para algumas fotos na área, e o Joaquim, fino como ele só, diz que sim – rosnando. Diz a fotógrafa:

– Seu Joaquim, o senhor pode servir uma dose de batida de maracujá para que eu faça umas fotografias?

Ele não responde mas abre a geladeira, pega da garrafa da batida e começa a servir a dose num copo americano. A fotógrafa senta o dedo na câmera até que o Joaca interrompe o serviço. Ela diz, sem parar a série de fotografias:

– Contiua, seu Joaquim, continua…

– Pô! Mas aí eu vou ter que cobrar duas doses!

Um gentleman, como se vê. Ah, sim. Pequeno detalhe que omiti para que a grossura ficasse ainda mais evidente apenas no final: um dos três a que me referi era eu.

* eu lhes contei, dia desses, aqui, que fui abordado, justo no RIO-BRASÍLIA, por um camarada, o Lúcio, que se apresentou como leitor do blog e tal. Foi, como relatei no texto indicado, uma experiência gratificante. É legal, de fato, ser reconhecido e receber, como shampoo no ego flutuante, um elogio inesperado. Pois anteontem, domingo, estava eu no RIO-BRASÍLIA, na companhia da (ordem alfabética para não ferir suscetibilidades) Candinha, do Comandante, do Felipinho Cereal, do Leo Gola e de Luiz Antonio Simas. Até que ouço alguém me chamando na mesa ao lado. E dou de cara com a anã do Borgonovi (se você não sabe de quem se trata, saiba aqui):

– Edu! Esse meu amigo leu seu blog ontem, pela primeira vez, e adorou!!!

E virando-se pro cara, sentado a seu lado:

– Esse é o Edu! Conta pra ele como você chegou no blog, conta!

O cara:

– Prazer, Edu! Fui fazer uma pesquisa no google e tasquei lá as palavras barbearia e Afonso Pena, já que eu queria cortar o cabelo por ali e não conhecia nada, daí fui dar num texto em que você sugere um passeio pela Tijuca, muito bom, aliás!!! E muito bom, também, o Salão América! O seu Ernesto te mandou um abraço!

Incríveis, essas coincidências. Referia-se, o camarada, a esse meu texto, que pode ser lido aqui!

Até.

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>A ROSEIRA

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Muito provavelmente – eu quase que seria capaz de apostar vultosa soma – meus mais ferinos leitores terminarão de ler o texto que começo, nesse instante, a escrever (escrevo quase que de forma mediúnica, querendo com isso dizer que escrevo de sopetão, sem burilar isso ou aquilo, que fique claro), julgando-me ainda mais fresco do que na cozinha. Mas acordei, eis a verdade, mexido com a história que passo a lhes contar.

Há, numa determinada cidade, num determinado bairro, numa determinada rua, uma casa antiqüíssima (jamais deixarei de usar o trema). A casa abrigou, durante anos, uma família inteira que foi, com o tempo, desaparecendo. Vive ainda, dessa família, um homem que viveu a infância (felicíssima) na tal casa e que a alugou por razões que não vêm, realmente não vêm, ao caso. Quando a alugou, sem a intermediação de administradoras ou de advogados, o homem foi – no dia da mudança da nova família que na casa se instalaria -, pessoalmente, até a casa.

Já estaríamos, aí, diante de um caso raro, antigo. O proprietário, apegadíssimo à coisa alugada, vai até o endereço responsável por tantas marcas em sua alma e entrega, de olhos marejados, ao inquilino, a chave da casa, a chave dos quartos, conta a ele os detalhes sobre cada registro d´água, sobre cada tomada, cada parte do assoalho, do telhado. Vê, comovido, os empregados da empresa de mudança carregando caixas pra lá e pra cá, até que chama o inquilino para a parte da frente da casa. Ensaia despedir-se e diz:

– Posso lhe pedir uma coisa? – mal disfarça os olhos molhados e as mãos trêmulas.

– Claro… o senhor está sentindo alguma coisa? – responde o inquilino, um homem de bem, pondo a mão em seu ombro.

Fica mudo, o proprietário. Olha para baixo, para o alto, para os lados, esfrega o antebraço nos olhos e responde:

– Muitas coisas, meu caro… muitas coisas… Mas eu gostaria de lhe pedir uma coisa, apenas…

– Pois não.

– Está vendo esta roseira? – e aponta a roseira do jardim da casa.

– Claro!

– Trate bem dela… por favor… É o que mais quero lhe pedir… Era o xodó de meu pai, que a plantou há muitos anos, muitos anos… – e deu de chorar sem cerimônia.

Tal preocupação comoveu o novo morador, que prometeu especial dedicação à roseira. Não soou falso o abraço de antes da despedida. O homem partiu, visivelmente triste, mas grato por tudo aquilo, pela confiança depositada e pela promessa que ouviu e que lhe soou legítima, franca e verdadeira.

Passaram-se os anos e a roseira floria que era uma beleza. A cada inverno, a cada mês de junho, julho, explodiam as rosas, dezenas delas!, diante da casa, e o proprietário que jamais se deixou ver, pelo menos uma vez por mês passava pela rua, à tardinha, para matar as saudades e para ver, com os próprios olhos, o roseiral de seu pai em flor.

Há um ano e meio, mais ou menos, o proprietário bateu o telefone para lá. Contou sobre sua intenção de vender a casa, disse o preço, comentou que já havia recebido uma proposta de uma construtora, que estava apenas oferecendo a preferência, essas coisas. Ficou de mandar uma notificação por escrito apenas para cumprir as formalidades legais – a notificação de fato chegou e foi devidamente respondida -, mas naquele mesmo telefonema o inquilino declinou, com o coração apertado, da preferência. Não tinha e nem teria o dinheiro… Mas como o tempo passara sem mais nenhum telefonema, mais nenhum contato, nada, o assunto ficou esquecido.

Semana passada esteve lá, pessoalmente, uma vez mais, o proprietário. Mas dessa vez bateu à porta. Foi recebido efusivamente pelo casal que o convidou para entrar. O dono da casa, o inquilino, fez questão de perguntar:

– O senhor viu a roseira?! Viu que beleza?! Mais de trinta rosas abertas, fora os botões! De rosa eu entendo! – disse piscando pra mulher.

– Vi, vi, sim… – e tinha os olhos cabisbaixos.

Explicou o por quê da visita.

Havia vendido a casa, há coisa de uma semana. Para a tal construtora mesmo, que comprara, também, mais cinco casas na mesma calçada para subir um espigão. Fez-se silêncio naquela sala de onde se avistava a roseira. O ex-proprietário estendeu em direção ao inquilino a notificação já assinada pela empresa, a nova proprietária, concedendo noventa dias para a desocupação do imóvel. Pouco se disse. Ofereceram ao homem um café, um chá, mas ele não aceitou. Levantou-se, despediu-se, mas repetiu-se a cena de anos antes.

O inquilino atravessou a porta da sala, caminhou pelo alpendre, com os punhos cerrados travando o choro, e foi até os pés da roseira, de onde chamou seu senhorio.

– E a roseira? E a história de seu pai?

O homem partiu sem nem olhar pra trás, chorando de soluçar e pedindo desculpas, visivelmente constrangido.

Quando – eis a pergunta que eu faço – alguém terá coragem de dizer não ao dinheiro, de dizer não à especulação, de dizer não à ganância para manter de pé – que seja – uma roseira, uma história de vida, um roseiral de lembranças e de memórias?

Até.

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UM BREVE TELEFONEMA

Eu não ia mesmo escrever nada hoje, quarta-feira… A discussão está comendo solta nos comentários no balcão público do BUTECO, e é um prazer – confesso – ver que o Homero, um dos maiores responsáveis pelo êxito grandioso do MITSUBA, apoiou seus cotovelos na área e deu seu pitaco no texto UM PASSEIO PELA TIJUCA (leiam aqui), ver que minha rabada está, literalmente, na boca do povo (leiam aqui), ver as pessoas delirando com uma simples receita de bife à parmegiana (leiam aqui), perceber que a camisa do Antônio Lopes chama a atenção de tanta gente (leiam aqui) ou mesmo perceber que meu modus operandi na cozinha causa tamanha balbúrdia (leiam aqui). Razão pela qual eu, a princípio, preferi deixar o balcão quieto, hoje, pra ver a discussão crescendo nos comentários… Mas qual o quê!

Bateu-me o telefone, há minutos, Fernando José Szegeri, e repito depois de encher os pulmões de ar e de bater uma imaginária continência: Fernando José Szegeri. Diga você também, meu caro leitor, de preferência com os pulmões turbinados, o nome do homem da barba amazônica: Fernando José Szegeri. E preciso, para que o exercício seja exitoso, lhes dizer como se pronuncia, na língua natal de seu último nome (a origem é húngara), o pomposo nome Szegeri. Já fiz isso, é verdade, uma vez, leiam aqui este texto de 21 de junho de 2006 que vocês saberão. Diz-se XÊGERI, sendo que o “g” é o “g” do gato e não o “g” do gerúndio. Mas isso lá na Hungria… Aqui no Brasil dizemos SÊGERI mesmo, ignorando o “z” e mantendo o “g” de gato. E como ele faz questão do nome completo, brademos: Fernando José Szegeri. Vamos ao telefonema.

Estrilou meu celular, a telinha mostrou o homem da barba amazônica flagrado na travessa do Comércio, no velho centro do Rio (ah, as modernidades…), e eu atendi:

– Szegeri!

Ele, do lado de lá:

– Hein?!

– Fala, mano!

– Você me chamou de quê?!

Eu, obediente:

– Fernando José Szegeri!

E ele riu.

Seguiu, o funcionário público:

– Queria que você contasse, hoje, que te dei esse telefonema. – e eu ouvia, ao fundo, o som de uma maçã sendo mordida.

Indaguei:

– Tá comendo maçã?

– Na mosca! E maçã da Turma da Mônica, que eu só gosto das bem ácidas!

Notem bem, meus poucos mas fiéis leitores, que imagem, que imagem!, o homem da barba amazônica, funcionário público, está sentado sozinho em sua mesa na repartição, comendo uma maçã da Turma da Mônica enquanto liga para este que vos escreve. Eu pergunto:

– E queres que eu conte o quê, querido?

– Que te liguei. Apenas isso. Mas escreva lá, Fernando José Szegeri, por favor.

Eu ri.

– Mas tenho que contar do telefonema?

– Eu prefiro. Assim todos ficam sabendo que não te abandonei, como você maldosamente insinuou dia desses. Mas veja lá, mano… Decline meu nome completo, na íntegra, por inteiro!

– Se você preferir…

– Prefiro.

– Escuta… – comecei a provocar.

– Desembucha…

– Teu chefe, teus colegas de repartição, teus desafetos…

– O que é que têm eles?

– Imagina… tascam Fernando José Szegeri no Google, por exemplo, e…

Cortou-me acompanhado do som da maçã sendo roída:

– E daí, maninho?!

– Não te incomoda? – e ouvi o som seco de um sopro, como o de uma zarabatana em funcionamento.

– O que foi isso?

– Isso o quê?

– Esse barulho.

– Cuspi o bagaço da maçã. Não, não me incomoda. O que tem me incomodado mesmo é ler meu nome pela metade, ou seu terço, ou ainda um apelido que não gosto. Quero meu nome em neon, maninho, em destaque sempre que eu for citado!

Eu, com pressa:

– O.K., deixa comigo!

E despedimo-nos.

Eu, que nasci Eduardo Braga Goldenberg, que sou advogado e que ostento em minhas petições apenas o primeiro e o último nome (o que me transforma num judeu na íntegra, o que não corresponde à verdade), eu que lancei um livro que estampa, na capa, também, apenas meu primeiro e último nome, eu que ignoro meu nome do meio até mesmo em meu endereço eletrônico (edugoldenberg@gmail.com), sofri de vergonha depois de mais esse telefonema de meu pomposo amigo.

Meu pomposo e dileto amigo, Fernando José Szegeri.

Até.

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