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Sexta-feira passada, por exemplo, mal intencionado, convoquei meu sogro, o glorioso Comandante, para uma ida, a pé, no final da tarde, até a Praça Afonso Pena. Saímos de casa, os dois, e imediatamente tropeçamos no RIO-BRASÍLIA, uma espécie de gelo-baiano instalado sempre e permanentemente no meu caminho: eu saio de casa e tropeço nele… no que tropeço, me encosto no balcão… no que encosto no balcão, peço a primeira!
E ficamos apenas na primeira.
Então, tomem nota (isso não será exatamente um roteiro proposto, mas o histórico de nossos passos naquele final de tarde): saímos da Haddock Lobo, atravessamos a monumental rua Domício da Gama e suas casas de fazer cair o queixo, e entramos à direita na Almirante Gavião, parando no número 11, loja G, onde bebemos uma Brahma estupidamente gelada. Seguimos pela Almirante Gavião, rua que também abriga casas espetaculares, e demos na Doutor Satamini. Atravessamos a Satamini e subimos, a pé, a Marechal Marques Porto, agradabilíssima rua tijucana que vai desembocar na Martins Pena e depois na Campos Sales. Era nosso destino: fui cortar o cabelo no SALÃO AMÉRICA, com o seu Ernesto. O Comandante, que não é bobo, disse:
– Estou te esperando aqui do lado bebendo uma cerveja! Onde tem a mais gelada, hein?! – dirigiu-se ao seu Ernesto.
– O salão é cercado pelos sete lados! – e riu.
Eu indiquei o APERTADINHO, ao lado direito de quem sai do salão. Seu Ernesto mandou ver com a máquina, aparou a costeleta, tratou da nuca, talco, escova, paguei aqueles dez reais que você paga pro manobrista em salão grã-fino na zona sul e fui ao encontro do meu sogro. Chegando lá, um susto. Havia, dentro do bar, que é minúsculo, duas máquinas desses jogos de azar que estão proibidas em todo o Rio de Janeiro (no Brasil, eu acho…) e que quase nenhum bar mais ostenta, ao menos pela área a que me refiro. Disse ao Comandante:
– Me empresta cinco reais.
Ele estendeu-me a nota e gritou ao me ver meter a cédula na máquina:
– Pra isso?!
Em menos de dez minutos pedi ao dono do buteco que me pagasse R$ 55,00 que eu havia acabado de ganhar! O Comandante:
– Mas que sorte, meu Deus do céu! Vai ter que pagar a conta!
Paguei.
Atravessamos a rua, entramos no supermercado depois de atravessar a pracinha, fui mostrando a ele os lugares que conheço há quase quarenta anos, compramos frios e tomamos o rumo de volta pra casa, atravessando a Campos Sales, subindo a Doutor Satamini, entrando novamente pela Almirante Gavião, bebendo mais uma no buteco do Joaquim, e eu embriagado de meu bairro, esse bairro que tanto amo, que faz parte de mim e que eu exploro com a avidez de conhecê-lo, como ele a mim.
Até.
>Edu, pode lê e reler que seus textos são belos pra cacete. Queria ter este dom, risos! Em relação a estes roteiros feitos por ti, eu já tomei nota, salvei eles aqui no meu micro, quando eu for para o Rio de Janeiro, quero(com estes olhos cansado e fatigado)de ver certas coisas, conferi ao vivo e a cores estes estabelecimentos e o Rio que a novela não mostra. Agora em relação à maquina, eu não tenho a mesma sorte que você teve, vejo aqui em São Paulo, o dono do boteco, o BAIXINHO, encher a mão de grana todo fim de noite. ô sorte!!!Abraço
>E o Underberg? Por causa de uma amiga querida, lembrei agora que o Underberg – o amaro famoso cujo prazer de degustar herdei de vovô – é feito em dois lugares no mundo: na Alemanha (o original) e na Tijuca (uma versão brasileira originalíssima, com as ervas que só nós temos…). Que beleza.Nada a ver este comentário…
>Szegeri amigo e filho , o Underberg é feito na Tijuca e pertinho aqui de casa !!!
>Szegeri: seus comentários SEMPRE vêm a calhar, querido. Como nos conta papai, nosso Isaac (que deverá, a partir de hoje, assinar também SEU PAI no SODÓI), o mais assíduo leitor do BUTECO, a fabriqueta do Underberg é naquela meiúca em que se confundem Tijuca, Muda e Usina, a caminho do Alto da Boa Vista, com vista exuberante para o Morro do Borel, aquele que saiu com a Formiga para beber por aí. Beijo.
>Ah, Szegeri, esqueci-me de dizer… a fábrica fica instalada na rua Paul Underberg! Beijo.
>Pai: você me leva lá, da próxima vez que eu for ao Rio? Desconfio que chorarei imundamente de saudade de vovô…
>Szegeri: vamos os três juntos?
>Meu querido Szegeri …acho meio complicado porque a UNDERBERG está localizada numa região ” meio bélica ” e me preocupa deixar a Dona Stê desamparada ..rs..rs..rs.. mas se der para ir de capacete , armadura e seu vovô nos proteger , quem sabe ……
>Meu queridíssimo Szegeri: papai, veja você, exagera, como de costume. Não há um único registro, nem na 19a. e nem na vizinhança, de um único assalto, um furto, um roubo, nada – naquela região -, desde que eu me entendo por gente (há uns 30 anos, quando bebi meu primeiro gole de cerveja). A rua Paul Underberg é um oásis que brota na Conde de Bonfim e que dá vista para o glorioso Borel, o mesmo que avistei quando nasci, em 1969, na Ordem Terceira da Penitência, ali do lado. Vamos, pois, armar o passeio!
>Depois de fartas porções de linguiça no balcão do Columbia, nada como uma dose de Underberg para acalmar o estômago nervoso.
>Armaremos! Talvez seja o primeiro porre de Underberg da história! Vai pro livro!