Arquivo do mês: setembro 2016

DECLARAÇÃO DE VOTO

Como faço há sei lá quantos anos e quantas eleições, venho ao balcão virtual do buteco a pouco menos de 72 horas das eleições de domingo, quando o Brasil vai às urnas para eleger prefeitos e vereadores, para declarar, de coração na boca e peito aberto, meu voto. Porque ir ás urnas, o que faço desde 1989 (quando dei meu primeiro voto a Leonel de Moura Brizola para Presidente da República), me comove feito o diabo. Saio de casa armado com meu título de eleitor e choro, confesso, incorrigível que sou, diante da urna (hoje eletrônica e menos comovente). Em 89, bem lembro, eu era o único (o único!) aluno da minha turma de Direito, na PUC-RJ, que votava no Brizola. Os colegas se dividiam entre Lula e Roberto Freire (que coisa, o passar do tempo…), em casa eu ouvia as maiores barbaridades – “como votar num agitador, num caudilho, num velho como Brizola?”. Hoje, ironia das ironias, vejo Brizola (já morto) sendo adulado por muitos dos que me apontavam o dedo em reprimenda naquele distante 1989, lá se vão 27 anos.

Em 1982, ainda com 13 anos de idade, assisti, estupefato, aquele homem passar por cima de tudo e de todos e vencer as eleições para o Governo do Estado. Quatro anos depois, 1986, deixamos de eleger Darcy Ribeiro como sucessor de Brizola graças a uma série de alianças que acabaram por levar Moreira Franco (e com ele deu-se a derrocada dos projetos do CIEPs) à vitória. Não votei, tinha ainda 17 anos, mas fiz campanha com o mesmo ardor com que me envolvo a cada eleição. Brizola retornaria ao Governo do Estado em 1991 (eleito em 1990, com meu voto). Feito o intróito, vamos ao que quero lhes dizer.

Estamos às vésperas das eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro e para a Câmara de Vereadores da cidade.

As candidaturas estão aí, postas, estão postas à mesa as propostas de cada candidatura (embora sejam poucas as que verdadeiramente tenham apresentado propostas ao eleitorado), temos pesquisas que apontam uma batalha voto a voto pela vaga no segundo turno contra o inconcebível Bispo Crivella e temos os programas de governo (quantos eleitores se deram ao trabalho de lê-los?) registrados no TRE. E um debate hoje à noite que promete ser um divisor de águas para o eleitor indeciso e mesmo para os que cogitam o voto útil para favorecer A ou B.

Sou, quem me lê e me acompanha sabe, um entusiasta das realizações do Governo Eduardo Paes. Não há um só eleitor esclarecido que não reconheça (ainda que não externe [mais] seu reconhecimento) os avanços maiúsculos na área da Cultura, por exemplo. Jamais a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro contemplou tantos nas mais diversas áreas da cidade, jamais fomentou-se tanto a Cultura, multifacetada, distribuindo-se, sem qualquer preconceito, verbas públicas, ou através de incentivos fiscais, para tanta gente que pode fazer, ao longo de 8 anos, seus sonhos tornarem-se realidade. É impossível não reconhecer os avanços na área da Educação (foram construídas mais de 300 escolas que se preparam para o turno único, ideal de Leonel Brizola). Avanços evidentes na mobilidade urbana (os BRTs, os VLTs, as vias expressas, os túneis que encurtaram caminhos), avanços incomensuráveis quando o assunto foi devolver a cidade aos cariocas: eu, dentro do hiperbolismo que me caracteriza, cheguei a dizer que só a derrubada da Perimetral (e os benefícios na região da Praça XV, da Praça Mauá, a criação da Orla Conde) seria capaz de elevar o nome do Eduardo Paes ao mais alto patamar dos Prefeitos do Rio de Janeiro. Derrubada que, diga-se, exigiu coragem do prefeito: um imenso percentual de cariocas era contra a derrubada do monstrengo por conta dos efeitos que a incrível obra geraria na cidade, principalmente no trânsito. Houve avanços na área da Saúde, inegáveis. Com os cofres cheios por conta dos repasses e aportes de dinheiro por parte do Governo Federal, pode-se realizar as Olimpíadas contra tudo e contra todos que, mau-humor sempre no bolso, torceram pelo fiasco dos Jogos Olímpicos. Oxigenada pelo vento que varreu mais forte a cidade depois das inúmeras obras, a cidade viveu dias de festa como talvez nem o mais otimista poderia supor.

Por tudo o que foi feito, e por acreditar na continuidade das políticas de Eduardo Paes é que meu voto vai, sem medo do erro, para aquele que, desde o primeiro minuto, foi o grande gestor das idéias do prefeito eleito e reeleito com acachapante votação. Meu voto será do Pedro Paulo, que ainda tem como vice uma mulher de fibra como Cidinha Campos.

Não foi fácil abrir o voto como abri desde que postas em campo as candidaturas. Centenas de dedos, muitos deles covardes, apontaram na minha direção. Alivia-me a consciência, entretanto, saber que nenhum desses dedos apontava erros na administração do Eduardo Paes capazes de me convencer a mudar o voto (claro que houve problemas, mas estou pra ter notícia de um único governo impecável do princípio ao fim). Os tais dedos faziam (e fazem) sempre menção a um episódio privado envolvendo o Pedro Paulo que, franca e sinceramente, dizem respeito apenas à esfera privada de sua vida e devem ser tratados pela Justiça que, diga-se, arquivou o inquérito que apurava o episódio. O que quero, e o que sempre quis diante do desafio de votar, é discutir propostas, enfrentar os programas apresentados, decidir, íntima e solitariamente, quem será o melhor para governar a cidade onde nasci, onde vivo e onde pretendo morrer.

Quantos homens (quantos!) vieram me abordar com o mesmo argumento covarde (que passou a ser ainda mais covarde depois do arquivamento das denúncias pelo STF), quantos se arvoraram a julgar mulheres que, como eu, optaram pelo nome do Pedro Paulo, deixando de perceber, muitos deles, o quão violentos também são no dia-a-dia, física ou psicologicamente? Muitos.

Outro argumento comum: Pedro Paulo é golpista porque votou pela abertura do processo de impedimento de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Refuto tal argumento e o mesmo não abala minha convicção quanto ao voto. O processo correu todo no Senado Federal e foi no Senado Federal que o impedimento foi votado e aprovado. Não é novidade para ninguém que considerei e considero que houve um golpe – mas este se deu no âmbito do Senado Federal (e foi contrário ao impedimento, um dos mais aguerridos defensores de Dilma Rousseff, o senador Roberto Requião, do mesmo PMDB do Pedro Paulo). Acho que ele deveria ter ido a Brasília votar como votou? Não. Mas não estou, agora, escolhendo um deputado, estou elegendo um prefeito – cargos distintos com atribuições bastante distintas.

Como muito bem disse meu camarada Cláudio Renato, “prefeito serve para cuidar das escolas e postos de saúde da cidade, tapar os buracos nas ruas e praças, gerir os transportes públicos, iluminar os caminhos para inibir assaltos e ataques aos cidadãos. Prefeito nenhum vai mudar o mundo, derrubar o sistema capitalista, acabar com o racismo e outros preconceitos, promover a cura do câncer.”.

Com meus botões, sem levar adiante o debate com os fanáticos que me apontavam o dedo, pensei: foi um odioso golpe contra o Rio de Janeiro a eleição do Moreira Franco em detrimento da candidatura de Darcy Ribeiro (e que chance perdemos de tê-lo, gênio que era, à frente do Governo do Estado!), e lá estava, ao lado do Gato Angorá, o PCdoB de Jandira Feghali; o ovo da serpente do golpe nasceu nas chamadas “marchas de junho de 2013”, e lá estavam os inadmissíveis atos comandados pelos Black Blocs que, com seus métodos condenáveis e adulados à larga por Marcelo Freixo, culminaram com a morte do cinegrafista Santiago Andrade; golpe houve também em 1964 e até hoje Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro (outro candidato) festejam o trágico 31 de março de 64 como se fosse festa, homenageando figuras desprezíveis como Brilhante Ustra e outros monstros; golpe houve contra seus eleitores quando Alessandro Molon abandonou o PT para juntar-se à Rede de Marina Silva sem devolver o mandato, que não lhe pertencia. Enfim… Se seguirmos por essa linha – que não me interessa, repito – o debate não tem mais fim.

Por fim, aos que argumentam me apontando o dedo dizendo que há apenas três candidaturas de esquerda (Alessandro Molon, Jandira Feghali e Marcelo Freixo), digo: o Governo Eduardo Paes, como nenhum outro governo no Rio de Janeiro, na cidade – ressalto -, construiu mais de 300 escolas, mais de 100 Clínicas da Família, centenas de km de vias que reduziram o tempo de viagem dos menos afortunados, construiu e reconstruiu praças, olhou, como nenhum outro, para as zonas norte e oeste da cidade, e possibilitou que a Cultura chegasse (e com dinheiro!) a grotões que jamais viram um único centavo do Poder Público. Um Governo definitivamente à esquerda.

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Meu voto é de olho no presente e no futuro. E não vejo futuro melhor pra cidade que não nas mãos da gestão que Pedro Paulo há de comandar, como comandou, como Secretário de Governo de Eduardo Paes.

Por isso, no domingo, eu chego junto sem medo de errar.

Até.

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BLANC 70 ANOS

Aldir Blanc escreveu no prefácio de meu livro, publicado em 2009, pela Casa Jorge Editoral:

“É sempre difícil apresentar o livro de um amigo-irmão.

Os detratores partirão para a fácil lenga-lenga acusatória de excesso de babilaques e lantejoulas. Bom, quebrarão a cara e roerão as unhas de ódio. O presente livro, “Meu Lar é o Botequim”, de Eduardo Goldenberg, fala por si mesmo.

Taqui nesta mesma mesa o Fausto Wolff que não me deixa mentir.

Eduardo Goldenberg é carioca dos ovos, carioca da bunda, da Zona Norte, de blocos e bares, de becos e esquinas, carioca dos países baixos e mostra sua vocação pra disputar, aguerridamente, causas perdidas, sua ojeriza aos mamalufs soltos, aos garotodutos propinados, às Rosas de Maia que destroem o Rio de Janeiro, à lama que envolve as bases de sustentação política do país. No grito contra a escrotidão dos investigados e investigadores das CPIdiotas, daqueles que mantêm a velha ordem dos faraós embalsamados, Edu nasceu dissidente até de si mesmo. Não perdoa hipocrisia e atitudes politicamente corretas, estejam camufladas no futebol, no feminismo, nas estruturas neoverdes ambientoscas, na enxurrada de páginas estruturo-linguarudas de suplementos culturais que tomaram o freio das vã-guardas nos dentes podres.

É triste constatar que não há espaço na imprensa escrita para as broncas de Nei Lopes, Chico Paula Freitas, Ilmar Carvalho, Eduardo Goldenberg…

Mas, felizmente, aqui está o livro, última cidadela da civilização: papo em torno do limão da casa, do caldinho de feijão, dos torresmos e moelas, das porções de queijo ou de salaminho; saudade dos amigos de outras épocas, e copo; muito suor e gelo; mulheres e, eventualmente, porrada.

Por tudo isso, com todo meu afeto, um poema pro Edu.

Pós-Intróito

Estamos passagem de aqui
onde a eternidade é aragem…
Daí, essas garrafas
no fundo das mensagens.”

Na véspera do 02 de setembro de 2016, dia em que o Bardo da Muda completa 70 anos, eu não seria eu se não viesse aqui, ao balcão virtual do buteco, render homenagens a ele. Mais que um amigo-irmão, Aldir, a quem conheço desde 1994 – lá se vão 22 anos! – é um dos Orixás pra quem bato cabeça. Meu confessor, meu confidente, um pouco meu pai, às vezes meu filho, o Excêntrico Sr. Normal (como bem disse Álvaro Costa e Silva, o Marechal, aqui) com quem, invariavelmente, troco telefonemas que podem durar segundos ou um par de horas, é, ainda, meu ídolo. E por isso, e por tudo isso, vê-lo fazendo 70 anos me comove feito o diabo.

A foto abaixo, de 1998, no Bar Lagoa (eu entre Aldir e Tostão), é hoje – me perdoem o lugar-comum – apenas um retrato na parede. Retrato de um tempo em que o Aldir, para sorte da cidade, ainda saía por aí, à noite, rasgando as madrugadas até que confundíssemos todos o alvorecer com o anoitecer e o anoitecer com o alvorecer na busca desesperada de reviver a juventude. Tive a sorte de, inúmeras vezes, colocar ao lado dele, dentro do mesmo barco, realidade e poesia e rir da nossa própria agonia. Bebi muito dessa fonte em busca desse segredo.

aldir, edu e tostão no bar lagoa, 1998

Ainda bem moleque, levado pelas mãos de um professor de química do colégio, conheci (de longe, prestando sempre muita atenção a tudo…) o Aldir no Caras & Bocas, na Tijuca. Eu era, ali, o fã diante do ídolo. A vida, que nos prega surpresas o tempo todo, e eu agradeço diariamente por esse prêmio, levou-me pra mais perto do Aldir. Marco Aurélio, com quem Aldir fundaria a Alma Produções (AL de Aldir e MA de Marco Aurélio) – e quanta saudade eu tenho do Marco Aurélio… – era o namorado da filha de uma vizinha de meus pais. Foi, confesso, amor à primeira vista. Ele, que era Marco Aurélio Braga Nery (e eu sou Eduardo Braga Goldenberg), só me chamava de “meu irmão Braga”. E um dia me disse com seu inseparável cigarro de cravo entre os dedos:

– Você precisa conhecer meu irmão, Aldir Blanc.

Lembro-me como se fosse hoje do dia em que, pela primeira vez, fui à sua casa, seu bunker, sua cidadela, no edifício da rua Garibaldi onde morava, no primeiro andar, o Moacyr Luz. Cercado por milhares de livros, recebendo os amigos em casa quando isso ainda era rotineiro, Aldir era, ali, o gênio que eu vira, moleque ainda, no Caras & Bocas. E esse convívio, como não podia deixar de ser, rendeu-me as melhores histórias, as maiores maluquices, os maiores perrengues, as melhores festas, e, eventualmente, porrada. Tornei-me seu advogado, derrotamos na Justiça um canalha que pretendia receber indenização por conta de uma verdade dita pelo Aldir numa entrevista, e foi, lhes garanto, a mais divertida audiência que já fiz em mais de 25 anos de carreira. Dentro da sala da audiência, abraçado à indefectível bolsa marrom, nervoso, dirigiu-se à Juíza:

– Posso fumar?

E fumou.

Fui sócio de um bar, entre 2000 e 2005, numa esquina a poucos metros da casa número 257 da rua dos Artistas. Aldir batia ponto sempre que podia. Vivemos, ali, momentos memoráveis, como esse – vídeo aqui –  em que o ainda novato Moyseis Marques (hoje seu parceiro), acompanhado pelo cavaquinho do Gabriel Cavalcante, pediu pra cantar Imperial (de Aldir e Wilson das Neves) pro Aldir ouvir. Ou como esse, Aldir cantando samba-enredo do Salgueiro acompanhado pelo sete cordas do Pratinha no mesmo dia em que filmou, dentro do bar, as cenas para o filme Praça Saenz Peña, em que Aldir fazia o papel de Aldir (aqui).

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Aldir foi enredo do Segura Pra Não Cair, bloco que criamos ali mesmo, dentro do bar. E desfilou, sem corda alguma que atrapalhasse nosso carnaval.

E segue, aos 70 anos, desfilando, ainda que miudinho, mais recluso que nunca, sua genialidade, sua generosidade, sua imensa grandeza que transborda e inunda o Brasil, hoje maculado por um golpe branco que fere a democracia que tem como hino (o Hino da Anistia!) sua obra-prima, O Bêbado e a Equilibrista. Sobre a imensa obra do Aldir, já me debrucei aqui.

O que eu queria mesmo era agradecer, pública e escancaradamente, eu que estou a 3 anos de fazer Bodas de Sangue, a ele por tudo o que ele é, por tudo o que representou e representa na minha vida, por tudo o que representa, ele e sua obra, para o Brasil. Aldir é gênio da raça. O Ourives do Palavreado, como disse Dorival Caymmi. É bom de se ouvir e de se aldir, disse Chico Buarque. É um brasileiro máximo. Uma espécie em extinção. Um homem que sempre, e desde sempre, esteve do lado certo do terreno.

A última vez em que estivemos juntos foi há pouco: eu e a Morena, chegando de Portugal, fomos levar a ele alguns livros que ele me encomendara às vésperas da viagem. Era pra ser coisa rápida – mas com a graça de todos os deuses, não foi. Passamos com ele um bom tempo, sem birita, só jogando conversa fora e ouvindo aquele homem falar – e ele quando fala, meus poucos mas fiéis leitores, há que se fazer silêncio.

Amanhã, 02 de setembro, deveria ser decretado feriado nacional. Porque quando nasceu o filho do seu Alceu e da dona Helena, e é ele mesmo que conta, soprou um vento que traduzia:

– Vai, Aldir, ser Blanc na vida.

Somos homens e mulheres de sorte. Apesar de vivermos num Brasil hoje ferido por uma corja de filhos da puta, somos um Brasil que tem entre seus filhos, e fazendo 70 anos, um homem como ele.

Saravá, Aldir. Meu amor e meu respeito, sempre.

Até.

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