Arquivo do mês: junho 2005

A VIAGEM – CAPÍTULO IV (ou declaração pública de amor)

A foto foi tirada domingo à noite, num hotel em SP, onde hospedou-nos a KLM, já que perdemos a conexão pro RJ depois de confusões no desembarque. Comove-me, sobremaneira, vê-la novamente, eis que o abraço que me dá a Dani, a mulher que me ensinou a sorrir, a Sorriso Maracanã, alcunha perfeita dada pelo meu irmão Szegeri, foi o abraço que durou todo o tempo da viagem, desde o Galeão até o Santos Dumont, onde pousamos na segunda-feira pela manhã.

E qual o sentido de uma declaração pública de amor, se posso fazê-la, a cada dia, dentro de casa, só pra ela? Talvez o mesmo sentido que move alucinados a espalharem outdoors pela cidade. Vazar o que nos vai por dentro.

A Dani foi, como direi?, um troço indizível comigo as 24h do dia (e ela o é mesmo aqui, mas lá fora isso teve outras cores). Reconhecendo meus medos, eis que sou um fóbico incorrigível, fez as malas (e eu não palpitei sequer sobre uma única cueca), tratou de cada chek-in nos aeroportos, deu-me a mão mais segura durante as decolagens, abriu-me o mais solar dos sorrisos a cada segundo, ninou-me à noite, acarinhou-me a cada manhã, e na única vez em que nos separamos durante a viagem, fui um desesperado, e vou lhes contar os detalhes.

Pausa para dizer que, findo o episódio, o Zé Colméia, aquele urso imenso, bruto por fora mas um bebê por dentro, disse-me com as mãos nos meus ombros, os olhos marejados e lançando perdigotos em meu rosto ainda molhado, “Edu, eu não sou crente, mas hoje rezei pra você morrer antes dela… você não resistiria…”.

Estávamos em Florença. Eu, Fefê, Zé Colméia e Mauro pretendíamos ir ao Museu da Ciência, onde estudos de Leonardo Da Vinci alucinam os visitantes. Dani, a fim de passear, disse que iria rodar a cidade e marcou conosco às 19h30min em frente à estátua de Davi (e eram 17h). Partimos, nós pro museu, ela pra um mirante. Em menos de 10min nos deparamos com o museu fechado, e eu, já em pânico por sua ausência, propus uma caminhada até o mirante. Guerreira e Fumaça não estavam conosco por que, obviamente, foram comer em algum lugar. Como comeram as duas. Como comeram! (ponham muitas exclamações, o troço foi devastador). Só de sorvete a Fumaça embolsou, segundo as contas de um incrédulo Zé Colméia, umas 200 bolas.

Pois bem. Chegamos ao mirante e nada da Dani (soube depois que minha garota estava numa igreja, a poucos metros dali, assistindo a uma missa). Fui um deprimido, consolado pelo Mauro, “Edu, relaxa, ela tem mais horas de viagem que todos nós juntos”, pelo Fefê, “que besteira, Edu… ela deve ter parado em algum lugar pra comprar alguma coisa”, pelo Zé Colméia, e depois pela Guerreira e pela Fumaça que nos encontraram lá mesmo, cada uma com um saquinho de churros nas mãos.

Zanzei por todo o mirante e nada. Descemos. Às 18h30min eu estava estacado diante do Davi. Todos foram caminhar um pouco mais, e de nada valeram os apelos de “vamos, Edu!, ainda falta uma hora!”. Fiquei ali, olhos cravados nos relógios dos passantes.

Às 19h30min chega o Mauro. “E aí?”. Não respondi porque já guinchava e esguichava lágrimas como se fosse um Tritão. Mauro, solidário, disse que daria uma voltinha a fim de encontrá-la. Volta 5min depois, uma eternidada para mim (ainda ouvi uma brasileira dizendo para o marido, “veja que lindo aquele rapaz emocionado diante da obra de Michelangelo…”), sem a Dani.

Às 19h40min, vejo Dani apontando no extremo oposto da Piazza Signorina. A descrição é da Guerreira que a tudo assistia de dentro de uma sorveteria com a Fumaça, ambas com cones de 8 bolas de sorvete cada uma: parti, como um alucinado, mochila nas costas, quicando em meio a multidão, e abracei Dani como se não a visse há anos, e chorei de fazê-la chorar de pena. Ali, naquela hora, cravou-se em mim a certeza da dependência.

Os modernosos dirão que isso é maléfico.

Mas como já confessei, parafraseando o Aldir, que sem ela não sei nem fazer cocô, aquilo foi de uma beleza renascentista.

Até.

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A VIAGEM – CAPÍTULO III

A foto, genial, (eu sou um modesto) é da sombra da escultura de Davi, de Michelangelo, em Florença, bem diante do castelo de onde Hannibal Lecter atira seu perseguidor de uma sacada, com o intestino aberto (lembram disso?) na segunda parte do filme “O Silêncio dos Inocentes”. Essa informação, sonegada por guias especializados do mundo inteiro, nos foi passada pelo Mauro, uma sumidade na Itália, contarei depois o por quê, o que gerou frisson entre os milhares de turistas que transitavam pela Piazza Signorina, onde paguei o maior mico da viagem, quando chorei pela primeira vez. Contarei isso depois também, já que, antes, preciso dos detalhes que já solicitei por email ao Mauro, que ainda está na Itália aguardando sua viagem para os EUA onde brilhará, seguramente, em mais um congresso internacional. Razão pela qual, hoje, contarei, digamos, alguns momentos brilhantes da trupe brasileira em terra estrangeira, sem preocupar-me com detalhes da viagem em si.

A Fumaça, vamos à Fumaça. Eu voltei certo de uma coisa: se submetida ao mais simples e rasteiro exame psicotécnico, Fumaça não arruma o emprego mais tedioso e mecânico. Eis alguns lances da Fumacinha.

Estávamos em Roma, no Vaticano, dentro da Basílica de São Pedro. Dani, com um guia em português nas mãos, lia os detalhes para nós: “Michelangelo começou a pintar a cúpula da Basílica, que ficou pronta graças ao empenho de seus alunos, já que o mestre morreu antes mesmo de terminar o trabalho…”, e foi interrompida por guinchos úmidos de lágrimas da Fumaça. A turba estanca e a Fumaça, de joelhos, olhando pro chão e dando soquinhos no piso de mármore grita… “Foi aqui que ele caiu… lá de cima?????”. Os seguranças da Basílica foram obrigados a nos pedir silêncio.

Dentro de um bar, em Florença, paramos todos para bebermos alguma coisa. A Fumaça, que não sabe nem espirrar em italiano, vira-se pra moça do balcão: “Donna… nosotros queremos três (e mostra os dedinhos) birras beeeeeeeem geladas e duas águas (mostra os dedinhos de novo) sin gás alguno…”. A moça, lindíssima, vira o rostinho de lado como quem diz que não entende nada e a Fumaça… “Porra, filha, tô parlando devagar… tu não tá me capiscando?”. E dali em diante a Fumaça e o verbo “capiscar” foram uma coisa só.

Fechando sua atuação com chave de ouro, a Fumaça mostrou-se uma embevecida diante da Guarda Suíça no Vaticano. Aqueles homens imóveis diante dos portões, com aquelas roupinhas catitas nas cores laranja e azul, encantaram a Fumaça. E decidiu, nossa doce Fu, testar a concentração dos caras. Zé Colméia, atônito, foi quem viu, de longe, a cena: a Fumaça quicava, fazia caretas, cutucava o abdomen do sujeito com o indicador espetado, tentando, segundo seu próprio depoimento depois, relaxar o dia do “guardinha com roupa de palhaço”.

À Guerreira. A Guerreira fala mas não fala italiano. Foi ensinar Fefê e Zé Colméia a pedirem cerveja gelada nos bares. Num equívoco compreensível, passou-lhes a frase que, traduzida, dizia “cerveja congelada”. E Fê e Zé entraram no primeiro bar e mandaram a frase num italiano renascentista. O sujeito, uma caricatura, urrava uns “ma quê!” e uns “porca miséria!” de fazer tremer a Ponte Vecchia com um rolo de pastel na mão, botando os dois pra correr diante do que lhe pareceu sacanagem.

E o Zé Colméia? Bem, o Zé merece um capítulo quase que à parte. Fino como um lord, o Zé aceita o convite do Mauro para um expresso num Café quase em frente ao Coliseu. A placa anunciava “o melhor café do mundo”. Zé entra. Pede o café. Bebe. Cospe. O atendente atônito. E o Zé: “Qualé, meu chapone? Esse café tá uma merdone. Sou mais o do Palheta da Piazza Saens Pena!”.

Tão logo eu consiga com o Mauro os nomes que preciso para lhes contar sobre a Itália, mando bala. A partir de amanhã, voltamos, digamos, à rotina, já que o que soube, por email, mesmo viajando, é assustador.

Até.

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A VIAGEM – CAPÍTULO II

Na foto, Evelin, nossa doce anfitriã em Amsterdam, eu e Dani, no Dampkring, coffeeshop que ganhou fama graças ao filme “Ocean´s 12”, o preferido da Evelin, e que recebeu nossa visita uma bela penca de vezes. Amsterdam é belíssima e eu bebi, por aquelas plagas, cerveja suficiente pra encher os diques da cidade. Éramos, nos primeiros dois dias, apenas cinco: Evelin, eu, Dani, Fefê e Zé Colméia, e juntaram-se a nós, depois, Cristiano e Guerreira. O Cris, vindo da França, a Guerreira, chegando de Londres (e vejam vocês que alegria a nossa, tijucanos diplomados, sapateando sobre o mapa da Europa). E que não seja breve a menção à doçura da Evelin. Morando há 9 anos em Amsterdam, Evelin, brasileira com nacionalidade egípcia (por causa dos pais) e holandesa, foi uma anfitriã de comover-nos. Daqui, meu beijo e meu carinho.

Vamos num sopetão só, ao roteiro, sem ordem cronológica: conhecemos inúmeros coffeeshops, a casa de Anne Frank, o Museu Van Gogh, bares seculares, parques gigantescos onde cuecas, calcinhas e sutiãs formavam a paisagem, a praça onde iniciou-se o movimento hippie, o Palácio da Rainha, delicatessens de deixar qualquer um tonto com a quantidade de queijos, frios e embutidos, cervejas do mundo inteiro (uma garrafinha da nossa Brahma, no supermercado, custava 2 euros), o bairro da luz vermelha, onde moças se expõem em vitrines feéricas dia e noite, fizemos um piquenique financiado pelo Cristiano sob um sol de Rio de Janeiro, assistimos Brasil x México num pé-sujo holandês, andamos de trem pra cima e pra baixo quando as distâncias eram gigantescas.

Detalhe épico: Fefê e Zé Colméia partiram, determinada noite, pra um passeio na cidade em busca de cerveja e diversão. Chegaram em casa apenas às 6h da manhã. Eis a razão: bêbados, lembravam-se apenas do final do nome da rua da casa da Evelin… “não sei o quê… straat”, um dizia pro outro. Ocorre, amigos, que straat é rua em holandês… e depois de andarem coisa de 10km a pé, passando por MarcoPoloStraat, ElizabethVonStraat, VascodaGamaStraat, BartholomeuStraat e mais de 500 straats, reconheceram a casa. Uma coisa, os dois.

Falei no parque e preciso lhes contar sobre o pífio desafio que eu, Fefê e Zé Colméia propusemos a 3 holandeses que batiam bola. Pedimos a ajuda da Evelin que, num holandês límpido, expôs nossa idéia: uma partida de gol pequeno, 3 pra cada lado, e os holandeses babaram… Brasil e Holanda! Os 3 eram sarados, jovens, corpos talhados e nós, 3 brasileiros acima dos 30 anos, barrigudos e cheios de marra. Evelin fazia o papel de tradutora do lado de fora e traduzia pra nós as falas dos caras: “Não precisa marcar esse balofo”, “Dribla entre as pernas desse gordo sebento”, “Sacaneia, sacaneia”, e por aí foi. Perdemos de 3 a 2, pouco diante do massacre que nos foi imposto. Durante a partida, torci o pé num buraco gigantesco escondido por um tufo de grama e quase voltei pro Brasil diante do inchaço e da dor que me impediam de andar no final do dia.

Em prantos, já em casa, fui ao banheiro engantinhando, mijei no próprio tornozelo, pedi ajuda aos caboclos de papai, ao meu médico curitibano morto há mais de 100 anos, à minha bisavó e com o auxílio do antibiótico da Guerreira, eu estava inteiro na manhã seguinte (o antibiótico foi o menos importante, longe de casa sou um crente quase-fanático).

Partimos 4 dias depois rumo a Milão, de avião, e lhes conto sobre a Itália a partir de amanhã.

Até.

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A VIAGEM – CAPÍTULO I

Na foto, tirada na Praça São Pedro, no Vaticano, da esquerda pra direita, Fumaça, Dani, Zé Colméia, Mauro, Fefê, eu e Guerreira. Todos vestidos de Estephanio´s, levando a esquina de Vila Isabel, terra de Noel, pro Vaticano, terra do seu Benedito, o Papa, que não quis nos receber mesmo diante dos apelos do Zé Colméia.

Antes de lhes contar sobre a viagem, preciso dizer, principalmente para os que dividiram comigo a angústia que me assaltou às vésperas do embarque, que do Rio a São Paulo, de São Paulo a Amsterdam, depois de Amsterdam a Milão, depois de Roma a Amsterdam, de Amsterdam a São Paulo e de São Paulo ao Rio, fui um irreconhecível viajante de quatro costados. Dormi durante todos os vôos, sendo acordado pela Dani apenas para comer. Não tive sequer vontade de fumar. Nada de medo. E voltei um empolgado já planejando com a Dani a próxima viagem. Fui o anti-Edu, como se vê.

Não será possível fazer os relatos de Homero, como prometi. Aos que encontrar pessoalmente, conto tudo, e é muito tudo, não foram poucas as emoções nesses 10 dias de viagem, onde passamos por Amsterdam, Milão, Alessandria, Gênova, Pisa, Lucca, Florença e Roma.

Como estou ainda sob os efeitos da viagem de volta, mais-que-cansativa, fico por aqui. Amanhã começo o relato dos destaques do tour. Mas que fique o registro dessa foto, que resume a festa que fizemos na Europa, não deixando pedra sobre pedra por onde passamos, carimbando os dias em verde e amarelo, com trilha sonora de Moacyr Luz e Aldir Blanc, que defendi pelas ruas de Amsterdam o tempo todo:

“Uma ciranda, uma roda, um samba
Serpenteando daqui à Holanda
Cosmopolita todo samba é
Um riso de mulher
Moinhos cheios de café
Van Basten tabelando com Pelé
Um samba pode nascer amanhã
Em Amsterdam
Só precisa um violão e lua cheia

Gingar legal
Querer por querer
Um Nassau de berimbau
O samba sai de tamanco ou chinelo
Pra pintar de um jeitão meio grogue
Em Van Gogh
Um girassol verde e amarelo”

Até.

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FECHADO TEMPORARIAMENTE (EU ESPERO)

Conforme o prometido, vou deixar hoje aqui, com vocês, os links para os textos MAIS do Buteco. Os mais lidos, os mais comentados, os com maior repercussão, os que mais emails me renderam, os que transformaram anônimos em celebridades. Vou pôr os links abaixo, sem qualquer preocupação com a cronologia, resumindo um a um, e pedindo a vocês, com veemência, que abram os mesmos com o botão direito do mouse (ou rato, como gosta o bom Szegeri) em uma nova janela, a fim de lhes facilitar a leitura e o acompanhamento.

Como já lhes disse, parto hoje, às 20h, com a Dani, o Fefê e o Zé Colméia (façam uma idéia do que será o KLM sobre o oceano) rumo à Amsterdam (onde encontraremos a Evelin, o Cristiano e a Guerreira, façam uma idéia do que será aquela cidade liberal) e depois Itália (onde nos juntaremos ao Mauro e à Fumaça, e façam uma idéia do que será a bota nesses dias). Pelos planos traçados pela Dani, estou de volta no dia 27 de junho, quando pretendo retomar minha rotina no Buteco, prometendo, desde já, relatos de Homero.

Vamos a eles:

A hérnia do Szegeri – no dia de meu aniversário, em 2005, de última hora, meu irmão Szegeri viu-se obrigado a cancelar sua vinda ao Rio de Janeiro em razão de uma grave crise de hérnia. E os festejos viram-se prejudicados por uma preocupação coletiva com seu estado de saúde.

Os piadistas de elevador – a apresentação desse tipo detestável, que existe por aí, à mancheia, com situações reais, todas vivenciadas por mim.

O respeito que o Szegeri impõe – um dia encontrei o Augusto e não o reconheci, tendo sido salvo, naquele momento, pelo Szegeri, que passou-me um pito histórico. E fui eu, a São Paulo, em busca dele, o Augusto, para reparar meu erro capital.

Mais uma peça pregada pela memória – valendo-me do mesmo mote, a falta de memória, outro caso real, que vivi em Volta Redonda, envolvendo a Marcela, prima da Dani, e seu cunhado, que pensei ser seu marido, o que rendeu-me uma situação entre o drama e a comédia.

Um final de semana pra entrar pra história – um relato de Homero sobre um final de semana em São Paulo, eu, Dani e Fefê, recebidos por Szegeri e seu pai, com detalhes absurdos, minimamente dissecados.

Feriado de Páscoa – um belo dia, num belo final de semana, numa bela praia em Niterói, eu e Szegeri resolvemos aceitar bizarro convite do Pierre para uma travessia, a nado, de quilômetros. Poderia não ter escrito a crônica, eis que quase morri.

A mulher que me ensinou a sorrir – poema dedicado à Dani, a mulher que me ensinou a sorrir, escrito durante um sufoco que passamos no início do ano de 2005.

Um casamento memorável – outro relato de Homero sobre uma festa de casamento, eu como fotógrafo, Dani como madrinha, uma Juíza secular dirigindo a cerimônia com um atraso de mais de duas horas, convidados bêbados, Guerreira no auge, e por aí vai.

Cunhados, cunhadas e um caso real – o primeiro capítulo da saga do Batista.

E eu encontrei o Batista – o segundo capítulo da saga do Batista.

Mais sobre o Batista – o terceiro capítulo da saga do Batista.

A aventura do Batista – o quarto capítulo da saga do Batista.

A ressaca do Batista – o quinto capítulo da saga do Batista.

O mais novo drama do Batista – o sexto, e até então o último, capítulo da saga do Batista.

Truques do Dedeco – a apresentação desse personagem, desse embusteiro, desse mentiroso, que é o Dedeco, que encontrou, bem disse o Flavinho, um novo nicho para sua vida sexual.

O beijo do Dedeco – mais um lance sobre o Dedeco, com uma análise de sua transformação e comentários sobre os comentários histéricos feitos pelas loucas que o perseguem.

33 anos de vida – poema que fiz pro Fefê, na passagem de seus 33 anos.

Piadas reais ao vivo – Dani, minha garota, é professora de inglês e isso lhe rende momentos gloriosos que soam como piada. São casos reais, todos com testemunhas.

São esses aí os 18 mais-mais.

Não fecho sem antes agradecer aos solidários que me mandaram mensagens, aos que me telefonaram, aos que compareceram ao Estephanio´s ontem à noite para a minha – mesmo que lhes soe ridículo, é assim mesmo que vejo a coisa – despedida: José Sérgio, Serjão e Gilda, Joanna, vovó, mamãe, papai, Dona Sá, Maria Paula, Gaby, João Vitor, Dedeco, Branco, Cerveira, Patrícia, Dalton, Szegeri, Tatá, Roberta Valente e Brinco.

Até.

PS: preciso confessar-lhes que choro de esguichos nesse momento. Beijo.

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TUDO CERTO

Para a grande maioria das pessoas uma viagem é sinônimo de festa. O arrumar das malas, o farfalhar dos bilhetes aéreos, a checagem dos guias turísticos, os planos estratégicos em terras estrangeiras, a ida ao aeroporto, tudo é uma festa. É assim com a Dani, por exemplo, que está arrumando as malas há uma semana, beijando os bilhetes aéreos, folheando o “The Rouch Guide”, traçando planos com o Fefê, com o Cristiano, com o Mauro, com a Guerreira, com a Fumaça (que viajam todos conosco), combinando com papai a carona pro Galeão.

Eu, numa tremenda mudez, assisto a tudo sem qualquer reação que não um suadouro que não cessa, uma tremedeira que não cede, um pânico que me paralisa. Vai daí que convoquei alguns amigos pro Estephanio´s hoje, chopinho de despedida, o que soa para um turista olímpico como o Vidal, a Lenda, como uma pida (para o Vidal, 12 dias no exterior é algo que se assemelha a um final de semana em São Pedro da Aldeia).

Serão 13 horas a bordo de um KLM. Sem fumar. Num desconforto acintoso (não compreendo não ter havido, há anos, uma revolução dos passageiros que gastam fortunas para uma vaga numa poltrona mais apertada que a dos ônibus municipais). Rumo à Amsterdam. Depois Milão. Depois voltinhas pela Itália, fechando o tour em Roma, de onde partimos de volta (o melhor momento da viagem, já sei disso).

A Betinha, que recebeu-me no domingo em sua casa (dividida com o Flavinho, nosso Xerife), mostrou-me o álbum de sua última viagem pela Europa tentando me animar. E eu guinchava de chorar diante das fotografias que ficaram empapadas por minhas lágrimas torrenciais.

Pausa para lhes contar o que foi o domingo no suntuoso apartamento do Flamengo, para onde mudou-se o bom Flavinho depois de anos de Cachambi: queijo brie, roquefort, gouda, ciabattas, garrafas de Logan, vinhos australianos, cervejas importadas e uma begônia reluzente sobre a mesa, que o Flavinho deu uma begônia pra Betinha pelo Dia dos Namorados (é preciso dizer que quando morava no Cachambi, Flavinho não conhecia nada além de uma samambaia chorona num xaxim em matéria de plantas e flores). Num momento inspirado, diante daquele portentoso lanche, cantei… “No tempo que o Flávio morava lá no Cachambi (no tempo!), no tempo que o Flávio morava lá no Cachambi…”, pedindo licença ao Nei Lopes.

Bem, amigos, como diria o Galvão Bueno, parto amanhã às 20h. Deixarei aqui, no Buteco, uma lista com as crônicas mais lidas, mais comentadas, mais elogiadas, mais festejadas pela assistência. Peço as orações da Dona Sá, as mandingas do Dalton, a pajelança do Szegeri, as preces de vovó e de mamãe, as danças caboclas de papai.

Alguns eventos tornam a viagem ainda mais torturante. Não estarei em solo brasileiro na passagem do primeiro aniversário da morte do Brizola, no dia 21 de junho. Nem no aniversário do Dalton, no dia 20 de junho. Nem no aniversário do meu irmão Szegeri e da minha afilhada, sua filha, Iara, ambos no dia 24 de junho. Nem no aniversário do Flavinho, no dia 25 de junho. Meu carinho antecipado a eles. É isso. Tá tudo certo, em termos burocráticos. E tudo errado comigo. Mas vejamos o que vai ser. Na volta, lhes prometo relatos de Homero, como diz meu Otto na íntegra.

Até.

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O BRANCO ENGOLIU UM VIENATONE!

Vejam vocês. O título da crônica de hoje – já o li e o reli dezenas de vezes – é capaz de me fazer relinchar de rir até perder o ar. Imagino que será assim com vocês. Mas o título não é capaz, obviamente, de lhes dar a dimensão da comédia que foi esse gesto do bom Branco. Vou explicar.

Fomos, eu e Dani, no sábado, novamente ao Clube Renascença. E lá, conosco, o Dedeco e o Branco (mais tarde chegaram Mariana Blanc, Marquinho Presidente e o Basile. Ah, e o Moacyr Luz também, que convenceu-me – e ali eu fui um justo julgador a reconhecer meu erro, corrigido aqui – a retirar a, digamos, acusação que lhe fiz num momento, reconheço, infeliz).

Percebam nossa companhia à mesa: Dedeco e Branco. Uma dupla, como se tem visto, aqui e aqui, de derrubar Maracanãs lotados de mulheres ensandecidas.

Pequena pausa para uma notícia impactante: Dedeco e Branco mobilizam tanto as mulheres, que Guerreira e Fumaça, desde a semana passada passeando pela Europa, já mandaram centenas de mensagens para o celular de ambos, com notas importantíssimas como “Estamos indo para Granada”, “Perdemos o trem”, “Está um calor danado aqui”, e por aí se vê como as duas estão aproveitando a viagem. Gastaram rios de dinheiro para ficarem mandando torpedos, de além mar, para os dois. Um troço.

E eis que, num dos intervalos do samba, Branco me disse: “Edu… tenho ficado impressionado com a repercussão do Buteco… Seus relatos são precisos, sua memória é colossal, mas queria lhe contar uma coisa…”.

Peguei de um bloquinho imaginário e preparei-me para tomar as notas. Ajeitei-me na cadeira enquanto o Branco anunciava que iria buscar mais duas garrafas de cerveja. Clima de excitação total. E volta o Branco com aqueles olhos e aquela beleza acachapante. Prossegue ele:

“Sabe, Edu… lembra que você contou, dia desses, sobre as ceguinhas de Laranjeiras?”

E eu, “Claro, claro, continue…!”.

“Aquilo me fez lembrar a Dulce.”

Silêncio aterrador somente quebrado por uma gargalhada do Dedeco de fazer tremer o Andaraí.

Eu, batendo os pés no chão, “Que Dulce?, que Dulce?”.

“Uma surda-muda que eu namorei por cinco meses.”

O Dedeco rolava pelo chão de cimento, sujo, do Renascença, latindo de rir. E eu com as mãos cravadas no braço do Branco, “Prossiga, prossiga, Branco!”.

“Eu estava andando pela Rua das Laranjeiras, ali pertinho da Escola de Surdos, sabe?, quando parei diante de uma morena de parar o trânsito. Não percebi, juro!, que, tendo ela saído de dentro da Escola, seria uma surda-muda. Sei lá, pensei que seria uma professora… um troço babaca de preconceito, sabe?, nunca imaginei que fosse possível uma surda-muda tão gostosa. E atribuí aquela mudez diante de meu “boa tarde” à minha beleza, como você mesmo diz, acachapante.”.

O Dedeco estava chorando no chão, de quatro, e ria, ria, ria e estendia o copo pedindo cerveja.

“Pô… aí, Edu… eu, que tinha bebido uns oito, nove chopes no Serafim, agarrei aquela menina, beijei-lhe o pescoço – sem resistência alguma – e quando lhe beijei no ouvido, forte, lambidão mesmo, sabe?, engoli um troço com gosto de cêra e de pilha, bateria, não reconheci bem…”.

Agora, eu, Dani e Dedeco, os três ríamos tanto, dando soquinhos no chão, que a assistência do Clube formava uma roda em volta de nós. E prosseguiu o Branco:

“Era o Vienatone da moça. Mudaça. Surdaça. Mas deliciosa. Daí começamos a namorar… Mas era estranho, sabe? Ela deu-me de presente um Teletrim, e nossas conversas eram basicamente pelo Teletrim… Eu gastava uma fortuna de Teletrim por mês… E a Dulce era de um furor uterino de deixar qualquer homem à beira da fadiga…”.

Eu não estava acreditando naquilo, quero dizer isso a vocês. Mas o Branco não mente. Um homem com seu caráter, capaz de gritar “eu sou amigo do Lennon” diante de uma multidão de vaias, não mente. E a Dani, que as mulheres são curiosíssimas, perguntou entre um guincho e outro, “Por que vocês terminaram, Branco?”.

“Ah, sabe… como vou explicar… faltava papo, sabe? Não me acostumei a namorar pelo Teletrim, e a fúria e a volúpia da Dulce me puseram em situações absurdas… Um dia estávamos indo pra Niterói, eu e Dulce no banco de trás, Dedeco dirigindo e uma amiga dele na carona, quando a Dulce abaixou minha bermuda e engoliu-me ali mesmo… Pô… eu tava vendo o Dedeco olhando pelo retrovisor, fiz sinal pra Dulce parar e ela, pô… vê se pode?… sem tirar a boca de mim, disse babando… “ôda-se… ôda-se… ôda-se…”… deprimente, Edu… não rolou mais…”.

Bem, fica evidente que o Branco e o Dedeco têm histórias pra contar, não?

Até.

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A PRAIA NOTURNA DA VILA

Eis o texto, na íntegra, da revista RioShow, d´O Globo de hoje, da coluna Pé-Sujo, do Juarez Becosa, que lotado de um orgulho heróico, reproduzo:

“O crédulo leitor passa pela primeira vez sob a porta do botequim, em Vila Isabel. Depara-se com o imenso busto barbado pairando sobre o salão, tal e qual um São Jorge. Coça a cabeça, pergunta quem é.

— É o deus grego da cerveja — conta alguém. — Ele deu nome ao bar.

O leitor, que nada entende de mitologia, acredita. Afinal, é plausível a versão. Senta-se, toma um chope e admira as nobres feições da divindade. Logo abaixo, um relógio de ponteiro marca as horas: está cedo. Outro chope, então.

Fora a bebida, que de fato estala na boca de nosso ingênuo personagem, nada mais nessa história é o que parece ser. Pois no Estephanio’s, um dos maiores sucessos etílicos-festivos-gastronômicos surgidos na Zona Norte nos últimos anos, é tudo assim: uma grande brincadeira.

O busto divino é na verdade de Aldir Blanc, padrinho e fã do estabelecimento, tocado há cinco anos por dois consultores de informática que abraçaram a causa botequinesca por prazer. O nome mítico não veio do Olimpo, mas do primeiro dono do bar, um empresário da noite que nos anos 80 ajudou Sargentelli a administrar as mulatas que não estavam no mapa. E o relógio, deliberadamente atrasado duas horas, é uma das muitas artimanhas a que os engenhosos sócios recorrem para deixar os fregueses mais tempo na casa. Como se precisasse.

Festivo, noturno e despojado, o Estephanio’s lembra um pub do interior, com direito a programação musical, transmissão de jogos na TV, concursos culturais e uma boa dose de galhofa. Por tudo isso, virou referência, ponto de encontro noturno na Vila, aberto sempre até o último cliente decidir ir embora.

Mas como nenhum bar é feito apenas de programação, o Estephanio’s também guarda na cozinha atrativos capazes de valer uma visita. Fartos caldos (R$ 4, cada um) encabeçam a lista de petiscos. Os croquetes são mesmo de carne-assada (R$ 10, a porção) e a carne-de-sol é um acinte de fartura. A carta de cachaças beira a centena de títulos e o chope escuro é de rara qualidade. Portanto, vá sem medo. E deixe o relógio em casa.”

Até.

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>LEMBRANÇAS DE VIAGEM – PARTE II

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Ontem lhes contei sobre a capacidade que alguns têm de, mesmo viajando, lembrar dos amigos que deixam quando partem, e, mais, de comprar-lhes presentes, lembrancinhas, souvenirs e mais que tais. Foi assim com o Miguel e a Maria Paula, que, em Honduras, ao lado de tubarões, durante o mergulho, não pensaram no preço do dólar, na variação do risco Brasil, na mãe, no pai. Pensaram em mim e me trouxeram presentes que, nunca é demais registrar, serei incapaz de retribuir, já que estou partindo para uma viagem na próxima quarta-feira.

“Que meia é essa?, que meia é essa?”, estou ouvindo as indagações de vocês, principalmente a do Marcão, que, se ontem assombrou-se com o tubarão solitário antes do texto escrito (leiam nos comentários de ontem, leiam), hoje deve estar se julgando o mais boçal dos boçais, o mais sorvetão dos idiotas diante dessa meia. Vou explicar (e junto com a explicação segue meu pedido de desculpas antecipadas à mamãe que, tadinha, dirá “Onde foi que eu errei?” quando souber o que eu fiz).

Fomos, como lhes contei aqui, eu e Dani, no sábado passado, pra Volta Redonda a fim de encontrar a Raquel, amiga de infância da mulher que me ensinou a sorrir, há mais de seis anos fora do Brasil, morando em Bosta. Boston, aliás. A mesma coisa.

E a Raquel ainda não me conhecia. Quando partiu, Dani era carente de mim, e eu dela. Mas a Raquel foi de uma doçura comovente quando a recebemos no aeroporto, há umas semanas. Tateou meu rosto como se fosse uma das ceguinhas de Laranjeiras. Beijou-me, abraçou-me, disse-me coisas lindas, e as disse à Dani e a todos que lá estavam. Lembrei que lhes contei rapidamente sobre sua chegada aqui.

Eis que quando chegamos em Volta Redonda para o churrasco oferecido por seu pai, Roberto Parreira, que mora numa mansão no bairro Laranjal, o mais grã-fino e requintado da cidade do aço, Raquel gritou “T-e-n-h-o u-m p-r-e-s-e-n-t-i-n-h-o p-r-a v-o-c-ê-s!”, dito assim mesmo, pausada e lentamente, em tom de suspense (ali eu fui um intrigado: o que teria me comprado a doce Raquel, que mal me conhece?).

Entrou pra dentro da casa – o churrasco acontecia, por óbvio, na parte externa – e voltou com dois embrulhinhos na mão. Estendeu o primeiro pra Dani. Um livro lindo, capa dura, vermelha, com a esfinge do Shakespeare, edição de 1927 com sua obra completa. “Ohs” e “ahs” tomaram conta da casa, da rua, do bairro, da cidade. “Tô feito. Belo gosto tem a Raquel”, pensei por dentro, já com um Black Label duplo servido pelo Parreira, um anfitrião de dar gosto.

Daí a Raquel virou-se pra mim e disse… “E i-s-s-o é p-r-a v-o-c-ê!”, do mesmo jeitinho. Abri o embrulho azul, destruindo o papel, quebrando a primeira regra que mamãe incutiu em mim nesse quesito. E deparei-me com seis pares de meia idênticos à meia da foto, com um “USA” cravado na parte superior, desse jeito mesmo. E agora é que mamãe vai chorar.

Minha primeira reação diante de uma Raquel incrédula: “Raquel, tu acha que eu vou usar essa merda?”.

Dani de cabeça baixa, ao meu lado, fez que não pros próprios pés, antevendo o que viria pela frente.

“Porra, Raquel… Eu sou comunista, brizolista, socialista, cubano, chavista, afegão, iraquiano, sou contra essa bosta desse símbolo, eu nunca! (gritando muito alto), nunca! vou pôr meus pés dentro dessas meias de merda!”. Levantei-me e depois de cantar a Internacional (em português e em russo) gritei pro Comandante, “Comando, tá precisando de meia?”, e ele rindo, “Tô”, e o Parreira de voleio, “Eu também tô!”, e os dois dividiram, como cubanos, o meu presente.

Para que eu não corra risco semelhante, também por isso, é que não trarei nada pra ninguém da minha viagem, entenderam?

Bem, fiquei de lhes contar, hoje, mais sobre esse novelão que envolve Dedeco, Dirce, Batista e Linda. Como não consegui contato com o ex-gordo e ex-careca do Dedeco, fica pra segunda-feira.

Até.

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>LEMBRANÇAS DE VIAGEM – PARTE I

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Vejam vocês se isso é possível (eu proponho isso a vocês, porque pra mim, sinceramente, isso não é possível, mas acontece).

A foto acima foi tirada pela Maria Paula em Roatan, Honduras, onde ela foi mergulhar com o Miguel. E na foto, um tubarão. Eu, um fóbico incorrigível, não consigo ver a menor, a mínima, nenhuma, rigorosamente nenhuma graça nesse troço de mergulho. Mergulho, pra mim, só em Ipanema e quando faz piscininha em dia de mar tranqüilo. E muito menos, mas muito menos graça vejo quando o objetivo do mergulho é encontrar, assim, cara a cara, uns tubarões (sim, pois se na foto há apenas um tubarão, há mais, há muitas outras fotos onde ambos aparecem cercados por um cardume de tubarões).

Mas vejam bem, isso não é o que mais me assombra, e vou explicar. Ontem à noite, assistindo Brasil x Argentina no Estephanio´s, duas coisas me assombraram, e muito. O primeiro assombro: Luís Filipe de Lima, glória 7 cordas, esteve no bar e o vi magro como um faquir bebendo Coca-Cola Light. O segundo assombro, mote de hoje: enquanto Maria Paula e Miguel flanavam a centenas de metros de profundidade, a milhares de quilômetros do Rio de Janeiro, e cercados por tubarões, pensaram em mim. Vejam isso! Não pensaram no Dedeco, não pensaram no desempenho das filiais da WiseUp, não pensaram na crise do governo, não pensaram no Roberto Jefferson espalhando bosta no ventilador do Planalto Central, não. Pensaram em mim. E me trouxeram, ambos, lembrancinhas da viagem.

Eu, que estou a dias de uma outra viagem, quero declarar, desde já, que tal gentileza, tal demonstração de carinho e de afeto, é improvavél. Não. É impossível! Penso apenas na sobrevivência, segundo após segundo, e na volta, na gloriosa e doce volta que há de me trazer as pernas para o solo brasileiro. Em todo lugar, que não aqui, sou estrangeiro. E um estrangeiro poltrão (eu disse poltrão e vi minha bisavó sorrindo no 17 polegadas que comprei ontem). Comoveu-me sobremaneira receber a garrafinha de rum, presente de Maria Paula, e a camisa, presente do Miguel, mas retribuir a gentileza, na mesma moeda, neca de catibiriba (como estou antigo hoje…).

Falei em viagem e quero lhes contar sobre o Flavinho, nosso Xerife, marido da Betinha. Ontem, tecendo comentários aqui no Buteco, Flavinho fez pouco de meu jantar, sexta-feira passada, pro Szegeri e pra Stefânia. Desdenhou dos pães que comprei numa boulangerie, debochou do petit gâteau, zombou do queijo italiano, riu do funghi. E o que têm a ver viagem e Flavinho? Explico.

O Flavinho viajou, definitivamente, do Cachambi para o Flamengo. Quando morava no Cachambi, e corria diariamente nos calçadões do glorioso bairro, comia pão com manteiga no café da manhã, Bonzo no almoço e Miojo no jantar. O máximo de luxo que se permitia, o bom Flavinho, era uma caneca de Sangue de Boi ou de Chateau Duvalier quando sobrava algum no final do mês. E goiabada com queijo de sobremesa, mas só nos meses fartos.

Mas como eu disse, Flavinho mudou-se para o Flamengo a fim de dividir casa com a Betinha, esta sim, uma elegante desde o berçário. E os dois estavam ontem no Estephanio´s também. E Betinha me fez confissões acachapantes. Flavinho come, hoje, no café da manhã, queijo quente. Mas rejeita, dando tiros pro alto, o bom, velho, saboroso e amarelo queijo prato. Exige queijo gruyére. Café, só italiano moído na hora na máquina de café expresso. Geléia, de todos os sabores, somente a St. Dalfourt. Um troço afetadíssimo.

E eu e a Dani já fomos convidados algumas vezes para uma cervejinha no apê do casal. Brahma? Skol? Original? Nunca. Somente a Erdinger Weissbräu. E naqueles copos de meio metro de altura, de puro cristal. Vejam então vocês. O cara viaja, sobe na vida, experimenta um upgrade olímpico, e fica a desdenhar de um tijucano que faz força pra fazer bonito diante de dois queridos amigos. É a anti-viagem. O sujeito faz que não foi, mas foi. Inapelavelmente foi.

E quero fechar transcrevendo, apenas para que eu lance diante de vocês a ponta do novelo que volto a desfiar amanhã, o email que recebi, ontem à tarde, da Dirce. Vejam:

“—– Original Message —–
From:
dirceribeiro
To:
edugoldenberg
Sent: Wednesday, June 08, 2005 4:57 PM
Subject: dedeco
Edu, obrigada pelo email e pelo telefone do Dedeco. O celular esteve fora de área por toda a manhã, mas ele respondeu meu email. Que coisa doce é o Dedeco, Edu! Que injusto chamá-lo de embusteiro! Ele me mandou umas fotos dele, e o achei foférrimo, charmosinho… ai, tudo de bom! Carinha de safado… Marcamos um chope pro final de semana. Te dou notícias. Beijocas, Dirce.”

O Dedeco, meu Deus, onde o Dedeco vai parar?

Até.

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