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PANDEMIA NA PANDEMIA

Vim ao balcão virtual do buteco apenas duas vezes nesse tenebroso 2020: uma para saudar Aldir Blanc – A morte e as mortes com Blanc, aqui – e outra para lhes contar do São João aqui em casa, São João na pandemia, aqui. Nada fácil, esse 2020 da Era de Átila. Disse Era de Átila e explico. Desde sua primeira aparição, eu disse de mim para mim, sem medo do erro: lá vai um vaidoso, sobretudo um vaidoso, abrindo sua caixa de conhecimento para espalhar o pânico e o terror, para ganhar notoriedade. E eu não estava errado. O sujeito, que no Twitter usa o artigo definido “o” antes do próprio nome (é ou não aguda vaidade?), já foi convidado para dar palestras no TSE, para assinar coluna em jornal, dá entrevista a torto e a direito sobre todos os assuntos, enfim, atingiu seu objetivo (eu sabia disso, quero dizer, desde o primeiro momento). E ele está de parabéns por isso. Admiro, no fundo admiro, aqueles que traçam objetivos e os alcançam, ainda que por questionáveis razões.

Vamos, pois, ao terceiro texto do ano (planejei, logo depois do Carnaval, retomar o blog, deixado de lado por inúmeros motivos que não vêm ao caso – e espero que agora eu consiga manter alguma regularidade já que eu senti falta desse movimento, o blog remonta a 2004, são mais de 16 anos, e isso não é coisa pouca). Quero lhes falar, como o título indica (oh!), sobre a pandemia em meio à pandemia.

Estou em regime de isolamento desde a segunda quinzena de março, lá se vão quase 6 meses, acompanhando a vida, o mundo, as ruas, a cidade, o desmonte da vida, do mundo, das ruas e da cidade como eu a conheci. Há muita gente morrendo, nenhuma perda foi tão dura pra mim quanto a de Aldir Blanc (meu pai, meu irmão, meu filho, meu amigo, meu confidente, meu orixá), há muitos bares morrendo, e nenhuma perda foi tão dura pra mim quanto a de Andrajópolis, o apelido que demos ao Café e Bar Almara, pé-sujo na Praça da Bandeira, nas imediações da rua do Matoso, visitado por mim e por meu fiel escudeiro, Leo Boechat, num dos episódios da série Butecos do Edu (aqui, o episódio na Praça da Bandeira).

O Brasil está derretendo diante do mundo. Há milhões de desempregados, e eu sequer vou seguir nessa toada sob pena de deprimir um cadico mais (ia fazer extensa exposição sobre a situação atual, desisti).

Quero terminar falando de outra perda incomensurável (pandemia em meio à pandemia). Não há razão que explique o quanto me bateu mal a notícia do fechamento da Bitaca da Leste, em Belo Horizonte. Quando li a notícia, no Instagram do Luiz Paulo, dono do buteco, senti – mesmo – um baque.

Lá estive em apenas duas ocasiões, ambas muito especiais. Escolhi passar meus 50 anos em Minas Gerais, aportando em Caxambu uns dias antes e chegando a BH na véspera do dia 27 de abril (fui a Caxambu exclusivamente para beber, depois de muitos anos, no Bar do Paulão, um dos melhores botequins de todo o Brasil). No dia do meu cinqüentenário, em Belo Horizonte, lancei De hoje não passa, livro que escrevi a quatro mãos com Julio Bernardo (se você ainda não o leu, compre-o aqui, no site da editora Mórula). E na noite do dia 26, véspera do lançamento do livro, foi na Bitaca da Leste que, ao lado da mulher amada e dois amigos muito queridos, atravessei a linha da meia-noite, fazendo naquela esquina o primeiro brinde da idade nova.

Meses depois, voltei a Belo Horizonte a convite do Humberto Hermeto, responsável pela capa do livro, ele que tornou-se um grande amigo depois que nos reconhecemos na Folha Seca, a livraria do meu coração e responsável por tantos encontros bacanas ao longo dos meus já mais de 51 anos vividos. Fui até BH pra filmar alguns episódios pra série Botecos do Edu e, claro, filmamos na Bitaca.

Quer bar, senhoras e senhores. Que ambiente, que comida, que cuidado com as bebidas, que esquina, e que papo, e que boa-praça é o Luiz. Não vai ter terceira vez e minha memória estará mantida por conta dessas minhas duas idas à rua Salinas, no Santa Tereza (notem como sou local, aqui no Rio falamos em Santa Tereza, em BH, não). Devo a indicação da Bitaca justamente ao Julinho (o Julio Bernardo, explico para os neófitos), responsável, aliás, pelas indicações mais certeiras que já recebi na matéria comida/bebida. Sem a afetação dos ~influencers~ e ~instagramers~ (um “m” ou dois?) que orbitam em volta da temática, o Julinho é cirúrgico.

Vai avançando, assim, o tempo na pandemia. Levando gente embora pra sempre, levando bares, enterrando histórias, soterrando memórias, empobrecendo ainda mais o mundo. Ergo, de pé diante do balcão imaginário, o copo cheio de espessa espuma em homenagem ao Luiz que, tenho certeza, não faz idéia do quanto me fez feliz nas horas que lá passei. E na seqüência, um brinde pro Paulo (dono de Andrajópolis), vítima da COVID-19 que também derrubou meu irmão e meu herói imortal, Aldir Blanc.

Só bebendo pra agüentar o tranco.

Até.

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CHAMA, MANOLO! SALVE, O BAR MADRID!

Havia, na rua Almirante Gavião, a exatos 100 metros da minha casa, um bar, um portentoso bar chamado Rio-Brasília, então tocado pelo Joaquim e pela Terezinha. Ali, manhãs de domingo ensolaradas, porres homéricos, afogamento de tristezas e mágoas, celebração de encontros e de encantamentos, uma carne assada com coradas de ganhar fama em todos os cantos da cidade, uma cerveja (de milho!) gelada de dar gosto, amigos, desafetos, assentamento de respeito e palco de manhãs, tardes e noites de não-se-esquecer.

Em meados de 2008 – lá se vão sete anos – o Rio-Brasília fechou e reabriu logo depois, tocado por quem não entendia do riscado (e posteriormente trocou de mãos mais uma vez, dessa vez para mãos ainda mais inábeis).

Vivi, faço a confissão pública agora, sete anos de luto.

Desapareceram os azulejos negros e azuis (conheça-os aqui, em texto de 2006) que revestiam as paredes, desapareceram as mesas de mármore, desapareceu o piso hidráulico no qual tantas vezes pisei e pisamos todos, amigos meus.

Nunca mais aconteceram as noites mágicas que tantas vezes vivemos ali. Vejam aqui, aqui, aqui e aqui vídeos de minha gente (Fernando Szegeri, Luiz Antonio Simas) cantando com a Beth Carvalho em alta madrugada de uma terça-feira depois de uma noite de segunda absolutamente inesquecível – aqui, o relato da noite. Vejam aqui, vídeo lindo!, aula do meu irmão e meu compadre, Luiz Antonio Simas, em 20 de maio de 2007, cantando o hino da África também em alta madrugada (notem as cadeiras empilhadas no fundo), para assombro da assistência.

E nunca mais houve mágica naquele canto escondido da Tijuca porque mãos erradas assumiram a condução do negócio.

Pisei pela última vez no Rio-Brasília no dia 19 de setembro de 2008, quando ele já estava fechado – no dia da inauguração do novo bar do Joaquim e da Terezinha, na mesma calçada. Aqui, as últimas imagens do bar, neste dia em que eu e o Felipinho Cereal fomos lá chorar nossas pitangas.

Eis que a grande nova é que o Felipinho, juntamente com seu primo, o André, comprou o que sobrou do Rio-Brasília.

Sábio que eles são – filhos de espanhóis que tocaram, durante muitos anos, o legendário El Faro, em Copacabana – os dois estão tratando de fazer pequena obra no Rio-Brasília com o intuito de reabrir o bar já neste próximo sábado (leiam aqui sobre o El Faro, texto do próprio Felipinho, de setembro de 2009). Felipinho começou a trabalhar, com 13 anos, justamente no El Faro, ao lado do tio (Celestino, pai do André – leiam aqui sobre o Espanhol) e do pai, Manolo, que já foi oló.

No final do texto que indiquei acima, escreveu o Felipinho: “Fica aqui a minha saudade do bar que foi minha casa, e que plantou-me na memória incontáveis momentos bacanas.”.

Felipinho perdeu o pai garoto, aos 18 anos.

Pois vai, o pequeno grande homem, fazer renascer o velho Manolo – seu pai.

Pois vai, o pequeno grande homem, matar a saudade do bar que foi sua casa e fazer renascer os incontáveis momentos mágicos que ele tem plantados na memória.

Vai nascer o Bar Madrid.

BAR MADRID

Eu, comovido feito o diabo, estou contando as horas pra ver o bar aberto.

O Simas, um sacerdote que eu respeito demais (e que cuida de mim), já tratou de arriar um ebó pra proteger a casa. Com a presença invisível e mágica do Manolo, com a assistência certa e permanente do Espanhol (que se despencará de Jaconé pra Tijuca incontáveis vezes, posso apostar!), com a sabedoria dos dois primos, não tem como dar errado.

Ali, carta só pro carteado – não esperem carta de cerveja, essa babaquice que macula os bares da minha cidade. Ali, será servido pela primeira vez o glorioso drink DBS, a bebida oficial da família Seixas. Ali, naquele canto sagrado e profano da Tijuca, minha aldeia, mortos e vivos erguerão os copos em louvação à magia e ao encantamento que sobrevivem graças à tenacidade e à verdade que gente feito eles dois não deixam morrer.

Saravá!

Até.

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A SÉRIE BOTECOS DO EDU

Em 27 de junho de 2014 recebi e-mail do seguinte teor:

“Prezado Edu,

Te escrevo muito descompromissadamente; avalizado, talvez, pela falsa sensação de intimidade que os anos de leitura anônima me outorgaram.

Sou sócio da produtora Motim, sediada também no Rio de Janeiro, e queremos realizar uma série sobre o habitat lírico dos botequins.

Sempre admirei tua habilidade de cronista dos miúdos do mundo e julgo – aqui sem qualquer aval – que você pode ancorar diante das câmeras essa empreitada. O que você pensa? Quer trocar uma idéia? Crê que seja possível? Diz aí e te aguardo.

Em tempo: não planejamos a Globo e suas afluentes.

Abração.”

Era o Diogo, um dos sócios da produtora Motim – os outros dois são Bruno Laet e Pedro Nicoll.

De lá pra cá, muitas mensagens trocadas, alguns encontros e a idéia dos malucos foi ganhando corpo.

Já temos uns 10 episódios filmados e, pensando grande, os meninos da Motim organizaram um crowdfunding, que no meu tempo chamava “vaquinha” mesmo.

A idéia é que possamos e consigamos correr o Rio de Janeiro e, devagar e aos poucos, o Brasil. Sempre em busca dos melhores botequins, que é, como disse Aldir Blanc na apresentação do projeto, “templo, é cultura, meio igreja, meio biblioteca, meio bordel.”.

Pra isso, sem mais delongas, quero lhes apresentar o canal Botecos do Edu, no YouTube, aqui.

E, tão importante quanto, o site da campanha Botecos do Edu, através do qual a Motim tenta captar o dinheiro necessário pra seguir dando corpo a esse sonho que decidi sonhar junto com eles, aqui.

Espero que vocês gostem, embarquem na idéia e a façam correr o seu círculo de amigos.

Até.

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COMIDA DI BUTECO 2015 – VAI COMEÇAR ESSE LIXO

Há mais de 15 anos escrevi uma carta aberta aos organizadores desse festival (esse câncer que conspurca, ano após ano, centenas de botequins pelo Brasil afora) chamado Comida di Buteco, falso desde o nome (esse di diz tudo). A carta está aqui.

Nunca deixei de combater o bom combate a fim de demonstrar, com todas as letras, o quão nocivo, pernicioso e maléfico o tal festival é.

Em 2015 o festival começará depois de amanhã, sexta-feira, 10 de abril. E virá, nesse ano, com o que os organizadores estão chamando de “versão frutas”, o que significa dizer que obrigaram todos os incautos participantes a utilizarem alguma fruta nos petiscos (também tenho nojo desse nome, prefiro tira-gosto) que concorrerão ao prêmio. Vê-se, também por aí, que os caras não entendem picas de botequim. Porque tirando o limão (o da casa, o do mictório e o que rega o pernil) não conheço tira-gosto nenhum que se valha de uma fruta, seja ela qual for.

E mais: os organizadores, querendo criar um climinha de suspense (é bem o focinho deles, essa babaquice), proibiram os bares de divulgarem sua participação antes da sexta-feira. Eu, que não meço esforços para exibir a desfaçatez desses palhaços travestidos de conhecedores e admiradores de botequim (eis que são inimigos ferrenhos da coisa), publico, aqui (já o fiz no Facebook) a lista dos bares participantes com seus respectivos (pausa para o vômito) petiscos. Leiam com calma, meus comentários em negrito após cada um dos concorrentes.

Angu do Gomes: Tilápia empanada no coco e molho de açaí; “molho de açaí”, e eu fico daqui matutando, sabendo o quanto conspurcam o açaí no Rio de Janeiro (qualquer manuara, qualquer paraense, chora diante do açaí que é servido por aqui) que diabo será isso…;

Antigamente: Miniburguer de camarão sobre focaccia com geleia de manga; a simples leitura da coisa – “miniburger de camarão sobre focaccia com geléia de manga” já me dá engulhos. Pense em hambúrguer e você pensará em carne bovina (o dito hambúrguer de frango já é, além de uma mentira, uma merda). Agora pense num hambúrguer de camarão. Não dá!;

Art Chopp: Banana verde frita com rocambole de carne moída; mais um que me enoja só de ler. Banana verde me remete (pra usar um termo que os foodies adoram) à comida funcional (outra expressão que essa gente ama). Tudo a ver com botequim, não? Não;

Baixo Araguaia: Porção de banana envolta em bacon, linguiça toscana e filé mignon assado na brasa, com polenta frita em cama de rúcula com tomate; “porção de banana envolta em bacon” já é de fazer o cu cair da bunda. Agora, isso aí “em cama de rúcula” chega a um nível de ridículo que me faltam as palavras para seguir comentando esse troço;

Baixo Gago: Jabá com jerimum com molho branco e banana empanada com orégano e moscada; pobre carne-seca com abóbora que vai ganhar um “molho branco”. Me chama a atenção a “moscada” em vez da noz-moscada. Será que os foodies acham chique essa intimiadade com a especiaria? Ou será mesmo uma porrada de mosca pousada sobre o jabá?;

Bar da Frente: Bolinho de milho recheado com camarão e queijo, e molho de taperebá; a participação do Bar da Frente, que não precisa participar disso na minha humílima opinião, me dói. Há até bem pouco tempo, há muitas testemunhas, falava-se muito mal do festival do lado de dentro do balcão de lá. Mas enfim…;

Bar da Gema: Dois mini cachorros-quentes, um de linguiça artesanal, outro de língua desfiada com tomate cereja confitado. Vem com crispy de batata doce, catchup de maçã e maionese de laranja; gosto muito da Luiza e do Leandro… mas “mini cachorro-quente”, pra mim, no máximo em festa de criança. “Tomate cereja confitado” “crispy de batata doce” com “catchupe de maçã e maionese de laranja” pode ser servido em qualquer lugar: menos num botequim;

Bar da Portuguesa: Salada de bacalhau com grão de bico, palmito e maçã; outro que não compreendo o que faz num festival desses. Entretanto, convenhamos, é de todos o menos esquisito;

Bar da Foca: Três rolinhos de tapioca de carne e três de frango acompanhada de três molhos: manga apimentada, abacaxi apimentado e gorgonzola; a mania insuportável do diminutivo (os foodies adoram). Os molhos de manga apimentada, abacaxi pimentado e gorgonzola me dão a certeza de muita flatulência saindo do cu da foca;

Bar do Bahiano: Iscas de tilápia com dois molhos: manga, laranja e maracujá; maionese, limão e coentro; iscas… outra mania insuportável dessa gente… e maionese. Insuportável;

Bar do Camarão: Kibe suíno com queijo e bacon, acompanhado de geléia de laranja; se é suíno não é kibe, porra;

Bar do David: Costela de porco com abacaxi, pimenta e hortelã; um dos menos piores;

Bar do Mariano: Duas trouxinhas de carne seca com lascas de queijo e banana, finalizadas com açaí, mel e granola; “trouxinhas” (ah, os diminutivos…) e eu ia parar por aqui quando vi “finalizadas com açaí, mel e granola”. Um jurado que entender minimamente do riscado dará zero pra uma merda dessas;

Bar do Momo: Sanduíche de pernil com maionese defumada e picles de carambola. Acompanha geleia de pimenta e batida de maracujá; o Bar do Momo, que deixa de ser bar um pouco mais a cada dia, vai servir “maionese defumada”“picles de carambola” “geléia de pimenta”. O maior pecado é chamar isso de “O bêbado e a equilibrista”. Um desrespeito com uma obra-prima;

Bar do Omar: Carne de sol de contrafilé com aipim regado na manteiga de garrafa e farofa de banana e cebolinha; esse é outro… morro de saudade do Bar do Omar quando ele era apenas o Bar do Omar. Já tentou até servir comida japonesa depois de sua primeira participação, uma das seqüelas inevitáveis desse festival…;

Bar dos Amigos: Carne de porco acebolada, desfiada, com cubos de abacaxi; “cubos” é uma outra tara dessa raça dos foodies;

Bar du Bom: Dupla de croquete de jiló com rabada acompanhada de dois molhos: chutney de goiabada e chutney de manga; “chutney” no botequim… simplesmente inconcebível;

Bar Original do Brás: Cubos de salmão à milanesa com pedacinhos de manga; “cubos”“pedacinhos”. Em Brás de Pina, que sacrilégio…;

Bar Palhinha: Croquete de baroa recheado com brie ao molho de frutas frescas e geleia de pimenta; quando li “brie”“frutas frescas” parei;

Bar Urca: O premiado camarão na moranga do bar, agora em forma de petisco; o Bar Urca, que cobra R$ 11,00 por uma cerveja, não é botequim há milênios. É, no máximo, uma mureta;

Bar Varnhagen: Pastel de carne assada com banana; outro horror… pobres passarinhos, que estacionam naquela esquina, que terão de aturar as insuportáveis caravanas que percorrem os bares todos;

Bartman: Contrafilé gratinado com gorgonzola, recheado com abacaxi e queijo parmesão; inimaginável e certamente intragável;

Bicho Carpinteiro: Porção de medalhão de frango com recheio de brie, envolto em bacon temperado na cerveja. Acompanha molho de laranja; “recheio de brie envolto”. E mais não se precisa dizer;

Bode Cheiroso: Camarões empanados em crosta de castanha do caju, acompanhados dos molhos cítrico e de maracujá; por amor ao Lelê, não comento. Mas lamento sua participação profundamente – e já tive oportunidade de lhe dizer isso pessoalmente;

Boteco Carioquinha: Rabo de boi desfiado, marinado na cerveja puro malte, escondido em creme de batata e polenta, polvilhado com coco; rabo “escondido em creme”“marinado na cerveja puro malte” é outra bizarrice que não merece mais do que uma gargalhada de escárnio;

Boteco da Enny: Ragu de ossobuco com polenta em chutney de goiaba; “em chutney”? Os foodies, eles são insuperáveis;

Botequim Rio Antigo: Espetinhos de filé mignon com banana, empanados com parmesão e acompanhados de molho especial de pimenta; filé, banana, parmesão. Não dá;

Botero: Guisado de porco com especiarias servido com pãozinho caseiro e três copinhos: chutney de jiló e limão confit, farofinha crocante de coco, vinagrete de maracujá e pimenta; “pãozinho caseiro”, “três copinhos”“chutney”“confit” com “farofinha crocante”, parei – e vomitei – por aqui;

Cachambeer: Cupim no bafo marinado na cerveja, gengibre, laranja e alho, servidos com lascas de pêssego. Acompanha farofa de cuscuz de milho incrementada com bacon, alho torrado, coentro, tomate, cebola roxa, manteiga de garrafa e molho especial; por amor ao Marcelão, também não comento.

Café e Bar Super Guanabara: Pastéis de carne seca com damasco; damasco no botequim. Haja!;

Caldo Beleza: Carne de sol puxada na manteiga de garrafa servida no abacaxi; “puxada”, mais um verbete da turma da gourmetização, haja!;

Constança Bar: Alcatra desfiada, creme de manga e cebola caramelizada; carne, manga e cebola. Haja!;

Enchendo Linguiça: Bochechas suínas marinadas com um toque alaranjado, assadas na estufa de linguiça e servida com migas; “com um toque alaranjado” e parei por aqui;

Galeto Sat’s: pastéis abertos cobertos com frango chili reduzido ao molho de cachaça e pêssegos em calda; pastel aberto não dá, definitivamente não dá. Nem os fiéis freqüentadores daquele balcão, em Copacabana, conseguem defender a iniciativa. Haja!;

Gracioso: Coxinha de galinha; aguardando, ansioso, pra saber qual a fruta que vai dentro da coxinha;

Mani & Oca: Dois escondidinhos: um de graviola, carne seca e queijo coalho; outro de porquinho, mandioca e coco polvilhado com amendoim; “porquinho” – por que tudo no diminutivo, caralho?! – e parei por aqui;

Mestre Sala: Discos de massa leve recheados com linguiça de cordeiro, queijo serra da canastra e caqui maçã; “discos”? Quando eu digo que eles são insuperáveis…

Opus: Cinco bolinhos de pernil acompanhados de pasta de abacate; “pasta de abacate” não dá. Mais um portentoso bar que se deixa conspurcar;

Ora pro Nobis: Frango empanado com granola especial e chutney de abacaxi; granola – tolerável, no máximo, no café-da-manhã – de novo. Haja!;

Os Imortais: Dois bolinhos de arroz recheados com camembert e tangerina, e dois bolinhos de feijão com frango ao curry e abacaxy. Acompanha catchup de goiabada; impossível não vomitar com isso. O catchup de goiabada é a cereja no bolo fecal travestido de tira-gosto;

Pavão Azul: Angu com carne de porco desfiada, geleia de damasco e requeijão cremoso gratinado; outro forte candidato a causar violentas golfadas no idiota que pedir esse troço;

Pontapé Beach: Porção de ovos abertos recheados de dois sabores (bacalhau e camarão), servidos com molho especial de frutas e pimentas; ovo com sabor de bacalhau e camarão. Parei por aqui;

Sabor da Morena: Croquete de filé de costela com farinha de banana e molho de tamarindo; nojento;

Santo Remédio: Pranchinha de jiló no parmesão para uma moela surfista e envolvida em chutney de manga; “pranchinha” e “moela surfista” já fazem dessa merda a campeã no quesito babaquice. Inconcebível;

Sobral da Serra: Rostie de palmito pupunha com lascas de bacalhau, sobre fatia de presunto parma. Acompanha molho agridoce de abacaxi. “com lascas” e parei por aqui.

Manterei distância disso tudo com a satisfação do dever cumprido. Até.

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DONA OLÍVIA, GLÓRIA TIJUCANA

A vida é mesmo cheia de surpresas e, durante essa semana, uma delas caiu-me no colo e foi – confesso! – motivo de muita alegria. Vou lhes contar, é o motivo que me traz aqui ao blog pela primeira vez em 2015.

No dia 24 de janeiro, um sábado, voltando da praia (tenho chegado na praia antes das 06h da manhã), decidi subir e descer a Estrada das Canoas e o Alto da Boa Vista para testemunhar, a cada quilômetro rodado, que o Rio humilha. Meu destino? A Praça Xavier de Brito, na Tijuca, uma das mais agradáveis da cidade que completa, em 2015, 450 anos. Mais precisamente o Bar do Pavão, numa das mais aprazíveis esquinas da cidade. E sempre que vou ao Bar do Pavão toco na casa amarela onde mora a dona Olívia (foto abaixo), amiga de minha avó paterna desde que meu pai era “um molecote”, é como ela se refere ao velho Isaac.

Dona Olívia é portuguesa mas veio para o Brasil ainda pequenina. Aqui casou-se com o seu Antônio, um tremendo boa-praça, botafoguense daqueles roxos, e infelizmente vítima do Mal de Parkinson. Moram, os dois, numa simpática casa ao lado do Bar do Pavão (parede com parede), e a dona Olívia, companheira exemplar que é, dedica-se a cuidar do companheiro de uma vida inteira com denodo, fé e certa dose de sofrimento – façam uma idéia.

Sofrimento que não se sobrepõe à alegria que é a dona Olívia.

E quero lhes contar uma história, apenas uma (são muitas, mas por ora quero lhes deixar com essa), que mostra bem quem é essa portuguesa, carioca maiúscula, tijucaníssima, heroína dos nossos 450 anos!

Dona Olívia em foto

Certa feita, há muitos anos (o Bar do Pavão está ali, naquela esquina, há muitos anos, muitos!), a vizinhança (não se esqueçam nunca de que o maior problema da Tijuca, o único, eu diria, é o tijucano) deu de implicar com o Bar do Pavão por conta dos mais patéticos, quadrados, reacionários e conservadores motivos. Armou-se abaixo-assinado, até, para denunciar o Bar do Pavão aos órgãos fiscalizadores da Prefeitura do Rio. Abriu-se processo administrativo, teve visita de fiscal, aplicação de multas, sanções, o processo correu até que um dia a dona Olívia recebeu a visita de um de seus vizinhos, um general-de-pijama cheio de pompa.

– É o seguinte, dona Olívia. O processo para cassar o alvará do Pavão está correndo mas bateram o martelo lá na inspetoria. Para que nossa denúncia ganhe força definitiva e caráter implacável contra esse bar é necessário que tenhamos a sua assinatura. Parece que a legislação exige que a senhora, vizinha de parede do Pavão, concorde com nosso pleito! – e quase bateu continência.

Dona Olívia sequer respirou:

– Pois não assino. E mais, e mais! Vou autorizar o uso da calçada em frente à minha casa para mesas, cadeiras e ombrelones! Passe bem! – e bateu o portão no nariz do pernóstico vizinho.

E a dona Olívia, meus poucos mas fiéis leitores, não satisfeita com a atitude, ainda permite (até hoje, e eu sou testemunha!) que, quando cheio o bar, seus clientes usem o banheiro de sua casa – para desespero da vizinhança mesquinha.

Dona Olívia é, por isso, uma heroína, uma tijucana máxima, uma figura absolutamente imprescindível para manter viva a chama da carioquice!

E vamos à surpresa.

Recebi, dia desses, e-mail de um sujeito chamado Humberto Hermeto Pedercini Marinho. Apresentou-se assim, o Humberto: “Cara, eu sou arquiteto, mas também gosto muito de desenho, pintura. Resolvi – instigado por um amigo – investir mais na arte. A sugestão de postar um desenho por dia (vou completar uns 6 caderninhos de aquarela até o final do ano) foi dele, e estou cumprindo… O legal é que, além de divulgar meu trabalho, me ajuda a desenvolver as técnicas uma vez que sou completamente autodidata nessa área… Além disso, parece que vai formatando umas idéias na cabeça… Suas fotos e seus textos (comendo o rabo da Globo principalmente) acabam inspirando alguns desenhos. Se vc olhar esse aqui verá que tem tudo a ver com o q vc escreve. Abração e use o desenho à vontade!”.

Eis aí o desenho – sensacional! – que o Humberto publicou no Instagram e me enviou por e-mail, em alta resolução, para que eu possa presentear a dona Olívia (o que farei já na semana que vem).

Dona Olívia

Viva a carioquice! Viva a dona Olívia e viva o Humberto!

Até.

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O RIO NA CHOPERIA TITO

Desde março de 2014, logo depois do Carnaval, começamos a contar os dias para o 26 de julho. Havíamos comprado as passagens para Curitiba com um único objetivo: passar o sábado inteiro na Choperia Tito, em Ponta Grossa, da qual já lhes falei, entusiasticamente, aqui.

Foi esse mesmo entusiasmo que moveu mais três malucos, que resolveram nos acompanhar, a mim e à Morena, na empreitada etílica: Fábio, Felipinho e Leo (em ordem alfabética para não ferir suscetibilidades). E ainda mais outros três, que saíram de Curitiba pra nos encontrar lá: Gus, Kelly e Iza. Éramos oito, portanto, os afortunados.

o time no tito

Por tudo, foi inesquecível.

Os irmãos Anderson e Hudson, netos do seu Tufy Curi (o nome de batismo do seu Tito), que tocam com maestria o bar, que existe desde 1933, foram – ao lado do avô, que pintou na área! – perfeitos anfitriões.

Fundado por um alemão, a choperia nunca mais fechou as portas (nem no dia 26 de julho de 2014!, dia de Sant´Ana, feriado em Ponta Grossa, que os irmãos cumpriram a palavra e ergueram as portas de ferro às nove da manhã em ponto). A administração da choperia foi sendo passada de pai para filho, e o bar permanece hoje com as mesmíssimas características do primeiro ano de funcionamento. Estar na Choperia Tito, conta Guilherme Capello, “é como voltar no tempo, mobílias rústicas, doceira antiga e a máquina de chopp que ainda é a mesma do ano de fundação.”.

Segue: “Para os frequentadores do bar, é o tempo da máquina que torna o chopp tão especial e atraente. Diariamente senhores vão ao bar para jogar conversa fora e tomar o tradicional chopp, considerado pelo livro “Os bares do Paraná” como o melhor da região. A tradição do bar traz consigo o ambiente que oferece chopp de qualidade, o típico rollmops, e outros petiscos. Muito pertence ao bar, a ampla importância no cenário histórico e social dos Campos Gerais, o convívio dos moradores e visitantes da cidade que neste ambiente formavam amizades, encontros, discussões… e que ainda pode ser notada na fiel continuidade da tradição nascida em 1933.”.

Por isso, e por tudo, eu repito e reitero o que já lhes disse: a Choperia Tito serve o melhor chope que já bebi em 45 anos de vida (e olha que eu já bebi chope…). Se você for um aficcionado, não deixe de ir.

Eu, daqui do meu canto, do lado de dentro do balcão imaginário do buteco, só quero lhes dizer que em breve – muito em breve! – partirá daqui, da Guanabara, nova expedição em busca do solo sagrado e do chope perfeitamente bem tirado da Choperia Tito.

Porque, como bem disse o Fábio Seixas, dando início à maluquice que se concretizou no sábado passado, “a vida só tem graça quando fazemos coisas que não faríamos se não movidos pela paixão desenfreada, pelos arroubos, pelas maluquices…”.

Até.

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UM NEÓFITO NA CONFRARIA DO BODE CHEIROSO

Era dia de jogo do Flamengo no Maracanã e o Bode Cheiroso, como sempre em dia de jogo, fervilhava de gente que se espalhava pela calçada em frente. Entrei, avistei os amigos já sentados à mesa, cumprimentei a Martha, o Paulinho, eu me sinto completamente à vontade no bar que freqüento desde priscas eras (como contei aqui) mesmo sabendo que aquilo ali é reduto de vascaínos (como lhes contei aqui).

Encontrei, também, o Miguel.

O Miguel, com quem não havia marcado nada – o encontro deu-se absolutamente por acaso – tinha um dos cotovelos (o direito) no balcão, um copo americano na mão esquerda e olhos de terror quando eu o encontrei:

– O que houve?! – eu disse diante da expressão pânica do Miguel.

– Isso é uma merda! – e me estendeu o copo que rejeitei.

E deu de explicar. Chegara ao bar determinado a experimentar o chá-de-macaco, uma beberagem tradicional do Bode Cheiroso, criação do magnífico Bigode, hoje aproveitando as benesses da aposentadoria. Só que chegando ao estabelecimento esquecera o nome da bebida. E foi ao balcão diante dos amigos a quem prometera uma “bebida dos deuses”. Foi visivelmente inseguro que pediu:

– Um Domeq com limão, por favor! – e fingia naturalidade, sorria em direção aos amigos.

– Não entendi! – disse a balconista.

Miguel falou baixinho, as mãos em concha:

– Domeq com limão.

– Quer uma dose de Domeq com limão espremido ou batida de limão com Domeq? Não entendi!

Miguel, em desespero, disse ainda mais baixo:

– Com limão, só com limão…

E tomou o rumo da mesa dos amigos. No caminho, deu o primeiro gole e quase vomitou. Foi quando eu cheguei.

Ouvindo a narrativa do agoniado Miguel, explodi:

– Você quer é o chá-de-macaco, pô!

Ele não economizou na gratidão: abraçou-me, deu tapinhas em meu rosto, repetia “isso, isso, isso” visivelmente emocionado até que o Paulinho, que ouvira meu pedido, trouxe a ele o gigantesco copo com a bebida servida com gelo.

Miguel deu o primeiro gole.

Uma lágrima escorreu de seu olho direito. Ele gemeu:

– Perfeito, perfeito! Quanto custa?

Quando o Paulinho disse o preço, ganiu:

– Isso custaria cento e vinte reais no Astor! Me veja mais quatro, mais quatro!

E foi, todo pimpão, com pose de íntimo, de membro da Confraria do Bode Cheiroso, até a mesa de seus amigos dizendo pro bar inteiro ouvir:

– Bebam, bebam! Esse é o chá-de-macaco de que lhes falei! Adoro! Adoro!

Não fomos juntos ao jogo.

Mas consta que Miguel bebeu pelos amigos (que não gostaram tanto assim da coisa) e foi visto, tarde da noite, no Bip Bip, falando arrastado pra um desconhecido:

– Você tem que ir ao Bode beber o chá-de-macaco. Tem que ir! Tem!

Até.

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APOSENTOU-SE, O BIGODE – PEQUENAS DIGRESSÕES

Dia desses, minha Morena é testemunha, fui ao Salão América fazer a barba e saí de lá com a cara lavada de tanto que eu chorava. Explico: eu freqüento a Barbearia Salão América desde o dia 21 de março de 1970, quando eu tinha pouco mais de 10 meses de idade, (e se você duvidar de mim, basta ver as provas inequívocas aqui), portanto há mais de 43 anos, e naquela manhã, depois de ter dado por falta do seu Ernesto no comando da cadeira do fundo, perguntei por ele ao Raul, que me respondeu com a voz embargada:

– Tá em Portugal. Aposentou. Nem sei quando volta…

Essa resposta, o tom da voz do velho Raul (que foi quem cortou meu cabelo em 1970), essa permanente dificuldade para lidar com a perda, a certeza de não mais ver e ouvir a gargalhada daquele português naquele salão que faz parte dos meus cenários há mais de quatro décadas, me fez sair de lá chorando como criança de 10 meses sem colo de mãe.

Hoje soube pelo Gabriel Cavalcante, tijucano de escol, que outra grande figura do bairro, uma lenda-viva para os freqüentadores do Bode Cheiroso, glorioso botequim na rua General Canabarro, também acaba de se aposentar: o Bigode, que aparece na foto abaixo, de autoria do próprio Gabriel.

Bigode do Bode Cheiroso

Sobre o Bigode, escreveu meu irmão e meu compadre Luiz Antonio Simas:

“(…) A começar pelo Bigode, que controla o balcão feito Domingos da Guia dominava a grande área e abre cerveja atrás de cerveja como Garrincha enfileirava os marcadores. É craque.

Eu só acredito em garçons que pareçam egressos do cangaço. São cada vez mais raros diante da profusão dos garotões de aventalzinho, das moças moderninhas e dos descolados que pululam feito mato nos bares de grife. A  destreza com que Bigode abre uma ampola cu de foca – como se fizesse isso desde que o primeiro hominídeo caminhou ereto na Serra da Capivara – é a mesma com que Lampião manuseava o fuzil parabelo.”

E era assim mesmo.

O Bigode, assim como o seu Ernesto, habita o meu imaginário (e 0 meu dia-a-dia!) desde há muito.

Eu era um moleque e a rotina das manhãs era a mesma: papai ia nos deixar muito cedo no colégio, a caminho do trabalho. Parava todo santo dia, de 2ª a 6ª, no número 218 da General Canabarro, Bar Macaense pra turista, Bode Cheiroso pros íntimos. E todos os dias pedia seus 4 maços de Shelton Light e sua garrafa de água com gás, Caxambu, quando as garrafas d´água eram de vidro.

E lá estava ele, todos os dias – o Bigode.

Mudamo-nos dali, a rotina matinal deixou de ser cumprida mas eu jamais deixei de ir ao Bode Cheiroso.

Aqui, em março de 2007, o relato de um dia que terminou na calçada em frente ao bar. Aqui, em maio de 2009, um encontro antes e depois de um jogo no Maracanã. Aqui, em texto do mesmo 2009, uma das clássicas fotografias, de minha autoria, tirada no Bode Cheiroso, de Luiz Antonio Simas. Aqui, em junho de 2011, na concentração para a final da Copa do Brasil, Coritiba e Vasco.

Não são muitos os registros – escritos ou fotográficos – que tenho do bar e do Bigode.

Mas são incontáveis as referências dentro de mim.

Com o seu Ernesto e com o Bigode aposentados – merecido descanso depois de anos de bons serviços prestados – a Tijuca fica um pouco mais sem graça.

Até.

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UM PEDAÇO DO CÉU EM MARECHAL

Eu não saberia dizer, com precisão, quando foi a última vez em que estive lá.

Sei que voltei, na sexta-feira passada, depois da genial idéia e sugestão de meu mano Fernando Szegeri, que passou o feriado de Corpus Christi no Rio de Janeiro. Seguimos eu, a Morena, Szegeri, Ana e Felipinho em direção à Marechal Hermes – e como está bonito, o glorioso bairro de Marechal! – e lá aportamos por volta das sete e meia da noite…

Fui ao balcão, abracei longamente o Celsão, dono do pedaço, cambaleei, tonto, arremessado ao passado de mãos dadas no presente com ela, a quem apresentei, orgulhoso, ao Comandante-em-Chefe da Adega Tudo do Mar, e fomos pra calçada beber uma cerveja e tomar uma fresca (e fazia um frio polar!!!!!).

Quase-morri, confesso, quando a garçonete veio à mesa e me estendeu uma folha de papel (foto abaixo) contendo um texto meu de novembro de 2001 intitulado, como este, Um pedaço do céu em Marechal. Estendi, com as mãos trêmulas, o papelucho já meio amarelado, em direção ao Szegeri que passou a lê-lo em voz alta.

SOC 112001

O que eu quero lhes, meus poucos mas fiéis leitores, é que o Szegeri foi lendo, foi lendo, sua voz falhava de vez em quando, e eu fui tendo frêmitos na alma, arremessos violentíssimos em direção ao começo do século, e olhava à volta, e via tudo ali, ainda presente, ainda constante, e pedimos sardinha (perfeitas!!!!!), e pedimos ova (que ovas, que ovas!), e fomos derrubando garrafas e mais garrafas de cerveja, e demos de ouvir histórias dos freqüentadores (volto ao tema), e bebi da bagaceira portuguesa que o generoso Celsão me ofereceu, e voltamos de lá, já na madrugada do sábado, com uma certeza aterrada: é no subúrbio, é na zona norte, que vive e resiste a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Com vocês, o texto de 2001, logo abaixo da próxima fotografia – feita pela Morena – que me flagrou de olhos marejados, copinho de bagaceira na mão, ao lado desse imprescindível sujeito que é o Celsão.

Edu e Celsão

“Conheci um bar que não existe. Um bar que fica numa rua triste, no subúrbio, onde há casas simples com cadeiras na calçada, e na fachada, escrito em cima que é um bar.

Há, neste bar que não existe, pelas inúmeras prateleiras, potes de vidro com cobras lindíssimas preservadas, um aquário, um carcará numa gaiola e um louro livre recebendo a freguesia, imagens de santos em madeira, escudos do Fluminense, galhos de arruda e um cágado sempre próximo aos banheiros, garrafas de todas as cores, e eu juro que ainda sóbrio vi a garrafa azul, a falante, do Visconde de Sabugosa, guardando a melhor aguardente do bar oferecida a uns poucos homens de sorte – além de mesas toscas, luz pouco forte, figas, fotografias.

Há, por trás do balcão do bar que não existe, um homem de sorriso largo e abraço farto recebendo quem chega, comandando o incessante vai-e-vém das garçonetes que dão perfeita conta do bando de loucos que chegam ao bar que não existe.

Há, no bar que não existe, a cerveja mais gelada que jamais bebi, a melhor casquinha de siri que jamais comi e pimentas, do reino, de cheiro, vários molhos, caldos, croquetes, caldeiradas.

E há, mais um dos trunfos do lugar, nas noites de sexta-feira, Waldecir regendo, Bolão no pandeiro e tantã, Nelson no violão, Jorge no cavaco, João no tamborim, seu Augusto e dona Deny cantando; ele, sambas e ela, serestas. Uma espécie de Buena Vista Marechal Club. Eles, que são velhos malandros maneiros e que provavelmente têm São Jorge Guerreiro como fiel protetor, tocam e cantam, das oito a meia-noite, rasgando suas próprias almas e enchendo o bar de uma única e encantadora alma que só existe no subúrbio de gente humilde, que vontade de chorar. Sem vaidade, senhores de seu tempo e de seu talento, arrumam os instrumentos e saem de fininho prometendo timidamente a quem pergunta, voltar na semana seguinte.

Rua General Savaget 67, Adega Tudo do Mar, em Marechal Hermes, fone 24504411. Não está nos guias de bares da cidade e não está nas páginas das revistas. Vá conferir, pergunte pelo Celsão, e me diga depois se aquilo existe.”

Endosso, de novo, palavra por palavra.

Até.

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A FINITUDE (OU O DANILO SUMIU)

Desci à rua na manhã de domingo para ir à farmácia e para dar uma volta com o Pepperoni, meu fiel vira-latas. Na esquina oposta à farmácia, também Haddock Lobo com Caruso, o bar do Marreco que não é mais do Marreco. Através de uma operação comercial sobre a qual não me inteirei, seu Brasil – vizinho de cima – comprou a parte que era do Marreco que, por sua vez, comprou uma parte na sociedade – tomem nota do nome! – do Baby´s Moon, pé-sujo na Conde de Bonfim, quase no Largo da Segunda-Feira. São, dizem os cabeça-branca, os efeitos das UPPs na economia do bairro. Desde que nasci aqui, em 1969, nunca vi tanta obra, tanta reforma, tanto prédio subindo. Devem estar certos, os mais-velhos.

Fato é que fui ao balcão do bar do Marreco (chamarei de bar do Marreco até o fim dos meus dias) por hábito – deixei de freqüentá-lo depois da troca de peças – e o seu Brasil:

– Tá sabendo? – e esticou o pescoço em direção à porta de entrada.

Um cartaz trazia a foto do Danilo, tremendo boa-praça que trabalhava lá (aqui e aqui, falo dele).

– Desapareceu… – disse-me o seu Brasil.

– Faz quinze dias! – emendou o CDM, vizinho do Felipinho que bate ponto ali, naquele balcão, diariamente, das oito da manhã às oito da noite.

Mirei o anúncio, o apelo, o reclame colado no poste que pedia informações do paradeiro do Danilo. Tive dó do sujeito, desaparecer assim…

Voltei pra casa com a palavra finitude batendo como estaca na cabeça.

Dei a ela o remédio que eu comprara, pus água e ração pro Pepperoni, deitei-me ao lado dela na esperança de apenas descansar um pouco dos exageros do sábado e acordei, horas depois, com febre, com febre, com febre.

Além da febre, uma forte dor na região do estômago que me derrubou o domingo inteiro, que me fez ir ao médico ontem à tarde, que me fez sair do médico imediatamente em direção ao encontro de minha mãe, que me tirou do torneio de purrinha do qual participaria ontem à noite em Copacabana e que me dá, até esse momento em que lhes escrevo, um tremendo medo de morrer.

Que besteira!, dirão muitos de vocês.

Mas eu acho que foi tudo por causa da notícia do Danilo.

Pra desanuviar, a sensacional matéria que meu chapa João Tavares fez para a rádio Bradesco Esportes FM sobre o torneio de purrinha de ontem à noite no Galeto Sat´s, em Copacabana, vencido pelo Aconchego Carioca, bar que eu representaria!

Até.

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