Arquivo do mês: junho 2007

>SZEGERI & FERRARI

>

Eu perguntei, já alcoolizado:

– Szegeri, você gosta mais dele ou de mim?

Ele apontou o dedo em direção ao Digão e disse:

– Dele, é claro!

Foi nesse átimo que eu, humilhadíssimo, fiz a fotografia.

Rodrigo Ferrari e Fernando Szegeri, São Paulo, 23 de junho de 2007

E riram, os dois, como se sapateassem em cima de mim sem piedade.

Dedicaram-se, ao longo do final de semana, a um ritual estranhíssimo, primitivo, objetivando – com que propósito? – meu esmagamento moral.

No que – confesso – obtiveram êxito.

O troço foi pior, ainda, quando pediram em uníssono:

– Faz uma foto nossa com os presentes!

Bruno Ribeiro, Roberta Valente, Fernando Szegeri, Rodrigo Ferrari e Tiago Prata, São Paulo, 23 de junho de 2007

Eu fiz, como se vê.

E, foi pior, quero explicar por quê.

No meu aniversário, o Trapiche Gamboa, onde comemorei a data, parecia, a certa altura, uma gaiola gigantesca. Sendo mais específico, meus convidados pareciam pássaros. E sendo ainda mais preciso, Fernando Szegeri, Rodrigo Folha Seca e Tiago Prata, pareciam ter asas. As mãos abanando eram, definitivamente, o símbolo do que eu represento para eles: nada.

E em São Paulo – para onde foram o Folha Seca e o Prata – os dois entupiram, literalmente, o bom Szegeri de presentes.

Livros, discos, roupas…

Eu, eis a triste constatação que me constipa o coração, NUNCA ganhei metade daqueles presentes num único aniversário meu…

Até.

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FARTURA

E disse Luiz Antônio Simas, aqui, quando escreveu, com a discrição que lhe é peculiar, sobre nosso irmão paulista, Fernando Szegeri:

“Vem daí a conhecida hospitalidade do povo Yorubá, farta em gentilezas, bebidas, comidas e danças.”

Meu querido Simas foi, e é isso que é importante destacar, extremamente econômico, moderado, parco – eu diria – e modestíssimo.

O simples ato de misturar gentileza, bebida, comida e dança, dentro da mesma gamela da fartura, faz com que o leitor se distraia e não preste atenção num dos troços mais impressionantes do final de semana – principalmente para um tijucano confesso: a quantidade de comida oferecida pelo casal anfitrião.

Vamos aos fatos.

Ao chegar à casa de meus irmãos queridos, Szegeri e Stê, na sexta-feira passada no final da manhã, deparei-me com uma perna traseira de porco, o festejadíssimo presunto cru, inteira – vou repetir… inteira – sobre a pia da cozinha. Eu jamais havia visto coisa igual, só no cinema.

presunto cru

Tomado por uma alegria juvenil deslumbrada, perguntei:

– Posso cortar?

Szegeri, à moda de Xangô, como um trovão, gritou um não que fez tremer a Vila Romana.

Pequena pausa elucidativa: ao chegarem Bruno Ribeiro e Luiz Antônio Simas, o Szegeri foi um verdadeiro distribuidor de facas, dirigindo-se aos dois o tempo inteiro:

– Brunão, quer cortar uma fatia?

– Simas, vá fundo no lado esquerdo!

E fazia essas ofertas com um sorriso que eu, e apenas eu, percebia.

Mas o presunto cru, gigantesco – quero repetir – a próxima foto não engana -, era apenas um detalhe do farnel aparatoso.

Fernando Szegeri cortando presunto cru, São Paulo, 22 de junho de 2007

Pepinos em conserva, lingüiças defumadas de variadas bitolas e temperos, tremoços portugueses, panceta de leitão, panceta defumada – para quem não sabe, a panceta é um embutido de porco que vem com o próprio couro, com toicinho e carne da barriga dentro, alimento salubérrimo, como se vê -, pães de enlouquecer um padeiro tijucano, queijos indescritíves no que diz repeito à quantidade, qualidade e variedade, e eu, acostumado à simplicidade carioca e à falta de dinheiro disponível para tantos arroubos gastronômicos – eu seria, vê-se, vaiado dentro de uma comunidade Yorubá – sofria de pequenos arremessos e falta de ar diante das etiquetas com códigos de barra e preços ofuscando minha visão zona-norte.

Eu não seria deselegante a ponto de dar o preço de cada produto. Mas o presunto cru, apenas o presunto cru, custou mais que minha ida e minha volta, de avião.

O Prata, por exemplo, quando deu de cara com a etiqueta pregada na ponta do osso do presunto, a arrancou e veio engatinhando em minha direção. Dizia, com as mãos trêmulas:

– Você viu isso? Você viu isso?

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E os camarões?

Se lhes parecem pequenos, ou mesmo médios, ou ainda grandinhos – este último adjetivo dito com ar de deboche – deve-se à minha incompetência como fotógrafo ou à qualidade tosca de minha câmera digital.

Quando retirados da geladeira pelo Szegeri, ainda crus, evidentemente, pareciam lagostas.

Foi quando o Szegeri, vendo o brilho nos meus olhos e a baba escorrendo da boca do Simas – que confessadamente devota ao camarão um amor que a mais nenhum alimento devota – deu uma de Flavinho – entenda aqui o porquê:

– Cem reais o quilo! Cem reais!

Quando ele disse “cem reais o quilo”, é preciso ser preciso do início ao fim, houve um silêncio na cozinha. Não exatamente pelo choque – que foi evidente e coletivo. Mas porque as pessoas estudavam, mudas, a melhor posição para o ataque aos crustáceos.

E eis que chega o domingo.

Chega o domingo e há, no rosto de cada um, uma tristeza carimbada.

Mas o Szegeri não deixa pedra sobre pedra.

O Prata disse, assim que levantou:

– Hoje é o enterro dos ossos? – perguntou referindo-se a uma cerimônia típica na Tijuca, na qual os convidados acabam com o resto da comida da véspera.

O Pompa, nosso bom Szegeri, riu.

Riu, fez festinha na vasta cabeleira do Prata, e disse algo que ninguém compreendeu, mas que foi:

– Ah, essa escumalha carioca…

Estalou os dedos e deu-se a mágica.

churrasco

Em questão de segundos Capitão Leo Gola – o maior e melhor churrasqueiro do mundo – comandava a churrasqueira da casa vermelha para delírios dos presentes.

Eu digo delírios dos presentes tijucanos de alma, nos quais o Prata, apesar de morar em Botafogo, se inclui.

Jamais vimos – a impressão foi unânime – tantas carnes e tão variadas.

Tanto que ontem, no final do dia, enquanto comemorávamos entre amigos o aniversário do querido Mussa – que faz anos hoje e para quem ergo o copo cheio diante do balcão imaginário – o Rodrigo Folha Seca, esse poço artesiano de ternura, abriu a mochila e de lá tirou uma peça inteira de picanha argentina maturada que estendeu sobre um papel laminado cuidadosamente forrando o balcão.

Para espanto dos presentes, fatiou a carne como se fosse um carpaccio, e disse, oferecendo o primeiro pedaço ao aniversariante:

– Roubei da casa do Szegeri!

Até.

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SIMAS, UM ASTRO

Em 16 de abril de 2007, no texto chamado O domingo, que pode ser lido aqui, expus meu queridíssimo irmão Luís Antonio Simas cantando acompanhado pelo violão endiabrado do Prata.

Mais à frente, em 30 de maio, foi a vez de, no texto Simas, o poliglota, que pode ser lido aqui, mostrar a vocês nosso herói cantando, nas línguas nativas, os hinos de Portugal, da Alemanha e da África do Sul.

No princípio deste mês de junho, mais precisamente no dia 09, foi a vez de publicar Uma aula do professor Simas, que pode ser lido aqui, onde o carioca máximo aparece atuando em saula de aula, filmado às escondidas por um dentre seus milhares de alunos.

Como todos já sabem, estivemos em São Paulo no último final de semana com o objetivo precípuo de render homenagens a Fernando Szegeri, um ser humano incrível e que dedica-se, a cada dia com mais afinco, a me pespegar os piores castigos e as piores humilhações.

Fomos, no sábado, ao Ó do Borogodó, para a tradicionalíssima feijoada e para o samba comandado pelos Inimigos do Batente.

Samba comendo solto.

Até que Fernando Szegeri chama à mesa Luiz Antonio Simas para cantar.

Pequena pausa: o Szegeri jamais chamou-me à mesa para cantar a mais singela das cantigas. Eu diria, até, que jamais me disse, publicamente e ao microfone, para meu instantâneo regozijo – ah, as vaidades… – um “obrigado”, um “seja bem-vindo”, um “diretamente do Rio…”, esses troços.

Simas foi anunciado com isso e muito mais, eu diria até, sem exagero, que com honras de chefe de Estado – o que de fato, convenhamos, ele é. E cantou, para deleite dos presentes. Com vocês, em mais um vídeo estrelado por esse sujeito imprescindível, Luiz Antonio Simas cantando Pernambuco, Leão do Norte, samba de 1968 defendido pelo G.R.E.S. Império Serrano, acompanhado pelos Inimigos do Batente, aqui.

Até.

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CADÊ A CHIADEIRA DA CANALHA?

Escrevi, em fevereiro de 2007, aqui, esse troço que reproduzo abaixo:

“Ali ficamos, bebendo, jogando conversa, num clima que só mesmo a cidade do Rio de Janeiro – na rua, no centro, na zona norte, nos subúrbios da cidade – propicia. Cidade que, diga-se, continua linda e em paz apesar do massacre a que vem sendo submetida pela imprensa sórdida e nojenta, que dá a esse menino que morreu recentemente, João, um tratamento jamais dado às vítimas anônimas de violências muito mais brutais do que a verificada no assalto que não deu certo. Uma única pergunta, a que faço: se são monstros os meninos que roubaram o carro da mulher que perdeu abruptamente o filho que por uma fatalidade ficou preso do lado de fora do carro pelo cinto de segurança e que recebeu em casa, poucos dias depois da tragédia, Fátima Bernardes e a equipe do Fantástico (câmeras, auxiliares de câmera, maquiadores etc etc etc), o que são os meninos de classe média que atearam fogo no índio pataxó, em Brasília, há não muitos anos? Pigarreio e sigo.”

Eis que agora, recentemente, cinco vermes, cinco vermes de merda que se acham reis em seu mundinho de bosta na Barra da Tijuca, paraíso da canalha que cria, nas redomas dos condomínios de luxo fechados, autênticas bestas-feras que têm desprezo por gente, espancaram, covardemente, uma trabalhadora, uma empregada doméstica, a quem meu querido Bruno Ribeiro dedicou comovente carta aberta, leiam aqui.

Eu pergunto a vocês com um leve sorriso de satisfação no rosto – satisfação por ver como é nítida a diferença de tratamento que denuncia quem é, de fato, quem: onde os protestos da canalha pelo endurecimento da legislação? Onde as faixinhas estendidas nas janelas pedindo paz e outras babaquices? Onde as manifestações promovidas pela gentalha querendo abraçar a Lagoa, querendo abraçar uma praça qualquer, querendo abraçar o – perdão – caralho a quatro?

À merda, a canalha; sua hora – ouço o grito imaginário – vai chegar.

Abaixo, os cinco porcos covardes, escondendo o focinho, tomando o rumo da cadeia.

fotografia de Guilherme Pinto para o jornal EXTRA

Até.

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>UM HOMEM DE BEM

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Quando, em 06 de março de 2007, publiquei SZEGERI NO RIO – PARTE II – leiam aqui – contando a vocês sobre o encontro do Szegeri com o Simas e com o Rodrigo Folha Seca, eu escrevi:

“No Rio-Brasília eu fiquei, como um espectador embevecido, assistindo o encontro dos titãs. Szegeri e Simas, numa afinidade de há séculos, cantaram, contaram histórias, e a quantidade de cerveja, de maracujá, de carne assada com coradas, servia apenas de pano de fundo praquela noite mágica.”

Pois bem.

Estivemos neste último final de semana, como vocês já sabem – eu, Dani, Simas, Candinha, Rodrigo Folha Seca e Prata, do Rio de Janeiro, e Bruno Ribeiro, de Campinas -, em São Paulo, hospedados na casa vermelha, onde moram meus irmãos Szegeri e Stê, na companhia da mais-que-amada Rosa.

Quando fala o Simas eu tenho pouco a dizer.

Por isso, como já fiz ontem (quando transcrevi texto do Bruno Ribeiro sobre o mesmo tema), segue emocionadíssimo – e preciso do início ao fim – texto de autoria desse brasileiro máximo e imprescindível, Luiz Antonio Simas, cujo título é IFÉ E A CASA VERMELHA:

“Disse Ifá que a raça humana, a única que existe, veio ao mundo em Ilê Ifé, a cidade sagrada fundada por Odudua. Exatamente por isso, na entrada de Ifé, ao lado do busto do herói fundador, há um portal com os dizeres: Sejam bem-vindos de volta à casa. Cada homem que visita Ifé está retornando ao conforto da primeira aldeia. Vem daí a conhecida hospitalidade do povo Yorubá, farta em gentilezas, bebidas, comidas e danças.

Até hoje, em alguns lugares do Brasil (os que ainda não sucumbiram ao desencantamento do mundo), as pessoas humildes abrem suas portas para louvar os foliões das bandeiras do Divino Espírito Santo. Com muita comida, café sempre quente, cachacinha da boa e alegria na alma, as casas escancaram seus portões e janelas para receber os devotos do Divino. A mesma coisa acontece na época de Santos Reis.

Este Brasil, o meu Brasil, país em que a delicadeza não está perdida, aldeia que festeja seus deuses no tempo, canta seus sambas, bate tambores e resiste aos condomínios fechados onde a elite cria suas bestas-feras e chacais assassinos; este Brasil continua existindo. O meu país, sei disso, continua existindo e resistindo, na alma de homens e mulheres que sabem, com o afeto que supera as palavras, que somos oriundos da distante aldeia de Ifé – irmãos, portanto.

Olorum Modupé, de todo coração, é o que desejo a todos aqueles que no último fim-de-semana, em outras terras, receberam-me como se estivesse voltando de onde, verdadeiramente, nunca me ausentei – o país dos homens, umbigo do mundo, a Ifé de todos nós – recriada nas gentilezas de uma casa vermelha de portas abertas; morada de um homem de bem.

Axé.”

O homem de bem é ele: Fernando Szegeri.

Fernando Szegeri, na livraria Folha Seca, em 05 de março de 2007

Com a licença do Simas, axé.

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>FINAL DE SEMANA HISTÓRICO

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A correria da segunda-feira me impede de começar a relatar, como de hábito, o que foi a viagem para São Paulo neste último final de semana.

Enquanto não o faço, fiquem com o texto publicado por Bruno Ribeiro em seu PÁTRIA FUTEBOL CLUBE:

“O encontro que se dará hoje e só termina na segunda-feira terá contornos épicos e fatalmente entrará para a história como o encontro que mudou – senão o mundo – ao menos nossas vidas. Será um encontro para lembrarmos, daqui há alguns anos, e que haverá de produzir fotografias antológicas (…). (…). Pois a hora da feitura desta foto se aproxima, já que pela primeira vez conseguiremos nos reunir todos no mesmo lugar: a casa vermelha do aniversariante Fernando Szegeri, o melhor dos seres humanos que respiram neste instante sobre a face da Terra – nas palavras de Eduardo Goldenberg, mestre da paixão, do exagero e da precisão catedrática, que virá do Rio para São Paulo especialmente para a ocasião – e trará consigo ninguém menos que Luiz Antonio Simas, professor de todos nós, brasileiro fundamental, preferido filho de Ogum. E como se não bastasse reunir de uma só vez o trio mais famoso depois de Pepe, Pelé e Pagão, ainda virão compor a histórica pororoca gente como Rodrigo Folha Seca, nosso livreiro de fé no Rio de Janeiro, e Tiago Prata, anjo das sete cordas, que deverá ser responsabilizado por nossos desabamentos emocionais durante as madrugadas de violão que fatalmente encararemos em nosso cárcere privado de três dias. Lamento em nome de todos os brasileiros que ficarão de fora do maior fim semana do ano; do inesquecível; do que mudará definitivamente a ordem das coisas; ao menos em nós, como bem disse o Edu, alguma coisa deverá mudar para sempre.”

Leia-o na íntegra aqui.

Fernando Szegeri, Bruno Ribeiro, Eduardo Goldenberg e Luiz Antonio Simas em São Paulo, em 22 de junho de 2007

Na foto, Fernando Szegeri, Bruno Ribeiro, eu e Luiz Antonio Simas, em 22 de junho último.

Aguardem o relato, preciso do início ao fim, como sempre, da viagem.

Até.

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PRATA, A OBSESSÃO COLETIVA

Conforme lhes contei aqui, em janeiro de 2007, tenho compradas, desde o começo do ano, as passagens aéreas para comemorar, in loco, o aniversário do maior dentre os seres humanos que respiram, neste exato instante, sobre a Terra, Fernando Szegeri.

No domingo, 24 de junho, faz anos o Pompa, meu irmão paulista. E percebam a diferença abissal que nos distancia.

Às vésperas de meu aniversário, escrevi o texto Eu, coadjuvante, leiam aqui, onde, em apertada síntese, contei sobre a angustiante experiência de se perceber coadjuvante na festa de seu próprio aniversário.

Angustiante experiência que o Szegeri nunca (dito com a fúria e a intensidade szegeriana) conheceu ou conhecerá. Explico.

Eu estou indo para São Paulo. Dani, evidentemente, também. Luiz Antonio Simas e sua doce Candinha, idem. De Campinas, convocado para compôr o exército, Bruno Ribeiro comparecerá. E atentem, meus poucos mas fiéis leitores, que todos chegarão na sexta-feira, amanhã – quando começa recesso no Buteco até segunda-feira -, e só voltarão na segunda-feira.

Tudo – rigorosamente tudo – por causa do Szegeri.

Eu diria, a título ilustrativo, que nenhum dentre os pouquíssimos amigos que compareceram à comemoração do meu aniversário, gastou mais do que os R$2,00 do coletivo. Nenhum.

E com o aniversário do Pompa, um evento que movimenta a economia da cidade – e eu diria sem medo do erro que a economia do País -, as pessoas gastam o que não gastam comigo no curso de toda a vida. Vejam o Simas, por exemplo: ele e Candida rasparam do cofrinho, só com as passagens aéreas, pra mais de R$500,00. E há, ainda, o presente de aniversário, o gasto com transporte, alimentação, esses troços. Gastarão – essa a verdade econômica – os tubos. Mas não é exatamente nada disso o que quero lhes contar (acabo de escrever o maior intróito da história do Buteco!).

Quer dizer, minto. É sobre isso, sim, mas sobre outra ótica, e vou explicar.

Vão também para São Paulo, e gastando muito, mas muito mais dinheiro (já que decidiram a viagem de última hora), Rodrigo Folha Seca, esse extenso poço artesiano de ternura, e Tiago Prata, o gênio do 7 cordas, filho de todos nós, filho meu, sobretudo, que pleitei, em primeiro lugar, a paternidade do menino.

Tiago Prata no Adonis, em 06 de março de 2007

Eis aí o ponto nodal, o personagem sobre o qual quero trabalhar – Tiago Prata.

Bati o telefone pro Szegeri na semana passada:

– O que foi, porra? – atendeu-me assim.

– O Prata também vai pra São Paulo – eu disse, ligeiramente magoado com a receptividade que meu nome piscando na tela de seu aparelho gerou.

Ele desligou o telefone.

Eu pensei – confesso agora – que a ligação caíra.

Mas em segundos estrilou meu celular:

– Fala, mano.

– Jura que ele vem?

– Por Deus.

– Meu filho vem! Meu filho vem! – e desligou de novo.

Vai daí que comecei a receber emails dos amigos do Szegeri – meus também, quero crer, embora meu irmão paulista diga que todos têm apenas piedade de mim – querendo detalhes – vão tomando nota! – da visita do Prata.

Eu cheguei a responder um, o primeiro, com um texto visivelmente escrito por um pai que é todo orgulho por conta do talento do filho.

Mas a resposta me veio implacável. Trancrevo-a:

“Edu: deixe de ser patético! Faça um filho seu e não encha o saco com essas histórias delirantes. Quero saber, apenas, onde posso ver o Pratinha em ação em São Paulo. Simples assim. Seu chato!”

Que doce, não?

Essa a razão pela qual não respondi a mais ninguém.

Mas eu diria, sem a mínima possibilidade de errar, que o Prata tornou-se a obsessão dos paulistanos. Todos querem vê-lo, tocá-lo, farejá-lo, num espetáculo que se anuncia à beira da histeria.

As reservas para o sábado, no Ó do Borogodó – tomem nota, tomem nota! -, estão esgotadas, mesmo com o aviso na porta, desde a semana passada, que a chegada do Querubim é, ainda, uma incógnita em razão do caos aéreo.

Tiago Prata no Adonis, em 06 de março de 2007

E isso porque o garoto tocará, no sábado à tarde, durante a festa de lançamento de dois livros na rua do Ouvidor, na livraria Folha Seca. Parte de lá, na companhia do Rodrigo, direto para o Santos Dumont. Ritmo, como se vê, de astro de primeira grandeza.

Relatou-me, o Szegeri, por email, e ele fez isso apenas para me deixar com ciúmes (sou ciumentíssimo), que há gente querendo contratar o menino a peso de ouro para – vá lá! – a execução de uma música, um choro, um samba.

Chegou-se, então, ao seguinte ponto.

O Szegeri mobiliza, como já provei, multidões.

Tiago Prata no Adonis, em 06 de março de 2007

Mas Tiago Prata, e vá entender como se deu, da noite pro dia, a transformação do menino em astro disputado a tapa, reverteu a ordem natural das coisas, talvez com a mesma maestria e com a mesma mágica com que reverte mãos e dedos nos passeios de encantamento que faz com o bojo do violão no peito, tornou-se a bola da vez dessa viagem que se anuncia – guardem o que estou dizendo! – histórica.

Há meses, muitos meses, que venho desejando e guardando no coração a ansiedade pelo nosso encontro, a um só tempo.

Fará falta o Fefê, por exemplo. Fará falta mais um ou mais outro – e não direi outros nomes.

Mas quando sentarmos à mesa de um buteco qualquer, sob o comando do Szegeri, eu, Bruno Ribeiro, Simas, Rodrigo Folha Seca, Prata, Favela, Leo Golla, Deco, Borgonovi, Julio Vellozo, Augusto, Marcão, Craudio e quem mais chegar – algo mudará pra sempre.

Ao menos em mim, disso não tenho dúvida.

Tiago Prata no Adonis, em 06 de março de 2007

E quando virarmos todos saudade, ele, o caçula, metade da idade, no mínimo, de cada um de nós, será o guardião dos segredos que da mesa emergirão.

Quem viver verá.

Até.

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>UMA NOITE COM O BEMOREIRA

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Fui, ontem, já no final da tarde, à livraria Folha Seca, livraria do meu coração, para comprar o presente de aniversário de minha afilhada, Iara Szegeri – sim, filha d´Ele -. Lá, é evidente, encontrei-me com o Rodrigo Folha Seca, esse ser humano que é, praticamente, um poço artesiano de ternura. E encontrei-me, ainda, com a Betinha, que telefonara horas antes numa ansiedade que sua voz não escondia.

Estávamos os três, então, jogando conversa fora, quando deu-se a primeira surpresa da noite.

Chega, esbaforido e suadíssimo, o Leo Boechat, a quem chamamos – diz-se que por causa de seu guarda-roupas de antiquário – Bemoreira. Trazia nas mãos um pratinho embrulhado num desses papelões cor-de-rosa, através do qual notava-se seis marcas evidentes de gordura, com um delicado laço de barbante em volta.

– A Dani está aí? – disse enxugando a testa com o antebraço do braço direito, cuja mão segurava o pratinho, num espetáculo pendular esplendoroso.

– Acabou de sair! – respondeu o Rodrigo.

A resposta, a ausência inesperada da namorada, transformaram a feição do pobre Bemoreira numa máscara, num simulacro.

E ainda com a bandejinha pendurada pelo laço do barbante, disse, tristíssimo:

– Querem empada? – para então pousar, sobre o balcão da livraria, a bandeja.

Ficamos ali comendo as empadas – deliciosas, diga-se -, o tempo foi passando, até que eu fiz o convite:

– Vamos ver o jogo lá em casa?

Betinha disse que sim, Rodrigo justificou a negativa com a sagrada pelada das quartas-feiras, e o estático Bemoreira, ainda se refazendo do choque, e com a boca cheia de empada – ele preferiu a de palmito – perguntou:

– Que jogo?

Foi o Rodrigo, limpando o rosto, quem respondeu:

– Grêmio e Boca.

– Na sua casa? – dirigindo-se a mim.

– Arrã…

Contraiu-se o rosto do Bemoreira. Sua testa parecia um varal de vincos. E veio a pergunta:

– Na Tijuca?

– Arrã.

– Vamos.

Ele disse “vamos” mas era, visivelmente, um ser contrariado.

Ainda paramos na Toca do Baiacu, buteco ao lado da livraria, bebemos uma, duas garrafas de cerveja e eu propus:

– Vamos?

A Betinha disse que sim. E o aflito:

– Pra Tijuca?

– Qual o problema, porra? – eu disse, já de pé.

– Nada, nada… Vamos… – respondeu desolado.

Tomamos o táxi e ao chegarmos em casa, o espetáculo patético.

Bemoreira, já levemente alcoolizado (bebera pouco, é verdade, mas sua resistência é a de um bebê), pôs-se a andar de gatinhas pelo apartamento farejando cada almofada, cada centímetro quadrado do piso, cada planta, cada pé de cadeira e mesa, cada cômodo, até que disse maravilhado:

– Mas seu apartamento é direitinho, hein!

– Nem parece que é na Tijuca!

– Estou impressionado!

Como se aproximava a hora do jogo, sugeri que pedíssemos comida japonesa.

– Tem japonês na Tijuca?

Jantamos – eis a triste verdade – ouvindo barbaridades do mesmo gênero da lavra do Bemoreira, um morador do bairro de Botafogo.

E assistimos ao jogo – eis aí outra surpresa da noite – na companhia agradabilíssima de Candinha, de Luiz Antonio Simas e do Mussa. Os três, que desde o meio-dia bebiam na Pedra do Sal, fecharam a noite – eis a ironia que choca-se com o deslumbramento incompreensível do Bemoreira – na Tijuca.

Até.

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>QUASE-ANIVERSÁRIO DA DENÚNCIA DO PLÁGIO

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Luciana Fróes, de O GLOBO, tem também um blog hospedado no site do jornalão. Dizendo-se uma gastromaníaca (o que é uma tremenda besteira, já que a palavrinha inventada NÃO remete à gastronomia, como pretendia a moça, tenho certeza), postou, recentemente, leia aqui na íntegra, um texto chamado BLOGAGEM, cujos trechos detaco:

“A luta (e a cópia!) continua

De acordo com a legislação brasileira, a autoria de pratos não é passível de registro. Só as receitas, mas, atenção, qualquer pitadinha de sal a menos ou a mais na hora de cozinhar já caracteriza uma outra criação.

(…)

O mestre sorveteiro Severino Aragão, da Sorvete Brasil, prefere evitar discussões. Com 40 anos de profissão, conta que foi o primeiro a combinar abacaxi com hortelã, banana com canela, tapioca com coco…

(…)

Renata Saboya conta que convive com problemas de cópias até no estilo das suas casas, pintadas de vermelho, desde 1990:

(…)

Marcos Modiano, do Armazém do Café, também anda às voltas com o plágio visual.

(…)

E patentear o nome de um prato pode ser a receita do sucesso? Não necessariamente: o mesmo prato pode aparecer rebatizado no cardápio do vizinho. E exemplos não faltam. O mais clássico deles é o escondinho da Academia da Cachaça, campeão em clonagem e em apelidos. Foram tantas cópias do purê de aipim com carne de charque desfiada e requeijão gratinado, receita de família da sócia Edméia Falcão, que o prato ganhou vida própria. E foi incorporado aos cardápios de grande parte dos bares e botequins cariocas. Servir o prato hoje está mais do que liberado.

(…)

O ravióli de pêra com sementes de papoula de Silvana Bianchi, do Quadrifoglio, é outro top no ranking dos mais copiados.

(…)

Stromboli, uma massa crocante recheada, é um dos poucos pratos patenteados de que se tem notícia. A receita foi criada há 20 anos pelo chef Giancarlo Junyent, hoje dono do La Botticella, que vendeu seu então restaurante Giancarli, com o stromboli patenteado junto, para a chef Guida Carvalho (foto), hoje à frente do Dona Guida. O prato é hit da casa. E só tem lá.

A massa crocante recheada e… patenteada. Foi criada pelo chef Giancarlo Junyent (hoje do La Botticella), que vendeu seu então restaurante, o Giancarli, com o stromboli patenteado junto, para a chef Guida Carvalho (hoje do Dona Guida). O prato virou hit da casa. E só é encontrado lá.

Outra iguaria patenteada é o milk-shake de Ovomaltine do Bob’s. Por conta da proteção legal, a rede já acionou juridicamente um sem-número de lanchonetes que tentaram, sem sucesso, comercializar a criação.

No caso da Fiammetta, citada no primeiro caso desta reportagem, a briga foi parar na Justiça. A Speranza, de São Paulo, acusou a pizzaria carioca de usar indevidamente a receita e o nome do Tortano, um pão de lingüiça. A Fiammetta se defendeu dizendo que tortano é um nome tão genérico quanto pizza e fettuccini. Também ajudou os sócios João Luiz Garcia e Gastão Braconnot o fato de eles terem um livro clássico de gastronomia que traz a receita.

Carla Pernambuco, do Carlota, não se incomoda com os plágios. “Na cozinha só se copia o que é bom”, costuma dizer a chef, que já publicou a receita do seu suflê de goiabada em livro. Mas processou uma editora que reproduziu a receita do doce sem dar o seu crédito.

Outra vítima de clonagem é Heloísa Porto, da Torta & Cia., que garante: sua receita de torta de nata com chocolate – hoje copiada até pelas padarias de bairro – foi roubada por uma ex-funcionária.

(…)

E água no caldinho que chegou mais uma: a polêmica acerca da pirataria gastronômica foi parar nos botecos. A turma do Bracarense acusa a do Belmonte de imitar o bolinho de aipim com camarão da mestre-cuca Alaíde. Antônio Rodrigues, do Belmonte, alega que o bolinho é petisco comum. E bota azeitona na sua empada:

– Nossa empada de camarão é que foi parar no Bracarense.

É briga para muitas rodadas.”

Como se vê, tudo uma tremenda babaquice. Onde já se viu discutir quem “inventou” a mistura de abacaxi com hortelã, banana com canela, tapioca com coco? É babaquice demais. Demais da conta.

Mas eu disse tudo isso, e citei tudo isso, e transcrevi tudo isso – sobre cópias, clonagens, plágios, enfim – apenas para lembrar que no dia 30 de junho de 2007 fará aniversário, o primeiro, a minha denúncia – humílima e sem resposta até hoje – do escancarado plágio cometido por uma coleguinha da Luciana Fróes.

O plágio? Leia aqui!

Ah, sim! E por falar em datas marcantes (!), no dia 18 de junho, anteontem portanto, completou-se o segundo mês sem que o Jota, também colega da plagiadora, citasse um mísero bar-de-merda. Alvíssaras!

Até.

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FESTA NO BUTECO

Há em minha casa, como lhes contei aqui, em texto datado de maio de 2004, um buteco de verdade, criação da mulher que me ensinou a sorrir. Saquem a descrição que fiz do lugar, naquele longínquo maio de 2004:

“Atentem para o cenário.

Um janelão que nos permite ver o céu, vista arejada. Uma Árvore da Felicidade, duas jibóias gigantescas que começam a lamber as paredes verdejando o ambiente, uma mesa original de buteco, pés de ferro, base de madeira e tampo de mármore, cadeiras em volta dela, um quadro de autoria do Mello Menezes desenhado numa toalha do Bar Lagoa, uma bolacha imensa da Original, que nunca falta, um quadro comemorando um dos campeonatos do Flamengo e outro, de autoria do Lan, com o time dos sonhos do rubro-negro.

Uma prateleira que sustenta uma bromélia, outra com cachaças, bolachas de várias marcas de cerveja, um filtro de barro que vovó nos deu, um balde lindo da Bohemia dado pela Guerreira e pela Maria Paula, e por enquanto é só.

Há ainda, em andamento, projetos que porão a imagem de São Judas Tadeu com a bandeira do mais querido no alto de tudo, mais algumas plantas, enfim, detalhes, que as mulheres são especialistas em fomentá-los.

Sem modéstia, que nunca foi o meu forte, não há, entre os 50 bares citados no Guia Rio Botequim 2004, nenhum que chegue perto da força que o buteco daqui de casa imprime aos poucos e seletos freqüentadores.”

O buteco, que fica na outrora área de serviço de nosso apartamento, pouco mudou de lá pra cá. Foi ganhando corpo, digamos, já que chegou um quadro novo, uma planta nova, uma vela rubro-negra de 21 dias comprada no Mercadão de Madureira – e a vela é meu mais novo xodó -, um pé de arruda, um vaso de comigo-ninguém-pode, essas bossas.

Ocorre que, como lhes contei aqui, em texto de maio de 2007, ganhei, de surpresa, depois de um agradabilíssimo jantar para o qual fomos convidados, eu e Dani, uma placa lindíssima contendo uma frase que, convenhamos, diz muito sobre mim.

E a tal placa estava, desde então, esperando o momento certo para ser devidamente incorporada ao ambiente sacro, se é que vocês me entendem.

Esse momento chegou e deu-se a inauguração, com pompa e circunstância, no domingo passado, 17 de junho de 2007.

Após brevíssimo e econômico discurso da minha garota (dona da voz em off), a Betinha nos deu a honra de descerrar o pano de prato (salve a Tijuca e seus hábitos!) e inaugurar a dita cuja.

Momento que eu, prudentemente, registrei aqui.

Até.

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