Arquivo do mês: novembro 2011

SÍSTOLES, DIÁSTOLES E AFINS

(pra Maméia)

Em 18 de abril de 2011, publiquei o texto Leo Boechat, um fóbico, que pode ser lido aqui. No tal texto, relato (e, como sempre, com precisão cirúrgica) um final de tarde que passamos, eu e meu compadre, na casa de sua mãe. Eu, passando malíssimo. E ele, com medo. O que não lhes contei no texto conto agora para que eu possa prosseguir sem que vocês, que me lêem, fiquem sem compreender o todo necessário.

Eu passava malíssimo – é preciso ler o texto, é preciso ler o texto aqui! – e o Leo, à certa altura, insistiu:

– Mãe, o Edu está infartando! – estávamos todos na cozinha.

Só quem me conhece sabe (ou quem me lê) como é minha relação com médicos (que piorou agudamente depois de toda a travessia de minha menina por diversos hospitais…). Sugiro, para melhor compreensão dos fatos, que se leia também o nono texto da série Tijuca em estado bruto, aqui. Em apertada síntese: médico, pra mim, só o falecido doutor Lauro, homeopata da família desde que mamãe tinha três anos de idade. Eu, até ontem, só havia estado em dois consultórios médicos em toda minha vida: o do doutor Lauro e, depois de seu desaparecimento, o de seu filho – ambos homeopatas.

Tivesse eu febre, dor nas costas, frieira, afta, dor de cabeça, o diabo!, e eu só abria a boca, fazia “aaaaahhhhhhhhhh”, e a receita ficava pronta. Nenhum exame, nunca. Nada, nada!

Fato concreto, então, voltando àquela tarde na casa da mãe do meu compadre Leo Boechat, em abril, diante da dormência de meu braço, de meu medo agudo de estar, efetivamente, tendo um troço, é que ela me olhou (penso que com intensa piedade), alisou de leve meu braço esquerdo, fixou os olhos nos meus e disse rindo em direção ao filho:

– Ele não tem é nada!

Eu, que nunca fui besta de dispensar a guarda na memória desses momentos, ainda que tênues, de demonstração de carinho, nunca me esquecerei daqueles olhos – cor de mel, é o que registro – me levando, naquele momento de intenso medo, intensa tranqüilidade. Fecha o pano. Vamos avançar no tempo.

Estamos no começo do mês de novembro deste 2011 que caminha, a passos largos, para 2012. Eu, já sem Dani. Ainda mais depauperado. Mais gordo. Com a barba mais branca. Bebendo em ritmo industrial (parei com os destilados). Leo, estamos em uma festa, leva-me de novo até diante da mãe. Converso com ela, rapidamente. Estou, faço a confissão, levemente alcoolizado. Mas aqueles olhos-de-mel, diante de mim, provocam a frase que brota espontânea:

– Minha médica, minha médica… – e fico repetindo isso, como num mantra, para assombro da pobrezinha (Leo, guinchando de rir diante da cena).

Ela, modéstíssima e rindo:

– Imagina! Eu sou anestesista infantil!

E eu, em transe:

– Minha médica, minha médica…

Num lance absolutamente inexplicável, ainda disse:

– Vou dar seu telefone pro Aldir. Você tratará dele também!

Fecha o pano, de novo.

Dias depois desse evento encontro-me com o Leo num bar qualquer:

– Bicho, minha mãe tá preocupada contigo, pediu-me pra te dizer isso…

Pequena pausa: eu só não tive uma aguda crise de choro diante da frase – que denota um misto de preocupação com o amigo do filho, de carinho etc etc etc – para não assustar meu dileto amigo.

De uns dias pra cá, mão dormente, coração em desalinho, pressão alta. Era preciso que eu fosse a um cardiologista. Preciso. Cardiologista. Esses dois nomes piscando em néon me tiravam o sono. Não há mais meu homeopata, não há mais a minha menina pra me levar de mãos dadas ao médico (e isso piorava muito as coisas)… Atendi à sugestão de um de meus orixás vivos e procurei, mesmo, seu cardiologista (que encaixou-me na lotadíssima agenda). Fui ontem (carreguei comigo, vá entender, diversos patuás dentro da mala… um retrato dela, uma jaqueta branca, a guia de Ogum que me foi dada por Luiz Antonio Simas, embrulhada num guardanapo – arrebentou dia desses em meio a um arrebatamento -, dois livros que amo e uns dez CDs que me comovem).

Consulta de quase uma hora e meia, mais da metade desse tempo com o que vos escreve aos prantos.

Salvou-me o telefonema de queridas amigas que, sabedoras da minha condição de fóbico olímpico, se ofereceram para me acompanhar (agradeci, comovido, mas era preciso que eu fosse só).

Curioso, entretanto, é que de lá saí determinado a dar essa notícia – procurei um cardiologista, dei mais um passo em direção à cabeça-pra-fora-d´água, não se preocupe, estou me cuidando – à mãe de meu compadre.

Por trás do médico – que tinha asas enormes, brancas como sua barba e seu cabelo, uma espécie de anjo de olhos claros – pairavam duas contas de mel me vigiando e me acalmando. Eram os olhos da mãe de Leo Boechat.

Saí de lá medicado e com a ligeira impressão de que não estou tão mal quanto imaginava.

Liguei, à noite – e fiquei profundamente comovido, de novo – para falar com ela, a médica que elegi (é ligeiramente desinfluente o fato de ela não poder aceitar o encargo, não sei se você, que me lê, compreende isso…). Contei sobre a consulta e cada pergunta que ela fez, cada conselho que ela deu, foi fundamental para que eu tivesse, depois da noite em claro da véspera da consulta (medo, medo, medo), uma noite de pleno descanso.

Vamos ao exames.

Até.

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OS ASSOMBROS

Um dos registros mais bacanas que tenho veio com um CD encartado no livro Um homem iluminado, biografia do Tom Jobim escrita por sua irmã, Helena. O CD foi só mais uma idéia genial desse gênio que é Chico Buarque de Holanda. Helena, que pedira ao Chico para escrever o prefácio do seu livro, recebeu de volta um CD com alguns registros do irmão, Tom Jobim, mostrando melodias ao piano para seu parceiro – um troço lindo, comovente, uma sacada incrível do Chico. É o que consta da faixa 01 do CD:

“Helena, querida, aqui é o Chico. A leitura dos originais do seu livro me comoveu e me levou a fuçar a minha fitoteca atrás da voz do Tom. Encontrei essas gravações caseiras onde seu irmão me mostrava músicas novas pra eu colocar letra. Você me pediu um prefácio. O prefácio foi assim, na voz e no piano do Tom.”

As demais faixas mostram Tom Jobim quase sempre calibradíssimo (Chico também, em algumas, ouvindo e dando seus pitacos), inspiradíssimo, e, num determinado momento – é o que lhes direi e mostrarei – surpreso.

Ao mostrar a melodia de Luiza para o Chico (que acabou sendo letrada pelo próprio Tom, apenas), dá-se que pouco mais de 2min depois do início da gravação, ouve-se uma contida gargalhada dada por Tom Jobim, um riso de gôzo, de prazer, e ele diz:

– Essa eu juro que não fui eu quem fiz…

Visivelmente impactado com a própria criação. Com a beleza da melodia – e Tom Jobim dá de falar em francês, enquanto executa a canção ao piano. É evidente que trata-se de uma brincadeira do Tom (sinto-me ridículo explicando isso, mas o mundo anda tão estranho, as pessoas parecem usar antolhos, tudo é levado a ferro e fogo, e não duvido nada, por exemplo, que haja alguém capaz de enxergar, na gargalhada e na frase, uma prova efetiva de que Tom Jobim estava servindo de cavalo pra algum espírito trazer a melodia à Terra!). Fato é que o sentimento que provocou a frase – aí sim! – é muito comum, muito, muito!

Daí dei de divagar, de digressionar, e não tenho feito outra coisa, e cada vez com mais afinco, com mais apuro. Sou, de uns tempos pra cá, funcionário dedicado e exclusivo a serviço de mim mesmo, patrão implacável a exigir do empregado empenho máximo. Quantas vezes – esse, o foco de minha divagação depois de ouvir o Tom – nos surpreendemos diante desse susto, desse assombro, desse desassossego?

Não estou nem a falar do déjà vu, também corriqueiro: falo de algo mais concreto (porque mais evidente, embora inexplicável), mais intenso, mais bruto. Algo tão intangível quanto a saudade do que não vivemos ou, o que pode ser ainda mais angustiante, a saudade do por vir, algo que Vinicius de Moraes sugeriu quando escreveu “essa mão que tateia antes de ter”.

O que fazer diante desses assombros? O que fazer e como administrar essa angústia do querer-viver o que não se justifica pelos parâmetros quase sempre mesquinhos que utilizamos para balizar o que sentimos, o que fazemos, o que produzimos? Tom Jobim, ali, parecia assombrar-se com a beleza da melodia por ele composta dias antes – daí a blague que fez.

Tudo muito confuso – reconheço. Idéias lançadas, sem ordem, sobre o criado-mudo imaginário a meu lado.

Mas que fique aqui, como registro – para que eu volte ao tema e às minha reflexões. Fiquem, por enquanto, com este assombroso registro jobiniano.

Até.

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DESASSOSSEGO

(pra F. E. H.)

“Suponhamos que vejo diante de nós uma rapariga de modos masculinos. Um ente humano vulgar dirá dela, “Aquela rapariga parece um rapaz”. Um outro ente humano vulgar, já mais próximo da consciência de que falar é dizer, dirá dela, “Aquela rapariga é um rapaz”. Outro ainda, igualmente consciente dos deveres da expressão, mas mais animado do afeto pela concisão, que é a luxúria do pensamento, dirá dela, “Aquele rapaz”. Eu direi, “Aquela rapaz “, violando a mais elementar das regras da gramática, que manda que haja concordância de gênero, como de número, entre a voz substantiva e a adjetiva. E terei dito bem; terei falado em absoluto, fotograficamente, fora da chateza, da norma, e da quotidianidade. Não terei falado: terei dito.” – Fernando Pessoa, página 362, Livro do Desassossego, editora Brasiliense, 2a. edição

Antes de pedirem a segunda garrafa de cerveja, e quando eu já estava embriagado diante de seus olhos – não por conta da cerveja, parece-me desinfluente dizê-lo, eu bebia no mesmo ritmo que eles – ela deu de citar Fernando Pessoa. Estavam, os dois, em uma mesa na calçada e eu, como de praxe, bebendo de pé, diante do balcão de mármore daquele tradicional bar de pé-direito altíssimo. Era manhã de sábado, de um sábado cinzento, eu estava absolutamente só, pedira uma almôndega acebolada, um dos petiscos mais festejados da casa, e me flagrei, à certa altura, absolutamente absorvido pela conversa daquele casal.

Desde que deixei de fumar que ir-ao-bar passou a ser uma tarefa que me exige certas manobras que visam desviar minha atenção da fissura que, sim, ainda me assalta. Estou já há pouco mais de dois meses longe dos cigarros, mas o problema é que os cigarros não estão longe de mim, estão à minha volta, e todas as fumaças de todos os cigarros parecem gueixas de formas tênues vindo em minha direção, serpentando o ar, sensualmente, em busca de minhas mãos, em busca de meus braços, em busca de meu pescoço, de minha boca, de minha língua… Por isso passei a prestar atenção ao casal diante de mim.

Ele – justificadamente – aturdido diante dos olhos dela (que, mesmo à distância, também me embriagavam). Ela, soberana e evidentemente ciosa da perturbação do companheiro de mesa (não sei, confesso, se ela me percebia – achei, à certa altura, que sim). Ela usava sandálias que deixavam os pés à mostra, as unhas pintadas de branco, as mesmas cores das unhas das mãos, tão lindas quanto os pés, cabelos ora soltos e ora postos num rabo-de-cavalo que ela montava e desmontava (isso também me causou a impressão de certo desconforto) seguidas vezes, e acompanhar os movimento de seus cabelos também me aturdia.

Pedi a terceira garrafa de cerveja no instante em que ele pedia água sem gás, e dois copos, ao mesmo garçom que me atendera.

Estávamos tão próximos, a mesa era tão perto do balcão, que eu ouvia tudo, e eu punha, ali, no ato de ouvir, toda minha atenção. Mas nada – nada! – me chamava mais a atenção do que os olhos dela. Havia um fogo em seus olhos, um fogo de não se apagar, e justamente quando este samba do Gonzaguinha ecoou no interior do bar foi que me dei conta do quão intensos eram seus olhos. Tristes, profundamente tristes, dotados de um brilho que, apesar de ser dia, reluzia como se fosse noite. Ele falava, o pobre-coitado (senti pena daquele homem e não sei lhes dizer o porquê), e ela sempre punha os próprios olhos num horizonte imaginário antes de responder. Eu me embriagava mais – de seus olhos.

Em determinado momento, pedindo outra cerveja, ele pediu também uma almôndega, e eu pensei que me imitava (eu e minha sensação que não cessa de que sou o centro das atenções). Ele serviu-se e depois estendeu a ela, gentilmente, o garfo já servido, e ela mordeu aquele pedaço, fechou os olhos, elogiou, e eu quis imitá-lo. Não podia, por óbvio.

Suas mãos não se encontraram em momento algum – notei também.

Seus olhos, entretanto, os quatro, os olhos dos dois (estou sendo detalhista para lhes dizer de minha aguda atenção), não se perderam um só momento. Eu, ali, era um voyeur clandestino, subversivo, que sorvia com uma ansiedade de adolescente aquela tensão visível que havia entre os dois.

Ele levantou-se, veio até o balcão, postou-se a meu lado e pediu a conta (pensei, num primeiro momento, que vinha tomar satisfações comigo). Enquanto a conta era feita, enquanto ele pagava, ela pegou uma caneta de dentro da bolsa e escreveu qualquer coisa num guardanapo, amassou, jogou no chão – foi a primeira vez que ela me olhou nos olhos.

Quando eles saíram, claro, fui em direção ao bilhete (pensei ser um bilhete, um número de telefone, um endereço de e-mail).

Não era nada disso.

Estava escrito apenas “desassossego”.

Sua letra era linda. Não tanto, entretanto, quanto ela.

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VASCO X FLAMENGO

No próximo domingo, 04 de dezembro, chega ao final a edição 2011 do Campeonato Brasileiro, e só no domingo, justo na última rodada, é que será conhecido o novo campeão brasileiro, sendo que apenas dois times têm condições de conquistar a taça: Corinthians, em primeiro lugar na tabela, e Vasco da Gama. Quem me lê sabe – e quem não sabe pode ler este texto aqui – que eu nutro intensa simpatia pelo Vasco da Gama. Com o Flamengo fora da disputa do título, o natural seria, no meu caso, torcer pelo êxito do Vasco da Gama: meu irmão (ao meu lado na foto abaixo) é Vasco, meu pai é Vasco, meu avô Oizer (também na fotografia) era Vasco, um de meus orixás vivos é Vasco, uma de minhas comadres é Vasco, uma de minhas afilhadas é Vasco, e eu tenho pelo Vasco – vá saber a razão disso – um sentimento que carrega até um pouco de inveja (invejo o comportamento da mais cafona das torcidas, o que me comove…).

Ocorre que a situação é a seguinte: o Vasco da Gama só conquista o título se vencer o Flamengo e se o Corinthians perder para o Palmeiras. Mas eu nem preciso pensar na segunda condição, eis que a primeira me impede de seguir torcendo pelo time da cruz-de-malta. Soma-se a isso o fato de que o Flamengo está em ferrenha disputa com mais cinco times (Coritiba, Internacional, Figueirense, São Paulo e Botafogo) por uma das vagas para a Libertadores 2012. Ou seja: há chance zero de eu torcer para que o Vasco da Gama seja o campeão de 2011 (e peço publicamente desculpas aos meus mais-chegados vascaínos que me viram, em mais de uma oportunidade, envergando a camisa do Vasco em dias de jogos de suma importância para os cruzmaltinos).

Confesso que me seria muito prazeroso ver o título ficar no Rio de Janeiro pelo terceiro ano consecutivo: o Flamengo venceu em 2009, o Fluminense em 2010 e não seria ruim ver o Vasco sagrar-se o campeão – não fosse pelo trágico encontro do próximo final de semana.

Falei em trágico e quero lhes contar sobre a rodada de ontem.

Estava assistindo ao jogo do Flamengo no tradicionalíssimo bar do Marreco, na Tijuca. Na TV grande, claro. Na pequenina, nos fundos do bar, passava o jogo do Vasco contra o Fluminense. Bar lotado. Eu, de camisa do Flamengo. Vencíamos por uma a zero quando o Fluminense empatou – o Vasco vencia também por uma a zero. O Corinthians, em Florianópolis, também vencia, pelo mesmo placar, o Figueirense. Foi o Fluminense empatar e os rubro-negros, que lotavam o bar, explodiram:

– Ô, ô, ô, ô… vice de novo! – e urravam.

Eu, na minha.

Terminou o jogo do Corinthians que, àquela altura, era o campeão com uma rodada de antecedência. Terminou o do Flamengo – e vencemos! Iniciou-se uma confusão entre os jogadores do Vasco e do Fluminense, e ali estava vivo o espírito combativo que faz de cada jogo uma guerra – às favas o fairplay! Até que aos 45 do segundo tempo, desfeita a confusão, o Vasco desempata o jogo. Desempata o jogo, esfria a festa antecipada do Corinthians, e eu passo a ser um possesso diante do olhar atônito dos meus irmãos-de-fé, dos rubro-negros frustrados diante do gol que eu comemorava.

Domingo que vem será um dia para os de pulso forte, de coração de aço. Será também o início do recesso de um mês sem futebol (quando os finais de semana são insossos). E que os deuses do futebol, sempre maiores que os deuses do marketing que tentam nos usurpar o futebol que amamos, zelem por nós.

Não posso encerrar sem indicar mais um golaço de meu irmão Luiz Antonio Simas, justamente sobre os malefícios da turma dos neo-amantes do esporte bretão – aqui.

Até.

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É DEMAIS PARA O MEU CORAÇÃO

Como eu já lhes contei aqui, no texto Dani, escrito na minha primeira madrugada sem ela, e aqui, no texto A mulher que me ensinou a sorrir, de outubro de 2005, reencontrei Dani em outubro de 1999 na festa de um amigo em comum, o Alfredinho, do Bip Bip, lá fiz meu cortejo – muitíssimo bem sucedido! -, de lá partimos para a quadra do Salgueiro e da quadra do Salgueiro para a praia de Ipanema – direto! Na praia deu-se o seguinte (trecho do segundo texto acima indicado):

“Lá se vão seis anos, quando dançamos nus, na primeira noite, no calçadão de Ipanema, ao som de “Canção da Manhã Feliz” (eu sei que parece exagero de novo, mas dessa vez é o Mineiro, barraqueiro entre a Vinicius de Moraes e a Farme de Amoedo, quem pode dizer que estou sendo preciso do início ao fim).”

Antes de seguir, brevíssima digressão.

Tenho cumprido, já lhes contei aqui, o dever de vivenciar o luto da forma mais bonita possível. E tenho ido, com quase-religiosa postura, a todos os lugares que marcaram nossa trajetória, minha e dela, de quase doze anos juntos:

“Tem sido especialmente difícil fazer pela primeira vez, sozinho, o que tantas vezes fiz com ela. Foi assim minha primeira ida à praia, minha primeira ida à quadra do Salgueiro, minha primeira ida a tantos lugares…”

Prossigo com a digressão, porque o que quero mesmo, hoje, é lhes contar sobre esse nosso primeiro desvario, na praia: além da quadra do Salgueiro que, se já era território sagrado por conta do peso da vermelho-e-branco da Tijuca, ganhou ares ainda mais mágicos por ter sido lá, em outubro de 1999, mais precisamente no dia 18, o primeiro beijo que demos, também foi constante nossa presença na quadra da Unidos de Vila Isabel, a azul-e-branco da terra de Noel Rosa, onde estive no último sábado. E faço pausa dentro da pausa: cheguei à Vila Isabel, no boulevard 28 de Setembro, e bastou pôr os pés no interior da quadra para que um filme corresse dentro de mim. Um filme corria dentro de mim e muitas lágrimas me corriam dos olhos embaçados quando me estenderam uma garrafa de Smirnoff Ice e fizeram, de leve, festinha no meu rosto – eu não estava ali, exatamente, e aquele estender da bebida, e aquele afagar de leve me acalmaram de uma maneira que só eu sei. Tanto que disse a ela, amiga nossa, o que agora eu repito: nunca (com a ênfase szegeriana) vou me esquecer desse gesto. Nunca! Como nunca me esquecerei do gesto do Wallan, no comando da bateria da Vila Isabel, que me chamou quando me viu, perguntou pela Dani, eu então lhe contei, e ele, visivelmente surpreso com a notícia, fez questão de reduzir o compasso da bateria, chamou Mestre-Sala e Porta-Bandeira, estendeu-me o pavilhão da azul-e-branco e me disse no ouvido:

– Dois beijos, Edu! Um teu, outro dela.

Só quem conhece a liturgia das Escolas de Samba é que sabe a importância do gesto do Wallan, a quem conhecemos, eu e Dani, desde 1999. Mas vamos à praia, vamos a 1999.

Saímos da quadra do Salgueiro e já quase amanhecia. Tomamos a direção da praia de Ipanema e no CD do carro, Maria Bethânia ao vivo, show Imitação da Vida. Fui ouvindo aqueles versos – eu estava saindo de uma separação… – e me comovendo intensamente: “Luminosa manhã, pra que tanta luz, dá-me um pouco de céu mas não tanto azul, dá-me um pouco de festa, não esta, que é demais pros meus anseios…”. Dani também se comovia e havia ali, naquele (re)encontro, uma certeza de que estava começando uma história que tinha tudo pra ser incrível – como de fato foi, interrompida estupidamente pela morte.

Chegamos à praia de Ipanema antes das seis da manhã. Na areia, o Mineiro montava sua barraca, o sol nascia por trás do Arpoador e trocamos de roupa no calçadão mesmo, Canção da Manhã Feliz no máximo volume, e nós dois dançando abraçados, cantando, chorando, e quando eu voltei à praia pela primeira vez sem ela, quando aproximei-me do Mineiro – que já sabia da Dani por terceiros – ele me disse, me dando um puta abraço:

– Sabe que eu lembro como se fosse hoje de vocês dois, malucos, dançando no calçadão naquele dia?

Eu ia pôr, aqui, a gravação que ouvimos naquela manhã, com a Maria Bethânia. Ocorre que a EMI, detentora dos direitos sobre a obra da cantora, simplesmente não permite o upload da canção. Fica, porém, como registro – e um belo registro, diga-se! – esta gravação com Nana Caymmi e Miltinho.

Até.

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HOJE TEM BETH CARVALHO!

Acordei hoje, sábado, profundamente comovido. Ando, aliás, quem me lê e me conhece sabe, profundamente comovido. Esse viver-o-luto ao qual me dedico com a intensidade que me é freqüente – e que me serve de antídoto contra o estelionato afetivo – tem feito de mim um homem com a emoção à flor-da-pele, e me perdoem, desde já, se isso lhes soa piegas. O amor, meus poucos mas fiéis leitores, é piegas – ora!

Estive, na quinta-feira à noite, na casa de Beth Carvalho, uma amiga querida, companheira de tantas histórias e de tantas vivências, madrinha do samba – como é carinhosamente, e com justiça, chamada por quem manja do riscado – e representante do mais alto degrau do panteão da música brasileira. Eu não a via pessoalmente desde seu aniversário, em março, quando lá estive com a Dani – e pela última vez. Falamos disso – da Dani -, falamos muito sobre a vida, sobre seu novo disco – o fantástico Nosso samba tá na rua – e sobre o show, que estréia hoje, no Rio de Janeiro.

Se a Beth Carvalho canta, é pra lá que eu vou!

Beth fez uma dedicatória que me comoveu pacas – “Ao querido amigo Eduardo o meu carinho eterno” – e hoje cedo, porque acordei já com os olhos marejados e com o samba comendo solto em casa, mandei flores, mandei rosas pra ela, que ela merece. Por ser a artista que é, a mulher que é, a brasileira que é, lutadora incansável.

Deixo com vocês o vídeo produzido para promover o lançamento do disco – muito bacana, também, o filme.

E por fim, a faixa que mais tenho ouvido, Arrasta a sandália, parceria de Dayse do Banjo com Luana Carvalho, ela mesmo!, a filhota (linda, cada vez mais linda) da Beth. Partido-alto que foi gravado, no CD, com participação de Zeca Pagodinho, afilhado da Beth, ele um de seus mais generosos afilhados – ou o mais generoso. O Zeca, mais-que-consagrado, jamais deixou de render homenagens à madrinha, jamais negou um convite que fosse, jamais deixou de reverenciar aquela que lhe estendeu a mão pela primeira vez, ainda no terreiro do Cacique de Ramos. Troço bonito, isso.

Aumentem o volume, que nosso samba tá na rua!

Até.

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DO DOSADOR

* Quem me lê sabe: no dia 08 de junho deste 2011 que se aproxima do final, atendendo a um pedido que me foi feito por meu irmão e por meu pai, assisti à final da Copa do Brasil – Coritiba e Vasco – devidamente trajado com a camisa que ostenta a belíssima cruz de malta. O relato está todo aqui, na íntegra. Pequena pausa. Gosto demais do meu relato e gosto ainda mais dos comentários que lá foram deixados (36 comentários até o momento em que lhes escrevo): há desde uma declaração da Leonor Macedo (uma escritora de mão cheia) – “Odeio menos o Vasco depois desse texto. Você é constrangedoramente foda.” – a um depoimento que me comove, do professor Idelber Avelar – “É lindo, lindo, lindo, o que você fez pelo Vasco nestas finais. Sabe o que isso faz? Isso ajuda na luta contra a violência nos estádios. Humaniza as pessoas. Não há time que eu deteste mais neste planeta que o Flamengo, mas saber que uma pessoa maravilhosa como você é flamenguista nos faz, a todos, irmãos no planeta.” -. Fim da pausa, retomo o fio do raciocínio. Pois na quarta-feira, anteontem, 09 de novembro, fui novamente convocado para assistir, com as mesmas pessoas, no mesmo bar, à mesma mesa (!!!!!), a partida entre Vasco e Universitario, do Peru, pelo joga da volta das quartas-de-final da Copa Sul-Americana. Precisando ganhar e reverter a vantagem do time peruano, que ganhara, jogando em casa, na semana anterior, o Vasco teria uma tarefa árdua pela frente. E eu, na condição de amuleto, fui convocado. Atendi ao chamado. E a tarefa foi ainda mais árdua, pois a equipe peruana chegou a estar à frente, no placar (2 a 1), obrigando o Vasco a vencer por pelo menos três gols de diferença. A nota hilariante, dessa vez, ficou por conta de que eu – rubro-negro há várias encarnações – era o único (vou repetir, o único!) vestido com a camisa do Vasco – e o bar estava apinhado de vascaínos, a começar por meu irmão, pelo Mauro, pelo Milton (os mesmos três à mesa comigo). Resultado: sabe-se lá por conta de que mecanismo disparado dentro de mim, logo após o apito final passei a agredir, verbalmente (sem qualquer pudor ou polidez), os torcedores presentes no estabelecimento. Foi de cagão, covarde, medroso pra baixo. Os três – que gentilmente não me deixaram pagar a conta, como em junho – precisaram me acalmar e me lembrar que o jogo tinha acabado e meu papel estava cumprido. O único registro fotográfico da noite está aqui. E reitero: a turma da fuzarca é mesmo boa;

* um registro: faz anos amanhã – 10 anos – o filhote da Leonor, o Lucas – a quem eu chamava enquanto convivemos, e a recíproca era verdadeira, carinhosamente (o carinho também era recíproco, ainda que tenha sido curto, o convívio) de Zé. A Leonor (escritora de mão cheia, como lhes disse acima) publicou no seu Eneaotil uma carta belíssima, comovente, pro Lucas, por ocasião dos 10 anos – que não são 10 dias, como diria minha bisavó (a carta pode, e deve, ser lida aqui). Por razões desinfluentes para a compreensão do que tenho como objetivo, não vou estar em São Paulo amanhã, não vou sequer falar com ele (protagonista de ao menos uma história contada aqui, no Buteco), e nem mesmo sei se consigo fazer chegar até ele os meus parabéns por conta de data tão bacana. O que espero é que, com sorte, um dia – ainda que demore – ele venha a ler isso, saiba que lembrei do seu décimo aniversário e que até comprei um presente bacana que não vou poder entregar no dia de amanhã. Sei, entretanto, e isso me dá certo alento, que nas vezes em que estivemos juntos – poucas, repito – fui um cara legal pra ele, a quem dediquei o melhor e o mais-que-pude. Os parabéns, é claro, vão também pra Leonor, pro Rodrigo (seu tio), pra Rose e pro Fausto (seus avós maternos). Vida que segue;

* na semana passada, no dia 05, sábado, fiz, na Mansão dos Zampronha, no Alto da Boa Vista, um pernil de porco para pouco mais de dez pessoas (as fotos do ágape podem ser vistas aqui). Eu, que tenho publicadas, no menu à direita, até o momento, dezoito receitas, recebi uma quantidade colossal de e-mails implorando a receita do pernil (enquanto eu preparava o pernil, com mais de 24h de antecedência, fui postando fotos no Twitter (aqui) e mesmo no Facebook (aqui), o que foi despertando a curiosidade da assistência). Até terça-feira, dia 15 de novembro, manter-me-ei afastado daqui. Mas prometo, ainda para a semana que vem, a receita do pernil que ficou, modéstia às favas, sensacional;

* se estivesse vivo e entre nós, faria 70 anos, amanhã, o grande e saudoso João Nogueira, que foi bambear no infinito há mais de dez anos. Dia, como tenho dito aos amigos no curso da semana, de beber na rua, nas esquinas, cantando seus sambas e celebrando a graça de viver na mesma cidade em que nasceu João Nogueira. Recomendo, vivamente, que se veja, também, esse filme (vejam,  aqui, belíssima imagens), sobre a inauguração do Clube do Samba, uma brilhante iniciativa do rubro-negro do Méier;

* e pra encerrar: estamos na reta final do mais emocionante Campeonato Brasileiro da era dos (lamentáveis) pontos corridos. Faltando cinco rodadas, Corinthians, Vasco, Fluminense, Botafogo, Flamengo, até o Figueirense (!), qualquer um tem chance de se sagrar campeão. Quero, é evidente, que o Flamengo saia com o heptacampeonato conquistado. Se isso não for possível, que o título não saia do Rio de Janeiro, onde ele está desde 2009 (com o Flamengo, e em 2010 com o Fluminense).

Até.

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O CARNAVAL POR VIR

Vocês que me lêem têm acompanhado o tanto de expurgo do que me vai na alma que tenho feito por aqui. E vai continuar sendo assim – sabe-se lá até quando. Pensei, dia desses (tenho pensado, e pensado muito), numa espécie de relação que possa existir entre a intensidade do amor vivido e a extensão do luto que se enfrenta por conta do desaparecimento da pessoa amada. Cheguei a diversas conclusões, e uma delas é a de que o luto é intensamente mais bem resolvido quando o amor que se perdeu, por conta da morte, foi intensa e plenamente vivido. E viver esse luto, resolvê-lo sem pressa, me tem sido de certo modo prazeroso por conta desse dividir de lembranças, de histórias, de fotografias, desse expurgo.

O tempo decorrido desde a morte da Sorriso Maracanã – lá se vão mais de 3 meses… – tem me apresentado a uma realidade que, se era evidente para mim (e para mim, e para mim, e só para mim), é também a de muita gente (eu quase disse “de toda gente”, mas temi ser presunçoso, embora seja verdade…). A Dani foi marcante, na mais ampla acepção da palavra, para quem cruzou com ela pelo caminho. Não há um só dia em que eu não ouça gente falando sobre isso: colegas seus de trabalho, amigos, amigas, funcionários da empresa na qual trabalhou por mais de dez anos, funcionários do prédio onde vivemos por tanto tempo, gente que a viu – pode lhes soar como exagero, não é… – uma, duas vezes. Não bastasse seu sorriso, o mais bonito que o mundo já viu (e o mundo foi mais bonito enquanto ele reluziu luminoso por aqui…), Dani tinha uma impressionante capacidade de compreender o outro, de representar a doçura em estado bruto da forma mais sutil possível, de fazer – sem com isso querer soar piegas… – diferença efetiva na vida das pessoas que tiveram a sorte, a profunda sorte, de com ela cruzar os olhos, de com ela conviver, e daí, meus poucos mas fiéis leitores, eu fui o mais afortunado, dividindo vida, cama, alma, sonhos, planos, alegrias e tristezas com ela.

Tem sido especialmente difícil fazer pela primeira vez, sozinho, o que tantas vezes fiz com ela. Foi assim minha primeira ida à praia, minha primeira ida à quadra do Salgueiro, minha primeira ida a tantos lugares… E vai ser assim – eu sei – no Natal, no réveillon… e acho que, principalmente, durante o Carnaval 2012. E explico.

O Carnaval era, pra nós, e desde o nosso primeiro Carnaval juntos, em 2000, a maior festa do mundo (mesmo!). Enquanto estivemos juntos, como se não bastassem os quatro dias de folia, o Carnaval começava muito antes… Íamos aos ensaios das escolas de samba, eu dei de me meter a disputar samba de bloco (ganhei, em 2000, no Nem Muda Nem Sai de Cima, durante seis anos seguidos no Barbas e ainda compus, sempre com parceiros, o samba do Azeitona Sem Caroço), e ainda criei, em 2001, ao lado de diversos amigos, o meu próprio bloco, o Segura Pra Não Cair. A Dani, minha menina, sempre a meu lado: quando havia a disputa dos sambas arregimentava os amigos, os colegas de trabalho, pra engrossar a torcida pelo samba; escolhia, comigo, nossas fantasias, quase sempre uma tendo muito a ver com a outra (lembro do ano em que saímos, eu de Fernando Szegeri e ela de Rosa, filhota dele e da Stefânia, nascida dias antes do Carnaval, o que os impediu de brincarem no Bola…). Mas nada se comparava ao Cordão da Bola Preta, ao sábado de Carnaval.

A sexta-feira que antecedia o grande dia era, lá em casa, praticamente um 31 de dezembro: comprávamos champagne, montávamos uma mesa bonita e à meia-noite brindávamos, juntos, o começo de mais um Carnaval (e foram 12 carnavais juntos!). Acordávamos no sábado bem cedo e colocávamos pra tocar – foram 12 anos assim! – o CD da Elizeth Cardoso com a Banda do Cordão da Bola Preta. Aos primeiros acordes do clássico “Quem não chora não mama! Segura, meu bem, a chupeta! Lugar quente é na cama ou então no Bola Preta!” o sangue fervia e partíamos, de ônibus (raramente de metrô), pra Cinelândia.

O vídeo abaixo, curto, 40 segundos apenas, é do Carnaval de 2007. Eu, Dani, Betinha e Fefê estamos na caçamba do carro dirigido pelo Flavinho, que nos resgatara ao final do desfile do Bola Preta a fim de que pudéssemos encarar a Festa das Burrinhas, promovida há muitos anos pelo Mello Menezes. E a Dani, cigarro numa mão, lata de cerveja na outra, pede, à certa altura:

– Canta, pituco! – e dá-lhe o Bola Preta!

O desfile do Bola Preta, em 2012, vai ser um grande teste pro meu combalido coração. No Carnaval deste ano, 2011, Dani já não estava bem, não tinha condições de ir ao Bola Preta comigo. Na quarta-feira que antecedeu o sábado de Carnaval, cheguei em casa do trabalho e ela me disse, sentada na cama, no nosso quarto:

– Eu não consigo ir ao Bola, esse ano. Vou amanhã cedo pra Cabo Frio com meu pai e com minha mãe. Mas você tem de ir, tá? É importante pra nós, é importante pra você. Desfila, bebe, dorme… no domingo de manhã você vai pra me encontrar… – e mostrou-me, toda contente, as três fantasias que havia separado pra mim.

Conversamos pacas, eu lutei contra a idéia de não ir com ela pra Cabo Frio, acabou que ela foi mesmo na manhã de quinta-feira e eu fiquei. Fiquei, meus poucos mas fiéis leitores, e minha sexta-feira foi triste – a anti-sexta-feira de todos os anos. E às cinco da manhã, de pé, diante das três fantasias, não tive a menor vontade de ir ao Bola Preta – o que sempre me pareceu inimaginável! – e parti, às pressas e aos prantos, pra Cabo Frio, ao encontro dela. Nada no mundo apagará de mim a luz de seu sorriso quando eu cheguei lá. Eram quase onze da manhã, a flagrei diante da TV:

– E eu aqui tentando te ver no Bola Preta! – deu-me o mais terno abraço do mundo, choramos feito duas crianças.

Deixei de ir ao Bola Preta sozinho para estar com ela.

2012 terá esse desafio: não tenho a opção de não ir para estar com ela.

Mas como “o Bola Preta sabe eternizar”, como reza a letra de Aldir Blanc para o Bola Preta do Jacob do Bandolim – que canto no vídeo abaixo ao lado de Tiago Prata (7 cordas), Gabriel Cavalcante (cavaquinho) e Leal (tamborim) – hei de viver a subversão absoluta que o Carnaval representa no sábado do Bola Preta, em fevereiro do ano que vem. E desfilar ao lado dela.

Até.

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AMANHÃ É DIA DE SIMAS

Como amanhã, 02 de novembro, é feriado – dia de pouca audiência nestas plagas, dia de flanar pela cidade – aproveito para fazer, hoje, minha humílima homenagem a esse grande brasileiro que é Luiz Antonio Simas – e peço licença para brevíssima digressão – que aniversaria amanhã.

Sempre me é comovente verificar, com meus próprios olhos, que meu primeiro contato com Luiz Antonio Simas deu-se no dia 18 de agosto de 2006, quando ele deixou o seguinte comentário neste texto aqui:

“Eduardo, sou um leitor assíduo do blog, morador do Maracanã, amigo do peito do grande Rodrigo Ferrari (da inestimável livraria Folha Seca) e admirador das suas campanhas cívicas – sim, cívicas – contra as sem-vergonhices do Jota e dos Leblons da vida. Mas sempre estive em silêncio obsequioso. Hoje, porém, vou me manifestar: sensacional! Como eleitor e admirador do velho, aplaudo de pé a cena! Quanto ao Roberto Talma…nunca me enganou! Francamente… abraço.”

Dias depois, o citado Rodrigo Ferrari, justamente na Folha Seca, tratou de nos apresentar pessoalmente. E ali, naquela tarde, eu o reconheci (já o conhecia, vá entender os mistérios da vida, como lhes contei aqui).

De lá pra cá, já lá se vão mais de cinco anos. Somos – digo sem medo do erro – amigos na mais ampla acepção da palavra, e eu tenho um tremendo orgulho de dizer isso. Professor de História (e eu tenho declarada inveja de seus alunos, ainda que eu me considere, a cada conversa, um aprendiz diante do mestre), conhecedor profundo dos mistérios do invisível, apaixonado – como eu – pelo Brasil e por sua gente, o Simas ocupa, por incontáveis razões, especial lugar na minha vida.

Seja porque somos vizinhos e fanáticos por nossa aldeia, o que nos propicia infinitas conversas pessoalmente, quase sempre diante de um balcão qualquer de qualquer uma das espeluncas que nos comovem, seja porque jamais me negou o apoio na condição de sacerdote que é, e que com uma seriedade rara de se ver ele exerce, seja porque foi em sua casa que tantas e tantas vezes ele me acolheu, na reta final da vida de minha menina (ele que mora na mesma rua do fatídico hospital…), sempre disposto a me secar as lágrimas (e muitas vezes dividi-las comigo) e me molhar o bico com o Red Label que guardava só pra mim… – “Edu, seu remedinho…” – a fim de que eu ajustasse meu pH antes de enfrentar a dureza daquelas visitas…

Luiz Antonio Simas, companheiro da Candinha e pai há pouco menos de um ano do Benjamin, é – em apertada síntese – um presente que ganhei na vida. Lembro – impossível não lembrar – do quanto minha menina vibrou com o nascimento do moleque, que deu-se justo num dia em que estiveram, os dois, almoçando em nossa casa (como lhes contei aqui, no texto Tocologia na Tijuca) – pra profunda alegria da Dani, que sempre que pôde esteve perto do pequeno Benjamin.

Dia desses o Simas pregou-me uma peça, me enviando por e-mail uma porção de fotografias da Sorriso Maracanã em sua casa, onde passou algumas tardes curtindo o primogênito: com ele no colo, trocando suas fraldas, dando banho etc

Hoje, comovidíssimo (eu sempre me comovo no dia do aniversário dos meus), devolvo ao Simas a gentileza, com a fotografia que segue abaixo. É tudo o que desejo a ele pela passagem de mais um dois de novembro: uma vida tão bonita, tão luminosa, tão generosa e tão espetacular quanto o sorriso que se insinua pelos caminhos que sigo, tão escancarado ao lado dele (Dani amava o careca!) naquele primeiro de janeiro de 2008. Ergo o copo cheio de espessa espuma pedindo a nosso pai Ogum – meu e dele! – muita saúde, muita paz e muito amor. Axé, meu irmão. Obrigado por tudo.

Até.

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