Arquivo do mês: novembro 2006

>TÁ DIFÍCIL…

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Antes de mais nada eu quero, com o cotovelo apoiado no balcão imaginário, me desculpar por não ter escrito rigorosamente nada ontem. Seguramente isso não fez diferença pra ninguém, seguramente ninguém teve crise de abstinência por conta disso, mas eu confesso que fiquei ligeiramente chateado por interromper a rotina. Mas as atribulações do dia não me deram o mínimo refresco. E isso somado à frustração que tive quando soube que minha menina chegaria apenas amanhã, sexta-feira. Feita a introdução, vamos ao que lhes quero contar.

O Jota, vocês que me lêem estão cansados de saber disso, é alvo de permanentes críticas minhas por conta da publicidade escancarada que faz em prol dos bares-de-merda que vêm destruindo, aos poucos, os butecos carioquíssimos que são a cara da cidade que eles, investidores ávidos apenas por lucro, ajudam a destruir. Mas notem: eles, investidores, que deveriam buscar o lucro noutra atividade que não uma tão nociva à cultura do Rio de Janeiro, estão cumprindo o papel que lhes cabe, o de vorazes empresários cagando para tradição, para cultura, para manutenção dos hábitos do povo. O que me causa indignação é que um sujeito que tem uma coluneta de página inteira em um dos principais jornais do país, que assina uma coluna às segundas-feiras, preste um desserviço à cidade adulando, puxando o saco, babando as bolas, os ovos, desses caras e dessas anomalias a que chamam “botequim pé-limpo”, ou “pé-sujo fashion”, essas merdas.

Pois bem. Ontem e hoje esse homúnculo dedicou-se a dar publicidade a duas babaquices sem tamanho. Vamos a elas.

Numa nota publicada ontem, intitulada “Vou de táxi”, diz o consoante:

“O Rio ganhou sua primeira cooperativa de táxis especializada em atender o público GLS. É a Nova Aliança. A frota tem 20 carros, trafega principalmente pela Zona Sul, e tem como símbolo o mesmo arco-íris do movimento gay.”

Apenas um comentário, e tirem vocês as conclusões que quiserem: onde mais, se não na zona sul, poderia trafegar uma merda dessas? E depois de apenas esse comentário, uma pergunta, que se alguém puder me responder eu agradeço intensamente: o que significa uma cooperativa especializada (vou repetir… especializada) em atender o público GLS????? E o Jota, especializado em promover merda, dá nota!

Parou por aí?

Não. Numa nota publicada hoje, intitulada “Turismo de alegria”, denotando que o Jota anda numa fase afetadíssima, diz o consoante:

“O Rio, que só perde em turismo gay para São Francisco, já tem cinco grandes festas raves programadas entre 29 de dezembro e 1º de janeiro: Alegria, X-Demente, R.Evolution (duas edições) e Pool Party.”

Sobre essa propaganda imunda do homúnculo (ganhando o quê em troca?), tenho a dizer o seguinte: todo mundo sabe, até o Pepperoni, meu fiel vira-lata, que festa rave nada mais é do que um pretexto para uso indiscriminado de drogas sintéticas, ecstasy, bala (como eles chama essas merdas, nem sei direito o que vem a ser) e outras bostas do gênero.

E isso é anunciado com festa (da alegria, segundo o Jota) em um dos mais importantes jornais do país. Agora… baile funk no morro é motivo para que os pais dos merdas que se drogam nas raves estendam faixas escrito “BASTA” em suas varandas. Tá difícil, tá difícil…

Parei por aqui?

Não.

Termino com uma notícia bastante elucidativa, que dá bem a dimensão dos tempos sombrios que vivemos. Uma criminosa recebeu a Medalha Pedro Ernesto, concedida pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, leia aqui. Um assassino como o Coronel Ustra, torturador covarde com mais de 500 crimes nas costas, evidentemente sem o negrito, é bajulado num banquete para 400 pessoas, em São Paulo, com direito a discurso de Jarbas Passarinho, com 82 anos, ainda vivo, infelizmente capaz de dizer as barbaridades que disse para uma platéia patética babando diante de um monstro. Uma milionária é assassinada no Leblon e no dia seguinte o cartunista de O GLOBO desenha o Rio de Janeiro sangrando, como se não sangrasse diariamente com a morte de anônimos em lugares ditos menos nobres que o bairro preferido do Jota. O irmão desse colunista, na mesma oportunidade, e aparentemente pelo mesmo motivo, desenha, na capa do JB, um negrinho assaltando o Cristo Redentor, mais detalhes aqui.

E o que aconteceu mais recentemente para que eu puxasse tanto gancho podre como intróito?

Está para ser inaugurada mais uma estação de metrô no Rio de Janeiro. Na zona sul. Mais precisamente em Copacabana. Próximo ao Corte de Cantagalo. Mais precisamente na Praça Eugênio Jardim. E vive-se a celeuma: como se chamará a estação? Estação Cantagalo ou Estação Eugênio Jardim?

Pois bem. A Associação de Moradores e Amigos de Copacabana – a AMACOPA – está promovendo um abaixo-assinado para ser entregue ao Governo do Estado pedindo que a estação não se chame Cantagalo, e sim Eugênio Jardim. A razão?

Leiam, vomitem e concordem comigo que a coisa tá feia, muito feia.

“3. Todos nós devemos, sempre que possível, enaltecer os bons exemplos, para que nossos filhos e para que a própria sociedade tenha modelos a seguir.

4. Ao mesmo tempo, todos nós devemos evitar toda e qualquer possibilidade de – inadvertidamente ou não – enfatizar ou evidenciar, os maus exemplos, passíveis de alusões ou associações, ao crime, a contravenção e a delinqüência, o que infelizmente, a denominação ´Cantagalo´ tem hoje, com o narcotráfico.”

Eu confesso que, tomado de ódio, de nojo, de repugnância e de um sentimento quase-assassino, nem consigo mais escrever. Quero que Dalva Bezerro Camanho, que assina esse troço mal escrito, mal pontuado, cheio de um preconceito odioso e repugnante, se foda – esse “se fôda” lido assim, com o circunflexo pontuado, lido com ênfase szegeriana – como quero que se fodam todos os filhos das putas capazes de assinar um cocô desses.

Como quero que, como último ato como governadora do Estado, Rosinha Garotinho bata o martelo (antes de fazê-lo na própria cabeça e na de seu marido) e batize aquela estação como “Estação Cantagalo”.

A boa notícia, que vem junto, anuncia que o Ministério Público entrará com ação contra essa associação de merda por discriminação territorial, de origem e crime de racismo.

Até.

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O APELIDO

O átimo entre a percepção interna e o verbo externado que dá apelido a alguém é, pra mim, um mistério. Um mistério ao mesmo tempo sacralizado. O cara fica ali, na dele, no canto do balcão, bebericando feito passarinho sua bebida, saca os caras à sua volta, pensa, ri sozinho, e espera o momento certo para cravar o apelido que, no mais das vezes, se eterniza.

Feito o intróito, vamos aos fatos.

Ontem fui ao bate-papo promovido pelo jornalista Marco Antônio de Carvalho com Aldir Blanc, no Céu Aberto, na Lapa. Durante o dia, trocando emails com o Fausto Wolff, dei a ele a sugestão do programa. Não levei fé. Mas quando eu cheguei, já lá estava o Velho Lobo, jornalista maiúsculo. Como lá estavam Alvinho Marechal, Baffinha, Rodrigo Folha Seca, Mello Menezes, minha comadre Mariana Blanc, Marquinho Presidente, Bel Blanc, Mari Blanc, Vera Mello (que recitou um texto magnífico do Aldir, no final, levando o bardo às lágrimas), Pratinha, entre outros.

Reconheço de público o horror desse “entre outros”. Até porque eu gostaria de me referir especificamente a um casal que lá estava, ela fotografando e ele de cabelos nazarenos, mas não me lembro – deve ser a senilidade me dando bom-dia – de jeito nenhum seus nomes. E justo ele que, disso bem me lembro, foi o primeiro da fila no dia 12 de dezembro do ano passado, quando lancei meu livro no Estephanio´s (comprem! comprem! comprem!). Comprem através do link ou ao vivo, em carne e osso, na Livraria Folha Seca, a livraria do meu coração, na Rua do Ouvidor 37. Vale a visita, vale um papo com o Rodrigo ou com a Dani, que cuidam daquilo com esmero e têm sempre uma dica perfeita. Vão por mim! Feita a publicidade, de coração, vamos em frente.

Comprovando, uma vez mais, que “papo é civilização”, frase cunhada pelo Ivan Lessa e lembrada ontem pelo Aldir, a noite foi absolutamente agradável, os presentes fizeram perguntas, as perguntas se multiplicaram, e viveu-se, ali, literalmente, uma aula de civilização e de carioquice. Devo dizer que um dos momentos que eu mais gostei foi quando Aldir e Fausto sentaram a piaba nesses bares de merda que eu tanto espanco por aqui.

De lá partimos para o Capela.

E foi lá que deu-se o átimo a que me referi no primeiro parágrafo.

Mas ainda no Céu Aberto, tive o prazer de apresentar o Aldir ao Pratinha e vice-versa (como é que se diz essa merda sem precisar recorrer a esse “vice-versa”? Ajude-me, Szegeri, por favor). Disse eu ao Aldir:

– Esse é o malandro que junto comigo levou o “Bola Preta”, cantado de cor! – eu frisei o “cantado de cor” porque o autor da magnífica e extensa letra duvidara da coisa.

Aldir fez festa, o Prata avermelhou-se – ele é o segundo maior conhecedor da obra blanquiana – e tomamos o rumo, então, do Capela.

Chope, chope, chope – exatamente três para cada um – e partimos, eu, Prata e Rodrigo Folha Seca, deixando por lá, ainda – típica noite sem fim – Aldir, Fausto e comitiva.

Quando eu já estava na porta, gritou-me o Aldir:

– Edu! Edu! Edu! – e fazia um vem-cá com a mão.

Cochichou-me no ouvido:

– Por favor, Edu… Deixa o Querubim em casa direitinho, hein!

Eu explodi de gargalhar. E fui contar a ele, Prata Querubim, seu apelido daqui pra frente.

Falei em explodir de rir e fecho com uma frase-resposta do Aldir, durante o bate-papo, que fez a platéia rolar no chão.

Perguntou o jornalista:

– Aldir… Se você pudesse mandar um recado, dizer uma frase ao Presidente Lula, qual seria?

E ele, de voleio:

– Não vai sujar o shortinho, hein!

Até.

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ALDIR, DICA PRA HOJE

A dica pra hoje é a seguinte: às 19h, no Céu Aberto, na Rua do Lavradio 170, na Lapa, comandado pelo Themudo e projetado pelo Toledo, o pai do ilustrador (vejam aqui), o jornalista Marco Antônio de Carvalho comanda um bate-papo com um dos maiores papos que eu conheço, Aldir Blanc, dentro do projeto “Histórias Cariocas”.

Se tem alguém que tem história pra contar, e uma mais carioca que a outra, é ele: o ourives do palavreado.

Ah, sim. E é de graça.

Até.

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>DE CARONA COM O PRATINHA

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Isso, sim, é uma segunda-feira clássica. Céu nubladíssimo, como eu, há exatos sete dias sem o mais lindo sorriso do mundo ao meu lado. Curitiba é, há uma semana, um lugar mais bonito e justamente por isso. Os curitibanos e curitibanas, tenho certeza disso e ai de quem duvidar de mim, sequer desconfiam disso, mas notam um troço diferente, a cidade mais iluminada, e é por causa dela. Mas quarta-feira, ainda que o tempo se mantenha nublado, como agora, será dia de céu azul em mim. Feita a romântica introdução, já que sonhei com minha Sorriso Maracanã, vamos em frente.

Antes de ir em frente eu tenho – infelizmente – que citar o Jota mais uma vez. Saquem uma das notas de hoje na coluneta:

“Nova Profissão

Dono de sete botecos no Rio, entre eles a Taberna do Juca, na Lapa, o português Juca Ribeiro, 67 anos, virou consultor para assuntos de botequim. Recebeu cachê de R$1.600 para ensinar os segredos de um bom boteco aos formandos de Turismo da Facha. No início do mês, ganhou hospedagem em hotel cinco estrelas para professorar numa festa da Ambev em São Paulo: ´O segredo de um bom boteco é o cozinheiro e, como disse meu amigo Moacyr Luz, banheiro limpinho´, ensina.”

Como é possível isso? Antes de qualquer coisa me chama a atenção a qualidade do curso de Turismo da Facha. O quê – meu Deus – um investidor, dono de sete bares espalhados pela cidade, tem a ensinar a alunos de turismo????? E mais: depois de incensar garçons-estrela, de incensar pesquisadores de comida de buteco, agora mais essa: consultor para assuntos de botequim. Parece até sacanagem.

E pra fechar o texto dessa segunda-feira chuvosa – começou a chover há segundos – um relato rápido sobre minha primeira experiência como carona do Pratinha. E explico. O Prata, muito recentemente, tirou carteira de motorista. E evidentemente, é sempre assim quando se obtém a habilitação, com a carteira exibida como troféu, o Prata pega o carro até pra comprar pão na esquina de casa.

Bateu-me o telefone ontem cedo:

– Edu? Vamos ao lançamento do CD da Velha Guarda do Império Serrano?

Nem titubeei:

– Vamos.

E ele, numa euforia menineira:

– Eu vou dirigindo! Eu vou dirigindo!

Nem titubeei:

– O.K. – disse disfarçando o medo.

E arranjamos a coisa. Prata ficou de passar aqui em casa às duas. Foi desligar o telefone com ele e eu disquei pro Simas:

– Simão? Vamos ao…

– Prata já me ligou…

– Vamos?

– Vamos.

– Ele passará aqui às duas.

E o Simas, num tom que me pareceu preocupado:

– Vamos nos encontrar uma hora antes no Rio-Brasília.

– O.K.

Cheguei no Rio-Brasília e lá estava, já com a cara enterrada num copo de maracujá, o meu amigo mais calvo:

– Edu, estou preocupadíssimo…

– Eu também.

– Você já andou com ele?

– Nunca. E você?

– Também não.

E ficamos ali, os dois, numa neura que não alcança um menino de 19 anos.

Antes da história propriamente dita, um detalhe: o Prata gosta tanto de seu carango que até batizou o bicho. O carro se chama Dorival. E ele vive dizendo isso: “Ontem saímos eu, Luisa e o Dorival”, “Vou almoçar na casa de minha tia, em Vila Isabel, com o Dorival”, “Fui pro Escravos da Mauá com o Dorival”, sempre assim.

Eis que chega o Dorival.

E chega numa espécie de galope, quicando desde a esquina da Hadock Lobo até parar diante do bar. Eu e Simas com a expressão do mais absoluto pânico. E salta o Prata:

– Acho que acabando a gasolina.

– Então não vamos! – gritamos os dois em uníssono.

Ele aflitíssimo:

– Vamos, gente, vamos que eu quero aprender o caminho pra Madureira!

Entramos os dois no banco traseiro. E o Prata manda a piada evidente:

– Pô! Eu vou de motorista?

Um par ou ímpar decidiu. Eu pedi par. Um-dois-três e já! Pus 1. O Simas pôs 2.

– Ganhei! Vai você na frente!

Fui.

Eis a realidade. Fomos e voltamos sem arranhão. Mas vivemos momentos inconcebíveis. Antes de qualquer coisa, Prata e Dorival são incompatíveis. Ou melhor, o automóvel e o Prata são incompatíveis. Dono de pernas muito longas, o menino mantém o banco do motorista colado ao volante, e o carona tem uma visão terrível. Os joelhos esbarram ora no comando das setas, ora no comando do limpador do pára-brisa. Mais grave, ainda, é o fato de que ele foi, daqui à Madureira, sem olhar uma única vez pra frente por mais de 10 segundos seguidos. Trocava as faixas do CD, falava no celular, o Simas entoando cânticos religiosos deitado no banco de trás e eu dando a direção, o caminho, e Prata, desligado, subindo em gelo baiano, jogando o pobre Dorival sobre os sinalizadores da pista, submetendo os pneus e a suspensão a testes que nem a Quatro Rodas admite fazer, avançando sinal, quase-atropelando pedestres, um horror, um horror.

Quarenta minutos depois, chegamos.

Atentem para o final! Atentem, que a perícia do menino ao volante é inversamente proporcional a que demonstra com o sete cordas nas mãos.

– Onde eu vou arrumar vaga?

– Ali! Ali! – disse eu apontando um guardador que fazia sinal com os braços, como os bonecos de pláticos dos postos de gasolina.

Lá fomos nós. Prata engatou a primeira, o Dorival ricocheteou no asfalto (por sorte os cintos de segurança funcionam a contento) e ainda em primeira, devagarinho:

– Ali?

– É. Ali.

O guardador pôs uma tremenda tábua de madeira no asfalto para reduzir a altura da calçada e, evidentemente, o impacto sobre os veículos.

Eis que o Prata sobe em direção à vaga, a absurdos 60km/h, e freia bruscamente diante dos portões de ferro de uma loja, ainda bem, fechada. Sorri, orgulhoso do feito.

Eu, branco até a alma, de pânico.

Simas, verde até a alma, enjoado.

Bebemos para esquecer que teríamos de voltar.

E quando chegamos ao Estephanio´s, na volta, humildemente o menino pediu:

– Estaciona pra mim?

Em menos de 10 segundos Dorival estava estacionado entre um BMW e um HONDA, numa vaga mínima, exígua.

Quando eu saí do carro, o Prata, gentilíssimo, com a mão no meu ombro esquerdo, disse, pela primeira e provavelmente pela última vez, o que eu digo a ele com freqüência:

– Gênio!

Até.

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>JOTA E O VADE-MÉCUM

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Era evidente que isso aconteceria, convenhamos.

Dois dias depois da festa de lançamento da sétima edição do “Guia Rio Botequim”, no Circo Voador, não poderia ser outra a manchete da coluneta d´O GLOBO: “Viva os botequins do Rio!”

Mas como eu sou radical – e obrigado, Bruno Ribeiro, pelo comentário feito em um dos textos de ontem – quero expôr, na vitrine do ridículo, algumas das besteiras, pra variar, escritas ali. E digo “algumas das besteiras escritas ali” com uma certeza do acerto que chega a me acalmar, tamanha a verdade do troço… Ou porque a coluneta escreve besteira ou porque é uma besteira o que ela noticia.

Vamos em frente. Abre assim a coluneta:

“Carlos Eduardo Thomé, o Kadu, do Bracarense, e Antônio Rodrigues, do Belmonte, se cumprimentaram e posaram no mesmo grupinho para as fotos no lançamento anteontem do Rio Botequim, no Circo Voador. Foi uma breve pausa na velha rixa dos dois empresários de bares da Zona Sul. Logo depois Kadu reclamaria da comida servida na festa, oferecida pelo Belmonte: ´O bolinho de camarão parece uma bola de golfe, se você jogar em alguém, mata´.”

Há uma acerto nisso aí. É quando o Jota se refere aos dois investidores como “empresários de bares da Zona Sul”. Da mesma nota emerge uma vergonha que eu já havia denunciado, depois de ler a barbaridade no blog do Juarez Becosa: foi o Belmonte que ofereceu (de graça? em troca de quê?) a comida servida na festa. Como pode, porra? Podendo. Sem o mínimo de ética, tudo pode. Pode o mesmo Belmonte fazer propaganda de todas as suas filiais dentro do próprio guia e ainda oferecer (de graça? em troca de quê?) a comida no dia do lançamento. E isso sem falar na apenas aparente rusga entre os dois investidores (ou representantes de investidores), apontada em tom de fofoca nojenta. Tudo jogo de cena para render nota atrás de nota.

Há outro tijolinho dentro da mesma nota, dando conta de que o chope foi servido em copo de plástico. E aproveita, o Jota, para dizer que, por exemplo, “o compositor Moacyr Luz, boêmio veterano, nem reclamou do copo ser de plástico”. Eu duvido. Trata-se de mais uma mentira ventilada pelo homúnculo. Chope servido em copo de plástico?! Essa foi apenas uma das razões pelas quais estava lotado o Bar Brasil, na Mem de Sá, pertinho do Circo Voador, de convidados para o lançamento. Somada, também, à luta travada entre os civilizados convidados que, à base de cotoveladas ferozes, disputavam a comida como bárbaros.

Em outro tijolinho, o Jota, que não dá ponto sem nó – esse é seu vigésimo sexto atentado apontado por nós, veja no menu à direita – faz, mais uma vez, propaganda para o homem (de graça? em troca de quê?). Vejamos a nota:

“Antonio Rodrigues, do Belmonte, anunciava que vai abrir em janeiro, na esquina da Lavradio com Mem de Sá, o Antonio´s, com piano, jazz e uísque no segundo andar. Depois, vai transformar um pé sujo que tem em Ipanema, o Lago Mar, na Vinicius, num filial do Antonio´s. ´Mas não vou deixar de servir prato feito a R$5,00 para a peãozada.´ Por dia, hoje, saem 300 PFs no pé sujo.”

Vamos por partes… O mesmíssimo Jota já havia anunciado mais essa nova empreitada do Antonio Rodrigues, leiam aqui. Pra quê – ou em troca de quê? – dar a mesma notícia outra vez? Pra quê, também, valer-se do aposto “do Belmonte”, se três tijolinhos acima já havia conseguido escrever o nome do bar-mentira do tal cidadão? Em troca de quê? E a barbaridade das barbaridades!!!!! Dentro de uma nota com a manchete “Viva os botequins do Rio!” o Jota anuncia que seu amigo irá acabar com um pé-sujo para abrir “novo bar em janeiro, agora de padrão sofisticado, em Ipanema. Nada de chope. Será especializado em uísque e destilados.” – não sou eu que estou dizendo, é o próprio homúnculo, leiam aqui. E ele quer que eu acredite que a peãozada vai ter direito a comer PF a R$5,00 em Ipanema, dentro de um bar de padrão sofisticado? Então tá.

Pra terminar, só mais um comentário que dará bem a vocês a dimensão da imundice e da podridão de tudo isso. Não faço a menor idéia do critério utilizado para a seleção dos convidados. Mas é que a certa altura da imunda nota, diz o Jota que “os donos de botequim, citados no guia, como os melhores petiscos e comidas de bar, saíram da festa com diplomas…”.

Hoje, passeando com meu mui fiel vira-lata, passei em frente ao Rio-Brasília.

– E aí, Joaquim? Boa noite, Terezinha! Gostaram de ver o Rio-Brasília no “Rio Botequim”?

Disse ele:

– Aonde?

E ela:

– Rio o quê?

Expliquei.

Não sabiam de nada.

Dentre os quase mil convidados para a festa, selecionados segundo um critério tão babaca quanto inexplicável, não estavam dois patrimônios da zona norte, Joaquim e Terezinha, que conduzem o Rio-Brasília (citado no guia) com um carinho que os “empresários de bares da zona sul” não têm. Talvez, por não serem essa merda, por não fazerem parte dessa corja, os dois não tenham sido convidados.

Até.

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>MAIS ÉTICA

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Acabo de ler no blog do Juarez Becosaaqui – que ontem, durante o lançamento da sétima edição do “Guia Rio Botequim”, no Circo Voador, os petiscos servidos aos 500 convidados ficaram a cargo…

De quem? De quem?

Do Belmonte, evidentemente.

E depois neguinho ainda diz que eu é que sou radical.

Então tá.

Até.

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>E SAIU O RIO BOTEQUIM

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Eu costumo repetir, como em ladainha, que sou preciso do início ao fim. E é em nome dessa precisão, e de uma honestidade olímpica, que quero lhes dizer que, dos palpites que dei no texto “SAINDO NA FRENTE”, escrito em 31 de outubro de 2006, errei apenas um, e por pouco.

Eu escrevi à certa altura:

“A carne assada com coradas do Rio-Brasília, buteco comandado com maestria pelo Joaquim e pela Terezinha, estará no tal guia? Evidentemente que não.”

E não está mesmo. Mas está lá – eis minha maior surpresa – a sardinha frita, impecável. Eu digo “minha maior surpresa” mas ao mesmo tempo sou tomado por calafrios, só de imaginar os bobalhões, que seguem esses guias à risca, invadindo o minúsculo buteco e reclamando do único banheiro, reclamando da textura do guardanapo, enchendo, enfim, o saco dos fiéis de todos os dias.

No mais – prossigo em tom de confissão – passei a vista muito por alto, e foi me parecendo melhor que todas as versões anteriores, e a razão ficou clara depois de ler os textos que apresentam o livro. Ainda está por vir o verdadeiro “Rio Botequim”!!!!! Esse que foi lançado ontem é apenas um guia, que usa o mesmo nome, parte do mesmo projeto, exclusivamente sobre comida de buteco. Reparem trecho do texto de apresentação, assinado por Laura Reis Fagundes e Martha Ribas:

“Lembramos que essa seleção de bares foi feita com base, apenas, no prato escolhido. Bebidas, ambiente e serviço não foram levados em conta. Mas os donos dos bares que fiquem atentos, pois a qualquer momento uma nova edição com a já tradicional seleção dos cinqüenta melhores bares da cidade começará a ser produzida.”

Eis o mistério desfeito. O verdadeiro vade-mécum de otário ainda está por vir.

E antes de terminar, duas palavrinhas.

É evidente – eu não tinha a menor dúvida disso – que os bares mais citados no guia lançado ontem são o Jobi e o Belmonte, com quatro pratos cada um.

Ambos no bairro-cenário do Manoel Carlos (sem o negrito, já que o Borgonovi o considera um horror!).

E pra fechar, um detalhe curioso: o livro, um projeto “Memória Brasil” e “Casa da Palavra”, com apoio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e da Secretaria Municipal das Culturas tem apenas UM anúncio.

De quem?

Do Boteco Belmonte (Belmonte Flamengo, Belmonte Leblon, Belmonte Ipanema, Belmonte Jardim Botânico, Belmonte Copacabana e Belmonte Lavradio). Anúncio de página inteira, no final do livro.

Ético, não?

Até.

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>HÁ POUCO MAIS DE VINTE ANOS

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No dia 09 de junho deste ano escrevi, aqui no Buteco, um texto chamado “1986-2006”, em homenagem ao Vidal, a Lenda, e acabo de relê-lo e acabo de ficar, de novo, emocionado, como no instante em que o escrevi. Explico.

Estávamos, naquela altura, a dois dias da abertura da Copa do Mundo. Leiam o tal texto – repito o link – e notem que o Vidal, naquele 9 de junho, me fez a pergunta fatal:

– Edu… ´cê tá lembrando que depois de amanhã começa a Copa e que há exatos vinte anos assistimos ao primeiro jogo do Brasil juntos, na casa do Marquinho, na Grajaú?

Evidente que eu lembrava. E ainda mais evidente que, da pergunta em diante, fui um nostálgico com agudíssimas saudades de tudo e de todos, mesmo que sem qualquer razão aparente, até mesmo porque não quero nada daquilo de volta, embora atribua tudo o que sou, a cada dia, a cada hora, a cada minuto passado desde o 27 de abril de 1969, a cada pessoa que me cruzou o caminho, incluindo as vacas que tentaram destruir, em vão, meu pasto.

Mas eis que o Vidal, dia desses, me bate o telefone e me convoca, grave, para um encontro rápido:

– Tenho um troço para ti.

Eu ganindo do outro lado da linha:

– O que é? O que é?

– Surpresa. Seis horas no Rio-Brasília.

Cheguei às quatro.

E vivi duas horas de angústia.

E ele, que foi pontualíssimo, entregou-me, em forma de fotografia, aquele primeiro de junho de 1986 a que me refiro no texto “1986-2006”.

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Não é possível que isso aconteça só comigo.

Foi ele me entregar a tal fotografia e eu vi, um por um, diante do balcão do Rio-Brasília, pedindo carne assada com coradas e maracujá ao Joaquim, comemorando aquele gol do Sócrates no macérrimo um a zero contra a Espanha.

Pela ordem, vamos lá.

Em cima, da esquerda pra direita: Bandoli, Nêga, Denise, Telmo e Zacour, formando um “v” na fotografia. De amarelo, Claudinha Lyra, Janine (com os óculos escuros nos cabelos) e Claudinho Braga atrás. Abaixo dele, Patrícia Rocha, Duda, Alexandre Viana, eu (de boné) e o Lula, com a flor na orelha. No chão, Marcelo Vidal, Marcinha e Piúma.

No canto da foto, embaixo à direita, a data, para os incrédulos: jun.86.

Muitos eu nunca mais vi.

Mas é impressionante – as fotografias nos revelam troços inescrutáveis – como todos estão comigo. Ainda.

Até.

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>TUDO DE NOVO

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No dia 14 de março, de 2006 mesmo, anunciei, aqui, com pompa e circunstância: parei de fumar! Antes de prosseguir preciso lhes confessar que bastou digitar a palavra “pompa” para que ele, o Pompa, meu mano Szegeri, viesse à lembrança. Corrijo-me. O Szegeri nunca me vem à lembrança. Não posso lembrar de um sujeito que está vivo e atuante, em mim, as 24 horas do dia. Ele é, já disse isso milhares de vezes e repito, mais uma vez, para que fique ainda mais evidente, o homem a quem recorro diuturnamente. E para tudo. Não foi uma, não foram duas, não foram três vezes, por exemplo, que diante da minha Sorriso Maracanã, num restaurante qualquer, com o cardápio aberto, bati o telefone pra ele:

– Szegeri, querido… O que eu peço para jantar?

E ele – tenho de fazer a confissão em nome da precisão – jamais me negou a ajuda, o help necessário.

– Filé com fritas!

– Peixe assado com banana!

– Uma massa!

Dito isso, em frente.

Voltei a fumar em meados de setembro, eu penso.

Mas eis que, menos de dois meses depois, abateu-se sobre mim o peso do pânico novamente.

E fui ao Zyban.

E parei de fumar (podem rir) no dia 16 de novembro.

De lá pra cá – não pensem nos poucos dias, pensem nas muitas horas sem nenhum dos 60 cigarros que me diziam “olá” ao longo de todos os dias – já resisti a algumas rodas de samba, a uma tarde inteira de praia, aos silêncios de depois e quero crer – riam de novo! – que dessa vez é definitivo.

Antes de fechar, um grifo: quem mais ri, eu sei, é meu velho pai.

Não saberia dimensionar para vocês o tamanho da gargalhada quando, na quinta-feira passada, lhe disse com as mãos em seus ombros:

– Pai, parei de fumar.

Foi constrangedor, até.

Até.

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>20 DE NOVEMBRO

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Hoje é 20 de novembro, feriado. Comemora-se, neste dia, o Dia da Consciência Negra, em razão de que a data nos remete à luta resistente de Zumbi dos Palmares. Aliás, faço aqui uma breve pausa, não sem antes protestar contra essa barbaridade que faz com que as crianças brasileiras desconheçam, por completo, a história desse e de outros grandes heróis da história brasileira, e idolatrem cachorros idiotas como um tal de Clifford, um gigante retardado, e outros lixos impostos pelo Discovery Kids, a verdadeira babá eletrônica da imensa maioria dos pais.

Eis aí, hoje, uma bela oportunidade, uma bela data, para avaliarmos quem nos cerca. Ouvir “quero ver quando vai ter o dia da consciência branca”, “grandes merdas esse feriado por causa dos pretos”, e outras imbecilidades do mesmo gênero, serve para que saibamos quem é quem, e creio que me faço entender. Voltando, então.

Vai soar repetitivo, confesso, eis que há poucos dias recomendei a leitura de seu blog, de maneira intensa. Mas é que lendo, ontem, o belíssimo texto que o Simas escreveu para homenagear o Anescar, do Salgueiro, tive olímpica vontade de ouvir, de novo, o monumental samba “Quilombo dos Palmares”, de autoria dos imortais Noel Rosa de Oliveira e Anescar Rodrigues.

E o ouvi. Diversas vezes.

E hoje, nesse 20 de novembro, quando vou comemorar a data à minha moda, com gente que eu amo, sobre as pedras sagradas da sagrada Rua do Ouvidor, quero transportar-me, seja lá como for, para o Ó do Borogodó, onde uma festa promete ser imperdível, como anunciou meu mano Szegeri, aqui.

Tomara que ele cante esse samba pra mim:

“No tempo em que o Brasil ainda era
Um simples país colonial,
Pernambuco foi palco da história
Que apresentamos neste carnaval.
Com a invasão dos holandeses
Os escravos fugiram da opressão
E do jugo dos portugueses.
Esses revoltosos
Ansiosos pela liberdade
Nos arraiais dos Palmares
Buscavam a tranqüilidade.

Ô-ô-ô-ô-ô-ô
Ô-ô, ô-ô, ô-ô.

Surgiu nessa história um protetor.
Zumbi, o divino imperador,
Resistiu com seus guerreiros em sua tróia,
Muitos anos, ao furor dos opressores,
Ao qual os negros refugiados
Rendiam respeito e louvor.
Quarenta e oito anos depois

De luta e glória,
Terminou o conflito dos Palmares,
E lá no alto da serra,
Contemplando a sua terra,
Viu em chamas a sua tróia,
E num lance impressionante
Zumbi no seu orgulho se precipitou
Lá do alto da Serra do Gigante.

Meu maracatu
É da coroa imperial.
É de Pernambuco,
Ele é da casa real.”

Até.

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