Arquivo do mês: fevereiro 2008

RIO, 443 ANOS AMANHÃ!

Minha mui amada e leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro faz anos amanhã, completando 443 anos desde sua fundação, a primeiro de março de 1565. Durante todo o dia, em todos os cantos da cidade, festa pra todos os gostos, de todos os jeitos, reforçando a faceta da mais bonita cidade do mundo, a de abrigar e a de abraçar a todos, cariocas ou não, ainda que seja necessário, em prol de evitarmos uma mudança muito brusca de rumos dessa mesma faceta, estarmos sempre com o regador ao alcance da mão. Pra bom entendedor, meia palavra basta e vamos em frente.

Eu, e penso que seja desnecessário dizer – mas vou dizer, o blog é meu, pô! -, estarei desde cedo de papo com os amigos na livraria do meu coração, a Folha Seca, bebendo uma Brahma estalando de gelada na Toca do Baiacu, beliscando uma coisa ou outra no Casual do Santos ou no Antigamente do Carlinhos, comemorando a graça de ter nascido aqui, de ter crescido aqui e de aqui viver até hoje com intenções arraigadas de tombar por aqui mesmo, que não há melhor lugar pra se viver.

E estarei comemorando não apenas o aniversário da cidade, mas também o aniversário de um carioca maiúsculo que, quando me bateu o telefone ontem, me flagrou já debruçado sobre seu presente:

Gabriel Cavalcante, rua do Ouvidor, 08 de dezembro de 2007

 

– Meu aniversário no sábado, hein, Edu!

O malandro, que faz anos no dia 04 de março, terça-feira, como bom carioca que é, dribla as horas, faz uma bainha no tempo, manda um acorde dissonante nos sete dias da semana e vai na aba do Rio de Janeiro festejando o aniversário no primeiro de março, na rua que fica a um passo da Primeiro de Março (salve, Salgueiro!), no canto da Ouvidor onde se assenta o poderoso axé que não permite o dobrar de joelhos da aniversariante maior, a cidade-mulher.

A partir do meio-dia, todos, então, à rua do Ouvidor, que a dica é abraçar a cidade ao som do samba e da voz desse rubro-negro também maiúsculo, merecedor do abraço de todos nós por mais um ano de vida.

A festa é deles dois, o presente é nosso.

Até.

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>AS ELEGANTES ANDORINHAS

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Eu não sei se já lhes contei que, quando me casei com a Sorriso Maracanã, passei um bom tempo – vez por outra é necessário um reforço! – fazendo comícios intramuros em prol da Tijuca, bairro onde nasci, cresci, fui criado, e de onde saí, apenas, depois de uma sucessão de escolhas equivocadas, por pouco mais de quatro anos – tempo em que vacas gordas tentaram, sem êxito, destruir meu pasto.

Dani nasceu em Volta Redonda, cidade que se distingue da Tijuca apenas por conta do ar siderúrgico e pesado. Mas quando veio morar no Rio (“na capital”, como se diz na cidade do aço), morou em Copacabana, na segunda quadra da praia. Vivia, pois, das delícias que o litoral oferece. Passeios de bicicleta pela orla durante a madrugada, picolés chupados nos banquinhos de cimento no calçadão, luzes feéricas piscando em neon 24h por dia, esses chiquês que a princesinha do mar oferece, decadente há mais de meio século, sem perder a pose do alto de seu salto agulha.

Lembro-me do dia em que eu disse – e estávamos justamente tomando água de côco através de canudinhos no calçadão em frente à Santa Clara:

– Mas vamos morar na Tijuca, né?

Ela teve alta, no São Lucas, na travessa Frederico Pamplona, em Copacabana mesmo, umas cinco ou seis horas depois de submetida a uma bateria de exames que detectaram, pura e simplesmente, uma crise nervosa sem gravidade que o médico, uns noventa anos nas costas, chamou de fanico, receitando chá de camomila três vezes ao dia.

O fato é que em meados de 1999 desembarcávamos, fazendo juras de amor aterno, na gloriosa rua Hadock Lobo, no aprazível apartamento no qual moramos até hoje.

A Dani – preciso fazer a confissão pública -, se de fato não morre de amores seminais pela Tijuca, tem, hoje, extrema e aguda simpatia pelo bairro e pelas incontáveis vantagens (e não cabe, aqui, enumerá-las) que ele oferece.

Ela não se habituou, entretanto, aí sim, às constantes demonstrações de amor que a Tijuca me impele fazer, às constantes emoções que o bairro, seus personagens, suas ruas e travessas, seus morros e seus butecos, seus hábitos e seus cheiros, causam em mim.

Foi como naquele sábado, 12 de janeiro de 2008.

Saí de manhã, como sempre, para passear com nosso vira-latas, o atleta Pepperoni (não entendeu?, clique aqui e leia O PEPPERONI E O SZEGERI!).

Quando voltei, deparei-me com um caminhão de mudanças estacionado no pátio de nosso edifício, o melhor edifício de todo o bairro, indubitavelmente.

12 de janeiro de 2008

Diante da visão do caminhão, velhíssimo, caindos aos pedaços, de onde entravam e saíam, como andorinhas da gaiola, senhores entrados em anos carregando móveis e objetos embalados em caixas de papelão visivelmente reaproveitadas, me comovi.

Subi, fungando, diante de um atônito Pepperoni, peguei minha menina pelas mãos e apontei, do alto da janela, para o caminhão. Ela, mais atônita que o cachorro:

– O que foi?! Mas, o que foi? – tinha acabado de acordar.

– Você já ouviu falar na Fink, na Granero, na Metropolitan, na Transworld, na Speedy Moving, na Duquerne, na Brasil Link?

– Empresas de mudança? Já! Por que?

– Já as viu atuando na zona sul, certo?

– Não lembro, Edu! Por que?!

– Já ouviu falar n´As Elegantes Andorinhas?

– Não…

– Só na Tijuca, meu amor! Só na Tijuca! E desde 1914!

E fiquei, ali, na sala, diante de minha pobre menina, exaltando a beleza e a poesia do nome da empresa, elogiando o vigor físico e a disposição de seus funcionários, a segurança e a firmeza das embalagens fornecidas pela companhia, e jurei, de pés, juntos, que se um dia nos mudarmos, e para a Tijuca, evidentemente, contratarei, pelo preço que me for pedido, sem cotação de preços, As Elegantes Andorinhas.

Até.

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O PSOL NO LUGAR ERRADO, DE NOVO

Papelão e tremenda bola fora, esse dos parlamentares do PSOL.

publicado no caderno RIO de O GLOBO de 27 de fevereiro de 2008

Boa parte deles freqüenta quinzenalmente a mais carioca das rodas de samba da cidade, na rua mais carioca da cidade, em frente à livraria mais carioca da cidade, e seguramente sabe que no sábado, primeiro de março, haverá festa pelo aniversário da cidade naquele pedaço sagrado da rua do Ouvidor.

Tsc. Como diria o saudoso Stanislaw, isso deixa para lá.

Com a palavra, se ele quiser, é evidente, o Pequeno Príncipe de Heloísa Helena.

Até.

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>REGANDO O JARDIM

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O homúnculo, justiça seja feita, há muito tempo deixou de cumular de lisonjas os bares de grife que invadiram a cidade. Não por mérito seu, é evidente, mas – especulando – graças à perda de força da abjeta novidade, o que significa fora-da-moda, graças à invasão de novas pragas como, por exemplo, as temakerias (pausa para o vômito) ou graças a uma deliberada guinada voltada para, digamos, um público mais afetado.

publicado no SEGUNDO CADERNO de O GLOBO de 26 de fevereiro de 2008

Regador na mão, reguemos o jardim.

Pra bom entendedor, meia palavra basta.

Até.

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>DO DOSADOR

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* Li todos os jornais de ontem, segunda-feira, um dia depois da eletrizante final da Taça Guanabara, entre Flamengo e Botafogo, uma final à altura da grandiosa história dos dois clubes e do próprio clássico, com direito à vitória na base da virada, gol nos acréscimos, bola na trave no último segundo de jogo no que seria o gol de empate do Botafogo que levaria a disputa para os pênaltis, expulsão de três jogadores, acusações de favorecimento por parte da arbitragem e chilique patético (e penso que inédito!) do time perdedor com renúncia ao vivo, depois do jogo, durante entrevista coletiva, do presidente do time de General Severiano. Nada do que li, nada, com a lucidez, a sobriedade e a coragem do texto RESPEITEM O BOTAFOGO, de meu mano Luiz Antonio Simas, que pode ser lido aqui. Notem vocês, lendo também o que comentou-se na FOTOTECA publicada ontem, aqui, que José Sergio Rocha, querido amigo de Niterói, em visível e acelerado processo de desequlíbrio emocional, urra (quem sabe ler ouvirá os gritos do velho) o slogan costurado na bandeira que ele próprio tremula e que manda, às favas, a lucidez. O querido Bruno Ribeiro, de Campinas, companheiro de calvário de José Sergio Rocha – torce para o Guarani e simpatiza agudamente com o Botafogo -, imediatamente adere à luta-contra-ninguém e esperneia da mesmíssima forma. Ora, ora, meus poucos mas fiéis leitores, permitam-me brevíssima digressão… Ninguém mais passional que eu. Ninguém mais apaixonado. E com relação ao episódio, ao contrário do que pensam os dois jornalistas, penso que a falta de lucidez deveria ter durado exatamente o tempo que durou a falta de lucidez que acometeu Luiz Antonio Simas no instante do apito final. Saiu do estádio, o calvíssimo Simas, esbravejando e dirigindo impropérios impublicáveis a mim e ao Mussa, já que assistimos ao jogo juntos. Anunciou que não iria ao Rio-Brasília, que não beberia conosco em nenhuma hipótese e outras mumunhas. Foi pra casa, reviu os melhores momentos da partida, envergonhou-se do papelão protagonizado pelo time, pela comissão técnica e pelos dirigentes, e juntou-se a nós, uma hora depois, passional como sempre, apaixonado como sempre, mas sem um mísero gesto insano e sem um sinal de inépcia capaz de envergonhá-lo mais à frente.

* Por falar em insanidade e em inépcia, vamos a um fato. Sábado passado, véspera da final de anteontem, houve mais um samba na rua do Ouvidor. A rua não fugia à regra que norteava a cidade e respirava, e transpirava, o clima do Flamengo e Botafogo do dia seguinte. Luiz Antonio Simas, que vestia uma camisa do Botafogo autografada pelo Nilton Santos, foi abordado por um camarada a quem jamais vira e que lhe estendeu a pata:

– Parabéns!

– Por que? – disse o Simão, não percebendo o sorriso de canto de boca que emoldura o focinho de quem não tem caráter (é uma característica indefectível).

– Por ocupar a vaga do Vasco amanhã. Eternos vices… – e deu as costas, a besta humana.

Essa mania insuportável de comemorar a desgraça do adversário ao invés do regozijo puro e simples pela vitória, esse hábito nocivo que planta vítimas fatais a cada jogo (pelo menos um torcedor do Botafogo foi assassinado com quatro tiros depois do jogo), esse troço nojento que é ficar entoando cânticos que se prestam mais ao achincalhe do adversário que à exaltação pela conquista, me fez pensar no seguinte enquanto discutia o tema, na saída do Maracanã, com o Mussa: isso é equivalente a você traçar, num lance em que se misturam talento e sorte, uma tremenda mulher, gostosíssima, casada, e bater o telefone pro corno, segundos depois do coito, a fim de sacanear o pobre-diabo em vez de ficar ali, no silêncio de depois, curtindo a glória do momento.

Até.

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>FOTOTECA

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>A SOBRIEDADE QUE ME FALTA

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Dia desses fiz a confissão pública: a ira santa que borbulha em mim não permite que a sobriedade seja a qualidade precípua de meus textos, de meus discursos da tribuna, de meus posicionamentos diante da coletividade. Quero, confessei também, um dia chegar lá.

Em agosto de 2006, diante da notícia do afastamento de Fidel Castro do poder por razões de saúde, escrevi o texto FIDEL CASTRO, que pode ser lido aqui, e que nada mais é do que um libelo de minha paixão, uma de minhas paixões, eis que sou por elas movido graças aos deuses que me permitem ter as condições para cultivá-las e expô-las na vitrine imaginária de mim mesmo.

Somos, agora, um ano e meio depois, surpreendidos pela renúncia do Comandante, gesto que o engrandece ainda mais e que vai na exata contramão da expectativa dos que, como calopsitas ensinadas, diziam, em tom de escárnio, deboche e desrespeito, que Fidel só deixaria o poder (ou largaria o osso, segundo os mais estúpidos) depois de morto.

Sua carta que anuncia a renúncia é mais uma prova de sua grandeza, de sua coragem e de seu desprendimento (os babadores de gravata jamais compreenderão o que é desprendimento), de sua lucidez, de seu carisma e de sua vigilância permanente.

O que se leu nos jornalões brasileiros e o que se leu nos blogs mantidos por pseudo-jornalistas foi de corar de vergonha. Eu lia, incrédulo, as carradas de merda publicada, lia os blogs infestados de bajuladores inábeis e ouvia a voz da minha consciência dizendo:

– Cora! Cora! Cora! Cora de vergonha!

Pois a nossa imprensa, salvo raríssimas exceções, é mesmo de corar de vergonha. Pigarro e vamos em frente.

Quem bem definiu e descobriu a provável razão para a desastrada cobertura da imprensa sobre a renúncia foi meu irmão, vigilante como sempre, Luiz Antonio Simas, que deixou o seguinte comentário no blog do Bruno Ribeiro:

“Brunão, não tinha comentado até agora porque preferi ler os jornais da “grande imprensa” antes de emitir alguma opinião. Reparei algo absolutamente patético: os jornais publicaram materiais que foram visivelmente preparados para a aguardada, e desejada, morte do Comandante. Pegaram o que já estava no forno e publicaram. Essa gente jamais esperaria o gesto de desprendimento e sabedoria do velho revolucionário. Beijo.”

Eis então, já que falei no blog do Bruno Ribeiro, o que queria lhes contar e sugerir pra hoje: a leitura de dois textos, sóbrios que só, frios como não consigo ser, escritos justamente pelo Bruno Ribeiro e por meu irmão paulista, Fernando Szegeri.

GRACIAS, COMANDANTE!, que pode ser lido aqui, e JAMAIS ENTENDERÃO, que pode ser lido aqui.

Fernando Szegeri, Bruno Ribeiro, Eduardo Goldenberg e Luiz Antonio Simas, 22 de junho de 2007, São Paulo

Nós quatro, os da foto, erguemos juntos, diante do balcão imaginário, quatro copos longos com bastante gelo e Havana Club, dividindo um Cohiba Robusto, em homenagem a Fidel Castro e ao povo cubano!

Até.

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>OS METÓDICOS, DE NOVO

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Em 20 de abril de 2005 eu publiquei O PIADISTA DE ELEVADOR, que pode ser lido aqui, sobre esse tipo insuportável, irritante, desagradável, repulsivo (leiam que vocês, neófitos no balcão do BUTECO, hão de entender). Em 25 de abril de 2005, cinco dias depois, portanto, publiquei OS METÓDICOS, que pode ser lido aqui, onde trato do detalhismo insuportável que acomete o freqüentador, praticamente um sócio-atleta, dos hortifrutis espalhados pela cidade.

Hoje, 20 de fevereiro de 2008, quase três anos depois, quero lhes contar sobre outros tipos nos quais esbarramos quase que diariamente e que são – é preciso deixar a cartilha do politicamente correto de lado – insuportáveis. Vamos a eles.

Vejam as velhas que vão sozinhas à padaria, ao supermercado, à quitanda. Alguém consegue me explicar a razão pela qual TODAS (com a ênfase szegeriana), ou QUASE TODAS, no instante de pagar a conta, tiram uma bocetinha (boceta – substantivo feminino – 1. caixinha redonda, oval ou oblonga, feita de materiais diversos e usada para guardar pequenos objetos) da bolsa e espalham CENTENAS de moedas sobre o caixa dizendo com aquela máscara comum em direção à pobre funcionária:

– Filha, me ajuda?

E os freqüentadores de padarias? Por que, meu Deus, por que, dizem as MESMAS frases todos os dias para os pobres balconistas, e sempre com o mesmo sorriso idiota na cara, como se fossem protagonistas e autores de frases e imagens geniais????? Na Padaria Milu ou na Panificação Estudantil, ambas pertinho de casa, a cena se repete diariamente:

– Me veja dois franceses… moreninhos, hein! – e guincha de rir, a velha.

– Pra mim, meia dúzia de queimadinhos de praia! – esse gargalha dando tapinhas no balcão.

A velha, a terceira da fila, diz:

– Muito boa essa!

Quando chega sua vez, diz altaneira:

– Os meus bem clarinhos, tá? – e quase toma uma vaia da fila diante da obviedade do pedido.

E a variedade dos pedidos é de causar náuseas:

– Bege!

– Cróque-cróque…

– Morninho…

– Mulatinho!

E os que não perdem por nada o cafezinho grátis oferecido nos supermercados? Cotoveladas, chutes, atropelos, vale tudo na fila de QUALQUER stand de QUALQUER café em QUALQUER supermercado. Dia desses eu estava no Mundial da rua do Matoso e testemunhei o seguinte diálogo enquanto tentava passar com o carrinho por uma dessas filas.

– Corcel, você não disse que detesta o Café Canaan?

– Cala a boca, Mercedes! De graça eu tomo qualquer merda!

Fina, como se vê, a Dona Corcel. E como ela, basta que se tenha olhos de ver, há milhares espalhadas por aí.

Dia desses volto ao tema, já que esses tipos, insuportáveis – repito – estão em toda a parte.

Na feira então, nem lhes conto!

Conto, sim.

Prometido. Minha próxima incursão na mesma temática será sobre os insuportáveis das feiras livres.

Até.

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PRATINHA, O INTERNACIONAL

Vocês hão de me perdoar esse brevíssimo hiato – não escrevo desde sexta-feira passada, o que gerou uma meia dúzia de e-mails malcriados -, mas ando assoberbado como há muito não ficava! Razão pela qual apenas hoje atendo a um pedido patético, convenham, de meu filho mais novo, Tiago Prata. Vou lhes explicar.

Na quinta-feira passada, 14 de fevereiro, publiquei o texto Betinha, a internacional, leiam aqui, fazendo menção à recente viagem da Betinha às Filipinas com escala em Dubai. Pra quê!?

Serei preciso, como sempre.

Publiquei o texto por volta de uma hora da madrugada daquela quinta-feira, e antes das nove da manhã estrilou meu celular piscando o nome do Prata no visor do aparelho. Eu nem cheguei a dizer o alô protocolar:

– Por que apenas a Betinha é internacional?! Por que? – o tom era de choramingo.

O cérebro ainda fazia as necessárias sinapses para compreender o tom de mágoa do menino, quando ele emendou, fungando:

– Esqueceu que eu passei o réveillon em Buenos Aires? – e bateu com o telefone no gancho imaginário.

Eis que minutos depois eu recebo o e-mail abaixo.

email

Notem, então, que atendo ao pedido – patético, devo repetir – do garoto, numa prova incontestável de que mimo, sem rodeios, minha cria.

E já que ele fez questão de anunciar sua viagem para Buenos Aires, já que ele fez questão de ser taxado, publicamente, de internacional, vou me permitir tecer brevíssimos comentários sobre o destino do menino na passagem do ano.

Antes, porém, brevíssima digressão.

Eu disse um pouco mais acima que o pedido do Prata foi patético. E foi mesmo. Mas trata-se de um meninote, de um garoto recém-chegado aos 21 anos, ainda gozando as delícias dos dez, doze, treze anos de idade.

Não fosse verdade isso, e não seria rotina uma cena como essa.

Tiago Prata dormindo na Folha Seca, 22 de dezembro de 2007

O sujeito entra na Folha Seca, a livraria do meu coração, em pleno sábado, samba armado pra começar às duas da tarde, e a Dani e o Digão, de dentro do balcão, pondo o indicador sobre os lábios, a ponta do dedo sobre a ponta do nariz:

– Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! O Pratinha está dormindo…

Voltemos ao tema.

Tiago Prata foi, então, passar o réveillon em Buenos Aires. E não estava sozinho.

A classe média brasileira, que na década de 60, 70, gostava de arvorar suas viagens para Petrópolis, Teresópolis ou Friburgo como se fosse para os Alpes Suíços (que a Betinha também conhece!), a classe média que comprava casacos de pele, pantufas, gorros, luvas e botas para desfilar diante do Palácio de Cristal, do Dedo de Deus, ou das cachoeirinhas de Friburgo, agora faz de Buenos Aires sua mais nova meca.

Todo mundo – pergunte a quem está do seu lado agora! – tem a melhor dica do melhor bife de chorizo de Buenos Aires, todo mundo sabe de cor os endereços de Puerto Madero, todo mundo trata o estádio Bombonera com a intimidade de um Maracanã, de um Parque Antártica, todo mundo volta mastigando alfajores como se os biscoitos fossem testemunhas da infância de cada um, todo mundo volta falando “hola, que tal?”, “buenos dias”, com a facilidade de uma calopsita bem treinada, e por aí vai.

Resumo da ópera: não deixa de ser internacional, também, como queria, o Prata. Mas a Betinha tem, digamos, mais garbo.

Até.

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BETINHA, A INTERNACIONAL

Vocês hão de me perdoar o que poderá lhes soar, a princípio, como adulação e bajulismo, embora seja apenas, a bem da verdade que me persegue da mesma forma que me acompanha a precisão, fruto do enternecimento que causou-me um comentário, feito há pouco, no BUTECO.

Foi feito há pouco, mais precisamente às 23h32min desta quarta-feira, o seguinte comentário no texto DO DOSADOR, escrito em 12 de fevereiro de 2008, que pode ser lido aqui:

“Não acho nada inverossímil a história do romance de domingo na Tijuca. Não é difícil imaginar um cara dizendo isso em um buteco nem uma mulher rindo. Não tenho dúvida que, apesar do susto (ou exatamente por isso) eu riria, mesmo não havendo, obviamente, qualquer chance de romance com um cara que diz uma coisa dessas…”

Referia-se, a comentarista, ao texto ROMANCE DE DOMINGO NA TIJUCA, que pode ser lido aqui, que gerou desconfiança em alguns – peço desculpas desde já pelo adjetivo – incautos.

A comentarista foi a Betinha.

Eu digo que foi a Betinha e me enterneço novamente, não pelo simples fato de que foi a Betinha, e vou tentar ser mais claro.

A Betinha mora no Flamengo, como vocês sabem, com o Flavinho, como já lhes contei em 16 de setembro de 2005, aqui e em 07 de novembro de 2007, aqui, para ficar apenas nestes dois exemplos bastante elucidativos (leiam, pô!).

Mas não me escreveu do Flamengo, a Betinha.

Antes, permitam-me breve digressão.

Quando lhes contei uma história passada no apartamento do casal, no Flamengo, em 16 de setembro de 2005, escrevi:

“(…) a Betinha chegou, há dias, da Suíça, e vejam que nisso, também, reside a escalada do Flavinho, cujas namoradas até então chegavam, no máximo, de Cabo Frio.”

Pois bem.

A Betinha acessou o BUTECO, e comentou no BUTECO (!!!!!), diretamente das Filipinas.

Se cravou seu comentário às 23h32min da noite de quarta-feira, significa dizer que o fez às 9h32min da manhã de quinta-feira, 14 de novembro – vejam como ela está loooooooooonge, aqui.

É, indubitavelmente, uma internacional, minha mais-querida, a Betinha, que aparece na foto abaixo com minha Dani, no reveillón 2007/2008, pouco depois da meia-noite.

Dani e Betinha, 31 de dezembro de 2007, Santa Teresa

Convocada às pressas para uma reunião de emergência – vejam se ela não é muito importante -, a Betinha partiu no domingo passado. E, já no sábado, um dia depois de receber a notícia, o Flavinho era um homem em estado de graça.

Estávamos na rua do Ouvidor e ele, eufórico, contava sobre a viagem da mulher.

Eu provocava:

– Mas e aquela namorada sua dos tempos do Cachambi? Não fazia essas viagens?

E ele, erguendo o copo de cerveja:

– Nem pro Jacaré, Edu! Nem pro Jacaré!

Eu insistia:

– E aquela outra que você namorou quando morou em São Paulo?

Ele, vermelho de tanto que ria:

– Jamais atravessou o Tietê!

E brandia as passagens aéreas da Betinha, cheio de orgulho.

Um orgulho como o meu, confesso, por sabê-la com os cotovelos apoiados no balcão imaginário, mesmo de tão longe.

Ergo a caldeireta com quatro dedos de pressão em direção a ela, minha querida amiga de quem tenho, neste exato instante em que escrevo, aguda saudade, para um brinde que somente quem ama é capaz de realizar.

Até.

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