Arquivo do mês: outubro 2008

BARES E RESTAURANTES – A EXPOSIÇÃO

Pequeno desafio: será que algum de vocês, meus poucos mas fiéis leitores, cravaria três acertos no teste que agora proponho?

01) qual o bar que serve o tira-gosto do primeiro banner?

02) qual o bar que, orgulhosamente, tem a serpentina do segundo banner?

03) qual o bar que apresenta, perfilados, os barris de chope do terceiro banner?

banner da exposição BARES E RESTAURANTES
banner da exposição BARES E RESTAURANTES
banner da exposição BARES E RESTAURANTES

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BARES E RESTAURANTES – A EXPOSIÇÃO

No comecinho de julho recebi, por email, convite da ELS2 COMUNICAÇÃO para fazer a curadoria (quase desisti na hora!) de uma exposição no SHOPPING NOVA AMÉRICA sobre bares e restaurantes. A idéia era escolher 15 (acabaram sendo 13) estabelecimentos (entre bares e restaurantes). E sobre cada um deles, escrever um pequeno texto e fazer umas fotografias bem bacanas. A ELS2 me deixou inteiramente à vontade e me permitiu trazer ao Rio minha fotógrafa preferida, Marina Furtado Couto, a , sobre quem falarei em brevíssimo, já com sua devida autorização!

Em ordem alfabética, os 13 bares que estarão lá (5 na Tijuca!!!!!):

ADEGA PORTUGÁLIA (Largo do Machado 30, loja A, Catete), AFONSO PENA (mais conhecido como BAR DO CHICO) (rua Afonso Pena 128, Tijuca), AMENDOEIRA (rua Conde de Azambuja 881, Maria da Graça), ARMAZÉM SENADO (rua do Senado 20, Centro), BAR BRASIL (avenida Mem de Sá 90, Lapa), BAR DO PAVÃO (rua Dr. Otávio Kelly 53, Tijuca), BAR LUIZ (rua da Carioca 39, Centro), BAR URCA (rua Cândido Gafrèe 205, Urca), BODE CHEIROSO (rua General Canabarro 218, Maracanã), BOTECO CASUAL (rua do Ouvidor 33, Centro), PALADINO (rua Uruguaiana 224/226, Centro), SALETE (rua Afonso Pena 189, Tijuca) e VARNHAGEN (praça Varnhagen 14-A, Tijuca).

Foi muito bacana poder lançar luzes sobre bares que jamais foram alçados à categoria de representativos dentro do imenso universo de butecos cariocas: o BAR DO CHICO, o BAR DO PAVÃO e o BODE CHEIROSO (este principalmente!) são exemplos disso.

A Marina, uma craque com a câmera nas mãos, um grande papo e uma grande companhia (foram incríveis os dois dias que passamos rodando a cidade em busca dos bares), incansável parceira que entendeu no primeiro minuto o espírito da coisa, teve de voltar ao Rio, há umas semanas, para refazer algumas fotografias a pedido da administração do shopping (qualquer dia desses falo sobre o assunto). O trabalho final é fabuloso, e mais fabuloso ainda é o material que tenho guardado. Milhares de fotografias, milhares!!!!!, uma mais bacana que a outra!

Eis aí o texto de abertura da exposição:

“O verso “eu não resisto aos botequins mais vagabundos”, escrito por Aldir Blanc para melodia de Moacyr Luz, diz muito sobre o carioca e sua relação com essa instituição que é o bar e o botequim.

O termo “vagabundo” não joga contra e nem denigre o estabelecimento — ao contrário! É vagabundo o bar que é despretensioso, informal, que acolhe a todos sem distinção, que permite uma intimidade e uma relação quase humana entre freguês e estabelecimento, firmando-se como um autêntico microcosmo da cidade do Rio de Janeiro, a mais informal do país.

A exposição “Bares e Restaurantes — uma história no Rio” traz fotografias escolhidas dentre as mais de três mil que foram feitas em treze bares e restaurantes cariocas, fruto de uma seleção difícil e sujeita a todo tipo de protesto, o que torna ainda mais saudável e autêntica nossa proposta (botequim sem polêmica é letra morta!).

Se me perguntarem se houve um critério para a seleção desses treze estabelecimentos, direi que houve um, apenas um, mais que subjetivo: estão aí os bares aos quais eu não resisto. Muitos que resistiram à especulação e estão aí há mais de um século, muitos que vivem praticamente no anonimato, mas que contribuem, todos os dias, com o levantar de suas portas de aço, para que se mantenha vivo o orgulho de ser carioca.

Esse foi o critério para a seleção dos treze bares e restaurantes que você vai conhecer aqui. Em todos eles sinto-me em casa. Posso apostar que você também assim sentirá, quando visitá-los, já que cada um deles tem sua forma de acolher o freguês que chega — seja pelo jeito do dono ou da dona, pelo sorriso do garçom, pelo tempero da comida ou pela intimidade do trato depois de menos de cinco minutos de convívio, ainda que pela primeira vez.

Seja bem chegado. Esteja à vontade e erga um brinde à graça de viver nesta cidade, maravilhosa também por abrigar tantos estabelecimentos capazes de fazer do Rio uma cidade que é como um botequim a céu aberto.”

Abaixo, o convite e a ficha técnica da exposição. E por favor… desconsiderem a qualificação “escritor” atribuída a mim. Foi uma piada de buteco inventada pelo pessoal da ELS2!

convite para a exposição BARES E RESTAURANTES no SHOPPING NOVA AMÉRICA
ficha técnica da exposição BARES E RESTAURANTES no SHOPPING NOVA AMÉRICA
Até!

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BAR DO PAVÃO

Saiu hoje, à tarde, o resultado final da eleição promovida pelo blog Tribuneiros para eleger os melhores em 17 categorias (vejam quais, aqui) – o que eles chamaram Prêmio Tribuneiro de Gastronomia. Como eu digo sempre, em relação a eleições do mesmo gênero, trata-se de uma bobeira divertidíssima. E é achando uma tremenda graça que recomendo a vocês que dêem uma olhada no resultado, aqui.

Notem que a Tijuca levou a melhor em 06 categorias (se fosse como a Fórmula Um, que tem o Mundial de Construtores, e se houvesse o Prêmio Tribuneiro de Gastronomia – Seção Bairros, a Tijuca seria a acachapante vencedora!!!!!). O Fiorino levou a melhor em quatro categorias. O Aconchego Carioca em uma e o Mitsuba também, em uma.

Foi citadíssimo, entretanto sem ganhar qualquer dos prêmios, o Bar do Pavão.

E é sobre o Bar do Pavão, comandado pelo casal Jô e Pavão, que quero lhes falar hoje.

Situado na rua Doutor Otávio Kelly 53, na Tijuca, colado à praça Xavier de Brito, uma das mais bonitas (ou a mais bonita, acho que a mais bonita) praças do melhor bairro do Rio, o Bar do Pavão é, sem dúvida, um grande bar.

São inúmeras as razões que fazem do Pavão uma parada obrigatória.

Bar do Pavão, Tijuca, RJ, fotografia de Marina Furtado Couto

O Pavão, a nível de elemento humano (dia desses conto a vocês o que vem a ser isso), já vale a visita. Uma grande figura do bairro. Bom de papo, boa companhia, cuida pessoalmente de tudo o que serve. Do chope (cada vez melhor na insuspeitada opinião de um freqüentador assíduo – bem mais que eu -, o Vidal), das cachaças, das carnes esplendorosas que ele serve e que ele mesmo assa, da feijoada dos sábados, do cozido dos domingos (todas as fotos de hoje foram tiradas em um domingo no Pavão), dos sanduíches, dos freqüentadores e dos vizinhos.

Falei em vizinhos e preciso lhes falar da dona Olívia e do seu Antônio, vizinhos de parede e de calçada do bar. Só indo lá pra entender o por quê disso. Perguntem ao Pavão ou à dona Jô pela dona Olívia. E eles dirão quem é essa figura fundamental para que tudo, ali, naquela esquina, seja como de fato é.

A praça Xavier de Brito compõe o cenário. O Bar do Pavão fica numa esquina (como os grandes bares!), ocupa toda a calçada sem incomodar ninguém, tem um toldo azul e amarelo que ajuda as frondosas árvores no fornecimento da necessária sombra, fica diante de um imóvel tombado pela Prefeitura (entendam tudo isso, lendo isso aqui), e não é nada difícil passar um dia inteiro, ali, bebendo, comendo e batendo papo sem perceber a hora (quem?) passar.

Bar do Pavão, Tijuca, RJ, fotografia de Marina Furtado Couto

Nos finais de semana, a coisa fica mais grave. Aos sábados, o Pavão serve uma feijoada que vou-te-contar. Aos domingos, um cozido que só-vendo.

Quando eu estive lá com a Marina (autora das fabulosas fotos que ilustram o texto de hoje) e com o Leo Gola (cunhado do onipresente Fernando José Szegeri), no dia em que fizemos estas fotos (amanhã conto a vocês o por quê), o Pavão estava num dia inspiradíssimo.

Chegamos cedo – e é fundamental, sempre, chegar cedo se a intenção for entender o espetáculo que é aquilo tudo ali – e pudemos ver o Pavão tratando do cozido como quem trata do primeiro filho.

Sua faca iluminou-se como mágica.

Bar do Pavão, Tijuca, RJ, fotografia de Marina Furtado Couto

O chope desceu belíssimo, com espessa espuma, e meus dois queridos, de São Paulo, fizeram juras de amor ao Rio de Janeiro, à Tijuca e ao Bar do Pavão.

Uma parada – quero repetir – mais-que-obrigatória.

Até.

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>TIJUCA-CA-CA!!!!!

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Eu pretendo que o título de hoje – TIJUCA-CA-CA!!!!! – seja lido com a euforia dos locutores de futebol! E explico o por quê.

É evidente – não custa repetir – que trata-se de uma brincadeira qualquer eleição que pretenda eleger o melhor-isso, o melhor-aquilo, e refiro-me especificamente a bares, butecos, restaurantes, esses troços. Foi o que fez o site TRIBUNEIROS, que instituiu o PRÊMIO TRIBUNEIRO DE GASTRONOMIA para escolher o (01) melhor restaurante, o (02) melhor botequim, a (03) melhor parada pós-praia, a (04) melhor parada na madrugada, o (05) melhor lugar para comer-beber ouvindo música, o (06) melhor para ir a dois, o (07) melhor para ir com os amigos, o (08) melhor lugar para beber cerveja, o (09) melhor lugar para beber chope, o (10) melhor lugar para beber drinques, o (11) melhor lugar para beber suco, o (12) melhor lugar para petiscar, o (13) melhor lugar para comer sanduíche, a (14) melhor carne, a (15) melhor pizza, o (16) melhor japonês e o (17) melhor serviço.

Eu, tijucaníssimo, em 09 de outubro, no meio da eleição, convoquei meus leitores (os tijucanos, precipuamente), através do texto TIJUCANOS, AVANTE!!!!! (leiam aqui) para o exercício do voto.

Ontem, 27 de outubro de 2008, o TRIBUNEIROS anunciou os primeiros resultados. Está lá (grifos meus):

“E o melhor restaurante, segundo o eleitorado tribuneiro, é o Fiorino, o agradável [e gostoso] italiano da Heitor Brandão, na Tijuca.

Num pleito com 73 votos válidos, a casa foi sufragada 17 vezes. Uma vitória incontestável.

(…)

O Fiorino também leva, de maneira incontestável, o PTG de melhor pizza, com 12 indicações, (…).

Levando a tríplice coroa do Prêmio Tribuneiro de Gastronomia, o Fiorino logra o portento de ser, também, o melhor serviço – com fantásticos 16 votos. (De um total de 66 válidos). (…).

(…)

Absolutamente empatados – com 9 votos – ficaram Filé de Ouro e Porcão, os campeões do PTG na categoria melhor carne. (Contamos 67 sufrágios válidos). Indicado 7 vezes, o Esplanada Grill vem a seguir. Bar do Pavão e Estrela do Sul tiveram 6 votos. (…).

Espetacular empate deu-se na categoria melhor japonês. Manekineko e Mitsuba receberam 12 votos, num universo de 57 válidos. (…).”

Vocês podem ler o texto que anuncia os primeiro vencedores, na íntegra, aqui.

E salve o portentoso bairro da Tijuca, que não pretende, é claro, abafar ninguém. Mas que deixou pra trás, ao menos nessa brincadeira, uma porção de pesos-pesados da gastronomia carioca!

Até.

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ELEIÇÃO NO RJ, VOTO A VOTO

Como demonstram os gráficos abaixo (IBOPE e DATAFOLHA), publicados n´O GLOBO ON LINE na noite de ontem, o segundo turno das eleições será disputado voto a voto na cidade do Rio de Janeiro.

gráfico IBOPE divulgado em 22 de outubro de 2008
gráfico DATAFOLHA divulgado em 22 de outubro de 2008

O BUTECO abre, hoje, nesta quinta-feira, a menos de 72 horas do início da votação, pedindo a seus freqüentadores que declarem o voto para que possamos fazer uma mini-pesquisa, não de boca-de-urna, mas de cotovelo-no-balcão.

Se você não for do Rio, não há problema. Havendo segundo turno em sua cidade, mande bala que a gente registra seu voto também.

Até.

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>DUAS MORTES: UMA REFLEXÃO

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Não pretendo me estender muito, hoje (sempre que assim pretendo, estendo-me infinitamente…). Mas é que, em razão de uma coincidência que evidenciou uma situação curiosa, quero dividir com vocês uma reflexão.

O Brasil viveu nos últimos dias, graças à imprensa cada vez mais sensacionalista, o drama vivido pela família de uma adolescente, feita refém por seu ex-namorado, também adolescente, que acabou tragicamente morta depois de baleada, levada para o hospital e incapaz de resistir aos ferimentos. Não se falava de outra coisa na TV, nos jornais, no rádio. O assunto era o drama (particular) daquela família. Nos jornais eletrônicos (n´O GLOBO precipuamente, o que mais freqüentemente leio), as notícias envolvendo o fato eram manchete e destaque permanentemente.

O Brasil perdeu, na segunda-feira, um grande artista popular. Consagrado, de certo modo, se levarmos em conta, como parâmetro, a realidade dos artistas populares ligados ao samba em nosso país, costumeiramente ingrato com seus artistas. Levou, com um samba seu, a VILA ISABEL ao campeonato em 1988. Foi gravado pelos mais diversos nomes da música brasileira, e não quero, aqui, citar ninguém. Compunha com uma delicadeza e com uma genialidade comoventes. E pouco se falou sobre ele na TV, nos jornais, no rádio. Nos jornais eletrônicos (n´O GLOBO precipuamente), a notícia de sua morte mereceu um cantinho de página, e olhe lá.

Li, sobre o velório e sobre o enterro de mais uma vítima da violência, que mais de 50.000 pessoas foram se despedir (!!!!!) da menina a quem muitos sequer conheciam. Segundo a PM (ouvi na CBN), 39.000 pessoas passaram pelo velório e 12.000 se espremeram no cemitério. Ainda segundo a PM, familiares e amigos (os mais próximos) não passavam de 50.

Li, sobre o velório e sobre o enterro do smabista, que pouco mais de 300 pessoas foram ao cemitério (não li ou ouvi nada sobre o velório).

Não se trata – antes que venham os detratores de plantão de dedo em riste – de uma disputa mórbida pela popularidade post mortem.

Trata-se, sim, de uma reflexão simples, superficial, até.

Por quê – meu Deus! – esse fomento incessante da violência, da brutalidade, dos mais baixos instintos do homem e da sociedade por parte da imprensa? Não percebem, os homens da imprensa, que a divulgação desses dramas particulares faz crescer um medo paralisante, um pânico destrutivo e uma banalização da dor alheia, na contramão do crescimento da solidariedade? Não percebem que essa falsa e suposta solidariedade das pessoas (as tais 51.000 que se despencaram de suas casas, algumas de cidades distantes, para irem ao velório e ao enterro da menina) apenas expõem, de forma clara (o que é tristíssimo) a solidão, a carência e a doença social que assola nossa gente?

Quando alguém vai perceber – e lutar pelo cessar dessa espiral doentia – que essa exposição constante da violência e da brutalidade é, na verdade, elemento de incremento desses ingredientes que corroem nossas vidas sem que percebamos? Quando alguém perceberá o que é evidente, que os crimes se reproduzem, espocam aqui e ali, na medida em que se lançam luzes sobre um determinado tipo de crime que não interessa – em absoluto interessa! – à sociedade?

Quando não será considerado piegas e bobo aquele que se compromete apenas com a divulgação da beleza que reside nas mais pequenas coisas? Quando não será considerado demodè e deslocado aquele que se preocupa em expôr apenas o que tem capacidade de elevar o espírito do homem, de apaziguar a mente do homem, de aquietar o coração do homem, de fazê-lo refletir, pensar, criticar, modificar-se para melhor?

Por quê – meu Deus! – os homens da imprensa, dos jornais impressos, dos jornais eletrônicos, do rádio, da televisão, não se preocupam com a educação das pessoas, na mais ampla acepção da palavra? A resposta é óbvia – eu sei.

Porque os patrocinadores que fazem girar a roda da informação que deforma o mundo todo (e aqui não seria diferente) querem mais é isso: sexo e violência, que é o que mais se vende hoje em dia. A mistura de ambos (e os dois ingredientes estavam presentes, de certa forma, no tal seqüestro a que me referi), explosiva, entorpece a sociedade e vivemos, então, esses sombrios tempos de recrudescimento do amor.

Daí você dá um pequeno giro pelos jornais nessa última semana e descobre (tudo em destaque!) que uma cantora baiana engravidou de um filhinho de papai abastado, que essa mesma cantora baiana que engravidou de um filhinho de papai abastado perdeu o bebê, que um rapaz desequilibrado seqüestrou sua ex-namorada para chamar a atenção da família, que mataram um PM na avenida Brasil, que um incêndio matou duas crianças numa casa no Paraná, que libertaram uma das reféns do tal seqüestro, que a refém foi devolvida ao seqüestrador horas depois, que encontraram vários corpos na mala de um carro abandonado num canto qualquer da cidade, que não sei quantas balas perdidas fizeram não sei quantos feridos, e assim, meus poucos mas fiéis leitores, nós vamos sendo engolidos – sem que percebamos, quero repetir – por essa onda horrível que nos impede de ver o mundo à nossa volta com leveza.

Não se trata de querer viver com antolhos e não querer saber o que se passa por aí. Mas a cada um, o seu drama.

Vai daí que 51.000 autômatos seguem para o velório e para o enterro de uma desconhecida (e não estou falando da família, chega a cansar explicar o óbvio) como figurantes de uma novela tétrica que nos empurram goela adentro sem que reajamos.

E ninguém é sensibilizado para o desaparecimento de um homem que viveu para tornar o mundo mais bonito. Um louco, a seu modo, que fez o que pôde (prometeu, no samba, fazer de tudo) pra mudar o mundo.

Um homem que plantou, ao menos na minha vida, beleza. Como quem planta, num xaxim, um baita de um jequitibá. Pra bom entendedor, meia palavra basta.

Até.

ps: nos comentários, barbaridades pescadas, já na manhã de hoje, 22 de outubro de 2008, em alguns jornais eletrônicos.

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A RECEPÇÃO DE GALA

Talvez eu perca, com a publicação do texto de hoje, um de meus últimos amigos (estou exagerando apenas um pouco; vou explicar).

Dia desses, há coisa de – o quê? – uns seis, sete (acho que oito) meses, o H. me escreveu um e-mail. Dizia mais ou menos o seguinte (e eu li como se ouvisse sua voz de intelectual):

– Você pode me fazer um favor? Não cite mais meu nome. Estou pedindo! Estou pedindo!

E ameaçou, ralhando:

– Por enquanto, pedindo!

Respondi, crente que se tratava de uma brincadeira. E o H. desceu da cátedra e perdeu a linha:

– Experimente citar meu nome mais uma vez. Uma vez! Experimente!

Não experimentei.

Mais recentemente (pela ordem alfabética), o C., o F., o I., a L., a M. e a M., num movimento ensaiado como os piquetes do ABC na década de 80, gritaram (à moda do H.):

– Cite seu próprio nome!

E, antigos, disseram em côro:

– O nosso, não, violão!

Vai daí que meus personagens fugiram todos do palco. Foram em vão as tentativas de convencê-los (dentro do espírito é-mentira-mas-é-bonito) a permanecerem vivos nas minhas histórias. Usei argumentos tolos, confesso: eles estavam sendo imortalizados; eu vou morrer, o blog, jamais; essas bossas que não deram em nada.

O J.S. pediu-me algo semelhante. O F.C. também. E por aí (o V., amigo de há séculos, idem).

Apenas um – por pena de mim ou por aguda falta de tempo – não me fez pedido algum nesse sentido (e encho a boca para dizer seu nome por escrito, aqui no Buteco, e talvez pela última vez): Fernando José Szegeri.

Ontem à noite, enquanto eu dirigia, piscou seu nome no ecrã do celular (e, junto com seu nome, sua fotografia). Como por ele eu corro o risco da multa, atendi. Fui efusivo:

– Boa noite, querido!

E ele, nada efusivo:

– Tá podendo falar?

Menti:

– Arrã.

Ele, grave:

– Posso te pedir uma coisa, Eduardo? – ele nunca me chamou assim, pelo nome.

Com medo de que eu fosse ouvir o tal pedido (o tom de sua voz era o mesmo tom de voz do H., quando li seu email), desliguei. Desliguei a ligação e desliguei o aparelho.

Dito isso, vamos em frente. Hoje quero lhes contar sobre a última vinda do portentoso Fernando José Szegeri ao Rio de Janeiro.

Quando papai soube que ele viria (e que chegaria num sábado), decretou:

– Domingo ele almoça lá em casa conosco!

Meu irmão do meio (notem que não declino mais o nome de ninguém), que estava ao lado de papai quando anunciei a vinda do homem da barba amazônica, disse:

– Vou levar um puro para ele fumar!

E houve, na família, a euforia de sempre, a mobilização coletiva que só ele merece.

Mamãe preparou um cozido (uma de suas especialidades). Vovó chegou com a sobremesa que ela mesmo fez. Meu irmão levou, de fato, o puro cubano que prometera. Minha cunhada cantou tangos em homenagem a ele ao longo da tarde. A empregada de mamãe, que não trabalha aos domingos, fez questão de ir trabalhar e não admitiu receber nem o do ônibus! Meus tios se despencaram da Barra da Tijuca para ver o sobrinho. E o almoço transcorreu como se estivéssemos numa vernissage, e Fernando José Szegeri, é claro, desempenhando o papel do artista plástico, assediado, adorado, tocado, farejado, procurado para um papinho rápido que fosse. Tratado, enfim, como o gênio que ele é.

Fernando Szegeri, Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2008

Ele fez questão de fumar o charuto depois do almoço, sentado na mais portentosa poltrona que há na sala da casa de papai e mamãe. Aliás, sobre isso, um pequeno detalhe.

Quando chegamos – eu, ele e minha menina – fui direto em direção à poltrona (é confortabilíssima, a tal poltrona). Mamãe, estrilou:

– Nã, nã, ni, nã, não!

E meu pai, por trás:

– Essa poltrona é do Szegeri! É do Szegeri! – e explodiu em ruidosa gargalhada.

Voltando ao charuto.

Fernando Szegeri, Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2008

O homem da barba amazônica dava baforadas que – reparem! – só os grandes comunistas dão.

E enquanto ele fumava ali, quieto, na dele (sempre assediado pelas pessoas), fazendo gracinha com a fumaça que exalava (ele fez uma foice e depois um martelo com a espessa fumaça do charuto) sentado na mais fantástica poltrona da casa de meus pais (meus pais têm uma verdadeira coleção de poltronas), lembrei-me de uma história tristíssima, mas real, e que quero contar pra vocês.

Estive em São Paulo em meados de 2007. E bati o telefone pro Szegeri, uns dias antes:

– Posso te pedir uma coisa?! – eufórico.

E ele, protocolar:

– Fala.

– Eu queria demais encontrar com o Augusto, com o Favela, com o Borgonovi, com o Marcão, com o Capitão Leo e com o Julio Vellozo no Valadares! Você combina com eles?

– Arrã.

– Eu chego sexta. Sexta às nove? Tá bom?

– Tá. Quer que eu te pegue na porra do aeroporto?

– Não precisa. Encontre comigo no Valadares. O.K.? Ah! E avise ao Bruno e ao Gordo!

– Arrã. Pode deixar.

Fernando Szegeri, Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2008

E eis o que aconteceu…

Ninguém – nem ele, Fernando José Szegeri – apareceu no bar. Ninguém.

Quando eu digo pra vocês, meus poucos mas fiéis leitores, que o homem da barba amazônica dedica-se, como jardineiro orgulhoso de seu jardim, a cultivar humilhações impostas em doses homeopáticas a mim, eu não minto.

Eu não apenas lembrei-me dessa história.

Eu a contei, em voz alta.

Papai gritou:

– Bem feito!

E Fernando José Szegeri (o instantâneo foi tirado nesse exato momento) afastou de leve o charuto para explodir, junto com meu pai, numa acachapante gargalhada, confirmando o fato que até hoje dói em mim.

Fernando Szegeri, Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2008

Até.

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>O CAPELA

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Sinais da idade… você vai à Lapa, por volta das onze da noite de um sábado gelado, com o inocente intuito de beber um vinho acompanhando uma canja no CAPELA, e acha que a Lapa não é mais pra você. Havia – o quê? – mais de seis meses que eu e a Lapa não nos víamos.

Já na rua do Riachuelo assombrei-me com a quantidade de carros e de estacionamentos improvisados cobrando R$ 10,00 por uma vaga (eu, que não sou besta, estava de táxi).

Uma cervejaria imensa do lado direito da Riachuelo com filas intermináveis na porta, um restaurante japonês que deve ser novo (jamais o vira ali) também com enormes filas na calçada.

Perto de dobrar à esquerda na Lavradio, mais novidades.

Bares, bares, bares, todos lotados.

Música (e algumas de gosto duvidoso) no máximo volume.

Entramos na Mem de Sá.

Entre o portentoso BAR BRASIL e o NOVA CAPELA, outra novidade. Bar lotado, botando gente pelo ladrão. Em frente ao CAPELA (nem sei porque usei o NOVA…), idem.

Eu já pensava:

– Isso não é mais pra mim…

Entramos.

O oásis.

O CAPELA relativamente vazio, o glorioso Cícero com o sorriso de sempre, a mesma mesa de canto, chopes com bolinho de bacalhau, canja de galinha com bastante peito, muitas folhas de hortelã e um tinto modesto, como nós.

Thaís e Cícero, no Capela, Lapa, Rio de Janeiro, 18 de outubro de 2008

Com o horário de verão já vigorando, saímos de lá às três.

De volta à Mem de Sá, o táxi foi o refúgio esperado.

Não se ouvia nada, do lado de fora.

As casas que não existiam há seis, sete meses (e as que já existiam e que entraram na onda), têm caixas de som voltadas pro lado de fora e salve-se quem puder. Uma confusão inacreditável. Um barulho ensurdecedor.

E a certeza de que a Lapa, pra mim, hoje, mora no sossego (quem diria) do CAPELA.

Até.

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>BOEMIA & NOSTALGIA

>

Esbarrei no sábado à tarde, saindo de casa de carro, com meu amigo e parceiro, meu vizinho querido, Felipe Quintans, mais conhecido nas redondezas como Felipinho Cereal, dono do excelente blog BOEMIA & NOSTALGIA. Ele, que passou por mim de bicicleta, fez sinal pra que eu parasse.

Encostei o carro, abaixei o vidro, e ele, ofegante, disse:

– Edu! Acabei de chegar da Gamboa, cara… Fiz uma pequena entrevista com o seu Almir… Ele é dono da mais antiga chapelaria da cidade!

– Chapelaria Alberto? Não é na Gamboa!

– Chapelaria Porto, Edu! Passa lá no blog amanhã pra ver!

Despedimo-nos.

E eu quero recomendar, vivamente, a visita ao blog do Felipinho. Anda cada vez melhor. É ele, meu amigo, meu parceiro e meu vizinho, preservando, do jeito dele, a cidade que a gente ama. A cidade e sua gente.

Cliquem na imagem. E divirtam-se lendo TIRO O CHAPÉU.

texto publicado no BOEMIA & NOSTALGIA em 19 de outubro de 2008

Até.

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BOM DOMINGO!

(clique na fotografia e tente descobrir o que é que não se encontra em qualquer bar por aí)

tente descobrir o que é que não se encontra em qualquer bar por aí!!!!!

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