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Como lhes contei aqui na semana passada, o Szegeri, meu irmão paulista, chegou ao Rio de Janeiro de sopetão (ninguém chega tão de sopetão como o Pompa) com a doce Stê (gravidíssima e linda) e com a Iara.
Está na página 123 do meu livro (comprem, comprem, comprem!) o texto “O respeito que o Szegeri impõe”. Quando o escrevi, dezenas, centenas de polegares resvalaram meu nariz:
– Exagerado!
– Mentiroso!
– Hiperbólico!
Mas vejam.
Eu nunca tive, nem mesmo tenho, pressa quanto a isso: eu sei que o tempo irá devolver cada apontada de indicador, cada resvalada no meu nariz, e todos dirão, resignados:
– O Edu era um preciso!
– O Edu era a encarnação da verdade!
– O Edu era um contido!
Foi o Pompa pisar no Rio e eu liguei pro Fefê:
– Fê, sabe quem está aqui?
– Não. Quem?
– O Pompa!
Fefê ficou mudo. E disse:
– Jura? – tinha a voz encolhida.
– Palavra.
– Obaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Desliguei tristíssimo.
O Fefê nunca soltou um “oba” com mais de um “a” quando eu me anunciava em seu interfone, de surpresa. Aliás, a bem da verdade, nunca soltou um mísero, um único “oba”. Eu só ouvia um muxoxo de desdém, um “tsc” humilhante do outro lado do interfone.
Pois bem. Em segundos toca meu celular. É o Fefê.
– Edu… churrasco aqui em casa na sexta-feira, às duas da tarde, em homenagem ao Szegeri, avise a ele por favor.
Eu retruquei:
– Fefê… às duas da tarde estou trabalhando, não dá pra ser às…
Um corte seco:
– É pra ele o churrasco, Edu.
Destruí-me naquele instante.
Mas fui.
Eu não suportaria estar ausente.
Fomos. Fomos eu, o Pompa, a doce Stê, a Iara e a Roberta Valente, também no Rio de passagem.
Meu pai estava lá. Atracou-se com o Szegeri num abraço de pai e filho. Virou-se pra mim, meu pai:
– Ué… Você não está trabalhando hoje? – e estendeu-me a mão protocolarmente.
O Fefê estava eufórico, exaltadíssimo.
Abraçou-se com o Pompa demoradamente e ainda agarrado ao corpo do Szegeri dirigiu-se a mim por cima dos ombros pomposos:
– Ué. Você veio?
Eu tentava disfarçar, mas por dentro eu chorava de dar dó. Tudo era bem pior já que a Sorriso Maracanã, que sempre me defende, que sempre me alenta numa hora dessas, estava viajando com retorno previsto apenas para o dia seguinte.
Sentei-me num canto e observava os movimentos.
Arrumou as fatias na tábua.
E saiu servindo seus convidados.
Estendi a mão, humílimo:
– Já já vai sair alcatra. – disse o Fefê que quase me cortou os dedos com a fúria com que girou a tábua na direção do Pompa, que por sua vez lambia os dedos brilhantes de gordura.
Mas o pior estava por vir.
– Abra, mano. – disse o Szegeri já chorando com aqueles olhões.
Fefê abriu e os dois se abraçaram ainda mais comovidos.
Era uma garrafa fechada, lacrada, de Old Parr, o 12 anos preferido de ambos.
Eis aí, nesse lance, a facada fatal que recebi.
O Szegeri nunca me deu um copo d´água de presente.
Meus aniversários passam como vento, e nada.
Minhas demonstrações de afeto se acumulam, e nada.
Já ofereci a ele pomposos jantares, lanches espetaculares, vinhos caríssimos, iguarias que me custam fortunas. E nada.
No entanto, bastou o Fefê oferecer um churrasquinho num dia de semana.
Na minha frente – fez de propósito, o Szegeri, eu sei – aquela garrafa de quase duzentos reais, a troco de nada, na qual não pude nem tocar. Quando pedi pra vê-la, disse-me o Pompa:
– Você vê com os olhos! – e ficou fazendo barulhinho com o gelo.
E o Fefê, pisando em mim de vez, abraçado ao Szegeri, os dois gargalhando como um Zé Pelintra:
– Além de tudo você prefere o RedLabel.
Até.