Arquivo do mês: agosto 2007

EU SOU UM HUNO

Como lhes contei ontem, aqui, o JB deixou de publicar Aldir Blanc, deixou de publicar Nani. Com isso, disse eu, o outrora aguerrido jornal carioca se mediocriza de maneira aguda. Agudíssima, eu diria. Hoje, sexta-feira, ao ler o Caderno B do JB, senti o peso do vazio. E para que salte aos olhos a mediocridade que grassa, sintam, comigo, o peso desse troço…

Na terça-feira, dia 28, recebi e-mail de um amigo de São Paulo.

Pausa rápida… Não se trata do Szegeri, infelizmente. Não falo com o Szegeri, um verdadeiro iglu em matéria de sentimento, há semanas. E não há quem o demova dessa retração, desse isolamento, desse sumiço. Dito isso, sigamos.

O e-mail a que me refiro dizia, apenas, o seguinte:

“Edu, esse artigo saiu na Folha de São Paulo de hoje. Divirta-se no esculacho!!!”

E fui ler o tal artigo…

Li. Li e digo a vocês que é, de fato – meu amigo foi preciso! – merecedor de esculacho. Dirão alguns que estou, de novo, acendendo muita vela pra pouco defunto. E de fato estou. Mas se lamento vigorosamente a saída do Aldir do JB, se lamento o afastamento do Nani do mesmo jornal, se digo que com isso o JB se mediocriza, igualando-se aos demais jornais, sinto-me – em nome da precisão que me é companheira – na obrigação de apontar o dedo e dizer: eis a mediocridade que se espalha como metástase!!!!!

Tentarei ser preciso e didático.

Já em março deste ano de 2007, chamei a atenção para esse projeto nefasto que atende pelo nome de Amores Expressos, leiam aqui. O coordenador editorial dessa coisa, João Paulo Cuenca – que também escreve n´O Globo – vão tomando nota da coerência de tudo… – laureou (lendo meu texto vocês saberão mais sobre a vergonha) quinze amiguinhos com viagens de trinta dias para o exterior, com tudo pago. João Paulo Cuenca convidou quinze amiguinhos mas são dezesseis os afortunados pelo – pausa para o vômito – projeto. Um desses dezesseis é ele mesmo, que se escolheu.

Entre os dezesseis agraciados, também, Cecília Giannetti, de quem já falei aqui. A Cecília Giannetti (que chama João Paulo Cuenca de patrão… vejam aqui…), que quando é convidada para dar uma palestra abre a boca pra sair alguma coisa – a triste e lamentável figura é criação dela… – é quem assina a tal coluna a que se referiu meu amigo no e-mail que recebi.

Um poço de preconceito, de soberba e de presunção, eis o teor da coluna, cujo título é Hunos. Os grifos são meus, o preconceito é dela.

“O que quero eu dizer ao chamar de hunos meus vizinhos? Que vivo e trabalho na rua movimentada – por eles. Que o paraíso artificial deles é a temporada no inferno de quem tenta ler, escrever ou mesmo assistir a um DVD com o volume da TV marcando 29. Que a minha agenda de trabalho precisa ser refeita constantemente para acomodar as oscilações na rotina de farras da vizinhança.

Se chegam cedo ao bar da rua – em torno das dez da manhã-, por volta das cinco da tarde eles vão para casa, depois de terem cantado Ana Carolina, Zeca Pagodinho e/ou Chico Buarque batendo palmas fora de ritmo; de terem brigado; de terem torrado a paciência de todo um prédio, a ponto de seus moradores se transformarem naquilo que, quando jovens, ninguém imagina que será um dia: a pessoa que, pela janela, joga um balde d’água nos bêbados.

Os hunos não são jovens. Dizem até que ali, em meio à baderna diária, está sempre uma professora de graúda universidade federal. Quero crer que não há, pois as discussões -escuto todas- têm o nível de um talk-show ambientado sobre um pau de galinheiro.

Porém, em torno do bar eles estacionam carros bons. Há, portanto, algum dinheiro. Há uma cidade imensa, cheia de melhores bares e lugares. O que me faz quicar entre quatro paredes com censura em forma de perguntas: por que não pegam esses carros, esse dinheiro e essa disposição toda e vão à praia roer queijo coalho no palito? Ou almoçar em Santa Teresa, em vez de subsistir de uma dieta restrita a ovo rosa e lingüiça frita servida no prato de plástico? Um shoppingzinho? Um cineminha? Um café de livraria, já que há entre eles – dizem, dizem…- uma professora universitária?

(E aqui tenho a plena consciência de soar como aquele tipo de síndica coroca que, além de atirar baldes d’água pela janela, fura as bolas que as crianças da rua deixam cair no seu quintal).

Se os hunos partem “cedo” – ou seja, ainda à tardinha-, tenho a noite para trabalhar ou dormir. Se chegam à tarde, minha noite será dedicada a ouvir seus colóquios, angústias de casais desafinados que já não entendem mais quem começou qual baixaria e se acusam de bobagens mesquinhas. Os hunos são uma festa móvel.

Se a ópera ocorrer às primeiras horas da madrugada, os hunos não estarão no bar pela manhã. Aí, calculo que posso dormir mais ou menos por cinco horas e então começar a trabalhar. Até o meio-dia, quando eles retornarem, descansados e esquecidos de tudo o que disseram e fizeram na noite anterior.

Se a última cantoria e/ou debate ocorrer no começo da noite, porém, isso significa que poderei escrever durante a madrugada e dormir até às dez horas da manhã. Às dez da manhã o bar já estará aberto, recebendo as primeiras vedetes desse grupo tão divertido – “síntese do carioca”, se levamos em conta a maioria dos cronistas. Salve, simpatia.”

Um nojo, vê-se.

Pelo visto, na visão da moça, essa porra toda só pode acontecer na Mercearia, em SP, quintal dos bacanas antenados com a produção cultural…

Até.

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E O JB SE MEDIOCRIZA…

É puto dentro das calças, ainda revoltado com a indicação de Carlos Alberto Direito para ocupar a vaga vaga (é de propósito!) no STF (pra quem não se lembra, o douto magistrado foi Secretário de Educação do governo Moreira Franco – a única pessoa no mundo que não tem serventia alguma, apudFausto Wolff – e responsável direto pelo desmonte dos CIEP´s) que transcreverei, hoje, mais um brilhante texto de autoria desse monstro que atende pelo nome de Aldir Blanc, glória da música brasileira, gênio das letras cariocas, de quem sou dileto amigo.

Este texto, meus poucos mas fiéis leitores, seria – eu disse seria – publicado no JB de amanhã, como de costume. Acontece que o outrora glorioso JB prossegue sua queda livre, ladeira abaixo, se mediocrizando a olhos vistos. Junto com o Aldir, o jornal dispensou, também – notem minha elegância… – o Nani.

O JB faz, assim, sua infeliz opção, e alia-se a essa prática cada vez mais comum nos jornais brasileiros – e falo aqui, particularmente, dos cariocas: o de dar voz e vez a quem não tem nada de interessante, de substancial, de importante – rigorosamente nada – para falar. Gente que diminui o jornalismo.

Com a palavra, então, Aldir Blanc, que terá a palavra, aqui no balcão do BUTECO, sempre que quiser:

MAIS VELHINHOS BIRITEIROS

Desde que os amigos Jaguar e Fausto Wolff ficaram impossibilitados de beber por ordens médicas e me pediram para honrar seus múltiplos compromissos etílicos, tenho me esforçado para fazer jus a esse trabalho. Eu, um vira-latas da Zona Norte, vertendo underbergues e steinhagers, que não são a minha praia, jogando no ataque por um Jaguar e um Lobo… Devo confessar que, de uma semana para cá, não os representei com o senso de profissionalismo que a nobre tarefa exige. Eu vinha entrando no quarto de muletas (joelhos com síndrome de Torres Gêmeas) e vi no chão, tarde demais, “A Vontade de Poder” de Nitzsche. O cirurgião que me operou em 1991 havia feito a advertência:

– Coisas largadas no chão, uma folha de jornal, livros, uma peça de lego, tudo isso pode ser mortal!

Bom, a muleta deslizou no Nietzsche (tá aí uma expressão bacaninha: hei, cara, tu tá deslizando no Nietzsche, tipo “escorregou na maionese”) e levei um tombo digno de um trapezista – sem redes. Agora, só chamo o tal livro de “Vontade não é Poder”. Fiquei uns dias sem biritar, tomando remédios mais destrutivos que a cervejinha e, não mais que de repente, li uma frase extraordinária do Jaguar, solta no meio do texto “Lucro Líquido”, que nem terrorista larga mala com bomba em saguão de aeroporto: “dias intermináveis”. É a pura verdade e dói mais que o retrato de Itabira na parede do Poeta. Pensei em meus dois companheiros de infortúnio, ergui-me do leito e tomei, pela ordem, uma pilsen Therezópolis Gold, uma Original, e uma belga Stella Artois . Pouquinha coisa, mas não é que o danado do dia passou mais rápido?

DISNEY WAR

Leio que os norte-americanos montaram um parque temático semelhante ao, pasmem, Iraque, logo na Louisiana, onde cabra pasta Cheetos. Gastaram uma nota preta. Que desperdício! Bastava o Bushetta no poder usar a cidade destruída pelo furacão Katrina, Nova Orleans, que ficou – a parte mais pobre e negra – dias sem socorro, com cadáveres boiando pelas ruas, graças à omissão do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas de lá. Parece que Nova Orleans chegou a ser cogitada mas um tecnocrata objetou:

– O clima do Iraque é mais seco.

Bobagem. As ruas de Nova Orleans estão encharcadas de sangue.

A FLORESTA DE BIALOWIEZA PUSZCZA

Economia de “mercado”, “liberdade” de comércio, neo-liberalismo, tudo somado é igual a caos. Lendo “O Mundo sem nós”, de A. Weisman, descubro que a floresta acima resistiu a séculos de domínio polonês, à Primeira Guerra Mundial, à invasão soviética, à caça predatória e destruição de madeiras nobres, promovidas por nazistas loucos de fome e frio, etc. Só não resistiu à democratização da Polônia, cujas otoridades, depois de restaurados os “livres” isso e aquilo, começam a destruí-la. O argumento é digno de um José Sarney: “Estamos cortando a madeira para restabelecer o caráter original das árvores”. A Polônia está ferrada. Seus políticos mentem mais que Réu-nan Ca(n)galheiros, o que não é brincadeira. Enquanto isso, Vargas Llosa escreveu um artigo precioso denunciando o regime “autoritário e racista da Rússia de Putin”. A grande contribuição da queda dos soviéticos foi o afluxo de estrelas para o cinema pornô norte-americano. Se considerarmos que Baby Bush criou cárceres secretos na Polônia e na Romênia para melhor torturar e matar, não estamos tão distantes assim da Cortina de Ferro. Quando a coisa piorar, Bush Mouse corre pro bunker (Bunker… onde foi que eu li essa palavra antes? Ah, que memória a minha! Foi o esconderijo final de Adolf Hiltler).

EDUFARDO AZEDINHO

Pois é, senadô Azeredo, é possível que os que se esforçam para dar uma cara verde e amarela ao Canal Brasil lhe pareçam desinteressantes – mas também não estamos metidos com a caixa 2 de campanha do “publicitário” Marco Valério. Uma sensível diferença entre nós e Vossa Excrescência, não acha? Por isso, nós do Canal Brasil, nos sentimos honrados com sua defecção (não confundir com defecar. Isso o senadô já faz no mandato). Há momentos, na vida pública brasileira, em que são preferíveis os Bob Jeffersons e os Réu-nans. Pelo menos não bancam o santinho do oco (não acredito que farsantes desse calibre tenham pau).

Aldir Blanc”

Até.

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>FESTA FECHADA, SINUCA DE BICO

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Conforme eu já havia lhes contado aqui, aqui e aqui, foi ontem, e foi ótima!, a festa de aniversário, a comemoração oficial, o rega-bofe restrito, a pândega particular, a reunião mais fechada que cabaço de Honório Gurgel, apud Aldir Blanc, na qual Rodrigo Ferrari, esse poço artesiano de doçura, recebeu não mais do que vinte amigos para – notem que clássico! – soprar quarenta velinhas.

E por que festa fechada – alguns hão de perguntar -, por que sinuca de bico, por que esse título para o texto de hoje? Vou explicar, como sempre. E com a precisão que me é companheira.

Antes, porém, brevíssima digressão.

Adivinhem se o Szegeri veio…

Não.

Não veio e não telefonou – estou falando de um mísero, um árido e único caridoso telefonema – para desejar um gélido e protocolar “parabéns”. E isso, meus poucos mas fiéis leitores, isso depois de uma semana inteira de apelo público para que o fizesse. Depois de dezenas de emails sem qualquer resposta. Depois da intervenção – eu sei que houve, e mais de uma! – de alguns amigos que, solidários com a ansiedade ferrariana, cutucaram Fernando Szegeri, esse iglu – não é um homem, mas um iglu! -, implorando atenção a meus pedidos. Voltemos ao palpitante tema de hoje.

No sábado, durante a comovente festa pública realizada na rua do Ouvidor – leiam aqui sobre a festa – o Digão veio a mim, à certa altura, em desespero, as mãos enormes esfregando o rosto:

– Pô, velhinho… Tu me criou mó encrenca…

Eu, que já sabia do que se tratava, disse apenas:

– É? E o que é que tá pegando?

– Tá todo mundo vindo me perguntar sobre a festa de terça-feira, velhinho…

Eu, sem tirar os olhos do fundo do copo:

– Manda vir falar comigo. Fala que eu tô organizando.

E ele então sorriu aliviado:

– Beleza, velhinho!

E tascou-me um beijo na testa.

Chegam-se, então, menos de dez minutos depois, dois caras a quem eu não conhecia. Eu não os conhecia e tinha certeza absoluta de que o Digão também não os conhecia. Além de nunca tê-los visto, um verdadeiro amigo, ou mesmo um colega eventual, não se prestaria a tal papel.

Um deles – os dois, um com o braço por cima do pescoço do outro – abrodou-me com tapinhas nas costas, arma antiga dos caras-de-pau mais toscos.

– Você que é o Edu, do BUTECO?

Não respondi mas ergui os olhos.

– Então… qual é a dessa festa fechada de terça-feira?

Aí eu me animei:

– Pô… fala baixo aí…

Eles se entreolharam, empolgados, e concordaram comigo com meneios de cabeça.

Continuei, falando baixinho, pondo os braços em torno dos dois:

– Vocês não estão sabendo?

E eles numa excitação louca:

– Não! Não!

E eu:

– De nada? De nadinha?

Quase malucos:

– De nadinha! Conta, conta, conta!

– Não sabem de nenhum detalhe?

Sôfregos e juntos:

– Não…

Daí eu levantei a cabeça, desfiz o círculo que formávamos e disse:

– Então…

Pigarreei, dei um vigoroso gole de cerveja e emendei:

– … é porque vocês não foram convidados. Estão limados. Estão fora…

Precisei repetir tal performance mais umas três ou quatro vezes.

O que foi – Digão há de concordar comigo! – conveniente. A festa de ontem – minha bisavó diria – não teve um senão!

Até.

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>MENINO DE 67

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Eu digo sempre, e não deixarei de dizer nunca – e isso é fruto da educação que recebi, que me fez desse jeito, um homem com constante necessidade de agradecer e de ser grato – que a Sorriso Maracanã, a mulher que me ensinou a sorrir, a mulher que fez com que eu me considerasse incapaz de merecê-la – era demais para meus anseios… -, me fez (e me faz, diariamente) um homem melhor. Faço o intróito para falar desse poço artesiano de doçura, Rodrigo Ferrari, que aniversaria hoje.

Dani sabe que sou homem de poucos amigos. Dani sabe que tenho, neles, um de meus maiores tesouros. E Dani sabe, também, que tenho extrema preocupação (e quem não tem?) com meus gestos, na expectativa constante de que todos eles sejam capazes de traduzir, precisamente, o que sinto.

E digo isso porque, nas semanas que antecederam o dia de hoje – lembrem-se de que eu venho tratando o Rodrigo como se ele mesmo fosse o reveillón fora de época -, uma angústia olímpica me aplacava: dar o quê de presente ao malandro?

E isso porque, aos 40 anos, pai de um moleque maravilhoso – o Miguel Folha Seca, leiam sobre ele aqui -, sócio da mais carioca das livrarias, a Folha Seca, encravada na mais carioca das ruas, homem que é verdadeiro amálgama de gente da melhor qualidade que bate ponto ali, no 37 da rua do Ouvidor, sujeito capaz de ganhar, ao longo do ano, presentes irretribuíveis de todo mundo que se encanta com o jeito do menino que se esconde atrás daquele corpanzil, Rodrigo Ferrari tem de tudo.

E é aí – nesse remoinho em busca do presente e do gesto ideal – que entra minha menina.

Rodrigo Ferrari, 15 de julho de 2007

Dani sabe – e isso talvez seja, mesmo, um de meus gravíssimos defeitos – de meu apego aos meus livros, aos meus discos, às minhas coleções, aos meus registros. Sabe que nutro verdadeira paixão, amor – sabe-se lá… – por tudo isso.

E Dani sabe – como sabe das coisas, minha menina… – o quanto eu gosto desse caboclo que torna-se, hoje, um quadragenário.

Razão pela qual me fez ver o óbvio, mediante simples equação de sentimentos e de gestos. Disse-me, com o sorriso mais bonito do mundo, fazendo festinha em minhas mãos:

– Dê a ele, meu querido, um presente irretribuível… Você não gosta tanto de recebê-los?

E vendo-me atônito diante da iminência de me separar de um objeto que me é tão caro, disse-me ainda mais doce:

– Ele vai gostar, Edu…

Amanhã parto em direção à rua do Ouvidor, pra dar um abraço de tamanduá no cara, levando, embaixo do braço, seguramente, um dos maiores xodós da minha coleção do que chamo raridades. Levei muitos anos em busca do troço, tão difícil é (e foi) encontrar a coisa. Difícil como ele, um sujeito raro, cada vez mais raro nesse mundo cada vez mais fútil.

E parto com a certeza de que o tesouro, datado de maio de 1972, quando Digão tinha ainda 4 anos, e eu apenas 3, será capaz de dizer a ele exatamente o que eu não consigo, agora, embaraçado por tudo, por esse turbilhão que me arremessa ao passado nessas ocasiões, escrever.

Até.

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>PÉ LIMPO? NÃO. PÉ PODRE.

>nota publicada em O GLOBO de 28 de agosto de 2007

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>ELE MERECIA QUE FOSSE COMO FOI

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Ele merecia que fosse como de fato foi. Ele merecia que a festa transcorresse num dia de céu claro, com a rua cheia, com os amigos presentes, ele merecia a roda de choro e a roda de samba, ele merecia o filho presente com um sorriso idêntico ao dele, ele merecia o olhar orgulhoso da mãe, ele merecia o desfecho perfeito, no interior da livraria do meu coração, a Folha Seca, nome gravado no peito do malandro, merecedor daquela boniteza toda, tremendo poço artesiano de doçura, o quase-quadragenário, Rodrigo Ferrari.

Rodrigo Ferrari, 25 de agosto de 2007, na rua do Ouvidor

Debruçado, diversas vezes, nas sacadas da centenária rua do Ouvidor, a mais carioca das ruas, o malandro esteve, mais que nunca, senhor de si. Distanciava-se, vez por outra, e eu percebi em diversos momentos os olhos marejados, para observar aquela beleza, aquela festa, aquele movimento de pessoas que atestavam – como se preciso fosse – a vocação do Rio de Janeiro para fazer festa na rua. E eu imagino a emoção do cara, um dos sujeitos mais sensíveis que conheci (agradeça-me, seu puto!). Ele era a razão da festa, e cada copo erguido (e foram muitos, e incontáveis vezes…) foi à sua saúde, e cada sorriso, e cada abraço, e cada acorde, e cada emoção, desagüava nas mãos imensas do caboclo, que não escondia o orgulho por aquilo tudo.

roda de samba na rua do Ouvidor

A quantidade de gente querida por metro quadrado não cabe num simples texto. Dar o nome de um, dar o nome de outro, será tarefa inglória que não quero enfrentar. Basta o que já enfrentei no sábado, eu que sou – e a cada dia esse troço piora – um emotivo incorrigível.

Emocionei-me em vários momentos.

Desde quando cheguei, às onze da manhã, para dividir com o malandro a ansiedade pelo que viria.

E até às dez da noite, quando de lá saímos, eu e minha Sorriso Maracanã, embriagados de tanta coisa boa e felizes pelo presente que a vida nos deu.

rua do Ouvidor, 25 de agosto de 2007

Amanhã, quando o malandro completa quarenta anos, estarei – sou, já disse, incorrigível, além de previsível para o enfrentamento de determinadas situações… – rigorosamente emocionado e bobo.

Dia de dar presente pro cara. E de agradecer, no fundo é isso, pelo presente que ele é.

Até.

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>RUA DO OUVIDOR

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Prefiro deixar para falar sobre a festa de ontem, na mais carioca das ruas da cidade, durante comemoração dos quarenta anos de um dos homens mais cariocas que conheço, esse poço artesiano de doçura que atende pelo nome de Rodrigo Ferrari, somente amanhã.

Mas não resisto ao ímpeto de dividir com vocês, com orgulho, a imagem desse menino, Tiago Prata, em video que pode, também, ser visto aqui.

Até.

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>PROGRAMA OBRIGATÓRIO

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>A OBSESSÃO DA CASA CHEIA

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Acordei há pouco, e animadíssimo. E acordei animadíssimo porque chega hoje, depois de uns dias fora, a trabalho, a mulher que me ensinou a sorrir. Eu penso nesse exato instante nessa mulher, a que me ensinou a sorrir, e sorrio, como um néscio, olhando para um de nossos retratos ao alcance da minha visão, agradecendo, nem eu mesmo sei a quê (ou a quem), por sua presença em minha vida. Eu, que durante anos vivi sob o jugo de vacas que tentaram, sem êxito, destruir meu pasto, sou um homem de sorte por ter a meu lado, hoje, uma mulher como a minha garota. Feita a efusiva declaração pública de amor, vamos seguir.

Eu vinha dizendo que acordei animadíssimo. E acordei animadíssimo, também, porque hoje é sexta-feira. E às sextas-feiras – não vou me estender sobre o assunto – a cidade parece sorrir. E acordei animadíssimo, por fim, porque sei que amanhã, sábado, haverá uma festa que há de entrar para a história da minha mui amada e leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro: diante da livraria Folha Seca, a partir das 13h, comemorando seus 40 anos (a comemoração MESMO será apenas no dia real de seu aniversário, numa festa mais fechada que cabaço de Honório Gurgel, apud Aldir Blanc), Rodrigo Ferrari, esse poço artesiano de doçura, receberá Wilson Moreira (que aproveita a oportunidade para relançar o seu PESO NA BALANÇA, lançado em 1986, seu primeiro LP individual) em meio a uma roda de samba e choro que promete. Feita, portanto, a efusiva declaração pública de amor e a convocação para o furdunço de amanhã, vamos seguindo em frente.

Acordei há pouco, como disse.

E recebi email do seguinte teor:

“Meus amigos,

todo mundo já está sabendo do lançamento do CD do grande Wilson Moreira aqui em frente à loja, amanhã à tarde. O que nem todo mundo sabe é que nesse dia também vou comemorar os meus quarenta anos. Sei que muitos estão longe mas espero que os que possam vir curtam uma tarde/noite memorável de samba e alegria.

Abraços,

Rodrigo”

Preocupou-me – confesso – o teor da mensagem acima transcrita. E explico.

Rodrigo Ferrari, 15 de julho de 2007

O quase-quadragenário, um homem que guardo na alma como um dos grandes tesouros que a vida me deu – e eu atribuo a enxurrada de coisas boas em minha vida à chegada da minha Sorriso Maracanã a meu terreiro -, está visivelmente preocupado com o público que comparecerá à sua festa.

Age, quando pensa nisso (e eu sei que ele pensa nisso obsessivamente), como a criança de sete anos de idade que deseja ver o playground do prédio lotado de amiguinhos no dia de sua festa de aniversário.

Apela, pateticamente, pela presença maciça de seus convidados. Eu ia dizer amigos mas decidi usar, mesmo, a palavra convidados (ninguém pode imaginar ter tantos amigos). Ele valeu-se de malas diretas, mandou imprimir dez mil filipetas que vêm sendo distribuídas, desde segunda-feira, pelo Centro da cidade, tem passado as manhãs, as tardes e as noites numa espécie de comício auto-promocional incessante. Conseguiu, até o momento, o que parecia impossível: mobilizar todo o comércio da rua do Ouvidor, que não abre aos sábados (salvo uma ou outra exceção), e que crê obter, amanhã, o melhor faturamento da história.

Daí eu recebo esse email e bato o telefone pro meu amigo (ele é, de fato, meu amigo, a quem amo agudamente às vésperas de seus quarenta anos):

– Bicho, que email é esse? – perguntei rindo.

– Ô, velhinho… você não gostou? – a voz trêmula.

Pausa no diálogo: eis aí uma característica do Folha Seca… A preocupação contínua com a opinião alheia.

– Não é isso, querido… – continuei rindo.

– O que foi? Algum erro de português? – tenso, nitidamente tenso.

– Não, malandro, relaxa… Mas quem são os muitos que estão longe, querido?

Um silêncio do outro lado da linha.

Eu fiz, de propósito, barulho enquanto bebia o café preto de todas as manhãs. E provoquei:

– Quem, mano?

Ouvi a primeira, a segunda, a terceira fungada, quando meu irmão querido explodiu num choro.

– O Szegeri, porra! O Szegeri!

Eu espicacei:

– Mas… – pigarreei – você espera que ele possa vir para curtir uma tarde/noite memorável de samba e alegria? – repetindo palavras insertas no email.

– Ele tem que vir, Edu, pelo amor de Deus, ele tem que vir…

E isso foi dito, meus poucos mas fiéis leitores, aos prantos. As palavras custavam a sair e eu ouvia a voz truncada, o choro embolado, em tom de desespero, imaginava o cuspe e a baba escorrendo pela barba sempre cerrada do malandro, e tive pena.

Fecho com uma confissão…

Tento, desde a segunda-feira, contato com Fernando Szegeri. Mando emails, telefono, deixo recados na repartição, deixo recados em sua casa, mando mensagens pelo celular, e nada.

O homem da barba amazônica recusa-se a me atender e, conseqüentemente, a atender o apelo óbvio, de que venha ao Rio de Janeiro. Para o bem do aniversariante.

Imploro aos queridos de São Paulo que façam chegar ao homem este texto e este apelo.

Até.

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>A OBSESSÃO DO FOLHA SECA

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Agora que já dei minha porradinha habitual no homúnculo, aqui, vou retomar o trilho da semana, em que todas as lentes, todas as atenções e todas as expectativas estão direcionadas para esse poço artesiano de ternura, esse menino e esse gigante, que atende pelo nome de Rodrigo Ferrari, um quase-quadragenário. Eu digo quase-quadragenário e não posso deixar de fazer a chamada para a primeira festa de comemoração de seus quarenta anos, que acontecerá no sábado, na rua do Ouvidor, diante da livraria Folha Seca, número 37, com roda de samba comandada por Wilson Moreira e com direção musical do meu garoto, Tiago Prata, filho também do aniversariante. Eu digo primeira festa e não posso deixar de dizer da minha alegria por ter sido convidado para a segunda festa, que acontecerá no dia de seu nascimento (há quarenta anos, não é demais frisar o redondo do número), mais fechada que cabaço de Honório Gurgel, apud Aldir Blanc.

Mas vamos aos fatos.

Ontem, eu que estou sem a fundamental companhia da minha Sorriso Maracanã, embelezando Curitiba desde a noite de segunda-feira, convidei o Digão para jantar lá em casa. Convidei o Digão para jantar lá em casa para que o jantar fosse entendido como parte das comemorações e do presente por seus quarenta anos. Fiz o convite por telefone e eis o que ouço como resposta:

– O Szegeri vai estar lá?

É bem verdade que ele, sem jeito diante da aguda falta de educação, desculpou-se em seguida.

As horas do dia passando e bateu-me o telefone o Vidal, convidando-me – vejam como são as coisas! – para jantar – leiam sobre ele aqui. Convoquei-o, o convite foi aceito, e eis que jantamos, então, os três.

Quero confessar a vocês, diante do balcão imaginário do BUTECO, que eu me esmerei.

Bebericamos Red Label (que o Digão sorvia com a sofreguidão do menino diante de bolas de sorvete), servi alheiras artesanais de entrada, preparei uns suculentíssimos bifes argentinos acompanhados de batatas gratinadas, abri uma garrafa de Malbec 2006, argentino evidentemente, até que perguntei à certa altura, constrangido diante do silêncio do homenageado, que fez EXATAMENTE essa cara quando perguntei:

– Tá gostando?

Rodrigo Ferrari, 2007

– Não.

O Vidal tossiu pra não rir.

– Não? – perguntei puto.

– Não.

A expressão mantinha-se a mesma, os olhos cabisbaixos, a boca num desenho de lua minguante, e ele prosseguiu:

– Eu quero o Szegeri.

Francamente, vocês vejam bem.

O Folha Seca está recebendo um tratamento de reveillón. As pessoas têm passado por ele na rua, esbarrado com ele nas esquinas, procurado por ele, todas com a ânsia e a obsessão da meia-noite do dia 27 de agosto:

– Tá chegando, hein!

– Quarenta! Quarenta!

E ele – eis o que é inacreditável e eu diria que inconcebível – com essa obsessão insuportável de só querer o Szegeri.

Pediu-me, na hora de ir embora, já no corredor e já diante do elevador, e aos gritos – para desespero de vizinhas que abriam as portas em busca da causa de tamanha balbúrdia:

– Me dê o Szegeri de presente, Edu. Traga o Szegeri. Pelo amor de Deus… o Szegeri… – e dizia isso bêbado, atarantado, enrolando a língua de maneira vexaminosa.

Quando despediu-se, aliviado eu fechei a porta.

Mas qual o quê!

Menos de cinco minutos depois estrila o interfone:

– Alô?

– Edu?

– Eu.

– É o Tião, Edu.

– Fala, Tião.

– Esse seu amigo que acabou de sair…

– O que é que tem?

– Pediu que eu interfonasse praí e…

– O que houve, Tião?

– … lembrasse a você de não esquecer de trazer pra ele o…

– Fala, Tião!

– Não sei o nome…

– Szegeri?

– …isso! Isso!

Vejam vocês a que ponto chegamos.

Até.

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