Arquivo do mês: maio 2008

UM PASSEIO PELA TIJUCA – IV

Vou dar seguimento, hoje, sábado, dia em que nem é muito comum eu abrir as portas de ferro do estabelecimento, a essa brincadeira que – confesso – muito tem me divertido, de bolar roteiros para os neófitos em matéria de Tijuca, para os que torcem os narizes quando ouvem falar da Tijuca sem nem ao menos conhecê-la direito, para os tijucanos de quatro costados, como eu, que têm verdadeiro orgulho de sua terra, de seu bairro, de suas ruas, de suas esquinas, de seus bares, de suas meninas, de seu casario, desse privilégio que é viver no Rio e na zona norte – ô, sorte!, é o que diz o tijucano íntegro a cada manhã. Vamos a ele, então.

Mantendo a linha – e repetindo a feira! – saia caminhando pela feira livre da Vicente Licínio, num domingo – tem que ser domingo, é claro – por volta das 11h, um bocadinho mais tarde. Comece lááááá pela outra ponta, oposta à ponta da Campos Sales. Abra seu dia com um pastel de camarão com catupiry e um copão de caldo de cana. Feira é feira, meus poucos mas fiéis leitores, as barracas estão sempre nos mesmos lugares, e o que varia são os produtos, as safras, o humor dos pregoeiros, os peixes expostos, a qualidade dos frutos do mar, as folhas frescas ou secas que a rezadeira trouxe, portanto tenha olhos de ver, ouvidos de ouvir e um bom olfato à mão. Umas dicas?

Bem em frente à barraca do pastel começa a série de caminhões-peixarias. São, ao menos para mim, uma tentação. Quase todos têm um tablado de madeira que te deixa mais perto dos peixes, dos camarões, das lulas, das vieiras, então, sem cerimônia, abuse desse privilégio. Suba. Veja tudo. Converse com os peixeiros, são todos trabalhadores e honestíssimos. Peixeiro desonesto em feira livre dura menos que o jornal que embrulha seu próprio produto. Se gostar muito de alguma coisa, compre, é claro. Ali, entre os caminhões, há um florista. Flores na feira são incríveis, ficam em baldes coloridos, aos montes, e há também galhos de arruda, leve um!!! Siga pela feira, sem pressa, como deve ser, sempre. Prove de tudo o que lhe for oferecido e beba, durante o trajeto – há mais de uma barraquinha vendendo isso… – água de côco geladíssima. Chegando ao final, já na Campos Sales, compre outro pastel na pastelaria que há à sua esquerda, em frente a um outro florista, esse do lado direito. Compare os pastéis. Passe a ter o seu pastel de fé na feira. Isso é fabuloso e é fundamental para que se crie um amálgama definitivo entre você e o mercado de rua!

Resista à tentação e não vire à direita em direção à rua Pardal Mallet. Vire à esquerda. Passe pela rua Gonçalves Crespo (mais tarde você almoçará nessa rua!, aguarde), na contramão da Campos Sales, e observe a sede do América, do nosso querido Felipinho Cereal, tijucano agudo. Quando você chegar na esquina seguinte, à sua esquerda você verá a rua Marechal Marques Porto. Dê uma caminhada pra dentro dela apenas para babar, literalmente, diante de um prédio art-decò (alô, Helion!) belíssimo, escondido nessa rua mínima, peculiar, que a Tijuca abriga, do lado direito de quem entra por onde você entrou. Volte. Volte, atravesse a Campos Sales e pare na esquina. Você estará na esquina da rua Campos Sales com a rua Martins Pena, digamos que a continuação da Marechal Marques Porto. Diante de você, a Praça Afonso Pena (depois, vale uma voltinha).

Na Martins Pena, molhe seu bico com a primeira cerveja do dia. Peça uma Brahma estupidamente gelada no APERTADINHO, nome do buteco que fica ali, coladinho ao SALÃO AMÉRICA (que estará fechado, é domingo, lembre-se). Aquela calçada estará, sem dúvida, em festa. Beba uma, beba duas, puxe conversa – se for dia de jogo do Flamengo o APERTADINHO estará sediando mais um encontro da FLAMIGOS, uma torcida pacífica que reúne pais, avós, filhos, netos, todos na maior tranqüilidade do mundo. Depois dessas cervejas, obrigue-se a, na segunda-feira, ir lá, de novo, só que ao lado, pra puxar papo com o Seu Ernesto, um grande praça, maiúsculo, barbeiro do glorioso SALÃO AMÉRICA, ao lado do APERTADINHO, como eu já disse. Faça a barba, arrume uma desculpa qualquer, apare o pé do cabelo, qualquer troço, mas sente-se na cadeira FERRANTE do Seu Ernesto, a última do salão, junto à parede, à direita de quem entra. A conversa será das boas, o salão tem uma atmosfera absurdamente tijucana, porta de correr, a TV ou o rádio sempre ligados, escudo do América na parede, potes e bisnagas de creme de barbear, aquele cheiro único das barbearias, tudo o que é preciso para fazer o clientes feliz! Feito esse plano – cumpra-o! -, vá ao buteco do lado. Isso mesmo. A ordem é essa. Um buteco. Coladinho, o salão. E coladinho ao salão, outro buteco, esse de esquina. Acho que chama-se AMÉRICA também (a conferir… Cereal, faz isso pra mim? Um pulinho lá com a sua Caloi 10 e pronto!) (pedido feito, pedido atendido… o buteco chama-se AMÉRICA ESPORTIVO, como nos conta, o Cereal, nos comentários). Beba uma cerveja, uma água gasosa, vá à praça. Vá à praça pra ver gente. Como é domingo, é certo, a praça estará lotada de cabeças-brancas, de crianças, de vendedores de tudo o que se possa imaginar, e de árvores, muitas árvores, reforçando a verdade que aponta para essa incontestável conclusão: a Tijuca é um bairro verde, com céu amplo, arejado, salve, salve a Tijuca!

No entorno da praça, um açougue de primeira (atravesse a rua Doutor Satamini, pô!), fechado. Há, reparem nisso, cada vez menos açougues. Os supermercados estão esmagando esse comércio tão fundamental, estão acabando com a figura do açougueiro, o homem que sabe, de fato, manusear uma carne, cortar, pelas juntas, o rabo do boi pra fazer a rabada direitinho, limpar, sem um senão, uma peça inteira de contra-filé… Ao lado do açougue, outra raridade… uma sapataria de rua, chamada APENA (genial, não?). Também vai estar fechada. Mas seu destino será um pé-sujo na rua Afonso Pena, quase na esquina da Doutor Satamini, do lado esquerdo. Uma cerveja só, o bastante pra você curtir a assistência (sempre lotado!) e perceber que ali, ao lado, funciona mais que uma banca do bicho. Aquilo parece, de fato, um banco! E volte pra praça.

Passe pelo APERTADINHO de novo, lembre-se de voltar no dia seguinte para uma ida à barbearia!!!!!, e entre na Campos Sales no sentido do trânsito. Entre, à direita, na rua Gonçalves Crespo. Caminhe até o final dela. Você verá a feira sendo desfeita à sua esquerda, na Vicente Licínio. À sua direita, um portão enorme, portentoso, vermelho, sem letreiro algum. Entre.

Você estará no CENTRO CULTURAL DA CHINA, um prédio com muros altos, esse tal portão vermelho, duas estátuas de dragões brancos enormes, e à direita de quem entra, um restaurante, também sem letreiro, chamado HUAN LIAN. É seu destino.

Na entrada, pregado numa espécie de quadro móvel, o cardápio inteiramente escrito em chinês. Entre. Você estará num dos ambientes mais simples que já observou num restaurante. Sendo domingo, deverá estar bem cheio, e as mesas lotadas por chineses, apenas. Nada como se sentir estrangeiro em sua própria terra…

Peça ao garçom o cardápio (vem também em português). Daí, aproveite! As entradas, os pratos principais, tudo, rigorosamente tudo, é inacreditavelmente delicioso. Esqueça, se algum dia você caiu nessa armadilha, esses fast-food de comida chinesa em caixa. Esqueça. O troço, no HUAN LIAN, é infinitamente mais sério.

Até.

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>O MEU PAI E O HELION

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Tá bonito de ver (de ler, na verdade…) o diálogo que vem sendo travado entre meu velho e amado pai, Isaac Goldenberg, e meu querido Helion Póvoa, a sabedoria em pessoa, nos comentários ao texto MAIS SOBRE A TIJUCA, que pode ser lido aqui e que foi publicado em 27 de maio de 2008. O troço começou com uma provocação do Helion sobre cinemas extintos no glorioso bairro da zona norte, resvalou sobre a arquitetura art-decò predominante numa escondida rua tijucana, num desafio feito pelo próprio Helion, e que eu matei!, e daí meu pai abriu o bico no balcão imaginário, tirou conhecimento de dentro de sua memória prodigiosa, e os dois estão num papo desses de admirar.

Vou – como já disse a eles – armar, assim que for possível, uma cerveja com os dois.

Sentar-me-ei diante dos dois, sorverei aquela cultura tijucana-zona-norte que há de pingar das bordas da mesa e estou pensando até – pode dar certo! – em chamar gente pra assistir ao espetáculo!

Acompanhem lá!

Até.

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UM PASSEIO PELA TIJUCA – III

Se eu quisesse soar velho, velhíssimo, quase mumificado – o que não é nada difícil, eu sou assim mesmo! -, eu diria que os roteiros que tenho proposto para passeios a pé pela Tijuca estão virando – notem a idade da expressão! – uma coqueluche. Escrevi o primeiro (aqui), o segundo (aqui) e parto hoje, sexta-feira, para o terceiro roteiro que há de ser, é o que sinceramente espero, tão bem recebido quanto os dois primeiros.

Proponho que a partida seja dada, numa sexta-feira (é essencial que seja sexta-feira), da rua Garibaldi, a mesma que entrou no segundo roteiro, e de dentro do BAR DA DONA MARIA, o mesmíssimo bar que dele também constou. Com uma diferença: sexta-feira é dia de feira livre na Garibaldi, portanto, esbalde-se! De pé diante do balcão de mármore do buteco, não deixando de prestar atenção aos detalhes impagáveis (a caixa registradora, as geladeiras com portas de madeira, o pé-direito altíssimo, o menor banheiro masculino de que se tem notícia) e torcendo pra ser atendido pela Dona Maria em pessoa, esteja lá por volta das 10h30min. Sei – sei disso, sei disso! – que apenas os homens de sorte poderão estar lá, numa sexta-feira, dia útil, a essa hora. Mas há sempre a possibilidade de um feriado (quem sabe?), de um profissional liberal com agenda flexível, de uma febrinha de última hora, sacumé? Então… Dez e meia da manhã, você ali bicando sua primeira cervejinha da sexta-feira, curtindo esse pedaço fabuloso da Tijuca – a Muda, para os locais – e maravilhado com o casarão em frente (já falamos dele), com as árvores imensas e frondosas ao longo de toda a rua e com o movimento da feira, dos feirantes, dos ambulantes, das rezadeiras e suas folhas, dos pregoeiros, dos fregueses, das freguesas, dos floristas, com o movimento ali, inteiro, à sua frente. Beba uma, duas, três cervejas. Arremate com uma água com gás. Saindo do bar e dobrando à esquerda, já na feira, flanando entre a assistência, procure a barraca do pastel e mande um de queijo, tradicional, pra dentro, junto com um copão de meio litro de caldo de cana. Glicose, malandragem, troço fundamental pro êxito do passeio!

Siga em frente até o curso do Rio Maracanã. Pare diante dele. Olhe para seu curso, suas pedras, seu lixo, seu soro poluído, e saiba que o Rio Maracanã e a Tijuca foram feitos um para o outro, siameses que são. Dobre à direita, seguindo o curso do rio, pela avenida Maracanã (ela mesma, só que num trecho pacatíssimo). Babe com as árvores monumentais que vivem à margem do rio, com os flamboyants que colorem a caminhada, assombre-se diante daquela calma, daquela quietude, em plena cidade do Rio de Janeiro. Você ouvirá o canto dos pássaros, pouco barulho de automóvel, você passará, dessa vez pelo lado oposto, pela rua Guajaratuba, à sua esquerda, e caminhará até a rua Radmaker, na qual você deverá entrar à esquerda, andando pela calçada do lado esquerdo, até a esquina da rua Pinto Guedes. Você já está diante de um buteco pé-sujo. Não perca muito tempo ali. Mas veja as coisas, respire o ambiente, beba mais uma garrafa de água com gás (vá por mim!) e siga a Pinto Guedes na mão do trânsito. Em poucos segundos, poucos passos, você estará na Praça Xavier de Brito.

Aprecie, francamente, a beleza da praça que completa, em 2008, 80 anos de existência. Estaque após a primeira pisada na praça. Repare nas quadras de bocha onde os mais velhos passam os dias, pertinho da pista da Pinto Guedes. Vire de costas e perceba a beleza de construção que é a ESCOLA MUNICIPAL SOARES PEREIRA, em estilo neo-colonial luso-brasileiro. Construída em 1926, fica na esquina da rua Pinto Guedes com a avenida Maracanã. Volte-se novamente e caminhe até o chafariz, francês e de bronze, que foi construído e instalado, primeiramente, numa praça qualquer da Europa, trazida mais tarde para o Brasil. Para o Brasil. Para o Rio de Janeiro. Para a Tijuca, mais precisamente! Atravesse a praça em direção ao BAR DO PAVÃO, palco de encerramento do segundo roteiro que propus. Ali, quase diante do bar, preste atenção ao imóvel do número 110 da rua Otávio Kelly (você estará diante dela!), que acaba de ser tombado pela Prefeitura. Trata-se da antiga ELEVATÓRIA de água da Tijuca, construção imponente da década de 20, e que hoje funciona como prédio da CEDAE. Com a medida, diga-se, afasta-se dali o fantasma da especulação imobiliária.

Cumprimente o Pavão, a Dona Jô, babe diante da casa da Dona Olívia (na Otávio Kelly, coladinha ao BAR DO PAVÃO) e marche até a rua General Espírito Santo Cardoso. Do seu lado esquerdo, repare numa casa que é, hoje, uma loja expositora de tintas. Fenomenal! Dobre à direita e tome a direção do BAR DO MOMO, à esquerda, quase na esquina da rua Uruguai.

No MOMO – para os íntimos -, e você deve estar chegando por volta do meio-dia, você dará com o que posso chamar de “fauna tijucana”, na melhor acepção da expressão. Muita cabeça branca, muita história boa pra se ouvir, e você pode dar a sorte de esbarrar com o Ceceu Rico, com o Paulo Amarelo, com o Mário, com o Seu Antônio, sendo certo que você encontrará cerveja gelada, petiscos imperdíveis (as sardinhas são inacreditáveis) e muito papo bom. Desses de fazer você perder a hora, literalmente.

Mas resista. Fique ali, no máximo, umas duas horinhas. Minha proposta é pesada mas valerá a pena. Tome a esquina e dobre à esquerda. Caminhe pela rua Uruguai na contramão do trânsito. Ande até esbarrar com a JIV’S DELICATESSEN, no número 280. Faça ali, se quiser, umas compras pra mais tarde, no descanso do lar. Siga em frente e entre, à direita, na rua Barão de Mesquita (ali, pertinho, está um outro ponto que constará, em brevíssimo, de novo roteiro que prepararei, um restaurante de comida nordestina de deixar cearense com lágrimas nos olhos).

Já na Barão de Mesquita, também na contramão do trânsito, entre na primeira rua à esquerda, a Pontes Correia. Minha proposta é simples: atravesse com calma a Pontes Correia, um oásis encravado na Tijuca. Rua calmíssima, pouquíssimos edifícios, muitas casas, algumas vilas, muitas árvores, a Pontes Correia é sonho de consumo de muita gente que mora por essas bandas… Vá até a avenida Maxwell e dobre à direita. Você vai passar pela rua Amaral, pela rua Silva Teles (onde fica a quadra do SALGUEIRO), pela Agostinho Menezes, pela Araújo Lima e pela Gonzaga Bastos, não deixando de prestar atenção à fábrica de tecidos, cantada por Noel Rosa, que aparecerá, monstruosa, à sua esquerda durante a travessia da Maxwell. Você vai entrar na Gonzaga Bastos, à direita.

Entrando na Gonzaga Bastos, entre na primeira à esquerda, na rua dos Artistas. Preste atenção quando passar em frente ao número 257, casa – ali até hoje! – na qual passou grande parte de sua infância o compositor Aldir Blanc, ponto central de seu fabuloso livro VILA ISABEL, INVENTÁRIO DA INFÂNCIA, que virou curtametragem dirigido por Isabel Diegues. Curta a rua dos Artistas, uma rua também pacata, dotada de forte carga da alma tijuca, suburbana, zona norte. Atravesse a Pereira Nunes, a Ribeiro Guimarães, siga em frente e dobre à direita apenas na Almirante João Cândido Brasil. Resista ao SIRI, fabuloso restaurante na esquina. Não, não. Beba um chope, apenas, de pé mesmo. Lamba os beiços e siga pela Almirante João Cândido Brasil até a Praça Varnhagen, não parando em nenhum dos bares do caminho. Vá até o meio da praça e olhe, de leve, para a sua esquerda.

Mire a rua Jaceguai, palco do MAU (movimento artístico universitário), que teve origem nas reuniões feitas na casa do psiquiatra Aluízio Porto Carreiro de Miranda e de sua mulher Maria Ruth, na década de 60. Coincidência ou não, os famosos saraus musicais aconteciam, também, às sextas-feiras! Freqüentavam a casa, famosíssima à época, jovens como Taiguara, Gonzaguinha, Ivan Lins, Aldir Blanc, entre muitos outros, já mais conhecidos, como Cartola, Milton Nascimento e Ney Matogrosso.

Na esquina da rua Jaceguai está o ponto final deste terceiro roteiro: o BAR VARNHAGEN. Portentoso buteco, azulejos na parede, muitas plantas dentro, cerveja sempre estupidamente gelada, pataniscas de bacalhau (é obrigatório provar as pataniscas), termine ali a sua sexta-feira agradecendo aos deuses, todos, por seu dia, por seu passeio, por cada visão, por cada sensação, por cada descoberta.

Até.

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>INCRÍVEL…

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… como as pessoas têm as memórias frescas… basta cutucá-las que as revelações vêm com fortíssima intensidade! Exemplo? Chega a ser comovente o relato da Cristiane Schuch, mãe do meu filho, o Prata, feito nos comentários ao texto UM PASSEIO PELA TIJUCA – II, que pode ser lido aqui.

Até.

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UM PASSEIO PELA TIJUCA – II

Em razão do acerto que foi, na minha humílima opinião, o texto que publiquei ontem sugerindo um roteiro para um passeio pela minha Tijuca (leiam aqui), volto hoje ao mesmo tema, sugerindo, então, um segundo roteiro para um segundo passeio que há de ser, faço votos, tão gratificante quanto o primeiro.

O ponto de partida será, para mantermos uma espécie de tradição que pretendo imprimir aos tais passeios, na feira livre que acontece aos sábados na rua dos Artistas e na rua Ribeiro Guimarães, que se cruzam ali naquela meiúca que neguinho jura que é Vila Isabel, Aldeia Campista, Andaraí (trato desse furdunço no primeiro texto de meu livro, que – olha a propaganda! – pode ser comprado na livraria do meu coração, a FOLHA SECA (Rua do Ouvidor, 37, fone 21-2507-7175, email aqui), ou aqui, se você morar fora do Rio), mas que é – a bem da verdade – Tijuca!!!!!

Antes de começar a xeretar a feira, que é sempre uma grande pedida, como já lhes disse no texto com o primeiro roteiro, sente-se no buteco que atende pelo sugestivo nome de ESCADINHA, graças aos degraus que o separam da calçada, que fica exatamente na esquina da Artistas com a Ribeiro Guimarães. Uma curiosidade: ali, coladinho ao buteco, fica o prédio onde mora o Seu Osório, o Edifício Xana, de pastilhas amarelas na fachada da frente.

Beba uma, duas Brahmas no máximo e saia percorrendo a feira. Ali, naquele pedaço, viveu Nelson Rodrigues, no cruzamento da ruas Almirante João Cândido Brasil, Artistas e Dona Zulmira, que é na verdade a continuação da Artistas. Ali havia um coreto, e você pode imaginá-lo ali, se quiser. Andou pela feira? Volte ao ESCADINHA e peça mais uma cerveja.

Parta pela rua Ribeiro Guimarães em direção à avenida Maracanã. Repare na vila que há, quase no final da Ribeiro Guimarães, do lado direito. Um paraíso no meio do tumulto da cidade… Ignore completamente, é claro, o Shopping Tijuca. Siga a avenida Maracanã até a esquina com a rua Barão de Mesquita. Você estará na Praça Lamartine Babo, em frente ao quartel da PE. Atravesse a Maracanã em direção à rua Pinto de Figueiredo e entre à direita na rua Antônio Basílio, rua mais-que-arborizada mas que não tem, a bem da verdade, nada de muito interessante, salvo a sombra que te conduzirá até a José Higino (no final da Antônio Basílio) e uma ou outra casa bastante bonita de se ver.

Chegando na José Higino, siga – contra o fluxo do trânsito – pela avenida Maracanã. Você passará a rua João da Mata e deverá entrar, à esquerda, na Dona Delfina. Siga direto até a Conde de Bonfim e siga à direita na mão do trânsito. Você vai dar de cara com a rua Uruguai. Ótimo. Atravesse e sente-se no OTTO, numa mesinha do lado de fora, sem pressa. Peça uma porção de lingüiças alemãs com mostardas variadas e um chope Stella Artois, ou mesmo Brahma, se você preferir. Ambos são estupendamente bem tirados!

A Uruguai é uma rua feia, sabe? Grande, larga, mas aquele cruzamento com a Conde de Bonfim é justamente o ponto no qual ela fica mais bonita, com muitas árvores, muita gente passando, e esse tempo no OTTO tem tudo pra ser uma grande pedida. Não coma demais, minha sugestão de almoço é noutro lugar!

Saindo do OTTO, dê um pulinho na delicatessen NIGRI, na rua Uruguai mesmo, coladinho ao bar-restaurante. Há uma variedade infinita de cervejas, petiscos de comer de joelhos, e o Julio, um dos donos, extremamente simpático, vai adorar poder orientá-lo nas compras das coisinhas que podem transformar sua noite, já em casa, em algo bastante mais agradável.

Saiu dali, passe em frente ao OTTO novamente, não caia na tentação de mais-um, dobre à direita e siga pela Conde de Bonfim. Ande até a rua Garibaldi. Na esquina você já verá o lindíssimo casarão que hoje abriga o CENTRO DE REFERÊNCIA DA MÚSICA CARIOCA. Quem sabe você não dá sorte e dá de cara com uma programação de primeira praquela tarde?

Visite-o, apenas para conhecer os jardins, a casa por dentro, sua arquitetura, sem contar que há sempre uma exposição acontecendo! Saindo dali, entre na Garibaldi, rua onde reside o poeta-maior da Tijuca, Aldir Blanc. Dê uma parada, rápida, no legendário BAR DA DONA MARIA, que já teve dias mais felizes mas que ainda guarda interessantíssima atmosfera. Repare no pé-direito, no velho balcão de mármore, na caixa registradora, descanse enquanto bebe uma cerveja de pé, diante do balcão, olhando pra rua e pras moças que insistem em passar por ali provocando a gente…

Peça, no máximo, um pastel de bacalhau (absurdamente gostoso!) ou um croquete de carne para acompanhar as cervejas, sem abusar!

Parta dali pela Garibaldi, na mão do trânsito. Você passará pelo histórico rio Maracanã, meu rio, o que corre e me socorre, injentando em minhas veias seu soro poluído de pilha e folha morta, apud Aldir Blanc!!! Repare nas árvores imensas que dão aspecto de túnel à rua. Vai que você dá sorte e dá de cara com o Aldir passeando por ali com seu cachorro, ou mesmo na janela espiando o movimento?

Chegando na esquina da Pinto Guedes, dobre à direita. Você vai passar pela rua Guajaratuba (à sua direita), a que viu o poeta Paulo Emílio da Costa Leite, parceiro do Aldir em inúmeros sucessos, ficar enfeitiçado. Siga em frente, não entre na Guajaratuba, mas entre na primeira à esquerda, na rua João Alfredo, outro paraíso perdido na Tijuca. Rua de paralelepípedos, muitas casas, muitas árvores, e ande até o final, quando ela desemboca na Espírito Santo Cardoso. Ali, na esquina, beba uma – apenas uma! – cerveja num pé-sujo desses sem nome (eu não sei, confesso, o nome do buteco). Terminou? Siga pela Espírito Santo Cardoso na contramão do trânsito.

Daí você entrará na primeira à direita, rua Oliveira da Silva, novo oásis. Muitas casas, algumas enormes, e você vai cair na Praça Xavier de Brito. Dobre à esquerda, passe pelo REI DO BACALHAU (um chope e um bolinho!), depois pelo BAR DO MANEL (uma cerveja apenas!), e sente-se na esquina, no BAR DO PAVÃO.

Ali, diante do casal que comanda a casa, Dona Jô e o Pavão, caia dentro da feijoada, saborosíssima!!!!! Peça a ele uma mesinha diante da casa da Dona Olívia, figura querida na região, que mora numa casa dessas de dar inveja, e que simplesmente adora que sua porta de entrada fique lotada – literalmente lotada – de gente falando alto, bebendo e comendo bem, celebrando a vida que ela tanto colore!

Vai que você dá sorte de conhecer a dona Olívia? Peça autógrafo, diga que me conhece, e mande um beijo meu pra ela, do tamanho da Tijuca!

Até.

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UM PASSEIO PELA TIJUCA

Sábio é o homem que dispensa o automóvel, que dispensa, com ares de ojeriza, o metrô, o mais desumano meio de transporte de que se tem notícia, sábio é o homem que se vale do ônibus somente em último caso, e vou explicar tudo. O automóvel é detestável pois exige do motorista atenção permanente, olhos pra frente, no máximo uma espiada pelo retrovisor, pernas e braços sob controle absoluto, movimentos que o impedem de ver o que se passa à sua volta, o impedem de ver as coxas das moças que passam pela calçada com vestido de normalista, o impedem de ver as casas, as janelas, as árvores, os jardins, os mais velhos, as crianças, os jornaleiros, os butecos pelo caminho, o casario do trajeto, os bichos, tudo enfim. O metrô, franca e sinceramente, quase que não merece comentários. Debaixo da terra, com toneladas de pessoas com fios pendendo dos ouvidos (leiam o que escreveu sobre esse triste fenômeno, o meu mano Szegeri, aqui), com vagões invariavelmente lotados à beira do insuportável (como cheios estão os bolsos da concessionária que administra, mal, o metrô carioca), o metrô não permite nada ao usuário além do desconforto, da solidão, da aridez da paisagem e da frieza da assistência (quantos bêbados você já encontrou no metrô? Sobre bêbados em transporte público, leiam PÁRA, QUE EU QUERO DESCER, aqui, e PÁRA, QUE EU QUERO DESCER (II), aqui, ambos os textos de autoria também dele, Szegeri). Já o ônibus, meio de transporte pelo qual tenho intensa simpatia, em tudo contrasta com o automóvel e com o metrô. O ônibus permite ao passageiro que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, uma visão panorâmica da cidade, permite ouvir o som das ruas, as buzinas, os pregoeiros dos sinais de trânsito, a fofoca das mulheres dos bancos da frente, as lamúrias do casal dos bancos de trás, permite ver o sarro consentido, de leve, no meio do corredor do coletivo, as queixas da trocadora, as piadas do trocador, os esporros que leva o motorista a cada freada mais brusca. Mas, ainda assim, deve ser utilizado apenas em último caso.

O homem sábio anda, mesmo, a pé.

Andando a pé, meus poucos mas fiéis leitores, é possível respirar, in totum, a atmosfera da cidade. Quantas vezes você já se flagrou, ainda que num rápido passeio a pé, dizendo, “nunca havia reparado nessa casa!”? Várias, certo? Pois caminhando a pé, esses sustos são constantes e permanentes. A pé se pode cumprimentar os porteiros do trajeto que, dependendo da constância com que você o atravessa, viram fraternos amigos de seu dia-a-dia. A pé dá-se bom dia a torto e a direito; para os empregados do comércio das ruas, para o gari com quem se cruza, para o guarda de trânsito, para os vizinhos que, geralmente, têm um sorriso pronto para corresponder a seu aceno. A pé sente-se os cheiros da cidade. Os cheiros do monóxido de carbono que sai nervoso dos canos de descarga desregulados que existem aos montes, mas também o cheiro do jardim dos prédios da rua, muitos deles com flores que jamais seriam vistas d´outro ângulo. E se você passa por uma feira? Vêm os cheiros também das flores, mas vêm os cheiros das frutas, das ervas frescas, e seu dia e seu passeio ganham em qualidade. Tem o cheiro dos passantes, e se você for bom de nariz, detectará água de colônia, perfume francês, loção pós-barba, e os perfumes de jasmim das moças que não passam nada sobre a pele, mas que exalam o perfume que elas mesmo produzem…

Eu disse tudo isso para sugerir – vejam vocês como ando dando voltas… – um passeio a pé pela Tijuca, de preferência para um sujeito chegado à comida e à bebida servida nos butecos mais vagabundos aos quais eu não resisto.

Se você não morar perto do ponto de partida, pegue um ônibus!

Proponho que a marcha comece num domingo pela manhã, por volta das 10h. O ponto de partida é a monumental (com a palavra, Luiz Antonio Simas) padaria TRIGUS, na Mariz e Barros esquina com a Ibituruna. Nem em Paris, meus caros, nem em Paris!, você encontrará pães como os que são vendidos nesse portentoso estabelecimento tijucano. De pé, no balcão, você se regozijará com seu pão predileto, seu sanduíche preferido, um café preto bem quente e estará pronto para começar a caminhada. Atravesse a Ibituruna e saia andando pela Mariz e Barros no contrafluxo do trânsito, em direção à rua Felisberto de Menezes, a primeira à direita (antes, você verá passar, à sua esquerda, a Senador Furtado e a Paraíba). Entre nela depois de babar, literalmente, diante da beleza que é a entrada do INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, imponente construção que dobra a esquina na qual você entrará. Daí você dará no Largo Frei Cassiano Villarosa, e entrará à esquerda, de leve, na rua Barão de Iguatemi.

Não caia na tentação de virar à direita para parar na feira da Vicente Licínio. Essa é a próxima etapa. Vá por mim e entre na Barão de Iguatemi.

Na calçada do seu lado esquerdo, pouco depois do jornaleiro, uma carranca quase na calçada vai te anunciar que você está diante do ACONCHEGO CARIOCA. Se tudo for como sempre, a Kátia, uma das donas, estará lendo jornal na varanda, do lado de fora, e irá encará-lo com expressão de um mau humor que não resiste ao primeiro sorriso. Pergunte pelas cervejas da casa e delicie-se com o cardápio extenso de louras, ruivas e escuras das mais variadas procedências. Sente-se. File o jornal da Kátia, puxe conversa, mas fique apenas na primeira garrafa. Antes de sair pergunte a ela pelo bar do Paulinho, seu irmão. Ela apontará o braço e o dedo para o lado direito, olhando para a rua, ou seja, você passou por ali e nem notou. Vá até lá.

O Paulinho é outro boa-praça. Montou o bar tem pouco tempo. Construiu, pacientemente, uma câmara frigorífica para guardar as carnes exóticas que serve no bar. Peça a ele para mostrá-los; a câmara e as carnes! Ele terá intenso prazer em fazê-lo. Enquanto isso, é evidente, peça uma outra cerveja com a intenção, inarredável, de manter-se apenas nessa uma. Fique de pé, no balcão, aproveite da boa conversa do malandro, despeça-se e tome o rumo da feira.

Chegou na feira? A fim de equilibrar o pH e de colocar glicose pra dentro do organismo, na primeira barraca à esquerda de quem entra, peça um pastel e um caldo de cana grande. Você terá direito a um, dois, três choros dentro do copo e estará pronto para seguir em frente. Passeie pela feira, sem pressa. A feira livre é uma festa de cores, de cheiros, de gostos (sempre há uma provinha em cada barraca!), e não se deve ter pressa nessa hora. Veja os peixes, os camarões, compare os preços, compre o que lhe der na telha, veja tudo com cuidado, apalpe as frutas, cheire as frutas, puxe papo com os feirantes, sábios das ruas, e tenha ouvidos atentos às piadas que são apregoadas cada vez que uma mulher bonita passa. Dia desses, estava eu comprando frutas quando passa uma menina, não mais do que 18 anos, linda, com seios enormes querendo saltar pra fora da blusa. E o feirante:

– Olha o melão, minha gente! Que melão é esse?! Que melão é esse?! Mesmo caro vale a pena! Olha o melão! Madurinho, madurinho!

Atravessar a feira, se você for atento e curioso – como deve ser – vai lhe tomar entre 45 minutos e uma hora. Você já vai estar na rua Campos Sales, rua da sede do glorioso América, do Felipinho Cereal. Dobre à direita e entre, lépido, na primeira à esquerda, na rua Pardal Mallet. Siga em frente pela calçada da direita. À sua direita mesmo, já quase na esquina da rua Afonso Pena, você verá uma das mais lindas casas da Tijuca… Casa de frente ampla, um alpendre à direita de quem olha da rua, um alpendre de livros de infância, um jardim impressionante cercando a casa… e mais uns passos você chega na esquina e deve sentar-se no BAR DO CHICO. Como é domingo e ainda é de manhã, comecinho da tarde, quem deve estar no balcão é o Chicão, não o Chico. Peça uma Brahma gelada e preste atenção nas mesas à sua volta. Todas, sem exceção, estão ali domingo após domingo, religiosamente. Os mais-velhos sob a marquise discutindo sobre cavalos e futebol, a rapaziada no balcão comentando a rodada da véspera, e você deve ficar, mesmo, nessa única cerveja, deixando pra comer no SALETE, na rua Afonso Pena, que pode ser visto da esquina.

No SALETE, farte-se. O chope é da Brahma e bem tirado. As empadas de camarão são as mais deliciosas desde que se inventou empada. Coma duas, três, e depois sente-se pra almoçar. Não tem erro no cardápio. Você pode pedir o risoto de camarão, o filé à francesa, peça de olhos fechados qualquer dos pratos e você será um homem satisfeito.

Eis o roteiro, meus poucos mas fiéis leitores. Pelos meus cálculos, que têm tudo para dar errado (quando tem buteco no roteiro tudo pode acontecer…), se você começar a marcha por volta das 10h, você deverá sair do SALETE por volta das 15h, a tempo de ver o jogo do domingo no RIO-BRASÍLIA. Saindo do SALETE, ande na mão do trânsito pela Afonso Pena e siga até a Haddock Lobo. Dobre à esquerda. Caminhe, resista aos bares do caminho e chegue até a esquina da rua Almirante Gavião. É ali. Seja bem chegado. Peça uma gelada ao Joaquim e termine, ali, o seu domingo tijucano em estado bruto.

Até.

PS: nosso querido Felipinho Cereal, em seu blog BOEMIA & NOSTALGIA, complementa as histórias que venho contando sobre a Tijuca com fotos simplesmente impagáveis de tão interessantes e reveladoras! Vejam aqui!

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>BOTEQUIM DO BRUNO

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O camarada Bruno Ribeiro, parceiro e amigo querido de Campinas, editor do indispensável PÁTRIA FUTEBOL CLUBE, blog por mim tantas vezes exaltado, anunciou ontem – e eu daqui comi mosca! -, em caráter irrevogável, o fim do espaço que a tanta gente encantou desde julho de 2006.

Entretanto, para regozijo de seus leitores, fãs e amigos (e eu me enquadro nas três categorias!), o Bruno não apenas decidiu manter o PÁTRIA FUTEBOL CLUBE no ar com todos os arquivos lá publicados, como também inaugurou – salve!, salve!, salve! – o BOTEQUIM DO BRUNO, leitura obrigatória desde já e já indicada no seletíssimo grupo dos blogs que indico, no menu à direita.

Todo mundo lá! Aqui, ó!

Ergo daqui, diante do balcão imaginário, o copo cheio de chope com espessa espuma torcendo por vida longa para mais essa empreitada desse brasileiro máximo.

Até.

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>MAIS SOBRE A TIJUCA

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Ontem escrevi um texto que pretendia dissertar mais sobre a banalização da violência (tema batidíssimo, confesso) mas que terminou por ser, ainda bem!, uma ode à Tijuca, bairro onde nasci, cresci e onde vivo hoje, depois de cinco anos de auto-exílio no bairro da Lagoa, bairro belíssimo, é verdade (o mais lindo do Rio na insuspeitada opinião de meu mano Szegeri), mas sem um décimo do calor (literalmente) da Tijuca. Muitos comentários depois – leiam aqui – me veio a idéia de falar, mais, sobre o aprazível bairro na zona norte da cidade.

Nos comentários ao tal texto, chamado TIJUCA, respondendo a um e a outro, falei sobre os clubes portugueses, certo? Que tal vocês conhecerem, então, o CASA DA VILA DA FEIRA E TERRAS DE SANTA MARIA? Vejam, aqui, o site do fabuloso clube, que tem como sede um prédio belíssimo, antiqüíssimo (recuso-me a deixar de usar o trema), na rua Haddock Lobo. Igualmente imperdível, também, é a CASA DOS AÇORES, cujo site pode ser visto aqui.

Falou, também, Luiz Antonio Simas, exaltando as qualidades dos restaurantes da Tijuca. Vamos a alguns deles… O melhor japonês do Brasil, sem exagero, fica na Tijuca, mais precisamente na rua São Francisco Xavier, o MITSUBA, vejam o site aqui. Aliás, a título de curiosidade, no MITSUBA, onde já estive com ele dezenas de vezes, o Simas é tratado como se fosse o Imperador do Japão, tamanha a moral do malandro no pedaço. A melhor pizzaria de toda a cidade, disparado, é a O FORNO RIO, na Doutor Satamini esquina com a Domício da Gama, vejam aqui. Há ainda o OTTO, na sagrada esquina da Conde de Bonfim com a Uruguai, com mesinhas do lado de fora, chope de primeiríssima e tira-gostos de tirar o fôlego, vejam o site, pesadíssimo, aqui.

Você não é do Rio? Não conhece a Tijuca? Não esquente. Venha e hospede-se no monumental HOTEL BARILOCHE, o que é bom até no preço, com site que pode ser visto aqui (com destaque para o bonequinho de gelo que anuncia as vantagens do hotel…). Se você for um bocadinho mais exigente, opte pelo RIO TIJUCA HOSTEL, um albergue sensacional, numa casa ainda mais sensacional, na rua Araújo Pena, quase esquina com a (olha ela de novo!) Haddock Lobo! Vejam o site aqui.

A fim de conhecer a maior floresta urbana do mundo? Vá conhecer a FLORESTA DA TIJUCA, paraíso a menos de 15 minutos de minha casa… Vejam aqui e aqui! Vocês não conhecem o MARACANÃ, o Maior do Mundo (será sempre!)????? Fica na Tijuca, meus poucos mas fiéis leitores, e vocês podem ver detalhes sobre como conhecê-lo – se você não puder ir a um jogo de futebol! – aqui. Ah! E o CENTRO DE REFERÊNCIA DA MÚSICA CARIOCA, na rua Garibaldi? Não conhecem? Vejam aqui!

E as escolas de samba daqui? Começando pela minha, a ACADÊMICOS DO SALGUEIRO, aqui. A IMPÉRIO DA TIJUCA fica aqui.

O melhor dentista do planeta Terra? Mora e atende na Tijuca, no coração da Tijuca, na Praça Saens Peña, e atende pelo nome de Marcelo Alves Vidal (se ele me autorizar, dou, depois, seus telefones, o cara tem até UNIMED DENTAL!). O melhor sapateiro dentre todos? O Crispim, na rua Almirante Gavião, mesma rua do RIO-BRASÍLIA, meu buteco de fé que vende a melhor carne assada com batatas coradas de todo o mundo. O melhor vidraceiro? Fica na esquina da Haddock Lobo com a mesma Almirante Gavião, chama-se Dimas, e foi o homem que emoldurou a nota que ganhei de presente do Simas, como lhes contei aqui.

Amanhã, havendo tempo, continuo na mesma trilha.

Até.

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A TIJUCA

É comum você ouvir dizer, por aí:

– A Tijuca? A Tijuca já era! A Tijuca é violentíssima!!

Quietíssimo durante o feriado e o final de semana, dei de ler os jornais.

Uma reclamação por conta de um carro com som alto, tocando funk, em Volta Redonda, diante de um bar, resulta na morte de um rapaz e em ferimentos à bala em seu pai (eu conheço o pai). Um acontecimento besta, no trânsito, termina com um homem, o pedestre diante de seus dois filhos, com afundamento de crânio por conta de pancadas dadas com uma chave-de-roda pelo destemperado motorista, na Tijuca (diga-se). Um churrasco de estudantes, uns quarenta, no Cosme Velho, zona sul do Rio, é interrompido por quatro assaltantes armados que fazem uma limpa na casa e nos pertences dos garotos. Um grupo de bandidos invade, na pacatíssima Itaipava, na região serrana do Rio, uma pousada premiadíssima e destrói o repouso dos hóspedes que buscavam refúgio durante o feriadão. Outro imbroglio no trânsito, em São Paulo, tem um morto a tiros depois de uma discussão e bate-boca. E eu poderia esticar este parágrafo até o infinito, como dizem as crianças. A violência não cessa, a violência não cede, a violência se espalha e não vê fronteiras – há muito tempo.

Eis a razão, precípua, pela qual acho de extremo mau gosto a perseguição que sofre a minha Tijuca, a Tijuca do Felipinho Cereal, a Tijuca de Luiz Antonio Simas, a Tijuca de minha infância, de meus irmãos e de meus pais, a Tijuca de Aldir Blanc, a Tijuca do Salete, do Rio-Brasília, do Galeto Columbia, do Columbinha, do Fiorino, do Mitsuba, do Otto, do Bar do Chico, do Bode Cheiroso, do Aconchego Carioca, a Tijuca do Cesinha Tartaglia, do Gabriel Cavalcante, a Tijuca do Basile, grande figura da Muda, pedaço da minha Tijuca, a Tijuca do Bar do Momo, e eu poderia – como no parágrafo anterior – listar dezenas, centenas, milhares de motivos para que a Tijuca esteja sempre na mais alta conta no coração do carioca.

Eu poderia, numa tentativa tosca de imitar o poeta, dizer que a Tijuca tem o desenho do meu coração e da minha alma, e que a Conde de Bonfim é a veia por onde corre o sangue que me bombeia a vida e que deságua – numa geografia que só o tijucano domina – no Largo da Segunda-Feira, onde vira Hadock Lobo (descendo), depois de ser Doutor Satamini até a Praça Saens Peña (subindo) – onde volta a ser Conde de Bonfim até a subida do Alto da Boa Vista. Poderia enumerar as veias que cruzam a aorta da zona norte, e eu estaria falando das ruas que me viram crescer, Barão de Mesquita, São Francisco Xavier, Heitor Beltrão, Professor Gabizo, Hadock Lobo, Mariz e Barros, General Canabarro, Afonso Pena, Martins Pena, Pardal Mallet, Vicente Licínio, Ibituruna, Praça da Bandeira, e dos morros que dão à Tijuca esse aspecto de vale que somente encanta quem nele penetra com olhos de ver, Borel, Formiga, Turano, Casa Branca, São Carlos, Chacrinha, Salgueiro… E novamente, como nos dois parágrafos anteriores, poderia listar todas as ruas da Tijuca e todos os seus morros e suas colinas, dando um tom de infinito a tudo isso.

A Tijuca é o bairro-mãe, que acolhe o filho no berço cercado de morros e o vê crescer, ainda que longe, ainda que tendo optado por viver longe, esperando o dia da volta, ainda que pra uma visita, que sempre há de vir.

Salve a Tijuca!

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>O FUTEBOL E AS NOVAS GERAÇÕES

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Desde a quinta-feira passada, dia seguinte ao fabuloso jogo entre Fluminense e São Paulo no Maracanã que decidiu uma das vagas para as semifinais da Libertadores (escrevi sobre o jogo aqui), que a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro é uma cidade cheia de crianças (crianças mesmo, não refiro-me aos adolescentes) trajando, orgulhosas, a camisa do tricolor das Laranjeiras. Refiro-me a bebês de colo, mesmo!, a crianças com – o quê? – dois, três, cinco anos de idade, estampando no peito e no sorriso a alegria de um vencedor, de um torcedor apaixonado literalmente em formação. Porque são crianças, invariavelmente um se dirige a elas:

– Dá-lhe, Flusão!

Eu mesmo, ontem, caminhando pela Tijuca, deparei-me com um molecote de mãos dadas com a mãe, vestindo a camisa do Fluminense, numa alegria dessas de transmitir euforia. Disse a ele:

– Parabéns, garoto! Você viu o jogo?!

E ele, quicando:

– Vi, vi, vi!

E seguiu gritando o nome do time, despedindo-se efusivamente com a mão solta dando adeus e olhando pra trás.

O que quero lhes contar – e abro o BUTECO neste domingo pra evitar poeira demais sobre o balcão – é que essa paixão pelos clubes é inoculada nas novíssimas gerações apenas por conta dos grandes feitos desses mesmos clubes, por conta das vitórias heróicas (como a de quarta-feira) desses clubes, por conta dos dramas e das tragédias dos jogadores, protagonistas do espetáculo que, aqui no Brasil, ganha cores e forma de liturgia.

De nada adiantam – e eis aí a beleza da coisa toda, a beleza da espontaneidade que rasga dossiês e cadernos de intenção – propagandas intensivas, campanhas milionárias e trilhas sonoras sem sentido se não houver, precipuamente, o herói de carne e osso desafiando a física e seu próprio físico durante a partida, se não houver vinte e dois corações pulsando entre as quatro linhas, se não houver o quadragésimo sexto minuto e se não houver o roteiro, por ninguém conhecido, prevendo o gol que ninguém imagina, o lance inacreditável que decidirá o destino do clube numa competição e o destino – eis a belezura – de uma geração que ali, naquele instante, naquele momento, naquele segundo, talvez sem sentir, celebra um pacto de paixão que durará por toda a vida.

Até.

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