Sempre que espoca um email do Szegeri no monitor de meu computador – seja o de casa ou o do escritório -, e eles espocam como pipoca na panela e não no odioso microondas, dá-se em mim uma sensação quase juvenil de festa. Sinto-me prestigiado, sinto-me lembrado, e ser prestigiado e lembrado pelo maior ser humano vivo sobre a Terra é, convenhamos, um privilégio. Feito o intróito, vamos aos fatos.
Pois na semana passada, mais precisamente no dia 24 de maio de 2007 – exatamente um mês antes de seu aniversário, e eu atribuo a isso o teor do troço… – espocou, logo pela manhã, um email do Szegeri, lindíssimo, como todos os que ele escreve (notem que hoje, como se isso fosse possível, acordei admirando ainda mais o meu irmão paulista).
Li.
E respondi apenas:
“Publicarei, amanhã, este e-mail no Buteco.”
Não o fiz, mas o faço agora. Leiam o teor da mensagem, na íntegra:
“Querido, voltei a beber de maneira imunda. Tenho consumido uma quantidade industrial de coisas gordurosas, frituras, acepipes das piores procedências. Voltei à dezena dos 90kg. E o pior: estou gostando. Atribuo tudo isso à vossa pessoa. Ou, melhor dizendo, a ausência da vossa pessoa. Bebo sozinho, assisto o futebol sozinho, leio sozinho, escrevo sozinho. Vivo sozinho nesta cidade horrorosa, onde a Barra da Tijuca não é exceção, é regra. E pra piorar, o inverno hoje instalou-se cruelmente e promete permanecer por uns quatro anos. Pra piorar tudo ainda mais, 90% dos butiquins desta triste cidade não tem Macieira 5 estrelas, a única coisa capaz de aplacar as minhas aflições. (ontem fui obrigado a ficar bebendo Jurubeba, como nos velhos tempos, por causa de um ligeiro incômodo hepático) Há, de maneira geral, uma acentuada tendência para se beber. Os doces montes cônicos de feno. Amo você de maneira única.”
Antes que alguém julgue louco meu irmão paulista, um aviso. O decassílabo solto no email, “doces montes cônicos de feno” é referência a uma mensagem, belíssima, dirigida a Rubem Braga e escrita por Vinícius de Moraes. Feita a explicação que julguei necessária – e o Szegeri detestará que eu a tenha dado, eu sei – vamos em frente.
Como eu já disse, quando recebi e li esta mensagem, comuniquei – achei ético, e sei que o Szegeri detestará esta justificativa – que a publicaria no BUTECO. E como resposta, veio novo email, no mesmíssimo dia, pouco antes das sete da noite:
“Por causa da sua mensagem, tomei uma dupla batida de pêssego no almoço (feita, como se deve, de uma cachaça abaixo da linha da pobreza) e uma Caracu, o que me custou uma dor de cabeça que persiste até o momento (18h23min). Tomei um comprimido desconhecido oferecido por um colega, que pareceu estar vencido (o comprimido; e agora eu). Acho que não durarei muito.”
Vejam que o assola uma espécie de depressão às vésperas de seu dia de anos. E – o que é pior – toda a sorte de conseqüência decorrentes da dita cuja é atribuída a mim. O que me consome, quero lhes dizer.
E quero lhes dizer outra coisa antes de me despedir: irei a São Paulo, como em todos os anos, passar o aniversário do Szegeri a seu lado, apesar dele nunca ter feito o mesmo comigo (fez esse ano, é verdade, mas por mero acaso, já que veio, mesmo, para faturar o cachê da apresentação no Trapiche Gamboa).
Vou com Dani, é evidente.
Mas a boa nova é que vão, também, Luiz Antonio Simas e Candida.
Eis então o que queria lhes contar desde o princípio: o Szegeri escreveu-me os emails antes de saber que o Simas estava indo a São Paulo também. Como eu acho que faremos São Paulo tremer quando sentarmos à mesa, vi, na frase “há, de maneira geral, uma acentuada tendência para se beber” uma verdadeira profecia. Acho, também, que não duraremos muito.
Até.