Eis-me aqui, 18 de dezembro, uma terça-feira, a 13 dias do final do ano, desse 2012 transformador e silencioso. Em 2012 vim aqui, ao balcão virtual do Buteco, apenas 55 vezes – contando com essa de hoje.
Ao longo dos meses muitas vezes parei pra pensar no porquê desse silêncio, dessa escassez e dessa aridez e poucas vezes cheguei a alguma conclusão. Ora achava que se devia a uma necessidade que deixou de existir por conta do meu tratamento com a médica da alma, diante de quem eu, de certa forma, derramava com a palavra dita o que quase sempre precisava derramar por aqui, com a palavra escrita. Ora achava que se devia mesmo ao assoberbamento de trabalho – trabalhei demais em 2012. No frigir dos ovos, olhando pra trás, percebendo que em junho, agosto e setembro não publiquei um texto sequer, vejo que foi por conta do caráter que 2012 teve pra mim: o ano da introspecção.
E venho aqui, a 13 dias da chegada de 2013, em atenção a uma quantidade de gente que, confesso, me surpreendeu através de e-mails que chegaram, ao longo do ano, atrás de notícias minhas. Gente que, é claro, só me conhece daqui – o que em nada diminui a importância dessas mensagens. Gente – isso é realmente surpreendente! – de todos os cantos do mundo, gente que me acompanha há muito tempo e que, inevitavelmente, sente-se próxima o bastante para me cobrar notícias, para me exigir uma explicação para o sumiço (!!!!!), para manifestar sua preocupação e seu carinho. Isso é bem bacana.
2012 foi de introspecção porque foi instrospecção que a vida me pediu.
E vejam vocês como são as coisas…
Em 03 de setembro de 2011 escrevi As mulheres são tudo, eu não sou nada, aqui. Meu irmão e meu compadre Luiz Antonio Simas, pai de meu afilhado-de-rua – o moleque Benjamin -, filho de Ogum, como eu, cravou no primeiro comentário a esse texto: “Desde que acompanho – como fã e malungo da cavalaria azul de Gum – vossos escritos é esse, sem dúvidas, o melhor e mais bonito texto que li saído de vossa tijucana lavra. Simplesmente isso.”.
Quis a vida que três dias depois, em 06 de setembro de 2011 – tendo escrito pela manhã Setembro de 69, arremesso ao passado, aqui – no final da tarde, eu encontrasse um par de olhos nos quais tive vontade de mergulhar para não mais sair. A vida, àquela altura, já me pedia introspecção. A mesma vida que, pouco mais de dois meses depois, tornou a me fazer vê-los de perto novamente, os mesmos olhos, razão pela qual transbordei no Desassossego no final de novembro, aqui.
Veio 2012 e ao longo de todo o ano compreendi a lição que Luiz Antonio Simas, investido do papel de sacerdote que cumpre, tantas vezes tentou me ensinar: cantar, cantar como Orunmilá ensinou, para ser mais feliz, no ritmo do pilão de Babá. Joguei flores pra Iemanjá nas primeiras ondas do Ano Novo, vivi ao extremo a dor, o suplício e o sacrifício do Carnaval num fevereiro efervescente, experimentei um 27 de abril diferente, como lhes contei aqui, estreitei laços, desfiz tantos outros, acertei e errei, ganhei e perdi, vivi a dialética em estado bruto – como desde sempre, penso, mas como nunca, tão atento que eu estive aos movimentos em mim, através de mim e por conta de mim. Foi um ano de introspecção e de regeneração. Foi um ano de superação e de entrega. Foi um ano de escolhas, de decisões, de muitos presentes, de muitas surpresas, de realizações também. Chego ao final do ano com a (caretíssima) sensação do dever cumprido, com o mesmo sentimento de gratidão à Vida, a maiúscula, que sempre nutri, ela que me submeteu a provações incapazes de me fazer, por um segundo, maldizê-la. Chego ao final do ano com as melhores expectativas, com os olhos de setembro dentro dos meus, com as mãos dela entre as minhas, com muitas lágrimas nos olhos, lágrimas-filhas das dores regeneradas e vertidas por conta de tantas emoções renovadas.
As emoções foram muitas e eu preciso, para manter as coisas à minha moda, ainda que correndo o risco do lapso, agradecer, num-só-pulo, a quem tornou mais bonito meu 2012, sem nenhum compromisso com cronologia ou importância, que fique claro para não ferir suscetibilidades: à Manga, que viu 2012 chegar ao meu lado, com o mesmo carinho e cuidado que me dedicou durante todo o difícil ano de 2011; ao Neco, parceiro bissexto mas sempre presente; ao Edu e à Renata que, com um único telefonema, sem que de nada eles soubessem, ajustaram a costura do tempo e encurtaram um caminho que eu sabia ser o meu destino, mais cedo ou mais tarde; à minha comadre Stefânia e à Grazzi, pelo Carnaval, por tanta compreensão e pelo curtir da saudade ao longo do ano; ao moleque Benjamin, e a seus pais, Luiz Antonio e Candida, que me fez rir a cada encontro e saborear o doce que hei de perseguir sem pressa; aos meus pais, e também a meus irmãos, que, como sempre, souberam respeitar o mais teimoso dos filhos; à vó Branca, que me fez experimentar de novo a doçura do beijo e do abraço de uma avó; à Kelly e ao Gustavo, à Mônica, ao Felipe, à Vânia, à Izabelle, ao Marcelo, à Marília, amigos novos, gente querida, anfitriões de mão cheia, irmãos da morena, irmãos-meus por tabela e por afeto; à Ana Maria, ao Rodrigo (o piá!), à Nathalia (que quando me chamou de dindo me fez cair do cavalo), à Berenice Piana e ao Beto, a família que chega; à Sá, ao Comandante, ao Neném e à Magali – minha irmã (o título que ela mais gosta!) -, a família que fica; ao Felipinho, por tanto e por tudo, às pastoras Áurea, Bia e Régia, que entenderam o que precisavam entender no primeiro abraço de cada samba; ao Vidal, à Denise, à Betinha, ao Flavinho, ao Celsinho, a todos os que dividiram comigo as agruras e as esperanças, a um de meus orixás vivos, Aldir Blanc, por cada telefonema, cada sessão recíproca de confissão, por me compreender tanto, e é preciso que eu pare por aqui porque começo a ser assaltado e aterrado por uma certeza: vou esquecer de muita gente. Não sem antes agradecer, sobretudo, à Flávia, a única mulher possível, razão principal para que 2012 fosse como foi e para que 2013 seja esperado como vem sendo.
Era o que eu queria lhes dizer. Venha, 2013!
Até.