Eu tinha – quem me conhece há muitos anos, sabe – pânico de avião. Pânico mesmo, na mais literal acepção da palavra. Eu voava, é verdade, mas sob efeito de doses industriais de uísque e no tempo em que ainda era possível fumar dentro dos aviões. Em 1995 fiz minha primeira viagem pro exterior, pra Nova York, depois de convocar os mais-chegados para o aeroporto, coisa de oito horas antes do embarque: a idéia era beber consideravelmente e me despedir dos amigos, tamanha a certeza eu tinha de que não voltaria. Mal me lembro do vôo, mas sei que bebi durante toda a viagem, fumei desbragadamente e chorei quando cheguei ao verificar que eu chegara aos Estados Unidos e não ao Brasil (vão tomando nota). Em 1999, já lhes contei isso – aqui -, reencontrei Dani: ela voltando de Londres e eu saindo do primeiro casamento.
Ela – a mulher que me ensinou a sorrir – mudou minha vida (assim como seu desaparecimento, há pouco mais de três meses, mudou-me também). Sabe-se lá por qual razão, através de qual mecanismo (soaria piegas se eu lhes dissesse que foi o amor?) – estou falando de medo de avião – eu nunca mais, depois dela, senti sequer ponta de medo ao embarcar numa aeronave (penso, agora, que talvez porque o maior de todos os medos fosse o de perdê-la). Sou capaz de lembrar com uma vivacidade impressionante: ela me sugeriu que fôssemos a Buenos Aires, à certa altura. Quando eu contei a ela sobre meus medos, sobre minhas reações diante da perspectiva do vôo, fez cara feia e providenciou as passagens. E fomos a Buenos Aires, e ela fez a minha mala, e ela cuidou das passagens e não largou da minha mão um só minuto, nem a caminho do aeroporto, nem na fila do check-in, nem na hora do embarque, tampouco durante o vôo. E ela me dizia as coisas mais bonitas do mundo enquanto voávamos, e rimos tanto de meu próprio medo, e tudo emoldurado por aquele sorriso, e eu já fiz a viagem de volta sem medo algum – salvo o de perdê-la.
Vai daí que estou, especialmente nesta semana que antecede o sábado de seus 40 anos, vendo e revendo fotografias, registros, escritos, e tenho me comovido pra burro. Deparei-me, hoje mesmo, com essa legenda: “I viagem juntos – Cabo Frio 2000”. Dani tinha um profundo carinho por esses registros, por esses tantos álbuns.
E essas fotografias, como não podia deixar de ser, me lançam em direção ao passado abruptamente. E sinto, ao vê-las, uma saudade que eu já sentia, que eu sou um homem, às segundas-feiras, já com saudade do domingo. Lembro, revendo as fotografias, de cada viagem nossa – foram muitas, com a graça de todos os deuses – e de nossas histórias. Uma delas – A Viagem – Capítulo IV (ou declaração pública de amor) – é uma de minhas preferidas, e relê-la, agora pela manhã, também me fez marejar os olhos (aqui). Acho graça, por exemplo, ler o seguinte:
“Pausa para dizer que, findo o episódio, o Zé Colméia, aquele urso imenso, bruto por fora mas um bebê por dentro, disse-me com as mãos nos meus ombros, os olhos marejados e lançando perdigotos em meu rosto ainda molhado, “Edu, eu não sou crente, mas hoje rezei pra você morrer antes dela… você não resistiria…”.”
Não adiantou a reza do Zé e eu resisto a cada dia em nome dela.
Sempre fui, a seu lado, como nessa próxima fotografia (de janeiro de 2000, em Cabo Frio, nossa primeira viagem juntos), um homem em estado de graça.
E como se não bastasse não ter mais a graça de sua companhia, vivo agora esse desafio permanente de superar sua ausência. Salva-me, muitas vezes, a luminosidade de seu sorriso (não cansarei de repetir isso, o mais bonito sorriso que o mundo já viu).
A fotografia abaixo é do mesmo verão, da mesma viagem, na praia do Forte, em Cabo Frio. Sua marca, seu sorriso, seus olhos que também sorriem.
Esse mesmo sorriso que – creiam em mim! – não se apagou nem no último dia.
A diferença é que ali, naquele momento, meu medo de perdê-la já se transformara numa certeza que eu escondia dela com um talento que só mesmo o amor em estado bruto pode explicar.
E eu lhe dei a mão, e fui , ali, o corajoso a sorrir de volta dando a ela (ou pretendendo fazê-lo…) a segurança que recebi durante os quase doze anos em que vivemos juntos.
Até.
Vou chorar a semana toda com vc… Parabéns mais uma vez para Dani.
Oi, Edu, meu querido…
Tenho lido o Buteco, me emocionado, claro, mas sorrido… Sorrido sempre ao, literalmente, ver a Dani por tuas linhas, ver a vocês e a suas histórias lindas e a seu amor lindo (seu, aqui, no plural).
Lembrei-me do jantar na casa de vocês, em que fui com o Mauro. Lembrei-me do livro de risotto que havia encomendado e que finalmente dava de presente, lembrei-me de você, fim da noite, estendendo a mão pra mim, rosto sempre iluminado (pelo amor, pelo sorriso, pelo presente dos deuses que a vida te deu), me pedindo pra escrever uma dedicatória.
Não houve hesitação. Escrevi sobre o beijo de vocês no meio da rua. Lembra? [da dedicatória, claro, evidentemente que do beijo sim]
Essa história é linda demais… você não contava no Buteco?
Acho que o mundo dos que amam merece a honra. Você e Dani são uma ode ao amor, uma inspiração. Você e Dani ensinam (sempre, sempre ensinaram) que é isso o que importa: o encontro, o beijo, a revolução, o laço.
Se o mundo pudesse sentir um décimo do que vocês viveram e vivem… E se diante disso, todos fôssemos capazes de aceitar a benção, sem significar… homens e mulheres seriam mais felizes. Porque é essa a maior busca de todas, é esse o sonho mais ambicionado – um grande amor, em mão dupla.
Um beijo, meu amor, um beijo em ti… Na Dani, eu mesma dou. Hoje, sábado, sempre.
Cris
Porra, Edu!
Sem mais…
2 membros! rsrsrs
Conheci a Dani por volta de 2001, e posso dizer de memória (e pelas fotos dela que vejo aqui) que o sorriso dela só fez melhorar com o tempo!
Sou solidária à sua saudade, Edu. Sei que, durante muito tempo, ela substituirá a Dani no papel de melhor companheira. E que companheira! Tocante o seu relato da viagem de avião, mas é até meio clichê dizer isso, porque tudo o que você escreve, sobretudo quando escreve sobre amor, é tocante. 🙂
E por falar em clichê, se “a saudade é o que faz as coisas pararem no tempo” (Quintana), aproveite esse tempo lodoso e estagnado para contar pra gente todas essas histórias de amor. Não é pieguice, não, vai por mim que te quero bem!
Lindo texto, como todos os outros que vc escreveu sobre o seu amor. A emoção transborda dos textos, e nos faz ficar com os olhos marejados também. Com o tempo, a dor vai diminuir. O bom é concluir que vc foi feliz com ela! Bonito de se ver.
Bonito Edu, muito bonito!
Um forte abraço!
Roberto Fraga JR
” Sabe-se lá por qual razão, através de qual mecanismo (soaria piegas se eu lhes dissesse que foi o amor?) ”
Arrepia!
snif.
zeh
Oi Edu, adorei o texto. Deu para eu matar um pouco da saudade da nossa querida Dani. Abraços Tia Marly M.Bacha
Lindo texto, Edu.
demais EDU…lindo texto..lindo sorriso…
Sentimentos… o que nos move na vida…e eu te ofereço os meus! um abraço Lucas
Meu velho,
coisa mais linda… de se ler e de se sentir.
Solidário contigo. Precisando…
Bjs.