MEU BRASIL TÁ QUERENDO DILMA!

Ainda estou, confesso, emocionadíssimo com o encontro de ontem à noite no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro. Fundado no ano de 1966, o Casa Grande notabilizou-se por ter sido palco da resistência à ditadura militar, protagonizada pela classe artística e intelectual brasileira. E ontem, 18 de outubro de 2010, mais uma gloriosa página foi escrita naquele palco: ao lado de Dilma Rousseff, contra o agudo retrocesso consubstanciado na candidatura tucana e nas mais conservadoras lideranças brasileiras, centenas de mestres da literatura e da música, artistas e filósofos manifestaram o voto na candidata que representa o avanço da dignidade que conquistamos após 8 anos de governo Lula, a reconstrução de um Estado forte e a solidificação da soberania nacional.

Antes, porém, de lhes dizer o que quero dizer por conta da comovente noite, peço licença a Oswaldo Maneschi, jornalista a quem ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente, amigo do peito de meu amigo do peito, José Sergio Rocha, para transcrever trechos do discurso de meu eterno e saudoso governador, Leonel de Moura Brizola, por aquele primeiro editado, por ocasião de seus 78 anos, no Clube Luso Brasileiro, na zona oeste do Rio de Janeiro, no dia 29 de janeiro de 2000. Leiam e vocês entenderão o porquê da menção à fala, sempre precisa, do homem que tanta falta nos faz nesse momento grave que atravessamos, e perceberão que a História é implacável e sempre se repete, com os personagens apenas mudando de nomes nos mesmos cenários capazes de representar o presente:

“Companheiros, companheiras da Zona Oeste, o meu reconhecimento pessoal. O meu abraço a todos vocês, quadros de nosso partido, daqui e de outras regiões que vieram para este encontro. Agora estou satisfeito, sinto-me feliz. Sinto-me energizado por vocês. Porque o nosso partido estava necessitando disso. Estávamos precisando elevar a temperatura, elevar o nível de nossa participação.

Nós nascemos, nos organizamos como partido e existimos para o desempenho de grandes responsabilidades. Não apenas para eleger um ou outro. Não apenas para participar de uma ou outra função. Nós nascemos e existimos como partido político para mudar o Brasil. Vivemos o nosso primeiro quarto de hora como uma espécie de preliminar. Não nos entregaremos nunca!

Nós sabemos que tudo vai mudar neste país porque a continuar o que aí está desde a ditadura é transformar o Brasil de um país poderoso, de um povo com futuro — numa colônia dominada e explorada pelos outros. Com isso não nos conformamos! E o nosso partido está mostrando de novo a sua vitalidade. Obrigado companheiros, obrigado companheiras, obrigado a todos vocês por esta homenagem, por este gesto em torno de meu nome, no meu aniversário que já há muito não comemorava. Completo 78 anos, mas sinto-me como se tivesse 68!

Cada um tem a idade que realmente tem. É isso que ocorre comigo, Leonel Brizola. Há muito afirmo para nossos adversários: venho de uma família, por parte de pai e por parte de mãe, de longevos. Não contem com o meu desaparecimento porque ainda vou incomodar muito! Olha, Deus que está lá em cima, está decidindo. Deus, lá em cima, está dizendo… Olha, o Leonel Brizola teve o seu quarto de hora na vida política, na vida pública brasileira, mas vou lhe conceder mais três minutos porque tenho certeza de que nesses três minutos ele muda completamente a situação de nosso país.

Nosso partido não pode, de maneira alguma nesse momento, sair de rabo de foguete de ninguém. Nosso partido sairá com candidatura própria – esta é a nossa natureza. Já fizemos todas as experiências, inclusive assumindo papéis da maior modéstia, da maior humildade. Se eles não conseguiram nada, agora é a nossa vez. Escrevam o que estou dizendo: o começo da jornada de nossa causa, de nossa bandeira, de nosso partido, será a eleição municipal do Rio de Janeiro!

Muitos dizem: é apenas uma eleição municipal. Mas digo a vocês: o Rio de Janeiro não é só um município, ele é o coração do Brasil, é a essência do povo brasileiro. As eleições do Rio de Janeiro terão sentido de mudança nacional. É isto o que ocorre quando uma população tem a consciência política que tem o Rio de Janeiro. Ele é o grande tambor da vida nacional e vamos tocar o tambor do nosso futuro, da nossa existência, da nossa vida, dos destinos de nosso povo e de nossa pátria.

(…) O Rio de Janeiro é a área, é a população que mais está repudiando o governo federal. Nós somos justamente a população que vem sofrendo mais com essa política ridícula, com esta entrega do nosso país, com a obra triste e vergonhosa desse grupo de vendilhões da pátria que está controlando e dominando o nosso país. Vendilhões mesmo! Esta é a afirmação que fazem os nossos deputados. Esta é a afirmação que faz o nosso povo por toda parte. Vendilhões de nossa pátria! Só peço a Deus lá em cima que me dê a decisão, que me dê a energia do filho que Ele mandou para a Terra e ponha na minha mão aquela vara que Nosso Senhor Jesus Cristo teve nas suas mãos para expulsar do templo os vendilhões! Isto é o que vai acontecer! E as eleições no Rio de Janeiro serão um ato de empunhadura dessa vara. Essas eleições serão muito importantes. Aqui no Rio de Janeiro iremos assistir a vitória de nosso povo, o princípio do fim desse regime infame que vem esmagando o nosso povo, que vem liquidando com o futuro de nossa Nação.

(…) É para esta caminhada, companheiros e companheiras, que estou aqui com vocês. Não vim só para massagear o meu coração, recebendo as homenagens que vocês estão prestando pelo meu aniversário. Não. Não vim aqui só para comer um pedacinho de bolo. Não. Não foi para isto que viemos. Viemos para, juntos, proclamarmos nossa decisão de partirmos para uma caminhada que vai parar muito além dos limites do município do Rio de Janeiro. Porque vai ser com ele, com o seu povo, com a sua gente, que iremos nos juntar ao povo brasileiro, por toda parte, para pôr fim a esse período miserável, de humilhação, de entrega, esse período vergonhoso que vem enterrando com nosso país. Vai ser do Rio de Janeiro que vai partir o princípio do fim desse período infame, desse regime. É para esta convocação que concordei com esta concentração, com este momento que vivemos. De nenhuma forma me limito a uma festa de aniversário. Não é para isto. Não foi para isto que vim aqui e que vocês se deslocaram até este lugar. Não. Viemos aqui para dar o nosso grito de esperança, viemos para gritar pela mobilização de nosso partido.

Quantas companheiras e companheiros que há tempos não via aqui se encontram. Alguns que até estavam afastados de nós estou vendo aqui. E este é o sentido deste encontro, esta é uma grande anistia entre nós, trabalhistas, é o tocar do reunir de todos os trabalhistas onde quer que se encontrem. Se bate um coração trabalhista, venha para cá, vamos nos reunir e vamos nos juntar. Da parte de Leonel Brizola, este encontro tem esse sentido. Tem este sentido a candidatura própria de nosso partido. E quero dizer a vocês: esta grande anistia tem que ocorrer entre nós. Esta anistia estamos proclamando neste momento entre nós, trabalhistas. Hoje é o dia da reunião de todos, a volta de todos os de 82 e de 83. É a gota de orvalho há pouco citada pelo Lupi, de que somos planta do deserto.

Nós, somos nós. Nós nos consideramos representantes desse povo que está aí abandonado e desvalido sem saber o que fazer com suas crianças, sem saber o que fazer com seus filhos, que se sacrifica ao máximo para dar um pouquinho de educação para filhos e filhas que depois os vê, adolescentes, serem presos. Nosso povo sofre vendo os seus filhos entrarem pelos descaminhos da vida. Pois é em nome desses milhões que o nosso Partido se levanta. Se eles têm idéias bonitas, que as ponham em prática. Mas se não as puseram até agora, se não as puserem em prática amanhã – que fiquem sabendo que somos nós de um lado e todos eles de outro. Nós vamos cumprir com o nosso dever. Vamos juntos, companheiros, vencer. Obrigado a vocês”.

Que visionário! Que visionário! Não é à toa que hoje o neto desse homem, o deputado federal Brizola Neto, está na frente da luta, ombro a ombro com o povo brasileiro na marcha que há de levar Dilma Rousseff à vitória! Mas vamos ao que quero lhes dizer sobre ontem à noite.

Esteva lá o arquiteto Oscar Niemeyer, um dos homens mais aplaudidos da noite, ele que tem 103 anos de dedicação às causas mais justas. Ziraldo, Hugo Carvana e Chico Buarque, que ao declarar seu apoio irrestrito a Dilma Rousseff disse, “é uia mulher de fibra, com senso de justiça social”. Sobre Lula, o grande ausente da noite, Chico Buarque afirmou: “Fala de igual para igual com todos. Nem fino com Washington, nem grosso com a Bolívia. Por isso, é respeitado no mundo inteiro como nunca antes na história desse país”.

Estiveram lá, também, Alcione, Margareth Menezes e Lecy Brandão (recém eleita deputada estadual em São Paulo, pelo PCdoB) foram as primeiras a chegar. Gilberto Gil e Zeca Pagodinho não puderam ir mas manifestaram seu apoio a Dilma. Minha queridíssima Beth Carvalho, ainda em processo de recuperação de uma cirurgia, se fez presente, como sempre, ela que jamais omitiu-se nos momentos mais importantes da história política brasileira. Empolgou os presentes quando cantou “Deixa a Dilma me levar, Dilma leva eu!”.

O ex-ministro Marcio Thomaz Bastos levou um manifesto dos advogados colhido na tarde de ontem, na sede da ABI, no Centro do Rio de Janeiro – e lá se foi minha assinatura junto! Ausentes, manifestaram também seu apoio a economista Maria da Conceição Tavares, o filósofo Frei Betto e a psicanalista Maria Rita Kehl, esta última vítima recente da fúria tucana (vejam aqui).

Uma das mais duras declarações da noite foi dada pelo escritor Fernando Morais, que foi direto, sem meias palavras: “Estou com a Dilma porque sou brasileiro e quero o Brasil nas mãos dos brasileiros. Eu sou contra a privatização canibal que esses tucanos fizeram e sei o mal que o José Serra pode fazer para o Brasil.”.

O filósofo Leonardo Boff não se omitiu e vaticinou: “A esperança venceu o medo. Agora, a verdade vai vencer a mentira.”.

Dilma Rousseff fez um discurso contundente, de improviso, comovente, e por diversas vezes a platéia que lotou o teatro (e os corredores, e a rua…) interrompeu sua fala para celebrar sua candidatura repetindo um dos mais marcantes gritos de guerra das candidaturas de Lula, desde 1989: “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma!”.

Acima, da esquerda para a direita, vemos o deputado federal eleito pelo PTLuiz Sérgio, Beth Carvalho, Oscar Niemeyer, Leonardo Boff, o governador da Bahia, Jacques Wagner, o cantor Chico César, o escritor Fernando Morais, Dilma Rousseff, Chico Buarque, Leci Brandão, Alcione, Wagner Tiso, Carlos Minc, entre outros.

Abaixo, o emocionado abraço de Chico Buarque, o anfitrião da noite, na candidata Dilma Rousseff.

Em sinal de profundo respeito a um dos maiores brasileiros de todos os tempos, Oscar Niemeyer, Dilma retribui o carinho pela presença do arquiteto, que com 103 anos de idade não faltou ao encontro. Diga-se, ainda, que os janelões do apartamento de Niemeyer, na avenida Atlântica, em Copacabana, virou um gigantesco painel de Dilma Rousseff à beira-mar.

Diante de milhares de pessoas – todas emocionadas, as imagens não me deixam mentir – Dilma Rousseff fez contundente discurso exortando a todos para o caminho da vitória.

Foi mais que emocionante. Foi, eu diria, significativo. O Rio de Janeiro, o tambor de ressonância de que nos falava Brizola, bateu forte ontem à noite em consonância com os milhões de corações brasileiros que anseiam pela vitória da continuidade. E esse soar do tambor há de correr chão, há de varrer o Brasil, há de varrer pra longe o atraso, o medo, a covardia, a vilania, a baixeza e a subserviência a quem, durante tanto tempo, nos renegou o futuro que hoje está em nossas mãos.

Aumentem o volume! Meu Brasil tá querendo Dilma!

Até.

7 Comentários

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7 Respostas para “MEU BRASIL TÁ QUERENDO DILMA!

  1. >Meu querido Edu.Estive lá, ou tentei estar, uma vez que quando cheguei já ninguém mais podia entrar porque não tinha lugar. Uma confusão danada na porta… Confusão pacífica da multidão que se aglomerava na chuva, meio coberta por um toldo que fora instalado na calçada. Um mar de bandeiras e camisas e adesivos…Fiquei ali uma hora, mas nada ouvia nem sabia de dentro do teatro (e fui pra casa, onde ainda assisti a uma parte do discurso emocionante da Dilma, via o site da campanha).Quero dizer que me lembrei de algumas manifestações de que participei, desde 89 (nesse ano levado por minha mãe), e depois, e depois. Vi velhos e novos gritando, cabelos brancos, homens de terno e coroas alternativos, e aquela alegria que andava adormecida nesse Rio. Tinha um casal gaúcho com uma bandeira do PT usada em 89, toda rasgada.Enfim, o Rio acordou. Vamos vencer essa luta pela, por assim dizer, continuidade do avanço. Pelo prosseguimento de um projeto de país. Um projeto que mostrou, à diferença das direitas militares e também das tucanas, que é possível ao mesmo tempo crescer (economicamente) COM distribuição de renda.Faço minhas as palavras dos presentes naquela calçada em frente ao teatro: "Dilma sim! Dilma sim!Dilma sim porque não penso só em mim!".Enquanto isso, como já sabíamos, Gabeira – aquele que atrapalhou o sequestro do embaixador americano -hoje ri, em todas as primeiras páginas, ao lado do tucanato…Beijo, Edu.

  2. >Foi maravilhoso. Fiquei com lágrimas nos olhos na hora do discurso da Marilena Chauí. Que mulher!Para quem ñ foi, segue abaixo comentário meu no site "Dilma na Rede" contando."Foi emocionante. Muitos artistas presentes, e mesmo os ausentes foram lembrados pq assinaram o manifesto. Uma multidão do lado de fora não conseguiu entrar; o teatro estava lotado. Além dos já citados Niemeyer (impressionante a força do centenário arquiteto), Chico Buarque (coerente como sempre) e Marilena Chauí (oradora fenomenal), estavam lá Alceu Valença, Yamandu Costa, Beth Carvalho (mesmo com a saúde abalada a guerreira não fugiu à luta!) Paulo Betti, Hugo Carvana, Zé Celso Martinez Correa (seu discurso no vídeo foi engraçadíssimo), Alcione, Antonio Grassil, Rosemary, Jorge Salomão, João Pedro Stedile, Carlos Minc, Jacques Wagner, Sérgio Cabral, Eduardo Paes, Renato Borghetti, Naná Vasconcelos, Guti Fraga e Cristina Pereira. Em vídeo, Ziraldo, Wagner Tiso, Chico César e Gilberto Gil, entre outros, manifestaram apoio. Os organizadores leram os nomes de vários artistas que apoiam Dilma. O samba estava muito bem representado: Aldir Blanc, Moacyr Luz, Nelson Sargento, Monarco, Teresa Cristina, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Mart´nália e Noca da Portela, entr e outros. Da mesma forma, o teatro, a literatura e o cinema disseram SIM a Dilma: assinaram o manifesto Ruy Guerra, Domingos de Oliveira, Luiz Carlos Barreto, Karen Accioly, Luis Fernando Verissimo… Enfim, foram muitos apoios, não pude lembrar de todos, mas acho que a lista acima deixa claro que o apoio é imenso!!!"

  3. >Oi, Edu, venho tb deixar registrado para os leitores q domingo tem passeata no calçadão com Dilma, Lula e Lindbergh, e segunda tem show no Circo. Ouvi q quarta haverá um abraço à Petrobras, mas ñ confirmei a informação. Parece que o ator José de Abreu montará uma barraquinha pró-Dilma no Largo da Carioca.

  4. >Ué…, Eugênia… o Moacyr agora é Dilma? Não vai mais se guiar pelos passos de sua porta-voz Cora Rónai? Menos mal. Beijo.

  5. >Ô Eugênia,A caminhada na orla sairá a que horas?

  6. >Edu,Assisti à festa do Teatro Casa Grande ao vivo, pela Internet, como se lá estivesse. Mas, infelizmente, lá não estava e não pude sentir a emoção que só a presença proporciona. Senti que a Dilma está cada vez mais madura, no discurso e na defesa de ideias claras, sem rodeios, realmente democráticas. Mais cedo, ela havia dado um banho na entrevista da bancada do JN. Hoje, para aumentar a alegria, vejo que, segundo o Vox Populi, Dilma rompeu a barreira dos 50 pontos e Serra aina não chegou aos 40. Doze pontos de diferença, que nos animam, mas jamais, nunca poderão nos acomodar. Cada voto em Dilma é a vida de uma criança salva! Temos que marcar em cima, avançar, conquistar espaços…Um abraço

  7. >Grande Eduardo,Emocionante a postagem. Me senti ali também, embora esteja a milhares de quilômetros da querida cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. No player, a trilha sonora é João Bosco, cantando "O bêbado e a equilibrista", canção que nos traz à memória "tanta gente que partiu, num rabo de foguete…"No mais, cai a tarde feito um viaduto e a esperança em dias melhores continua pulsando.A verdade vai vencer a mentira e o amor vai vencer o ódio!Abração!

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