>IMPERDÍVEL

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“Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.”

(Nelson Rodrigues)

Está em cartaz na Fundição Progresso, de quinta a domingo, às 20h, a peça “Toda Nudez Será Castigada”, de Nelson Rodrigues, e somente até o dia 30 de abril. E preciso urrar de pé, no banquinho imaginário: Corram! Corram! E não percam!

Fui assisti-la nesse último domingo, com a Sorriso Maracanã e de lá saímos estupefatos.

Trata-se de um clássico de Nélson Rodrigues. Ouso dizer (sabendo que digo isso no calor do momento) que é talvez o meu texto preferido (talvez não seja, mas é incrível sair do teatro com essa verdade badalando dentro do peito).

A montagem que está em cartaz é assinada pelo grupo Armazém Companhia de Teatro, do Paraná e dirigida por Paulo de Moraes.

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Impressionou-me, nessa montagem, a forma como cenário, trilha sonora (original e pesquisada) e iluminação pulsam em perfeita sintonia atingindo na mosca o objetivo de levar o espectador a viajar, literalmente, na mente de Herculano, o principal personagem, magistralmente interpretado por Thales Coutinho. Como se sabe, toda a construção do texto impinge ao espectador o ingresso nas lembranças de Herculano, o viúvo que que depois de perder a mulher, é levado pelo irmão, Patrício, a se envolver com a prostituta Geni, também num show de interpretação de Patrícia Selonk.

No meio de tudo, três tias solteironas (machadianas! machadianas!) que a tudo acompanham, que tudo controlam, e que cuidam do filho único de Herculano, obcecado pela figura da mãe.

A marcação da passagem do tempo, durante o espetáculo, é feita através de portas giratórias que o tempo todo abrem e fecham, justamente como fragmentos da memória de Herculano.

Surpreendente, ainda, nessa montagem, o início da peça, que começa, na verdade, pelo fim, com o suicídio de Geni.

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E imaginando que ninguém dará ouvidos à minha dica, dou-lhes uma notícia capaz de tornar séria minha indicação. A montagem foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro em quatro categorias, a de melhor direção (Paulo de Moraes), melhor atriz (Patrícia Selonk), melhor cenário (Paulo de Moraes e Carla Berri) e melhor iluminação (Maneco Quinderé, responsável pela luz dos últimos shows de Maria Bethânia).

Em “Toda Nudez Será Castigada”, Nelson Rodrigues explora, itensamente sua clássica impressão de que “todo casto é antes de tudo um obsceno”.

E se a peça quando estreiou foi capaz de chocar a assistência (o que os textos de Nelson sempre fez), ainda hoje é capaz, não de chocar, mas de impressionar pela atualidade e pela presença de uma problemática, recorrente, em qualquer relação amorosa. Daí, castos e obcenos, misturados na platéia, entram em êxtase no decorrer do espetáculo.

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Um programaço.

E logo ali, na Lapa, dando cores ainda mais rodrigueanas à noite.

Até.

1 comentário

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Uma resposta para “>IMPERDÍVEL

  1. >Tentei ver essa peça quando ainda estava no CCBB. IMPOSSÍVEL! Lotação máxima na maioria dos dias de apresentação. Imagino que na Fundição o espaço deve ser maior. É a boa! Até,

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