Vira e mexe me vem à cabeça o verso blanquiano “… velhas ruas, cansado da boemia, entre essas pedras, um dia, quero cair e morrer…”. Sou, como se vê, embora eu seja um sujeito em permanente estado de ânimo, um trágico (sempre fui um trágico). Desde que ouvi a tal canção pela primeira vez que eu não consigo andar em qualquer rua de paralelepípedo sem que me venha à mente:
– Quero cair e morrer…
É que ando, meus poucos mas fiéis leitores, e pra me valer um pouco mais da poesia do bardo, sentindo meu coração vacilando e saindo, às vezes, fora da velha cadência. É só um momento, bem sei. Mas eu, que faço disso aqui uma espécie de auto-divã no qual converso sozinho comigo mesmo (e tenho piedade aguda de minha pessoa, nessas horas…), não poderia deixar de lhes dizer isso.
Sou eu, aos 42 anos de idade, e logo eu, que tantos arremessos ao passado sofro ao longo do tempo, sentindo, mais que o peso da idade (sou uma múmia que caminha serelepe), o peso bruto da vida bruta e toda a sua bagagem composta de lembranças, de dores, de medos, de ansiedade, de insegurança, desse misto entre a pureza da criança e a crueza da vida adulta, entre as esperanças e as frustrações, entre a calmaria e a turbulência, entre a cumeeira e o baixio, de perdas, de muitos ganhos, de amores que vêm, de amores que vão, de muitas alegrias, de momentos que se cravam em nós como flecha, essa boniteza infinita que a vida dá a todos nós. É preciso, mais que nunca é preciso, saber lidar com isso. Não nos resta outra opção. A vida está aí, queiramos ou não.
E eis que é essa a visão que tenho, permanente, da trilha que sigo na vida. Sigo pela imaginária rua de paralelepípedos, sinto nos ombros, sem que isso me incomode, o peso fabuloso e desejável da vida, sempre com medo, com certo medo, de que eu de fato caia e morra, embora seja inevitável, é evidente, que esse dia um dia chegue. Minha rua de paralelepípedos tem, entretanto, e é isso que me sustenta, e é isso que me dá de novo o compasso que o coração pareceu perder, uma nesga permanente de intensa luz a me guiar os passos.
Ouçam aqui, que o troço é bonito de doer, e foi escrito para sua mãe, Helena, a quem tive o prazer de conhecer, Aldir Blanc cantando Velhas Ruas.
Até.
Essa música é foda, tudo a ver com o cotidiano de boemia Tijucana. Lembrei-me da infância. Grande Aldir.
Ah que bonito…não é bonito só pelas palavras bem articuladas e escritas..mas é bonito porque nos faz pensar que a sua dor..embora seja ..pessoal e intransferível…é a dor de todos nós..e cantá-la não dimuniu..mas nos faz aprender a conviver com ela..
Oi Edu,
Adoro seus textos, sei que “só” tem 42 anos para carregar essa bagagem tão grande….. Mas as coisas acontecem porque damos conta de “carregar” e isso tudo faz parte do nosso crescimento….
Como qualquer pessoa, temos nossos momentos de altos e baixos, e temos que colocar isso prá fora… você faz isso de uma forma magnífica!!! Espere, porque o melhor está por vir… Bjs! Luciana.
Beleza de texto, não se deixar abater é uma virtude, siga em frente!
Saudade de você, meu velho.
Que lindo meu filho!Vc é um craque!Bjs
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