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Hoje, eu que trabalho literalmente sozinho (sou contínuo de mim mesmo, inclusive, como diria Nelson Rodrigues), arrumando uma papelada que fica sempre pra depois em razão dos atropelos do dia-a-dia, deparei-me com essa nota, que foi publicada no jornal O GLOBO, em 22 de outubro de 2003, há pouco mais de seis anos.
Fui eu o advogado do Dalton.
E se a questão foi simples, e resolvida no mesmo dia, foi também uma dessas que dão a nós, que lidamos com o Direito, uma tremenda satisfação – e no meu caso, apaixonado pelo que faço, ainda maior.
Lembro-me como se fosse hoje.
Comprei uma mesa de oito lugares para o show da Maria Rita. Dei a quem de direito os ingressos. O Dalton, que fora roubado, ficou sem o dele na manhã do dia do show. Fui eu mesmo, com ele, depois de infrutíferas ligações para a gerência da casa, ao CANECÃO, comunicar pessoalmente o fato e pedir o óbvio: que permitissem sua entrada em razão da fácil localização de seu lugar à mesa e, consequentemente, a proibição da entrada do portador do ingresso roubado.
Disse-me a atendente, com ares de dona do mundo, depois de esgotados meus argumentos e meus pedidos:
– Aqui, senhor, nem o Papa entra sem ingresso! Nem o Papa!
Enfurecido – e a ira santa é uma das companheiras ideais para um causídico – fui para o escritório com o Dalton. Colhi sua assinatura na procuração. Dirigi-me ao IV Juizado Especial Cível, distribui a medida liminar e despachei, pessoalmente, com a Juíza. Contei, de viva-voz, detalhadamente o que se passara. Ela, ciosa de seu dever, mandou chamar o Oficial de Justiça. Contou toda a história pra ele. E rumamos, eu e o Oficial de Justiça, para o CANECÃO, com a liminar obrigando a casa de espetáculos a permitir o ingresso do Dalton sob pena de pagamento de pesada multa.
Fiz questão de apontar a dona do mundo para o Oficial de Justiça.
Eis a frase da senhora diante da ordem judicial:
– Mas, doutor Eduardo… precisava disso?
Até.
>Sensacional, Edu!
>Pois é. E ainda ter que ouvir essa: "Precisava disso?"O que mais fascina no direito, na minha opinião leiga, é a filosofia do direito. É por isso que, quando me deparo com gente defendendo Estado de Direito, sem ter a menor idéia do que possa ser isso, fico maluco de raiva!Abraço!
>Ótima história, Edu! Melhor mesmo só se o ladrão fosse ao show! Beijo.
>Me amarrei, Goldenberg.Agora, essa notinha tá cheirando a GENTE FINA…não tá não?Grande abraço!R.Pian
>Pian: a nota foi publicada noutra coluna, do Ancelmo Góes. Um abraço.