Preciso confessar a vocês, de pé diante do balcão imaginário, que me empolguei com a repercussão de meu humílimo texto no qual discorro, brevemente, sobre o comportamento de grande parte das pessoas que sobem para o aprazível bairro de Santa Teresa, que elas chamam de Santa, com uma intimidade tão falsa quanto o comportamento a que me referi (e ao qual novamente me referirei hoje, leiam aqui). Luiz Antonio Simas fez menção ao texto em seu Histórias do Brasil (aqui) e Carlos Andreazza, em seu Tribuneiros (aqui). Recebi alguns e-mails elogiando o que escrevi, e um comentário – apenas um – que não publiquei por ser anônimo ( enquanto lia as agressões do descolado a telinha do computador exalava um repugnante cheiro de maconha e de pele mal lavada).
E do que me acusava o ser humano que enviou tal comentário sob o manto do anonimato?
Sentem-se, meus poucos mas fiéis leitores, que a acusação do bicho-grilo é gravíssima.
Pausa: tomei um pito de mamãe, dia desses. Disse-me ela, por e-mail (recebo e-mails de mamãe com freqüência), que este chavão – meus poucos mas fiéis leitores – é “às vezes cansativo para quem lê sempre”. Em frente.
Acusou-me de ser bairrista.
Eu?
Ora, pobre do homem que não é bairrista. Pobre do homem que não nutre, pelo chão no qual nasceu, cresceu e no qual vive, um amor fanático, cego, retumbante e patriótico. Vejam vocês o caso de Arthur Tirone, o Favela. O caboclo escreveu dia desses: “Sou, e quem me conhece sabe, um sujeito fincado neste brejo.”. Referia-se, é claro, à Barra Funda, e esse amor do Favela por seu chão nos torna ainda mais próximos, jungidos pelo amor sagrado que nos une à nossa terra. Vejam vocês o caso de Luiz Antonio Simas, que tem pregado por onde anda sua decisão, inamovível, de não deixar os limites da Tijuca para nada que não seja estritamente indispensável. Leiam o Felipinho Cereal, aqui, e me digam se esse troço de amor pelo bairro não é bonito pacas. Ora, meus poucos mas fiéis leitores (desculpe, mamãe), percebam que o piolhento que me agrediu através do comentário não publicado foi infeliz, como deve ser infeliz, ele próprio, morando no Leblon, onde disse viver desde que nasceu. Escreveu, à certa altura, o fedorento: “Nasci e até hoje vivo no Leblon. Mas não dispenso a feijuca do Bar do Mineiro nos finais de semana. Não dispenso a carne-de-sol do Bar do Arnaudo. Não dispenso o clima do Sobrenatural com suas cervas geladaças. Não dispenso o cineminha no Cine Santa. E tenho dinheiro para tudo isso, o que não deve ser seu caso.”.
Vejam os clichês pipocando no texto. A “feijuca” (eles são íntimos de tudo) do Bar do Mineiro (que é apenas razoável). A carne-de-sol do Bar do Arnaudo (que não faz nem cócegas na que é servida no Bar do Chico pela metade do preço). A “cerva geladaça” do Sobrenatural, o “cineminha no Cine Santa”.
Encaixa-se, com perfeição de puzzle, na descrição que fiz do jovem que sai da zona sul em direção ao Largo da Carioca em busca do bondinho que o levará para Santa Teresa.
Posso apostar minhas fichas como o cheio-de-lêndeas estuda na PUC (onde estudei Direito e onde vivi à margem dos descolados que me rejeitavam como um pestilento). Permitam-me lhes contar um troço, rápido. Primeiro dia de aula, ano de 1987. Fui para o campus de chinelo de dedo (o que me garantiu o apelido de “pedreiro” nos primeiros meses), bermuda, camisa de malha, uma mochila, um caderno, caneta, lapiseira e borracha. Os homens de minha turma, todos, de terno.
Já trabalhando?, eu me perguntei.
Não. Era pose. Pose, pose e apenas pose.
Pois então. O cheio-de-lêndeas estuda na PUC, planeja suas incursões à Santa Teresa (que ele chama de Santa, como sói acontecer) apertando um na vilinha dos Diretórios Acadêmicos da Universidade, vai aos lugares-clichês que fazem a festa da Veja Rio, é eleitor empedernido do PSOL (que é, como bem disse o Simas, Santa Teresa em forma de partido político) e tem a pachorra de perder seu tempo para me chamar de bairrista, como se isso fosse uma forma de agressão.
Deus permita que eu me mantenha assim, tijucano até o último de meus dias, e por várias encarnações.
Até.
>Edu, belo texto! E continue assim, um eterno amante da Tijuca.Aqui em São Paulo, é o contrário. O pessoal faz da Vila Madalena – A vila hippie. Riquinhos que compram roupa na Praça Benedito Calixto, para parecerem largado, um monte de patricinhas querendo parecer descolada e tal.
>Prezado Edu,Há tempos acompanho o seu blog, porém acredito que poucas vezes comentei. Fui aluno do Simas no Colégio Ph, que é reconhecidamente de classe média, e estudo Direito na PUC. Moro em Copacabana e posso lhe dizer que amo meu bairro. Não há nada que me faça ir a praia em ipanema, tomar um chopp no baixo gávea, dentre outras atividades tipicas da Zona Sul.Com 15 anos comecei a aprender a tocar cavaquinho, antes disso já arranhava uma percursão, e aprendi a grandiosidade do Samba. Tocamos algumas vezes na PUC mas nunca conseguimos agradar plenamente, afinal, que samba era aquele que a gente tocava? Não tinha Chico Buarque, João Donato, pouco Cartola e Nelson Cavaquinho.Ora, tocavamos Candeia, Aniceto, Campolino, Marçal, Bide, Almir Guineto, Luiz Carlos da Vila, Noel Rosa de Oliveira. E para isso, o pessoal de Santa e da PUC não estava preparado, não era moda.Apelidavamo-lhes de “Cheira Bostas”. E assim, até hoje, existem diversos conhecedores de samba e do Rio de Janeiro que não conhecem NADA de nossa cultura e nossa Cidade.Salve a mnha Copacabana do PAvão Azul (o de antigamente, menos cheio) e do Bip Bip. Salve a sua Tijuca, coração da alma carioca. Salve o Rio de Janeiro em sua plenitude de geografias e culturas que aqueles que conhecem de verdade acabam sendo obrigados a amar.Grande AbraçoGabriel Goyanes
>Edu, seu chato de galochas! Adoooro!Morri de rir com o texto! E assim como você, sou bairrista com todo o orgulho do mundo! Tanto que escolhi o bairro onde nasci e me criei como tema do mestrado “Vila Madalena: imagens e representações de um bairro paulistano”. O duro foi conseguir o distanciamento necessário enquanto pesquisadora para conseguir escrever. Mas deu certo! Muito diferente da Tijuca, e possivelmente mais próximo do que acontece com “Santa”, a “Vila” já não é mais a mesma – até pela presença dos “forasteiros” – o que não me impede de amá-la, criticá-la duramente, e escolher os lugares ainda possíveis de serem frequentados. Hoje, moro em Perdizes (perto do templo sagrado Palestra Itália), bairro bem próximo à Vila – raio máximo de distância que me permito – mas como diria meu ex-chefe, sou Madalena, onde quer que eu vá, a Vila estará para sempre impregnada em mim! Graças!Beijo.
>Edu, também a mim estão perseguindo-infernizando os de Santa… E sempre anônimos, por motivo de coerência, os covardes. Chega a engraçado; e quase me convencem de que eu jamais compreenderei a alma carioca inteira que está por lá… Não sei se a capto – se um dia estarei próximo desta alma do nosso Rio de Janeiro -, mas estou certo de que ela passa longe de Santa Teresa e da Lapa, essas farsas para consumo alienado.Forte abraço!
>Rodrigo: em cheio! É isso mesmo. A feirinha a que você se refere, em SP, é um N-O-J-O. Abraço.Gabriel: aluno do Simas? Sorte a sua! Não entendi bem se você quis, com seu comentário, denegrir a obra do Chico Buarque, do Cartola, do Nelson Cavaquinho, ou se quis dizer que quem conhece a obra do Candeia e do Aniceto é mais e melhor do que quem não conhece, mas isso – como diria o Stanislaw – deixa para lá. Copacabana pode ser ótimo, meu caro, mas palmeira do mangue não vive por lá. Um forte abraço.Vanessa: eis aí uma expressão do povo de Santa… “chato de galochas”. Pena que você ri. O troço é pra chorar.Andreazza: incrível como esse povo só tem coragem de mostrar a cara com um bagulho entre os dedos, de preferência em círculo, passando o papel babado de boca em boca. A alma carioca só esteve em Santa Teresa, nos últimos tempos, durante a Marcha da Maconha – quero repetir… quando não havia um encarnado ou mesmo desencarnado dessa laia sapateando sobre os trilhos de lá. Forte abraço!
>Edu, em nenhum momento quis denegrir a obra desses artistas, são ótimos, e merecem todos os aplausos.Quis apenas fazer uma critica àqueles que se encaixam em sua descrição de frequentadores de Santa Teresa e que vez por outra adotam culturas como suas. já foi a vez do forró, do samba, do reggue, etc. Essas pessoas aderem a modismos sem procurar conhecer e entender as origens de tudo. Conhecem o Noel mas não conhecem o Vadico, falam do Nelson Cavaquinho mas esquecem do Guilherme de Brito, e por assim vai.Depois mudam de “tribo” sem deixar nada de positivo, sem acrescentar nada, e sem levar consigo qualquer contribuição.
>A risada não é do fato, mas da forma como você se expressa! O “cheio-de-lêndeas” é tão bom quanto o “N-O-J-O” da feirinha!
>Agora sim, Gabriel, vê-se a marca de um aluno do Simas. Saudações.
>Aproveitando também Edu, aqui em São Paulo, o pessoal que freqüenta à Vila Olimpia, diga de passagem um nojo, um horror, lançou a moda do bigode, parceiro! Os malandros chegavam na balada com uma camisetinha coladinha, um cabelinho espetado, e bigode. O que me faz pensar que os bambas que viajaram antes do combinado, revirarem no túmulo. Uma merda, este pessoal que não tem identidade.
>Edu, já ouviu os cantos dos alunos da Puc nos Jogos Jurídicos? É nos jogos (a reunião da escumalha) que aparece o que há de pior. Os caras escancaram nos versos o quanto são reacionários, classistas e nojentos. Exemplo:”O meu pai me deu um Audi. O seu sonho é ter um Clio. Puc-Rio! Puc-Rio!”Os cotistas da UERJ são chamados de “macacos” nas musiquinhas.São esses merdas, esses covardes que se escondem sob o anonimato, reacionários, classistas e racistas, vivendo em busca de glamour, que fizeram da Lapa e de Santa Teresa a mentira que esses bairros são hoje.Abraço!
>Edu, Ótimo o texto!Eu (ainda) estudo direito na PUC. Confesso que gosto da universidades, seu bosque e aprazível brisa.Mas a naturalidade forçada com que enorme parte dos seus frequentadores procuram seguir as modinhas ditadas no vai-vem da publicidade me causa repulsa.As meninas – em sua maioria lindas -vestidas como hippie que nunca foram e nem conseguiriam ser.Os falsos boêmios, clientes assíduos do “Seu Pires” na Marquês de São Vicente nos finais das noites dos dias úteis e da nojenta Baronetti nos finais de semana.E o pior, não satisfeitos com suas vidas de faz-de-conta nos lugares em que moram , ainda acabam por colaborar com a destruição de lugares que outrora mantinham sua tradição e boa vizinhança.É esse um dos meus maiores lamentos sobre a Lapa, que em outra oportunidade comentei com você.Abraços.
>Fossem hipies de verdade, as patricinhas ostentariam cabeleiras imensas debaixo do braço e xotas amazônicas. Mas as moças preferem o estilo mata atlântica, deixando apenas 8% da “vegetação” original. E olhe lá…
>Ainda bem, Diego. Afinal nao e’ qualquer um que consegue sobreviver na Floresta Amazonica.
>Mas você não falou mal de Santa Teresa Geograficamente , falou do comportamento humano e pelo visto os anônimos se identificaram, dado a reação. Esses caras são babaquinhas mesmo mas quero ver tirar essa onda pegando um ônibus da Fagundes as sextas – feiras pela ponte engarrafada em direção ao Raul Veiga , isso ninguém quer…. coisa feia tirar onda que tem dinheiro , tipinho de gente que pelo jeito vai fomentar o tráfico em Santa Teresa e não deve nem perceber a beleza do bairro , enaltece grife como se frequentar o tal do Arnaudo fosse mérito e que grande bosta que é , bando de alienado. Feijuca , hum que coisa de viadinho…
Sobrou para o PSOL mais uma vez, hahahahah