Foi lançado ontem à noite, na Lapa, mais precisamente no Carioca da Gema, o CD de estréia de Moyseis Marques, pela Deckdisc, produzido pelo Paulinho Figueiredo. Eu disse que foi lançado o CD de estréia de Moyseis Marques e emendo, de voleio: um senhor disco! Repertório irrepreensível com regravações que mostram algo de novo – infelizmente não é a regra – e canções inéditas que evidenciam um bom compositor (Moyseis também compõe).
Cantando – eu já havia dito isso aqui – o malandro é fabuloso. Se no estúdio fica pouco à vontade (confissão feita por ele durante a entrevista coletiva que antecedeu o excelente show que fechou a noite), o palco é, literalmente, dele.
Durante a entrevista – faço questão de dizer isso, talvez para manter firme a polêmica que, dizem por aí, me caracteriza – tentaram meter um carimbo na testa do Moyseis, que saiu-se bem da – pausa para um pigarro – armadilha. Queriam saber – pra quê, meu Deus?! – se ele se considera forrozeiro, sambista, seresteiro, essas bossas. Ele disse, e eu grifo daqui:
– Eu sou cantor, pô! Um cantor que compõe e canta o que gosta!
Mas é o samba, diga-se, a tônica do disco.
Eu disse que é o samba a tônica do disco e quero lhes dar uma dica (além da evidente dica que é o CD do Moyseis): o CD da Cristina Buarque com o grupo Terreiro Grande é, definitivamente, o disco de samba do ano. Esqueçam o lamentável Samba meu, da Maria Rita, um equívoco olímpico do início ao fim, tremendo engodo, ao agudo contrário do que apregoa o pesado merchandising em cima do troço. Mas voltemos ao CD do Moyseis.
O disco tem 14 faixas, 16 canções e arranjos de João Callado, Paulão 7 Cordas, Alessandro Cardozo, Jayme Vignoli, Charles da Costa, Alessandro Cardoso, Mará, do próprio Moyseis, Bernardo Dantas, Zé Paulo Becker e Evandro Lima. Essa (a meu ver, sábia) opção pela imensa variedade de arranjadores transforma o disco num trabalho ainda mais interessante, que dá a ele, inclusive, uma faceta que não se encaixa na tacanhice que exige um rótulo, como querem, sempre, alguns.
Abençoado pelos bambas – como escreveu o Ruy Castro no texto que apresenta o disco -, Moyseis começa com pé direito e mão certeira a carreira fonográfica: dois dos bambas, Luiz Carlos da Vila e Wilson Moreira, estavam presentes e deram ainda mais cor à noite.
Uma pá de gente querida – seria chato e impossível citar todo mundo – também esteve lá e pôde ver, in loco, o quanto era justificada e merecida a transbordante alegria do Moyseis.
Pausa para brevíssima confissão. Eu já lhes disse aqui que o sujeito que não tem, pelo pai, pela mãe, verdadeira adoração, uma espécie febril de idolatria, é uma besta fria. Razão pela qual comovem-me, sobremaneira, as demonstrações públicas de carinho dos filhos pelos pais. Eu, já ligeiramente bem – como todos, bebeu-se industrialmente ontem no Carioca da Gema -, fui às lágrimas todas as vezes em que o Moyseis, do palco, pediu:
– Gente… palmas pra minha mãe!
Talvez também imantado por esse carinho filial, Tiago Prata, com o evidente incentivo do álcool em seu franzino organismo (o menino bebeu como eu nunca havia visto) arremessava-se sobre mim e dizia com a boca chapada em meu ouvido:
– Eu te amo, pai! Escuta, escuta…
Eu, disfarçando a emoção:
– Fala, moleque…
– Se eu fizer uma grande bosta você me salva?!
E eu, automático:
– Evidente! Evidente!
Como é evidente que não fez nada, o anjo de olhos claros. Ele queria apenas, percebi quando voltava para casa, uma prova radical de fidelidade da minha parte.
Chorou, o menino, diversas vezes: quando eu apontei o Wilson Moreira (bêbado, ele não via mais nada), quando o Moyseis cantou Imperial, quando eu me despedi, um troço de maluco!
Partimos de carona com o Tartaglia, eu e a Sorriso Maracanã, por volta das duas da manhã.
Tartaglia ainda subiu, deu-nos o prazer de uma visita, bebeu uma dose de RedLabel, fizemos planos diabólicos para o final de semana, falamos bem pra burro do Moyseis e foi assim.
Até.
>edu, não vi o show do moyseis (infelizmente), mas concordo com a sua opinião sobre o disco “samba meu”: um equívoco.
>Ah, foi mesmo maravilhosa a noite. O disco ñ sai do meu player há 1 semana! Edu, tem algum vídeo do show a ser postado?
>Pô, não recebi nenhum e-mail de divulgação. Moyseis safado.Seguindo o oráculo do Buteco, comprei o disco da Cristina Buarque com Terreiro Grande agora, na hora do almoço. Realmente, Edu, é o grande disco de samba do ano. Lindo de fio a pavio. Obrigada pela sugestão.Quanto ao disco da Maria Rita… é. Que chato. Fiquei constrangida com a interpretação de ‘Mente ao meu coração’. bjs
>Tbm comprei ontem o CD da Cristina Buarque com o grupo Terreiro Grande seguindo sua dica (Gigi eu adorei oráculo do buteco!). Um discaço mesmo. Parabéns pela dica e pelo blog que melhora a cada dia.
>Caro Edu, fique sabendo que em poucos dias estará ecoando pelas floresta do Acre o som do disco da Cristina Buarque. Dica sua é dica quente. Parabéns e saudações acreanas.
>Conheci o Moyseis através da Calu, lá pelos idos de 2005, na época em que o cara cantava sambas e xotes nas festinhas de forró – o que já mostra o seu compromisso com a Música, maiúscula, e não com os rótulos que esquadrinham e emprateileram produtos culturais como se fossem sabores de biscoito.Vou, na primeira oportunidade, assistir ao show deste disco que, pelo que tenho ouvido, deve estar do caralho.Grande abraço!
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