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Nem sequer posso desconfiar a razão do veto.
Importa é que a segunda versão, gravada no Brasil, é muito mais significativa. E os imbecis a liberaram. Vá entender.
Tanto Mar
(Chico Buarque)
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
* Letra original,vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975.
E eis a segunda versão, de 1978.
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Até.
>A primeira letra era de um Chico animado e esperançoso, louvando a festa da Revolução. A segunda, três anos após, já revela a decepção com os caminhos tomados por ela. Talvez a censura não fosse sempre assim tão burra…
>SZEGERI, meu Otto, gênio indispensável… Discordo de você. Aliás, ouso fazê-lo, já que só mesmo um insano para desautorizar sua voz carregada de sabedoria.A segunda letra, na minha visão, talvez seja eu o burro, justamente por apontar esse desvio de caminhos e pregar o desejo de prosseguir na mesma intenção, é ainda mais explícita.
>viva ao 25 de abril