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Um pedido feito pelo meu Otto 24h por dia, meu irmão Szegeri, é uma ordem. Mais que uma ordem, é uma pauta a ser cumprida. E como o bom pediu-me que lhes contasse sobre a história do Abelha envolvendo um outdoor de autoria do Ziraldo, vou fazê-lo.
Não sei se vocês vão se lembrar, vocês aqui do Rio, mas há uns anos a Prefeitura lançou uma campanha contra as drogas e chamou o Ziraldo pra bolar um slogan, um outdoor, e espalhou a coisa por toda a cidade. A mensagem era, apenas, a seguinte: “A DROGA É UMA MERDA”. Eu, particularmente, que não faço uso delas, salvo o álcool, que é legal, achei a frase de uma infelicidade olímpica. Pelo simples fato de que, não fossem as drogas um troço bom, e ninguém faria uso delas, ainda que pela dependência. As descrições que conhecemos, todas, apontam pra um troço fabuloso, delirante etc etc etc Mas isso não importa pra história. Vamos a ela.
O Abelha, fã ardoroso do Cartas Idiotas, leu, determinado dia, uma carta num jornal cujo teor era mais ou menos o seguinte: “Venho, pela presente, manifestar minha indignação com a campanha lançada pela Prefeitura, de autoria do Sr. Ziraldo, onde o mesmo faz uso de uma palavra de baixo calão. Ontem à noite, eu e minha esposa estávamos indo ao cinema, aqui na Barra, mas quando nos deparamos com o dito outdoor contendo a nefasta palavra decidimos suspender o programa e voltamos, revoltados, para nosso lar.”. E assinava a carta, o indignado.
Bem… o Abelha, gozador e sacana há 10 encarnações, discou pro 102 e tomou nota do telefone do sujeito. E eu tenho a fita!, eu tenho a fita! O Abelha, que faz sempre questão de divulgar seus feitos, gravou a conversa:
“Alô?”
“O Sr. Fulano está?”
“Ele falando.”
“Sr. Fulano, bom dia!”
“Bom dia. Quem está falando?”
“É da Assesssoria de Comunicação da Prefeitura do Rio de Janeiro. Cláudio falando. É sobre sua carta publicada hoje nos jornais, Sr. Fulano…”
(e o Sr. Fulano, arfando, prosseguiu) “Pois não! Pois não!”
“Gostaríamos de confirmar sua indignação, Sr., para que possamos, efetivamente, modificar o rumo de nossa campanha contra as drogas a fim de não mais causar esse tipo de sentimento na população…”
“Ah, pois não… Um segundo, por favor… Querida! Querida! Venha cá! É da Prefeitura… Pois não, Sr. Cláudio… Posso colocar o telefone no viva voz para que minha esposa possa participar de nosso colóquio?”
“Mas é claro, Sr. Fulano… Como se chama sua esposa? (eu, conhecendo o Abelha, percebia em sua voz a gargalhada abafada)… … Ah, bom dia, dona Fulana!”
“Bom dia!”
“Mas então… Quer dizer que os senhores ficaram indignados e revoltados com o uso da palavra ´merda´ no outdoor?”
(os dois em uníssono) “Muito”
“Então, por favor… Estão me ouvindo bem?”
“Muito bem”
“Vão, os dois, pra puta que os pariu, pra casa do caralho, seus merdas… estão ouvindo… seus m-e-r-d-a-s, seus merdões, seus merdalhões, babacas…”
E desligaram, os dois, deixando os guinchos do Abelha fechando a gravação. Contou-me, o Abelha, que só cessou a série de telefonemas quando o Sr. Fulano mandou trocar o número de sua linha. Esse é o Abelha.
Fechando, então, a semana, depois de ter contado mais essa do meu bom amigo, quero daqui prestar uma homenagem ao meu irmão Szegeri.
Hoje, 5 de agosto, o Ó do Borogodó, meu buteco preferido em São Paulo, comemora 1 ano de roda de samba comandada pela rapaziada dos Inimigos do Batente, à frente dos sábados da casa desde agosto de 2004, quando rola uma feijoada parelha com as maiores feijoadas que já comi, e também às sextas-feiras, quando recebem, uma vez por mês, um convidado especial. E hoje o convidado especial, aliás, especialíssimo, é Moacyr Luz, há anos, muitos anos, desde quando éramos amigos, e isso faz tempo, o verdadeiro Embaixador da Cidade do Rio de Janeiro, compositor de mão cheia, violão moldado à moda de Hélio Delmiro, cozinheiro sem defeitos, anfitrião competente, sambista já capaz de figurar na galeria dos maiores.
Ergo daqui do Buteco, então, meu copo cheio, à Stefânia e ao Capitão Léo, que conduzem com coração apaixonado o Ó do Borogodó. Ao Szegeri e à Railídia, vozes dos Inimigos do Batente, ambos meus compadres, que deram de presente a mim e à Dani seu maior tesouro, a doce Iara, nossa afilhada número 6. À toda a rapaziado dos Inimigos do Batente, Cebolinha , Edu Batata, Cacá Sorriso, Paulinho Timor, Marcelo Justo, Dil e Mineiro.
E ao Môa – por que não se não guardo mágoas? – que vai abrilhantar a festa, com certeza, mas que também, com mais certeza, vai testemunhar, de novo, que a paulicéia não fica nada a dever ao Rio em matéria de samba.
Até.
>Edu, desconfio que o Abelha seja sua identidade secreta e que esse alter ego seja o responsável pelas Cartas Idiotas – um dos meus blogs favoritos, pena que as cartas cessaram. Bão, o verdadeiro motivo desta é dizer que o Moacir Luz tem um coração de pedra, porra! Já estou ficando puto com ele, porra! Alguém me segura aí, porra, me segura, porra!!!
>Zé Sérgio, como bom jornalista que eu sei que você é, não seria prudente afirmar um troço desses sem checar antes. Apresento o Abelha a você na primeira oportunidade.Moacyr é com “y”. Tsc.Abraço.
>Edu, meu irmão, acompanho daqui de Sampa esse brinde amoroso, consignando a falta que você vai fazer. Em meu nome, dos Inimigos e da minha amada Stê, agradeço de todo o coração. Beijo!
>Zé Sérgio, Zé Sérgio, já era hora de vc ter aprendido que tudo o que se descreve neste Buteco é a expressão mais lídima, fiel e indeformável dos fatos. Assusto-me cada dia mais com a precisão fotográfica das narrativas, a precisão cirúrgica dos detalhes, a firmeza inabalável de cada golpe de pincel.Creia, meu bom Zé, que se você acha que já conheceu figuraças suficientes nestes círculos goldenberguísticos, espere até conhecer o Abelha. Só vendo pra crer.
>´xô metô o bedelho, Szegeri! A firmeza inabalável de cada golpe de pincel também é um belo golpe de pincel seu. Mas eu concordo com você. Esse figuraça desse Edu não escreve, não. Ele PINTA.