Doces figuras, todos vocês sabem, ou a grande maioria sabe (claro que não estou falando daqueles que estão me lendo pela primeira vez), está cansada de saber, repete em côro “eu sei, eu sei, eu sei”, que ao Fefê, meu irmão, o segundo da escala de três, eu devoto um amor que beira as raias do indescritível.
Dois anos mais novo que eu, é uma figura impagável, protagonista de lances de deixar o Roniquito parecendo uma criança de colo no Parque da Mônica. Boa-praça, dono de um papo que alimenta, coração gigantesco, sorriso de derrubar Luanas Piovanis, ele é, já disse um Isaac resignado, meu alter-ego. Meu ídolo.
Pois bem, não quero tomar-lhes o tempo derramando meus elogios, que não caberiam em toda a rede.
Fefê preferiu, em vez de escrever suas impressões sobre o texto “UMA MANIA INSUPORTÁVEL”, queixar-se comigo.
Preguiça está entre as suas qualidades, eis que não enxergo nele defeito algum.
Disse-me o bardo que meu texto é de uma estupidez bufalina. Alega que, não fossem os pedidos aos quais me refiro com fúria, e estariam fadadas ao extermínio as reuniões, os jantares, os lanches, os churrascos, as rodas de violão. Ouso, aqui, discordar dele. Não sem antes dizer algo de extrema importância que acho que o fará sorrir.
Quando a reunião, o jantar, o lanche, o churrasco ou a roda de violão é em sua casa, faço questão de levar alguma coisa. Geralmente “alguma coisa”, para desespero da Dani, que por vezes parece não compreender que esses meus pequenos gestos são a materialização de meu intenso carinho por ele, significa peças de picanha, sacos de carvão, frutas, legumes, engradados de bebida e afins. Repito: faço questão.
Até porque, sabem os que freqüentam seu endereço, aquilo não é uma casa. É um clube. Logo, Fefê não se iguala ao Marco de Oswaldo Cruz – repilo tratá-lo com intimidade – no quesito falta de educação.
Agora, direi novamente, com todas as letras, que ninguém além dele está a salvo de minha opinião, por ora reiterada. Ninguém.
O que pode haver de mais insuportável, quando numa festa, o anti-anfitrião passa dançando – por que dançam os imbecis nessa hora? – com um chapéu ridículo na mão cantando “olha o ratatá!, olha o ratatá!”?
Para os mais civilizados, explico que “ratatá” é, nada mais, nada menos, o gesto de ratear as despesas com o furdunço.
Daí serem, os incivilizados, anti-anfitriões. Há, é claro, raríssimas exceções. Às vezes, o projeto de anfitrião se propõe a divertir centenas de pessoas. Os que, nesse caso, pedem uma ajuda (o termo é patético porque a situação também o é, embora em grau menos agudo) com a bebida, com uma salada de maionese (por que quando mais de duas dezenas de pessoas se reúnem para comer sempre se recorre à indefectível salada de maionese?), não são tão Marco de Oswaldo Cruz assim.
Foi o que ocorreu com o Cristiano, meu irmão caçula que hoje trabalha, sofre e sente saudade, não sei se nessa ordem, na França.
Falo dele para absolvê-lo de seu gesto “marcônico”, afinal o cara convidou 300 pessoas pra um churrasco de despedida.
Pagando a comida daquele batalhão (que incluía carnes de todo o gênero, saladas, arroz, feijão, sobremesas e mais que tais), nada mais justo que pedisse aos convidados que levassem, cada um, 12 latinhas de Skol.
Não vou entrar no mérito da escolha da marca, mas quero contar como tratei um infeliz que lá compareceu.
Sofri reprimendas de metade dos presentes e recebi aplausos efusivos da outra metade.
O Marco de Oswaldo Cruz daquela tarde (não sei o nome da azêmola que cometeu a falta) chegou abraçado a uma caixa de Bavaria, uma cerveja que não merece ser tratada como tal.
Deu azar que eu estava ao lado de um dos tonéis de gelo. Cumprimentou meu irmão de longe e arremessou as dozes latas daquele troço na tina. Senti o cheiro do caráter do sujeito.
Fiquei ali, de prontidão, pra dar o bote que sabia próximo. O malandro-cocô deu uma voltinha pelo salão, comeu alguma coisa, e pronto: foi ao encontro da tina.
Mergulhou a mãozinha e quando preparava-se para abrir uma Skol, crispei-lhe a mão no braço e mandei: “Não foi você que trouxe Bavaria?” – o otário não teve tempo sequer de respirar – “Ninguém aqui bebe essa merda. Se você trouxe, presumo eu que seja sua marca preferida. Toma.”
E num golpe rápido tomei-lhe a Skol da mão e lhe passei a Bavaria.
Que grosseria, Edu!, ouço daqui o côro. Tudo, doces figuras, questão de ponto de vista.
Até.
>Como diria o Szegeri: não poderia esperar outra coisa de você. Grande, malandro.
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Edu, conheci seu blog faz pouco tempo. Hoje resolvi fuçar um pouco e encontrei este belo relato. Mostrarei para meu amigo, o Da Roça (sic), pois fato semelhante aconteceu na casa dele, o freguês levou Cristal. Ninguém bebeu as benditas. Nem o freguês. Da Roça foi convidado para ir tomar umas na casa dos freguês e levou as latinhas de Cristal de volta para ele. Parece-me que entendeu o recado. Abraços. Sérgio
É isso aí! Tem que ser assim. Só assim essa gente aprende. Abração.